Quando as sondas espaciais exploraram os gigantes gasosos do Sistema Solar, mundos secundários e menos importantes que seus planetas na época, as luas (satélites naturais) roubaram definitivamente a atenção dos astrônomos dedicados ao estudo do Sistema Solar exterior. As nuvens e manchas de tempestades colossais de Júpiter não foram páreos para o fascínio que Io causou com sua atividade geológica inacreditável, e Europa com sua crosta de gelo intricada e a chance de albergar vida extraterrestre oceânica. Até mesmo o maior tesouro do Sistema, os Anéis de Saturno, tiveram que dividir espaço com os jatos de gelo de Encelados e a complexidade esplêndida do mundo de Titã, enquanto mais adiante Miranda e sua superfície bizarra e deformada rouba a cena de seu planeta sem muita “graça” – Urano, e Netuno fica apenas como um destaque no plano de fundo do psicadélico cenário de Tritão, sua maior lua.
Planeta é uma classificação mais orbital do que física, a maioria dessas luas citadas possuem um tamanho planetário, e seriam considerados planetas se girassem ao redor do Sol. Titã é maior que o planeta Mercúrio – embora tenha metade de sua massa, visto que Mercúrio é em sua maior parte ferro enquanto que Titã é gelo e rocha.
Logo, os astrônomos não estão diretamente interessados se um objeto orbita ao redor do Sol ou de um Planeta, o que importa é sua natureza. O fato é que, quando as luas do sistema solar se mostraram interessantes dessa forma, os cientistas passaram a imaginar como seriam as luas dos exoplanetas (planetas de outros sóis, que não o nosso), e imaginar quais seriam as chances de vida em alguma dessas exoluas.
Um exemplo de exolua com vida na ficção foi o planeta Pandora do filme de ficção científica ‘Avatar’, que na verdade não era um planeta, mas uma lua de tamanho planetário que gira ao redor de um gigante gasoso, que podia ser visto no céu em algumas cenas da trama.
Um Gigante no Céu
Por sinal, ver o planeta enorme no céu certamente é a primeira coisa que vem a imaginação quando você se imagina na superfície de uma lua, não é?
Assim como a nossa Lua e as outras do sistema solar, uma lua tem uma órbita presa no planeta. Isso significa que sua rotação e translação possuem o mesmo período, e que ela sempre tem o mesmo hemisfério voltado para o planeta, enquanto que moradores do outro lado da lua jamais veriam o planeta anfitrião em seus céus.
Os habitantes do mundo-lua também teriam de se acostumar num ciclo dia-noite estranho. A rotação não é o único movimento para definir o ciclo, mas também sua translação, que é ao redor de um planeta – não de seu sol. Você também poderia ser surpreendido por um eclipse solar pelo planeta gigante causando total escuridão em pleno meio dia.
Gravidade
A primeira coisa a pensar é a gravidade e seus efeitos. No Sistema Solar, o ambiente infernal e vulcânico de Io é um exemplo do que pode acontecer quando uma lua está perto demais de seu planeta. Mas já que estamos numa ficção, podemos imaginar nossa exolua numa distância mais segura. Mesmo assim, um planeta grande o bastante para ter uma lua com proporções planetárias razoáveis para reter atmosfera, pelo menos por uma razão de estatística, seria um gigante gasoso. A questão é o preço que se paga por estar no papel de lua e não de planeta: os efeitos da gravidade no mundo menor sempre são maiores, e se você tiver oceanos numa lua azul, suas marés seriam mais intensas – talvez seja impossível encontrar uma praia tranquila para curtir as férias. Os ciclos dessas marés até poderiam ser previsíveis num certo ponto, no entanto teria mais variações de épocas, num sistema em que tem mais luas de tamanho grande. No sistema de Júpiter, por exemplo, as forças gravitacionais sobre Io não envolve apenas Júpiter, mas também os outros satélites galileanos – a chamada ressonância de Laplace (1:2:4 => translações de Io:Europa:Ganimedes). É provável que esses efeitos nos mares tornassem nossa lua oceânica um mundo de muitas tempestades, devido a grande contribuição dos oceanos na dinâmica de um clima.
Radiação
Existem dois cenários possíveis em que a exolua poderia proteger-se da radiação espacial ou da radiação de seu próprio planeta, caso seja um jupiter. O ideal seria ela ter um campo magnético próprio (como Ganimedes, porém mais forte), ou talvez poderia ficar dentro da magnetosfera de um planeta gigante um pouco mais ameno, como Saturno.
Zona Habitável
A zona em que uma lua seria habitável é diferente e não segue precisamente as mesmas regras da zona de um planeta. Considerando uma lua exótica em que a vida orgânica se desenvolva num mundo diferente da Terra, a zona habitável poderia ser onde está Europa e Ganimedes, ao redor de Júpiter. Io está mais perto de Júpiter e sofre mais os efeitos de maré, tornando-se um lugar excessivamente vulcânico e hostil à vida. Já Ganimedes e principalmente Europa sofrem esse efeito em menor intensidade, assim possuem calor interior suficiente para formar lagos ou mesmo oceanos subterrâneos, onde a vida tem alguma chance. Já a habitabilidade na superfície necessária a uma lua azul provavelmente envolveria a proximidade específica do planeta anfitrião ao seu sol, a menos que o planeta emitisse um grande calor de fonte própria para aquecer sua superfície, o que também não é um cenário impossível – ele representaria um pequeno sol, sendo que talvez aqueles júpiteres muito massivos com identidades discutíveis (planeta ou estrela anã castanha) poderiam desempenhar esse papel.
O Futuro às vezes chega mais cedo
Exoluas habitáveis nunca foram encontradas, mas os astrônomos dizem que não há razão para supor que elas não existem, e instrumentos como o Kepler podem detectá-las. A primeira coisa que vem em mente é o fato de que não é nada fácil estudar um exoplaneta, quanto mais um objeto menor orbitando à sua volta. No entanto, a mesma dificuldade era calculada há pouco mais de uma década atrás sobre a investigação de exoplanetas, mas a engenhosidade e o oportunismo dos pesquisadores conseguiu o antes impensável: estudar até as atmosferas deles, mesmo antes dos lançamentos dos telescópios mais poderosos dedicados a exo-planetologia.
Em breve, equipamentos cada vez mais sensíveis passarão a descobrir exoluas, que dessa vez deverão começar pelas mais interessantes, as maiores – não seria estranho para planetas do tamanho de Júpiter ter luas do tamanho da Terra.
😀
O AstroPT tem mais artigos interessantes sobre exoluas, a pesquisa para listá-los é melhor que escolher apenas alguns: http://astropt.org/blog/category/exoplanetas/exoluas/
5 comentários
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Eu, depois desse comentário de Xevious, acho que não existiríamos, pois assim, Júpiter teria, com quase certeza absoluta, impedido que o “serial Killer” matasse os Dinossauros, logo eles, ou quem sabe outro espécie melhor e mais horrenda, viveriam neste planeta, e nunca que nós colocaríamos nossas marcas no mundo, e muito menos no universo.
Se Jupter estivesse no lugar da nossa órbita, nós poderíamos estar bem vivinhos, vivendo em Ganimedes por exemplo.
Ou já que estamos conjecturando, se a Terra fosse um satélite de Jupter, e também na nossa Órbita, estaríamos também por aqui, e com um céu bem mais impressionante!!
Author
A Terra tem um campo magnético, Júpiter um Campo magnético colossal – já pensou também nas auroras boreais e austrais que veríamos?
Bom texto!
A vida consegue existir em sítios muito estranhos. Ora vejam, existe vida – bactérias – a 6 milhas de altura na nossa atmosfera, com frio, pouco oxigénio… Não é difícil de imaginar vida em Europa, ou em bolsas de água em Marte, ou mesmo Tritão…
http://www.popsci.com/science/article/2013-06/bacteria-33000-feet?src=SOC&dom=fb
Abraço 😉
gostei do tópico jonatas, obrigado.
[…] solução). Jovem Universo. Sagan. Dentro de Buracos Negros. Buraco Negro de Outro Universo. Luas. Vida nas luas. Vida em Vénus. Depoimento de um habitante de Titã. Astrónomo Russo. Educação. Documentários […]