CoRoT-Exo-7b:
Em Fevereiro de 2009, foi anunciada a descoberta da primeira “super-Terra” observada em trânsito, pelo observatório CoRoT. A dita gira em torno de uma anã de tipo espectral K0 em cerca de 20 horas pelo que a temperatura superficial deverá situar-se entre os 1000 e os 1500 graus. Está assim bastante perto da estrela!
O seu diâmetro é 1.75 vezes o da Terra, com uma massa de 5.9 vezes a massa da Terra, e uma densidade semelhante à dos planetas telúricos do nosso sistema solar (é formado maioritariamente por rocha e metal). O astrofísico Malcolm Fridlund refere-se já ao CoRoT-7b como um planeta rochoso.
Foi descoberto o primeiro exoplaneta rochoso com uma densidade semelhante à da Terra!
Leiam em português, e em inglês. Notícia original e mais informação.
Um artigo excelente do Govert Schilling, na S&T.
O Público fez destaque desta descoberta hoje. Leiam aqui.
Algumas frases interessantes:
“A estrela, chamada de CoRoT-7, está a 500 anos-luz de nós, tem apenas 1,5 mil milhões de anos de vida (o Sol tem cerca de 4,5 mil milhões de anos).”
“O planeta, que tem um raio 80 por cento maior do que a Terra…”
“O planeta está incrivelmente perto da CoRoT-7, apenas a 2,5 milhões de quilómetros de distância – 23 vezes mais próximo do que Mercúrio está do Sol – e a cada 20,4 horas, o tempo de uma translação, apaga uma fracção da luz emitida pela estrela. Isto permitiu inferir que a massa é cerca de cinco vezes maior do que a Terra. É por isso que foi classificado no rol das super-Terras, uma classe que junta 12 exoplanetas.”
“Esta foi a primeira vez que se conseguiu calcular a densidade de um planeta tão pequeno, que é próxima da Terra, sugerindo uma composição rochosa igual à do nosso mundo. Para além disso, por estar tão perto da sua estrela mãe, o planeta viaja a uma velocidade sete vezes superior à da Terra, a 750 mil quilómetros por hora.
“De facto, o CoRoT-7b está tão perto que se parece com o Inferno de Dante, com uma temperatura no seu lado de dia [voltado para o sol] perto dos 2000 graus célsius e -200 graus célsius na face que não apanha luz. Na teoria, o modelo sugere que o planeta possa ter lava ou oceanos em ebulição na sua superfície. Com condições tão extremas este planeta não é definitivamente um lugar para a vida se desenvolver”, disse Queloz.”
“A estrela tem outro planeta, um pouco mais distante, chamado CoRoT-7c. O planeta dá a volta à CoRoT-7 em três dias e 17 horas e tem uma massa oito vezes maior do que a Terra, por isso também é classificado como uma super-Terra.”
Didier Queloz, líder da equipa que está à frente das observações disse: “Isto é ciência no seu mais excitante e fantástico melhor.”
O sistema CoRot-7 é o primeiro sistema planetário a ter duas super-Terras de período curto.
Segundo o Jean Schneider da Extrasolar Planets Encyclopedia:
CoRoT-7 b,c, first system with 2 super-Earths, one transiting (Queloz et al).
CoRoT-7 b: M = 4.8 Earth mass, 1.68 Earth radius
CoRoT-7 c: M = 8.4 Earth mass
“Chover Canivetes” – “On Alien World, It Rains Rocks”
Bem, a expressão não é para ser entendida literalmente, mas na super-Terra CoRoT-7b a expresão popular poderá não ficar longe da realidade. Astrofísicos da Universidade de Washington em St. Louis (EUA) realizaram simulações com o objectivo de determinar como seria a atmosfera de um mundo como o CoRoT-7b, 23 vezes mais próximo da sua estrela que a Terra do Sol e submetido a temperaturas no lado diurno que atingem os 2600 Kelvin. As conclusões a que chegaram são surpreendentes e, melhor ainda, passíveis de serem testadas com observações espectroscópicas do sistema.
De acordo com as simulações, os gases voláteis tão comuns nas atmosferas de outros planetas como o hidrogénio, hélio, monóxido de carbono, dióxido de carbono, metano, oxigénio, nitrogénio, amónia, etc., terão sido dissociados pela radiação intensa da estrela e posteriormente escapado à gravidade do planeta. A única forma do planeta manter uma atmosfera é, imagine-se, à custa da vaporização das rochas da sua superfície devido às temperaturas extremas referidas.
Como a densidade (e logo a composição) do CoRoT-7b parece ser muito semelhante à da Terra, este terá certamente uma crosta rica em silicatos e outros minerais comuns no nosso planeta. A vaporização desses materiais cria uma atmosfera formada primariamente por sódio, potássio, monóxido de silício, e oxigénio. O oxigénio, note-se, é um dos elementos mais abundante nas rochas terrestres. O quartzo, por exemplo, é constituído por cristais de dióxido de silício. Daí a previsão da abundância de oxigénio na atmosfera do CoRoT-7b. Ele é libertado na vaporização das rochas.
Os constituintes das rochas vaporizadas da crosta dispersam-se na atmosfera subindo em altitude e formando “nuvens de rocha vaporizada”, à semelhança do que acontece com o vapor de água na Terra. No CoRoT-7b, os diferentes minerais vaporizados dão origem a nuvens com composições diferentes a altitudes diferentes, consoante as temperaturas de condensação de cada um dos minerais. Quando as nuvens ficam saturadas começa a chover e, assim como o vapor de água se condensa para formar gotas de água na Terra, os compostos das nuvens do CoRoT-7b poderão condensar-se e formar rochas, pequenas pedras, que cairão em forma de chuva. Os únicos elementos que poderão escapar a este ciclo são o sódio e o potássio, presentes nas nuvens e que, por serem mais voláteis, deverão atingir altitudes elevadas na atmosfera do CoRoT-7b e aí formar nuvens cuja assinatura espectral deverá ser detectável, por exemplo, com o telescópio Hubble.
Podem ver a notícia, aqui, aqui, aqui, e aqui.
CoRoT-7b é um Super-Io ?
Em Dezembro de 2009, foi publicado um artigo em que os autores discutem a possibilidade de a famosa Super-Terra CoRoT-7b ser na realidade uma versão superlativa do hiperactivo satélite de Júpiter, Io — literalmente um Super-Io.
Na realidade, o planeta poderá estar sujeito a forças de maré, provocadas pela estrela hospedeira e, com menor intensidade, pelo outro planeta do sistema (CoRoT-7c), que deverão ser suficientes para liquefazer o seu interior e provocar uma actividade vulcânica global cuja intensidade não se compara com nada do que vemos na Terra. Por outro lado, a irradiação a que está submetido o seu lado diurno é suficiente para derreter parte da sua superfície.
Finalmente, há uns meses vimos que o planeta tem condições para manter uma atmosfera com quantidades apreciáveis de rocha vaporizada a qual, em condições adequadas, “chove” sob a forma de pedras.
O CoRoT-7b é certamente um mundo muito exótico a que facilmente chamaríamos “inferno”.
O seguimento do sistema através da variação da velocidade radial da estrela permitiu demonstrar que o CoRoT-7b não orbita sozinho a estrela hospedeira, mas é acompanhado à distância por, pelo menos, mais dois planetas. Os dois novos planetas são “Neptunos quentes“.
De acordo com os novos dados o sistema planetário do CoRoT-7 é extremamente compacto, com os três planetas situados a distâncias entre as 0.017 ua e as 0.08 ua (por comparação Mercúrio tem uma órbita com um semi-eixo maior de 0.39 ua).
O planeta mais próximo da estrela, o CoRoT-7b é a super-Terra anunciada em Fevereiro de 2009 com um período de 0.85 dias.
O segundo planeta orbita a estrela a 0.045 ua (período de 3.7 dias) e tem uma massa de 12.4 vezes a da Terra, semelhante à de Urano.
O terceiro planeta tem 16.7 vezes a massa da Terra (semelhante a Neptuno) e orbita a estrela com um período de 9 dias.
Podem ver esta informação e muito mais nesta apresentação do Malcolm Fridlund, um dos responsáveis pelo projecto.
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