Neste post, eu já tinha divulgado o alerta de Neil deGrasse Tyson, que nos dizia que a distribuição de dinheiro anda a ser muito mal feita.
“Num só ano, o total dos gastos com a defesa ultrapassa o total de 50 anos de orçamento da NASA.”
Por exemplo, em 2011 a NASA teve um orçamento de 17 mil milhões de dólares. Já a Defesa (com Pentágono) teve um orçamento de 1 bilião e 200 mil milhões de dólares.
Ou seja, a parte militar é 70 vezes “mais importante” que a busca de conhecimento…
Faz-me lembrar o orçamento de somente 1 dia de guerra no Iraque, que daria para mais uma missão robótica a Marte.
No entanto, cancelaram-se as missões robóticas a Marte, a seguir ao rover Curiosity.
E a guerra no Iraque durou mais que um dia… na verdade, durou mais de 3000 dias, o que certamente daria para algumas centenas de missões a Marte.
Enfim…
Os resultados estão à-vista: nunca mais voltamos à Lua, os privados querem a exploração espacial, e os Chineses têm planos para chegarem primeiro a Marte.
Mas há resultados mais “práticos”, como se pode ler neste artigo do The Washington Post:
“The secretive government agency that flies spy satellites has made a stunning gift to NASA: two exquisite telescopes as big and powerful as the Hubble Space Telescope. They’ve never left the ground and are in storage in Rochester, N.Y.
It’s an unusual technology transfer from the military-intelligence space program to the better-known civilian space agency. It could be a boost for NASA’s troubled science program, which is groaning under the budgetary weight of the James Webb Space Telescope, still at least six years from launch.
Or it could be a gift that becomes a burden. NASA isn’t sure it can afford to put even one of the two new telescopes into orbit.”
E como se pode ler na versão portuguesa da notícia, no Público:
“NASA recebe dois telescópios mas não tem dinheiro para os mandar para o espaço.
Os dois super telescópios são ainda mais poderosos que o Hubble, que já está em funções desde 1990 e que ameaça tornar-se obsoleto nos próximos anos. Só há um problema: com o actual orçamento, a NASA só tem dinheiro para os mandar para o espaço em 2024.
(…) transferência de tecnologia bastante incomum: de uma agência governamental secreta, a National Reconnaissance Office (NRO), estes telescópios poderão passar a beneficiar a transparente Agência Espacial Norte-Americana (NASA), que opera em benefício da Humanidade. (…)
(…) apesar de o hardware que lhes foi doado ter “capacidades impressionantes”, a NASA não poderá fazer uso de um deles antes de 2024. “A NASA não tem, com o actual orçamento, a liquidez necessária para desenvolver uma missão espacial que faça uso destes dois telescópios”, disse Hertz numa conferência de imprensa.
(…) esta é apenas a estimativa para o lançamento de um destes telescópios. O outro permanecerá irremediavelmente em terra. (…)”
O valor dos telescópios – que têm um campo de visão cem vezes superior ao Hubble, de acordo com o WP – é difícil de estimar, mas alguns responsáveis da NASA indicam que este hardware doado poderá cortar cerca de 250 milhões de dólares (200 milhões de euros) de uma futura missão, bem como alguns anos de trabalho. (…)
(…) os dois aparelhos foram construídos no final da década de 1990, início dos anos 2000. (…)”
Leiam todo o artigo, aqui.
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Por este andar a Nasa vai estar em maus lençois.
http://expresso.sapo.pt/defice-dos-eua-subiu-mais-do-dobro=f732578
Infelizmente os politicos é que mandam. Enfim…
Abraços.
Talvez seja uma questão secundária, mas ninguém pergunta porque é que a agência militar doou essas máquinas à NASA?
Será que é porque já têm outros melhores, mais potentes ainda?
Qual era o objectivo desses telescópios?
(Bem, a última pergunta acho que tem uma resposta mais simples :p)
Author
Tinham a mais, e já têm melhor…
Lê este artigo do Kentaro Mori. Penso que responde a isso 😉
http://www.sedentario.org/colunas/duvida-razoavel/projetos-secretos-por-que-construir-um-quando-voce-pode-construir-dez-54447#more-54447
“(…) E o programa de satélites espiões americanos não parou aí, como não começou aí. Enquanto astrônomos lutam por frações do tempo de observação do Hubble há vinte anos, com descobertas que alteraram nosso conhecimento da origem e futuro do Universo e tantos outros conhecimentos esperando para serem desvendados, satélites ainda mais potentes, com espelhos refletores ainda maiores, estão disponíveis neste exato momento para uso militar e secreto. É absurdo, mas aparentemente – é tudo muito secreto – há pelo menos dois satélites mais potentes que o Hubble orbitando o planeta neste exato momento, com tecnologias classificadas com as quais mal podemos sonhar. (…)”
Pois, vai de encontro àquilo que eu suspeitava!
Acho que os maluquinhos das conspirações deveriam esquecer a NASA e virar as antenas para outro lado :p
Boas a todos,
Primeiro queria agradecer ao Carlos e todos os que trabalham diariamente neste site, pela informação e conhecimento que colocam à disposição de todos, e era com esta base que queria começar a minha analogia a este caso.
Primeiro, acho completamente absurdo a exploração espacial estar dependente de um orçamento de estado de um país, a meu ver ter-se-ia de criar novos métodos e formas para financiar estas expedições.
É lógico que na complexidade social em que estamos inseridos falar é mais fácil que fazer, apenas porque é mais seguro ir onde sabemos estarem os recursos (petróleo), que ir em busca do conhecimento e encontrar muitas das vezes mais perguntas que respostas… essa é provavelmente a grande diferença entre Iraque e Marte, a não ser que em Marte se descubra mais petróleo que no Iraque. Aí meus caros seria 70 vezes mais o apoio à “Ciência” e 70 vezes menos o apoio à actividade bélica!
Enquanto nos restringirmos a estas mentalidades o Iraque será sempre a opção mais fácil para eleger um Presidente!
Cumps!!
Author
“acho completamente absurdo a exploração espacial estar dependente de um orçamento de estado de um país”
Concordo…. 🙁
Mas por outro lado, também foi dessa forma que fomos à Lua.
Era preciso haver petróleo em Marte, irem buscar os diamantes a Urano, ou então descobrir-se uma ET jeitosa… para de repente, todo o $$$ passar a ser destinado à exploração espacial… 😉
P.S.: obrigado pelas palavras iniciais 😉
Que não seja dependente de idéias e dinheiro de pessoas como estas, que querem levar quatro pessoas para Marte em 2023 e mais pessoas a partir daí para fazerem um programa tipo Big Brother. Aí eu me mudo para a Lua.
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI308409-17770,00-PRIMEIRA+COLONIA+HUMANA+EM+MARTE+VIRARA+REALITY+SHOW.html
O problema do mundo é falta de dinheiro, mas a China tem.
Pra uma agência que é tão ridicularizada por pseudos, e que esconde tanto segredos da Ciência, o governo americano não poderia reduzir os recursos repassados à NASA. 🙁
Tinha lido noutro lugar sobre as comparações entre os gastos militares desnecessários (guerra no Iraque – 2º maior reserva de petróleo do mundo) e os gastos com a Ciência – que o Carlos bem relembrou nesse trecho:
“Faz-me lembrar o orçamento de somente 1 dia de guerra no Iraque, que daria para mais uma missão robótica a Marte.”
Percebe-se o quão longe a civilização atual está daquilo que podemos denominar de civilização verdadeiramente inteligente, assim como percebe-se essas malditas políticas que ainda determinam várias sub-áreas da Ciência – quando a busca pelo conhecimento deveria ser natural; exponencial; e livre de interesses “x”, “y”, “w”, e “z”.
🙁
Abraços.
[…] – Plano Espacial (tag): relatório final, missões à Lua canceladas, plano, aprovado. Falta de Dinheiro. Don Nelson. Robot. Visão. Parámos de sonhar. Continuar a Explorar. Porquê? Missão a […]
[…] Um dia de guerra no Iraque dava para pagar uma missão robótica ao planeta vermelho e o orçamento dos EUA, em 2011, atribuía 70 vezes mais dinheiro à Defesa do que à Ciência. O astrofísico Neil deGrasse Tyson salientou que “num ano o dinheiro gasto em defesa (e na banca) é equivalente a todo o orçamento da NASA dos últimos 50 anos”. É escusado enumerar para que serviu a guerra até agora. Podemos reparar que, não só descobrimos água em Marte, mas descobrimos que a guerra e a banca também “meteram água” e que esta não e sinónimo de condições favoráveis para a vida mas sim de condições desfavoráveis para a vida. (aqui) […]