O que é a inteligência?
Esta é uma pergunta que promove bastantes discussões quando se discute astrobiologia, nomeadamente na questão de civilizações extraterrestres.
Mesmo sem “sair da Terra”, existem inúmeras discussões sobre como se mede a inteligência nos animais. Será que depende da capacidade de sobrevivência, subir a árvores, fazer contas de matemática, conseguir comunicar a milhares de quilómetros dentro de água, fazer um ninho, criar comunidades inteiras na areia, …?
Popularmente pensa-se em inteligência como inteligência humana, subordinada a coisas que os humanos fazem bem, mas isso é uma limitação impregnada de geocentrismo psicológico (pensamos que somos os mais importantes).
Em termos de trabalho, o que se utiliza são as chamadas “definições de trabalho”.
Tal como no caso da definição do que é vida, também a definição do que é inteligência depende bastante daquilo que investigamos e da forma como queremos avaliar a nossa hipótese de trabalho.
Não são assim definições estáticas e universais.
Um exemplo da nossa vida corrente é utilizarmos muitas vezes a dicotomia: book smarts vs. street smarts. Ou seja, contrapomos a inteligência que aprendemos na escola, com a inteligência que nos permite desenrascar na vida, “na rua” (fora da escola). Umas pessoas têm mais de uma e outras pessoas têm mais de outra. Note-se que – e isto é extremamente importante – uma não é superior à outra, mas simplesmente são úteis em diferentes situações. Tal como Darwin diria: a adaptação ao ambiente da altura é mais importante que outra qualquer característica absoluta que se pensa ter.
Eu próprio falo muitas vezes em comentários das pessoas demonstrarem pouca inteligência.
No meu caso, devido ao tema do meu doutoramento, eu ligo a inteligência à literacia funcional, ao pensamento competente (que inclui espírito crítico, saber analisar e avaliar problemas, não se deixar cair em tretas, etc). Para mim, quem tem literacia funcional tem inteligência. É uma definição de trabalho que, para mim, se aplica perfeitamente.
Mas a vida é muito mais complexa do que simples dicotomias. Sejam “tem inteligência” – “não tem inteligência” ou “book smarts” – “street smarts”. Como sempre as coisas são mais complexas do que a simplificação que fazemos delas.
Daí que gostei bastante deste livro do Howard Gardner intitulado Inteligências Múltiplas.
Basicamente ele diz que existem diferentes tipos de inteligência.
Não quer dizer que umas sejam superiores a outras. Simplesmente são diferentes, aplicam-se a diferentes situações na nossa vida, e cada um deve descobrir qual a sua para ter noção em que situações pode ser mais eficaz. Por exemplo, Einstein não era mais inteligente que Van Gogh; nem Mozart era mais inteligente que Ghandi. O que se vê na realidade é que todos eles eram bastante inteligentes, em diferentes áreas, mas provavelmente são reconhecidos universalmente como altamente inteligentes porque souberam aplicar os seus talentos nos sítios em que melhor se conseguiram evidenciar.
Com base nesta diversidade de inteligências, Howard Gardner considera haver estes tipos:
– Lógica: inteligência lógica, matemática, altamente racional, que permite fazer rapidamente cálculos mentais, solucionar problemas e pensar de forma abstracta. As pessoas normalmente são bastante curiosas sobre o mundo que as rodeia e não aceitam qualquer treta que lhes impingem. Quando popularmente se pensa em inteligência, somos levados a pensar neste tipo. Profissionalmente, é esta inteligência que é avaliada em testes psicotécnicos. Quem é bom neste tipo de inteligência deve seguir áreas científicas, incluindo ligadas à engenharia e informática.
– Linguística: as pessoas que falam bem, que escrevem bem, que têm facilidade em comunicar têm este tipo de inteligência. Pessoas com grande memória e que consigam explicar as coisas como se fosse um contar de histórias são perfeitas para realçarem este tipo de inteligência. Quem é bom neste tipo de inteligência deve seguir áreas comunicacionais e criativas, incluindo jornalistas, actores, escritores, divulgadores, professores, etc.
– Corporal: a inteligência física aplica-se a pessoas que possuem coordenação corporal, agilidade física, reflexos rápidos, equilíbrio, etc. Quem é bom neste tipo de inteligência deve seguir áreas físicas, incluindo desportistas, dançarinos, etc. Gardner também inclui aqui aqueles que tenham destreza manual e consigam executar tarefas de forma precisa, por isso empregos como artesãos ou cirurgiões também se incluem aqui.
– Espacial: é preciso ter um excelente sentido de orientação e/ou de visualização. Por isso, quem tem este tipo de inteligência, poderá ser um bom marinheiro, arquitecto, decorador, etc.
– Musical: pessoas com inteligência musical facilmente distinguem sons semelhantes, conseguem construir melodias, etc. Profissões ligadas ao som são perfeitas: cantores, músicos, compositores, etc.
– Naturalista: pessoas que conseguem categorizar e descrever muito bem as coisas. Têm também uma forte sensibilidade para com o ambiente. Note-se que a sociedade explora muito esta característica humana, mudando pequenas coisas em carros, telemóveis, sapatilhas, etc, para nos fazer consumir mais coisas só pela diferença numa característica. Ambientalistas, cozinheiros, botânicos, veterinários, etc, são profissões onde as pessoas têm que usar bastante este tipo de inteligência. Note-se que grande parte da vida funciona com base neste tipo de inteligência.
– Existencialista: pessoas que estão preocupadas com as grandes questões da Humanidade: donde viemos, para onde vamos, o que fazemos aqui? O que é a morte? Qual é o sentido da vida? Este tipo de inteligência pode ser aplicada em filosofia, cosmologia teórica, etc.
– Interpessoal: pessoas muito compreensivas, que compreendem o ponto de vista dos outros, que tenham um forte sentido de solidariedade, que demonstrem empatia, que disponham de uma elevada intuição, e que saibam avaliar as pessoas. Normalmente estas pessoas estão ao serviço, ao dispôr, das necessidades dos outros. Profissões perfeitas para este tipo de inteligência são: psicólogos, psiquiatras, voluntários, enfermeiros, médicos, etc.
– Intrapessoal: pessoas que se conhecem sobretudo a si próprias. São pessoas que conhecem os seus pontos fortes e fracos, que criticam outros e também fazem imenso a auto-crítica, que têm uma elevada auto-estima, e que controlam bem as suas emoções, mesmo que não controlem tão bem o seu ego. São pessoas com uma elevada introspecção, sem “paninhos quentes”, que tentam avaliar tudo por igual, objectivamente, sendo irrelevante o nome das pessoas (mesmo que seja o seu). Cientistas, filósofos, e a maioria das pessoas com muito pensamento teórico são pessoas com características desta inteligência.
Como se percebe, nenhuma destas inteligências é superior a outra qualquer. O que temos todos é diferentes intensidades destes diferentes tipos de inteligência.
Alguém afirmar, por exemplo, que pessoas de ciências naturais (como física, matemática, química, astronomia, biologia, etc) são mais inteligentes que pessoas de “ciências” sociais (como história, educação, sociologia, psicologia, etc) é um disparate. O que as primeiras têm é mais inteligência lógica, enquanto as outras utilizam outro tipo de inteligência (como a linguística).
Note-se igualmente que não é preciso ter um “papel” para demonstrar diferentes tipos de inteligência. Alguém com um doutoramento em geologia, por exemplo, pode ter uma elevada inteligência lógica e naturalista, mas não ter qualquer sensibilidade para entender as outras pessoas. Já uma pessoa com a 4ª classe pode ter uma elevada empatia com os outros que lhe permite ter uma forte inteligência interpessoal.
Por isso, quem afirmar que “sou mais inteligente que tu” ou “tenho mais capacidade intelectual que tu”, só porque tem um doutoramento enquanto a outra pessoa tem um mestrado noutra área, ou porque fez um curso na Universidade enquanto a outra pessoa não terá passado do 12º ano por exemplo, essa pessoa está somente a olhar para a inteligência lógica, de livros – que é a que popularmente se fala mais. Mas denota obviamente a completa falta de inteligência interpessoal, demonstra ser um insensível, ou o que popularmente se chama: é um idiota.
Toda a gente tem estes tipos de inteligência.
A diferença entre as pessoas (sem julgamento de valores, sem serem superiores ou inferiores) é que diferentes pessoas têm um pouco mais de algumas inteligências e um pouco menos de outras.
Onde vocês se enquadram? Quais têm mais e quais têm menos?
5 comentários
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Passar directamente para o formulário dos comentários,
em uma escala de 1 a 10:
Inteligência Lógica: 9
Inteligência Linguística:7
Inteligência Corporal: 8
Inteligência Espacial:7
Inteligência Musical: 2
Inteligência Naturalista: 8
Inteligência Existencialista: 8
Inteligência Interpessoal: 7
Inteligência Intrapessoal:10
Dentro do que eu conheço de mim, julgo que caibo um pouco, mas só um pouco que não sei quantificar, na inteligência lógica e interperssoal. Por isso tirei um curso de Engenharia Química, embora me tivesse dedicado ao ensino no ISEP. Mas gostava também muito de ter sido médica.
Um abraço.
Temos um professor na UPP que nos tem falado em inteligência, muito de acordo com os critérios que aqui apresenta.
Eu também concordo muito com eles.
Um abraço.
Author
Numa escala de 1 a 9, isto sou eu:
Inteligência Lógica: 8
Inteligência Linguística (mais oral): 7
Inteligência Corporal: 3
Inteligência Espacial: 1
Inteligência Musical: 1
Inteligência Naturalista: 2
Inteligência Existencialista: 5
Inteligência Interpessoal: 3
Inteligência Intrapessoal: 9
quais são os critérios para nos avaliarmos?
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