Tal como os EUA, o Brasil é enorme.
A cultura científica em países desse tamanho é mínima.
Assim, é normal aparecerem as mais disparatadas ideias, que têm o único intuito de levar os parvos a dar dinheiro a quem se aproveita deles vendendo-lhes mentiras.
Como qualquer pessoa gosta de estar bem de saúde, agora apareceu uma “nova medicina” para apanhar os “distraídos”.
Vem tudo a propósito do disparate que é publicitar uma melhoria de saúde com base na Física Quântica!!
Como é óbvio, esta “nova medicina” não tem NADA A VER com física quântica.
Esta recente ideia “new age” vai buscar as “matrizes de base energéticas” que se baseiam em “elementos energéticos e emocionais” para “testar” e posteriormente “reequilibrar o sistema bioenergético”.
Esta salgalhada de palavras, com algumas delas deliberadamente postas para promover o mistério e uma aura científica, NÃO DIZEM NADA.
É pôr rótulos, para quem ouve, pensar: “este homem deve saber do que diz”. Mas não! As palavras são deliberadamente postas para mascarar que não se sabe explicar o que se está a dizer nem explicar o que se passa mesmo.
“Matrizes de base energéticas”, “elementos energéticos e emocionais”, e “reequilibrar o sistema bioenergético” são expressões SEM QUALQUER BASE CIENTÍFICA! E não têm qualquer definição física!
A única palavra com algo científico é o “testar”.
Mas não há qualquer teste. Teste predispõe que possa dar resultados negativos, e neste caso não pode.
A utilização de programas de computador também não prova qualquer relacionamento com a ciência.
Eu posso passar o tempo no computador a jogar jogos de futebol e não posso dizer que estou a fazer ciência só porque estou a lidar com um programa informático.
Qualquer informático deve saber pôr umas luzinhas a piscar no ecrã, palavras a dizer “fadiga emocional”, e uns sons esquisitos para apanhar crentes.
Mas quando o “professor” diz que a inteligência artificial do programa é do que de mais avançado existe no mundo, tenho que admitir, fez-me rir!!
Por outro lado, eu chamei a isto de “nova medicina” porque vem a partir de ideias “new age”. Mas de “nova” não tem nada.
Ao contrário do que diz o “vendedor de banha de cobra” na reportagem, estas ideias disparatadas não são dele, nem sequer são brasileiras.
Basta perderem 1 minuto e procurarem no Google por “quantum health” ou “quantum healing” e percebem o que eu quero dizer.
(já agora, se fizerem essa pesquisa, percebem que essas ideias estão ligadas a misticismos e espiritismos que nada têm a ver com ciência, mas provam que isto não passa de “religiões alternativas”)
Por último, notem quem são as entrevistadas.
A 2ª é uma esteticista – ou seja, de ciência não percebe nada e ou está a ser levada por lorpa pelo “professor” ou então está nisto para fazer dinheiro no futuro (em Portugal ou no Brasil) à custa dos lorpas, fazendo-se passar por professora disto apôs fazer o tal curso online.
A 1ª entrevistada é cromoterapeuta!!! É preciso eu dizer mais alguma coisa?
Realmente quem fôr levado por isto, só pode ser mesmo muito cromo!
Vejam a reportagem sobre isto na RTP, e leiam o que o David Marçal escreve no seu post, clicando aqui.
Leiam este texto, onde se explica que isto é um amontoado de mentiras e de condenações por fraudes, por pessoas sem escrúpulos e sem educação escolar, com algumas pessoas já a andarem a fugir da justiça nos EUA e a trabalhar como travestis na Europa do Leste.
Leiam o que o Luis Pedro Nunes escreveu no Expresso, clicando aqui.
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Como físico de partículas e investigador da área de saúde a Física quântica tem aplicações práticas na área de saúde, na imagiologia médica, como por exemplo no Pet-Scan, no Mem-scan (mamografia), nos ultra-sons, nos raios-x e em todos sistemas computacionais dos hospitais, centros de saúde e laboratórios de análise. Também nos sistemas administrativos e de gestão de apoio à saúde.
Na questão da pseudo merdicina de alterne tratada aqui neste post esta pseudo ciência da propaganda de seitas religiosas mata as pessoas doentes.
Cerebro terapias, magneto terapias, massagens reikki e toda essa panóplia de vigarices só servem para dar falsas esperanças, esconder sintomas, interferir nas terapias da medicina que cura e roubar dinheiro às pessoas.
Por exemplo andarem a aconselhar um doente com cancro a beber sumos anti-oxidantes sem acompanhamento médico pode matar. O organismo pode produzir mais oxidantes e depois o doente tem que tomar remédios muito caros para restabelecer o seu equilíbrio nutricional, e muita gente não tem dinheiro para esses remédios nos países em que há menos apoios do que em Portugal.
E nos que há pode dar resultados enganadores nas análises de controlo dos tratamentos, como tal pode matar.
Embora não seja fanática das terapias alternativas, aconselho-o a que faça alguma pesquisa quando faz afirmações como
“Cerebro terapias, magneto terapias, massagens reiki e toda essa panóplia de vigarices só servem para dar falsas esperanças, esconder sintomas, interferir nas terapias da medicina que cura e roubar dinheiro às pessoas.”
É certo que há muitos charlatães neste, como em todos os campos, mas conheço muitos médicos tradicionais que incentivam as pessoas a recorrer a tratamentos holísticos como COMPLEMENTO da medicina tradicional. E conheço muitos “charlatães” que se recusam a tratar pessoas que não querem ir ao médico. Quando tirei o meu nível 1 de Reiki (que não é uma massagem, ao contrário do que o Sr diz), o meu professor foi peremptório em dizer que o Reiki pode ajudar, mas não é um tratamento, nem uma cura. Como cientista, acredito no efeito placebo. Penso que é por aí que estes tratamentos ajudam (tal como a homeopatia, que já está “institucionalizada”. Mas, como cientista, também não descarto a hipótese de haver alguma interacção a outros níveis (energético, hormonal, mesmo psicológico) que potencie de alguma forma o sistema imunológico do paciente. Afinal, os impulsos nervosos são basicamente impulsos eléctricos de baixa potência. E o cérebro humano (bem como o sistema nervoso) ainda não estão completamente estudados. Basta lembrar-se que não se tem a certeza de como funcionam alguns dos antidepressivos mais prescritos do mundo. Mas funcionam. E não é pelo efeito placebo.
Author
Carla,
Diz algumas coisas acertadas, mas também algumas erradas 😉
Vou discutir as erradas:
“É certo que há muitos charlatães neste, como em todos os campos, mas conheço muitos médicos tradicionais que incentivam as pessoas a recorrer a tratamentos holísticos como COMPLEMENTO da medicina tradicional.”
Certo. Mas porque os médicos conhecem o efeito placebo…
“Como cientista, acredito no efeito placebo.”
O conhecimento e a ciência não se faz de acreditar 😉
Como cientista, sabe que a crença não tem qualquer sentido na ciência 😉
Os testes a Reikki dão placebo. O resto são crenças que não fazem sentido na ciência. 😉
“não descarto a hipótese de haver alguma interacção a outros níveis (energético (…)”
O que é interacção a nível energético?
Ao contrário do que dizem os vigaristas e o senso comum, a definição de energia tem a ver com trabalho. Logo, qual a interacção de nível de trabalho que está a falar?
“alguns dos antidepressivos mais prescritos do mundo. Mas funcionam. E não é pelo efeito placebo.”
Não? Ou é o princípio activo ou o placebo, porque não se pode invocar o Pai Natal 😉
abraços!
Olá Carla,
Eu também concordo com muitas das coisas que disse, excepto nos seguintes pontos:
O que é uma interacção a nível energético? É uma coisa que dá para medir, o que é que faz exactamente, em que condições? Se é um conceito que é passado apenas por tradição e se não dá para medir, como é que se sabe se existe sequer? É porque quando oiço este tipo de expressões usadas para “tapar buracos” no conhecimento lembro-me sempre dos miasmas na idade média e isso correu mal (http://en.wikipedia.org/wiki/Miasma_theory).
“Basta lembrar-se que não se tem a certeza de como funcionam alguns dos antidepressivos mais prescritos do mundo. Mas funcionam.”
Exacto, e isso sabe-se precisamente devido a estudos randomizados, controlados e duplamente cegos, que diminuem os factores de confusão como o efeito placebo dos pacientes, e os viéses de confirmação dos próprios investigadores. Ou seja, mesmo não sabendo como algo funciona, como por exemplo a homeopatia ou o reiki, em princípio deveria ser possível saber se funcionam ou não com este tipo de estudos. O problema é que até agora falharam redondamente, e a ausência de plausibilidade inicial também não abona muito a favor deles…
Também existe muito efeito placebo na medicina convencional, basta entrar num consultório com um médico sorridente e atencioso para o despoletar. O problema é que o efeito placebo não cura nada, é apenas uma distorção da percepção do paciente. É certo que poderá ajudar a reduzir níveis de stress e assim ajudar na recuperação, mas isso é um pouco controverso e ainda está por provar.
Para mim este assunto é sobretudo uma questão de ética, será correcto estar a oferecer às pessoas tratamentos que não se sabe se funcionam melhor do que um placebo, ou pior ainda, tratamentos para os quais existem várias evidências científicas de que não funcionam de todo (p.ex: homeopatia)?
Cumprimentos
As massagens reiki e toda essa panóplia de vigarices só servem para dar falsas esperanças, esconder sintomas, interferir nas terapias da medicina que cura e roubar dinheiro às pessoas.
O rei-ki alega ser de facto uma terapia complementar, é vendido comercialmente como uma massagem sem toque e não passa, de acordo com os estudos científicos, duma vigarice.
A Carla pode verificar os estudos científicos que concluem “reiki is not an effective treatment for any condition.”
http://www.livescience.com/10594-alternative-therapies-debunked-denounced-2009.html
“The two largest scientific reviews of reiki, published last year in International Journal of Clinical Practice and in November 2009 in the Journal of Alternative and Complementary Medicine, reveal that reiki is not an effective treatment for any condition.”
A Carla diz que acredita, pois a Ciência não se faz de acreditar, a Medicina faz-se baseada em evidências.
O seu nível Rei-ki 1, à luz da Ciência, não funciona.
O que a Carla faz não é complemento. É, de acordo com a evidência científica, falsa medicina.
Boa tarde Carlos,
Estou fazendo meu trabalho de conclusão de curso de Jornalismo sobre esse tema, e gostaria de contar com seu ponto de vista na minha reportagem.
Primeiramente,
No que o senhor trabalha? Tens alguma relação com a física quântica?
Baseado em que não acredita que a física quântica pode ajudar em problemas de saúde?
Existe alguma pesquisa que comprove essa não influência?
Agurado ansiosa pela resposta.
Grata,
Isis Cavalcanti
(81) 8632-4496
Author
Cara Isis,
Surpreenderam-me as suas perguntas.
Como pode ver no final do post, e pode também ver na página de colaboradores, está perfeitamente explícito quais os meus cursos e em quê que trabalho. Como uma das minhas licenciaturas é em astronomia, é assim normal que tenha tido cadeiras de física quântica. Logo, sim, sei alguma coisa disso. Mas não, não sou um especialista doutorado em física quântica – o meu doutoramento é em educação científica com especialização em astrobiologia.
Mas essa pergunta também não deveria ter sido feita a mim.
A sua pergunta deveria ser feita à esteticista, à cromoterapeuta (?), e a outros e outras que lhe dizem que sabem de saúde quantica. Deve-lhes perguntar em qual universidade tiraram o curso de medicina e em qual universidade tiraram doutoramento em física quântica. Elas é que se advogam de especialistas nessa área e querem “curar pessoas” com base nisso. Por isso, é a elas que deve perguntar pelas referências educacionais.
Por outro lado, a física quântica não se baseia em acreditar.
Já tenho escrito vários artigos aqui no blog sobre essas formas completamente erradas de pensar e falar sobre a ciência. Sugiro que leia os meus artigos.
Não faz qualquer sentido perguntar a alguém se acredita na gravidade, na electricidade, ou em computadores. Não faz qualquer sentido dizer que se acredita que o sangue é verde, porque basta testar e sangrar para perceber a imbecilidade dessa crença. As coisas são o que são. A ciência é conhecimento acumulado. O conhecimento ou se tem ou não se tem. Não depende das pessoas acreditarem nele ou não.
Em quarto lugar, a pergunta se há alguma pesquisa que comprove a não influência, também não faz sentido.
Ninguém perguntaria se há alguma pesquisa para provar que o Pai Natal não visita todas as casas na noite de Natal. Nem ninguém perguntaria se existe alguma pesquisa que prova a não existência de unicórnios invisíveis voadores. Porquê? Porque obviamente não há pesquisas para provar a não existência dos milhões de disparates que são ditos todos os anos por vigaristas.
Para separar o trigo do joio basta ter um pouco de literacia funcional, neste caso olhando para as evidências e para as fontes das “claims”/reivindicações.
Aconselho-a a utilizar o Kit de Detecção de Disparates, que nos foi dado por Carl Sagan. Utilizando-o, qualquer pessoa fica a saber onde está a verdade e onde está a mentira, avaliando as evidências.
Em quinto lugar, o facto de ter “quântica” é uma palavra que nos deve deixar logo desconfiados. No último século, o que não faltam são vigaristas a aproveitar-se da ingenuidade das pessoas, colocando essa palavra naquilo que vendem. Porque essa palavra e a teoria subjacente não é compreendida pelas pessoas, por isso esta táctica é utilizada de forma enganadora pelos vigaristas. Para saber se são vigaristas ou não, basta ver se têm doutoramento em física quântica, tendo para isso estudado este tema em universidades durante uma década.
Por fim, se está a concluir o curso de jornalismo, espero que peça as ferramentas necessárias para saber fazer a distinção entre o que é verdade e o que é mentira, para não dar “tempo de antena” a vigaristas, só porque a reivindicação deles parece “interessante”. Todas as tretas são interessantes. Mas não deixam de ser tretas/mentiras. Como neste caso da “saúde quantica”.
abraços
Também deu na TVI um homeopata com a mesma máquina mágica, chamaram-lhe nada mais nada menos que o Dr House português! Se o objectivo fosse no sentido de lhe chamar um médico ficcional então até que estaria correcto, mas infelizmente não. Mas se o próprio Dom Duarte era paciente e diz que funcionava então só pode ser verdade certo?
Na minha terra agora anda toda a gente iludida com um osteopata que usa a mesma máquina e diz às pessoas para atirarem os medicamentos dos médicos para o lixo, é apenas uma questão de tempo até acontecer uma tragédia e não há nenhuma entidade que pare esta gente. Eu tento explicar que não passa de um disparate, explico que o que ele diz não significa nada, é apenas verborreia, explico o que é o efeito placebo, dou até o exemplo das pulseiras do equilíbrio, mas não adianta. Acabo de explicar, ficam um bocado em silêncio e voltam ao princípio como se fossem um computador bloqueado: “Mas funcionou com a minha vizinha!”. Vizinha essa que também garantia ter ficado sem problemas de saúde com as pulseiras do equilíbrio…
É tão frustrante…
Parar esta gente? Não contes com o governo para isso, pois eles veem aqui mais uma oportunidade para sacar impostos…
Pois… já foi essa uma das razões que levaram à sua regulamentação. O engraçado é que ao contrário dos medicamentos convencionais, um medicamento homeopático, por exemplo, fica isento de demonstrar a sua eficácia, porque, como é óbvio, não pode demonstrar algo que não possui…
Author
Leiam também estes textos:
http://dererummundi.blogspot.com/2010/08/medicina-quantica-i.html
http://dererummundi.blogspot.com/2010/08/medicina-quantica-ii.html
E agora são as pulseiras…
http://www.astropt.org/2010/08/01/pulseiras-quanticas/
enfim…
[…] pessoas continuam a acreditar em águas que curam, em águas milagrosas, em milagres passados, em saúde quântica, em pulseiras quânticas, equilíbrios, amuletos, metafísica cósmica, reiki, limpeza espiritual, […]
[…] notícia sobre isto foi o Polvo Vidente, e a mais parecida com esta limpeza espiritual foi a Saúde Quântica. Há quem diga que fala com extraterrestres. Outros é com deuses. Outros é com o Napoleão. […]