Após um estudo do Relatório Final, e de ter em atenção o que se podia gastar no Orçamento, a administração Obama cancelou o programa Constellation! Não vai haver Orion, nem Ares. Ou sejam, os EUA já não vão à Lua.
Leiam aqui, para onde vai ser enviado o dinheiro.
Vai haver uma aposta na Estação Espacial Internacional, que se vai manter até 2020.
Vai haver uma grande aposta no sector privado. 6 biliões de dólares vão para o incremento de vôos comerciais, como podem ler aqui. Esse sector privado levará os astronautas para o espaço.
14 milhões vão para uma missão ao Sol.
60 milhões vão para estender a Missão Cassini no sistema de Saturno até 2017! Excelente!
Outros fundos vão para se detectar melhor asteróides perigosos.
Vai também haver uma maior aposta na educação e na divulgação de assuntos astronómicos, com 146 milhões de dólares.
Leiam também, aqui, aqui, e aqui.
Leiam também este artigo do Público.
Leiam também este artigo da Teresa Firmino.
Leiam também este excelente artigo do conhecido Phil Plait, que gosta especialmente na aposta nos privados.
Leiam também este artigo do Jack Schmitt, o único cientista a ir à Lua.
Qual é, afinal, a minha opinião sobre este assunto?
O que penso sobre este cancelamento das missões humanas?
Após falar com alguns astrónomos, e de ver várias entrevistas na TV quer a antigos astronautas, quer a personalidades com peso quer na NASA quer no futuro da astronáutica a nível privado, fiquei com algumas sensações:
1 – Onde estão as vozes críticas? Começo a achar que tudo o que o Obama faz é logo assumido como correcto.
2 – Têm razão quando dizem que o programa anterior do Constellation estava a derrapar fortemente em termos orçamentais, e que provavelmente não valeria a pena continuar com algo que estava a dar tantos problemas monetários. Além disso, para financiar o Constellation, estavam a ser canceladas várias missões científicas.
3 – Tal como Aldrin, Armstrong, Kranz, e muitos outros (de que tenho falado neste blog), acho que a re-ida à Lua era um desperdício. Era ir “buscar mais uma t’shirt quando já se tinha uma”.
4 – Compreendo que achem que a NASA é boa é em missões robóticas (vejam os actuais Rovers em Marte, as várias sondas que orbitam Marte, e a Cassini em Saturno, por exemplo), e daí que deve privilegiar essa vertente (o seu ponto forte), em vez da “propaganda” humana que tem mais custos, mais problemas de segurança, etc.
5 – Também compreendo que a NASA deve ser mais científica do que tem sido, e daí que um aumento do tempo de vida da Estação Espacial Internacional permite fazer mais experiências científicas. Ou seja, os cientistas em geral até ficaram satisfeitos com este maior ênfase na ciência.
6 – Acho que a aposta na educação é essencial. Mas comparando os orçamentos anteriores, a aposta não é significativa.
7 – Penso que se esquecem da visão de futuro, e do factor inspiração que era uma das características principais da NASA.
Tal como Aldrin, Armstrong, Kranz, e muitos outros, acho que falta uma grande e inspiradora visão de futuro.
O poder principal do programa Apollo não foi a parte científica, que isso poderia-se conseguir com missões robóticas, mas foi sim o poder inspirador que fez sonhar várias gerações.
Esse poder para inspirar, paradoxalmente tendo em conta os discursos de campanha de Obama, perde-se com esta nova (fraca) visão do futuro.
8 – Penso assim, que este novo caminho da exploração espacial fica muito aquém das expectativas. Onde estão, por exemplo as missões a asteróides ou missões a Marte? São inexistentes.
9 – Vários já afirmaram que esta é uma mudança de paradigma que já deveria ter acontecido há muito tempo. Passo a explicar: dizem que a NASA estava demasiado ligada às formas de pensar do passado, e deve é olhar para o futuro e unir-se ao que deve ser o futuro da conquista espacial.
a) Neste sentido, a NASA deve estar sempre na “crista da onda” das inovações tecnológicas (com, por exemplo, os astronautas “Tweetarem” a partir da Estação Espacial Internacional). Mas isso, para mim, é só uma operação de “cosmética” superficial para parecerem mais “cool”. Se ajuda na divulgação ou na inspiração de uma geração inteira? Duvido.
b) A NASA deve também mudar radicalmente a visão de que só ela tem o “controlo” do espaço, e deve dar mais valor a quem vai ser o futuro da exploração espacial, que é a vertente comercial. Aí, até concordo. Não concordo, como vão fazer, que é “passarem a pasta” dos lançamentos para o sector comercial – acho que cada um devia ter o seu lugar -, mas concordo que devem fazer mais pelo desenvolvimento comercial do espaço, que é onde está o $$$. E várias empresas comerciais já foram escolhidas, como podem ler aqui.
Acho que a aposta no sector privado é essencial e excelente! Serão eles os próximos a chegar à Lua?
10 – E, lá está, tudo passa pelo $$$.
Mas continuo a afirmar que falta a tal visão inspiradora; faltam os grandes projectos que fazem sonhar; falta, nomeadamente, uma Missão Humana a Marte.
Cada vez aposto mais nos Chineses para essas grandes Missões Humanas…
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Professor Carlos se eu fosse bilionário e se o senhor concordasse, eu patrocinava uma missão tripulada a Plutão e o senhor seria o primeiro homem a pisar em um corpo cósmico (além de nosso planeta e da lua ).
Seria interessante a velha discussão sobre Plutão sendo reacendida, o professor Carlos teria ido a um planeta ou um planeta anão?
O senhor seria o novo Armstrong, os olhos de todo o mundo estariam atentos a cada movimento seu.
Temos tecnologia para isso, o que não temos é orçamento, e quando temos eles são mal administrados.
Author
O Reinaldo quer me matar 😉 ehehehehe 🙂
Uma missão humana a Plutão, atualmente, seria sempre uma missão só de ida 😉
E duvido que eu chegasse lá ainda vivo 😀 eehhehehe 🙂
Mesmo a Marte, há quem defenda missões só de ida. E é aqui pertinho 😉
abraço! 😉
Mas Professor então o senhor mudou de ideia?
Pois na postagem http://www.astropt.org/2011/10/26/o-distante-eris-e-gemeo-de-plutao-calculado-com-precisao-o-tamanho-do-planeta-anao-no-momento-em-que-ocultou-uma-estrela-de-fraca-luminosidade/
O senhor falou num comentário:
“Se me dissessem que era uma viagem tripulada, aí sim, mesmo sem experiência ou competências, atirava-me logo de cabeça para ir a conduzir! ”
Eu pergunto também se seria possível ter tecnologia suficiente, para manter em condições de manter uma tripulação por pelo menos uma semana na superfície de Plutão (claro, não uma semana toda exposta fora da nave) ?
Também pergunto se a humanidade tem ciência e tecnologia para mandar de volta uma tripulação humana de volta para a Terra, é que agora fiquei pensativo, porque o senhor falou que: “Uma missão humana a Plutão, atualmente, seria sempre uma missão só de ida ”
Agradeço por sua atenção.
Author
Sim, mas o suicídio (eu decidir ir) não é crime. O Reinaldo enviar-me é homicídio (crime). ehehehehe 🙂
Não, neste momento não existe essa tecnologia.
Não seria possível enviar uma tripulação a Plutão neste momento. Muito menos trazê-la de volta.
Mesmo para Marte, como eu disse, há quem defenda enviar uma missão tripulada só de ida 😉
abraços
Com uma nave 20 vezes mais rápida que as actuais e protecção garantida contra a radiação cósmica, já seria possível enviar humanos em segurança a Plutão? Ou há outros factores que impedem esse sonho?
Author
e como poria uma nave 20 vezes mais rápida? 😉
E mesmo assim… é pouco 😀
Vou colocar a questão de outra maneira.
Se a tecnologia do futuro nos trouxer uma viagem muito mais rápida (p.ex. 100x), a maior parte dos problemas fica resolvida, certo?
Das dificuldades que restam, existe alguma que esteja muito além das tecnologias actuais?
Author
A não ser terraformação (em que sou eu que digo 😛 ), quando alguém diz que há dificuldades que serão para sempre intransponíveis, quase de certeza que está errado. 😉
Por isso sim, qualquer dificuldade será ultrapassada.
Quanto mais rápido, menos problemáticas serão as outras dificuldades.
Desde a radiação, passando pela alimentação, e acabando na parte psicológica do isolamento.
Neste momento, até para responder também ao Reinaldo, uma missão humana talvez durasse 20 anos, em completo isolamento. E não estou a contar o abrandar para ficar em órbita.
E depois tinham que vir de volta. Mais 20 anos.
E tinham que levar combustível suficiente para também voltarem. Ou seja, muito mais peso na nave.
Haveria certamente, pelo menos, uma missão de 50 anos em completo isolamento, e se tudo corresse perfeito.
E estou a ser bastante conservador nos números… 😉
Author
Olá,
Claro que não são perguntas ignorantes!
Nós próprios falamos aqui dessa hipótese há uns anos atrás… quase há 3 anos.
Isto porque a Administração Bush (ainda era ele) sofreu algumas pressões para para esse prolongamento, e até houve estudos quanto a isso.
O problema era que a decisão já tinha sido tomada há bastante tempo, levando por exemplo, a despedimentos de muitas pessoas após o Shuttle não andar mais. Os contratos de trabalho vão expirar, e as pessoas já têm outros sítios para ir trabalhar.
Assim, já não se podia voltar atrás, e uma das razões era a parte administrativa.
Há outras razões. Essa era uma delas.
Ou seja, para mim, essa era uma boa hipótese, mas foi considerada demasiado tarde.
Carlos
Na minha opinião acho que a decisão foi acertada acerca do cancelamento das viagens à Lua, mas penso que o mediatismo de que a NASA necessita se encontra na 'tal' viagem a Marte. Quem é que não quer ver um humano pisar a superfície de outro planeta?
Mudando de superfícies, tenho uma dúvida, já se sabia que caso o projecto Constellation avançasse, o Space Shuttle iria reformar-se este ano, e que a Rússia e outros países iriam suportar a ISS, mas com o cancelamento deste projecto gostaria se saber se os planos da NASA acerca dos Vaivéns se mantêm, porque não prolongar por mais 5 anos? Porque não manter os veículos como apoio?
Desculpem se são perguntas ignorantes, mas queria só saber uma opinião 🙂
Cumps. 😉
Acho que disseste a palavra chave: "marketing".
Não tens mais retorno científico do que com missões robotizadas. Tens mais visibilidade e provavelmente financiamento futuro devido ao envolvimento popular.
Há tanto por fazer. Por exemplo, uma missão importantíssima e com retorno científico valioso seria uma sonda orbital em torno de Neptuno com eventual segunda sonda para pousar na superfície de Tritão. De uma só vez estudavas um gigante de gelo (e tinhas uma ideia mais clara sobre os exo-Neptunos que vamos encontrando por aí) e um objecto da cintura de H-K (Tritão).
Author
Concordo que foi uma decisão acertada o cancelamento.
Era um desperdício ir novamente à Lua.
Concordo também com a aposta nas empresas privadas.
Não concordo com o último parágrafo.
O Spirit e Opportunity têm feito um trabalho monumental! Muito mais do que os Homens que estiveram na Lua, por exemplo.
Mas será que quando os rovers foram lançados tiveram o marketing e os milhões de pessoas em frente à TV que tiveram os astronautas que foram à Lua? Claro que não.
Sondas não inspiram o povo.
O risco de lançar homens/mulheres (que podem morrer) para um sítio pela primeira vez é que faz despertar consciências, é que faz ter milhões de pessoas "normais" interessadas, é que faz um miúdo de 10, 14, ou 17 anos anos querer seguir ciência para um dia ser ele a estar naquele sítio e a ser um pioneiro.
😉
Em minha opinião o cancelamento do Constellation foi uma decisão acertada. O projecto necessitaria de recursos financeiros enormes e teria um retorno científico duvidoso. Mais, a decisão de apostar na iniciativa privada para a colocação em órbita de pessoas e payloads é excelente. Se o plano do Obama resultar os EUA terão várias empresas ligadas a tecnologias aeroespaciais a realizar serviços competitivos e provavelmente absorverão muitas das pessoas que sairão da NASA. O melhor é que não terá de ser a NASA a fazer trabalho de sapa. Já basta o impacto brutal do Space Shuttle no orçamento da NASA ao longo destas décadas.
Gostaria de ver a NASA a realizar trabalho de ciência fundamental, desenvolvimento de novas tecnologias e a apostar fortemente na disseminação desses conhecimentos. Parece-me, pelo que li, que essa é a direcção proposta.
Outro ponto fundamental reside na cooperação internacional. Nos tempos que correm as missões tecnologicamente mais arrojadas necessitam do envolvimento de mais do que uma agência. Veja-se o exemplo das missões Darwin (ESA) e TPF (NASA). Ambas estão moribundas por falta de financiamento e parece-me também alguma descrença na tecnologia necessária. Uma colaboração financeira e tecnológica permitiria certamente melhorar as perspectivas de sucesso para uma tal missão.
Quanto às grandes missões e à inspiração colectiva, parece-me que damos demasiada importância ao facto de serem protagonizadas por humanos (e.g. missão a Marte). Há missões que constituem desafios tecnológicos extremamente complicados e que poderiam funcionar como esse factor aglutinador de consciências. Pessoalmente, preferiria no meu tempo de vida ver as primeiras imagens de uma outra "Terra" a algumas dezenas de anos-luz de distância obtidas por uma uma missão do tipo Darwin+TPF do que ver os primeiros passos do homem em Marte.
Muito agradecido a si e a toda a equipa por despenderem do vosso tempo para nós.
[…] Embora a nossa própria Lua esteja relativamente bem próxima do nosso alcance, podendo ser alcançada em poucos dias, sua gravidade (≈ 1,6 m/s² ou ≈ 0,17 g) e velocidade de escape (≈ 2,4 km/s) implicam no uso de foguetes relativamente grandes para realizar as operações de pouso e decolagem da sua superfície. Este problema de engenharia espacial também se aplica a Marte, em maior escala, devido a sua maior gravidade (≈ 3,7 m/s² ou ≈ 0,38 g e velocidade de escape ≈ 5 km/s), o que torna o desenvolvimento de missões ao Planeta Vermelho também algo dispendioso, talvez até inexeqüível financeiramente, considerando a atual revisão da política de exploração espacial da NASA pela gestão do Presidente Barack Obama. Em outubro de 2009, um comitê de especialistas independentes, liderado pelo industrialista Norman Augustine, havia concluído que a NASA necessitaria de mais cerca de 3 bilhões de dólares por ano, se realmente almejasse enviar astronautas de volta à Lua, sem considerar Marte, até 2020. Esta necessidade de investimento levou ao governo americano cancelar o programa Constellation em 2010. […]
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