Trânsitos de 55 Cancri-e Também Detectados com o Telescópio Spitzer


[O telescópio espacial Spitzer. Crédito: JPL-Caltech / NASA.]

Uma equipa de astrónomos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), da Universidade de Maryland (EUA), da Universidade Central da Florida (EUA), da Universidade de Liége (Bélgica) e da Universidade de Genebra, acaba de disponibilizar um artigo em que descreve a detecção dos trânsitos do planeta 55 Cancri-e em torno da sua estrela hospedeira no infravermelho, utilizando o telescópio espacial Spitzer (no canal de 4.5 micrómetros). A detecção dos trânsitos deste planeta tinha já sido reportada no visível por uma outra equipa, liderada por Joshua Winn do MIT, que utilizou outro telescópio espacial para o efeito, o MOST.


[O trânsito de 55 Cancri-e observado pelo Spitzer na banda de 4.5 micrómetros. Crédito: B.-O. Demory et al.]

O que torna esta detecção interessante é o facto dos valores determinados para o raio, e consequentemente para a densidade do planeta, diferirem substancialmente dos obtidos pela equipa de Joshua Winn. Os eclipses observados pelo Spitzer são 2.5 vezes mais profundos, correspondendo a um raio do planeta de 2.1 vezes o da Terra. Este valor combinado com uma massa de 8.0 vezes a da Terra (determinada pelo método da velocidade radial e pela geometria dos trânsitos) resulta numa densidade de 4.6 g/cm^3, cerca de 80% da densidade terrestre. A equipa de Joshua Winn tinha obtido uma densidade enorme de 10.9 g/cm^3, aproximadamente 2 vezes a densidade terrestre. A razão da grande discrepância entre as profundidades dos eclipses no visível e no infravermelho ainda não é clara.

Se os resultados obtidos com o Spitzer prevalecerem então o planeta será muito diferente da maciça bola de metal e rocha implicada pela maior densidade. A densidade mais baixa de 4.6 g/cm^3 implica que o planeta é constituído maioritariamente por rocha. A figura que se segue, extraída do artigo, mostra o posicionamento dos planetas em função da sua densidade e composição interna. O planeta segundo Winn (círculo e barras de erro a vermelho) teria as características de um Super-Mercúrio constituído maioritariamente por ferro (63%) e rocha (37%). Com o novo estudo (círculo e barras de erro azuis) o planeta posiciona-se acima da linha de densidade igual à da Terra, contendo por isso maior quantidade de materiais voláteis. Os autores referem que um modelo em que o planeta é constituído por um núcleo semelhante à Terra rodeado por um oceano de água a elevada pressão e temperatura (designada de água super-crítica e com propriedades pouco usuais) é consistente com as observações realizadas.


[Crédito: B.-O. Demory et al.]

Certamente este planeta ainda vai dar muito que falar…

4 comentários

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  1. Notícia da detecção dos trânsitos pelo Spitzer:

    http://www.sciencedaily.com/releases/2011/05/110504111047.htm

    Nota o último parágrafo:

    “Interestingly, the study of the atmosphere of 55 Cancri e has maybe already begun. Indeed, another team of astronomers indepently announced April 29, the detection of the transits of the same planet with another space telescope, MOST. This team observed at a different wavelength than Spitzer, and their measured planet radius is 1.3 times smaller. “A possible explanation for this discrepancy would be the presence of a huge molecular enveloppe outgassed by the planet, making the planet appear larger for Spitzer,” says Demory. “Only new measurements will tell us.””

  2. Olá Luis,

    Pois, tens razão.

    Eu tinha achado estranho realmente tu dizeres isto:
    “Se os resultados obtidos com o Spitzer prevalecerem então o planeta será muito diferente da maciça bola de metal e rocha implicada pela maior densidade.”
    e depois isto:
    “Os autores referem que um modelo em que o planeta é constituído por um núcleo semelhante à Terra rodeado por um oceano de água a elevada pressão e temperatura (designada de água super-crítica e com propriedades pouco usuais) é consistente com as observações realizadas.”
    Comparando com o que dizem os internacionais…

    Tens que começar a divulgar estes posts com algo como: “Não acreditam nas notícias internacionais. Eu sei mais do que elas!” 🙂
    Porque realmente, estás mais à frente nas notícias… tens colocado aqui em 1º lugar e com maior explicação 🙂

    Cheers!

    abraço!

  3. Olá Carlos,

    há duas detecções. As notícias que tens visto referem-se apenas à primeira. A detecção dos trânsitos pelo Spitzer de que dou conta neste post não foi noticiada nos média.

    A primeira detecção, feita pela equipa do Joshua Winn usando o MOST, no visível, obteve dados que apontam para o planeta ser uma Super-Terra muito densa, como leste.

    Poucos dias depois, uma outra equipa, liderada pelo Brice-Olivier Demory e utilizando o telescópio Spitzer, no infravermelho, anunciou a detecção independente dos trânsitos. Os dados do Spitzer apontam para características do planeta muito diferentes das obtidas pela equipa do J. Winn. O planeta é maior, menos denso, e daí a estrutura proposta pela equipa do Demory, com um núcleo parecido com a Terra e um oceano de água super-crítica que contém cerca de 20% da massa do planeta. A água super-crítica tem propriedades interessantíssimas ! Vê aqui:

    http://www.sfu.ca/~science/media/water.html

    Vai ser preciso mais trabalho para perceber esta aparente discrepância entre os dados do MOST e os do Spitzer.

  4. Só agora estive a ler as notícias internacionais… e esta notícia fantástica já tinha sido divulgada aqui no astroPT 🙂
    Este é o planeta sólido mais denso 🙂

    Já agora, alguns links:
    http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=planeta-super-pesado-denso-quanto-chumbo&id=010130110502&ebol=sim
    http://www.spacedaily.com/reports/An_Earth_as_Dense_as_Lead_999.html
    http://www.universetoday.com/85293/transiting-super-earth-detected-around-naked-eye-star/
    http://www.dailygalaxy.com/my_weblog/2011/04/weekend-feature-astronomers-zoom-in-on-super-exotic-super-earth.html

    Os ETs por lá andam certamente a rastejar pelo solo 😛 ehehehe 🙂

    Interessante dizeres isto:
    “Os autores referem que um modelo em que o planeta é constituído por um núcleo semelhante à Terra rodeado por um oceano de água a elevada pressão e temperatura (designada de água super-crítica e com propriedades pouco usuais) é consistente com as observações realizadas.”
    Vamos pescar peixes esquisitos… 😛 ehehehehe 😀

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