Neil Ibata é um miúdo francês de 15 anos.
O pai, Rodrigo Ibata, é astrofísico.
Como o Neil estudava computação e tinha aprendido a linguagem Python, o pai pediu-lhe para ele ajudar num programa para simular a distribuição do movimento das galáxias-anãs satélites da galáxia de Andrómeda.
Após a simulação, obviamente o rapaz nada percebeu do que estava a ver, porque não entende astronomia. No entanto, o pai percebeu logo as consequências daquilo que se via no computador.
Pensava-se que as galáxias-anãs se distribuíam de forma isotrópica e aleatória.
No entanto, já alguns cientistas colocavam como hipótese não ser assim. Talvez algumas galáxias-anãs formassem grupos coplanares.
O que o programa do rapaz descobriu é que um grupo de galáxias-anãs em Andrómeda (cerca de metade de todas as galáxias-anãs satélites de Andrómeda) realmente se movimenta de forma coplanar e conjunta, e não isotrópica e aleatória.
Devido a esta descoberta, o nome do jovem consta juntamente com os outros 15 investigadores no artigo publicado na prestigiada revista Nature, que podem ler aqui.
E pronto. Foi isto.
Donde vêm então as referências a Einstein e Newton que se vê em tantos sites e até em vídeos?
Pelo que percebi, alguém se lembrou de dizer que ele era um “novo Einstein”, o que só por si era logo um enorme abuso.
E depois, parece-me que os jornalistas franceses fizeram o resto, passando de “novo Einstein” para estar a colocar em causa Newton e Einstein. Obviamente este é um bom “teaser” em televisão, mas não corresponde minimamente à verdade.
Qualquer pessoa pode detectar estes sensacionalismos.
Sem entrar na Relatividade de Einstein e na Gravidade de Newton, vejamos:
– o leitor está no chão ou anda a voar pelo ar? Se está no chão, então Newton continua a reinar.
– o leitor tem GPS? Ele continua a funcionar? Então Einstein continua a imperar.
Ou seja, nem Newton nem Einstein foram minimamente beliscados.
Aliás, se falar em Einstein já é um abuso (porque a Relatividade nada tinha a ver com isto), falar em Newton é então um disparate enorme! É que no tempo de Newton nem sequer se sabia que existiam galáxias!
Mas enfim…
Acabo com uma boa notícia: a RTP falou disto e o texto no website está muito bom, aqui. A reportagem também está muito boa, mas não oiçam os primeiros 5 segundos.
14 comentários
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Acho ,de facto, que os cinco primeiros segundos são para esquecer. Mas é admirável que, no mundo de hoje, um miúdo de quinze anos disponha já de tantos conhecimentos de Informática.
Os meus cumprimentos.
Começa a ser suspeito frequentar o ensino relacionado com a formação em “Jornalismo”…
E pelas noticias que se vê nos jornais da TV é um “Deus nos acuda”!
Ah, e não aprova meu comentário né…
Stíphanie,
Todos os colaboradores do AstroPT, incluindo o Carlos, têm uma vida além do blog. É impossível estar a verificar a toda a hora se existem mensagens à espera de serem aprovadas. 😉
O trabalho deste rapaz e de seu pai é muito ineteressante e até me parece sugerir um baricentro para todo o Grupo Local de galáxias, incluindo a Andrómeda e a Via Láctea. Estar com sensacionalismos de comparações ou de negações com Newton e Einstein apenas é o mercantilismo habitual do péssimo jornalismo que se faz hoje, felizmente com algumas boas excepções como a RTP1 e o Euronews, ou ainda a BBC. Isso apenas prejudica o rapaz, concordo com o Sam Kitano, ele está de parabéns e claro que merece é que se leia com atenção o seu trabalho, sem sensacionalismos imbecis nem excessos de adjectivos. Se o rapaz se comportou como um adulto deve ser tratado sobriamente como um adulto. Também é de realçar o execlente exemplo de orientação parental.
Einstein nao tinha computador…preciso falar mais?
não “ouçam” os cinco primeiros segundos. Final do texto, só corrigir.
Olá Stíphanie,
A forma “oiçam” está tão correcta quanto a forma “ouçam”: http://www.infopedia.pt/pesquisa.jsp?qsFiltro=0&qsExpr=oi%C3%A7am. 😉
Correto, Sérgio.
Os ditongos «ou» e «oi» são usados indiscriminadamente em várias palavras, estando ambas corretamente escritas.
Exemplos: ouro/oiro, couro/coiro, touro/toiro, pouso /poiso, tesouro/tesoiro, etc.
Algumas das variantes acabaram por cair em desuso, fixando-se uma única grafia.
Exemplos: coisa (já não está correto escrever cousa); noite (antigamente era aceite noute), etc
Na verdade, nem sequer em Python o rapaz se terá destacado em nada de especial, uma vez que a análise de gráficos, distribuições, histogramas, “random walks”, etc. fazem parte de qualquer curso normalíssimo de programação, e não é propriamente matéria sujeita a grandes genialidades.
A originalidade terá sido mesmo querer analisar este tipo de distribuição (os movimentos das galáxias em causa). Os eventos aleatórios na natureza tenderem a apresentar uma distribuição “normal” ou “gaussiana” (bell curve), daí o interesse suscitado por esta descoberta, certamente inesperada, mas isenta de qualquer tipo de genialidade.
Mas concedo o seguinte: Estes conhecimentos de python aos 15 anos? Not bad! Parabéns ao rapaz!
Ó pessoal! No “paper”, o nome do primeiro autor é Rodrigo Ibata. Por que raio aqui no AstroPT está “Robert Ibata” e na peça da RTP também?
Author
Porque eu só vejo nomes americanos à frente 😛
Já corrigi 😉
Muito boa a dica de como detectar estes sensacionalismos.
Exactamente,
Os tipo da Tefal ( marca da minha frigideira ) devem receber uma estrela michelin devido ao magnificos ovos mexidos que faço na dita frigideira!
Tenho dito!
Um abraço
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