CRUZEIRO DO SUL – IV
Depois que suas estrelas foram separadas do Centauro, o Cruzeiro do Sul deixou de ser um mero asterismo popular para começar a figurar entre as constelações oficiais. Como o desenho da cruz era pequeno e simples, apenas uma pequena região do céu foi delimitada para a então nova constelação.
Ao pé da letra, no sentido literário, dizemos que constelação é um grupo de estrelas (“con” = junto, ajuntar + “stela” = estrela). Antigamente nem todas as estrelas pertenciam a alguma constelação. O que importava aos observadores era utilizar somente as estrelas que faziam parte do desenho que o nome da constelação sugeria.
Por exemplo, se uma estrela que se situa na região onde fica o Touro não ajudasse a fazer o desenho do animal, então esta estrela não faria parte da constelação, mas seria catalogada como solitária ou, no máximo, dependendo da notabilidade, ganharia referências da constelação mais próxima. Tal estrela então poderia ser “a estrela ao sul do chifre do Touro”, ou “a solitária ao norte do olho do Touro”. Mas se precisassem dela para completar o desenho da constelação, aí sim, ela seria reconhecida como integrante do agrupamento.
Além deste problema havia também diferenças de utilização das estrelas pelos cartógrafos da época. Assim, uma estrela que não contribuía em nada para formar o desenho de uma constelação, segundo um cartógrafo que morasse na Polônia, já seria parte integrante de algum agrupamento para outro que trabalhasse na França, por exemplo.
As cartas celestes de séculos atrás eram verdadeiras obras de arte, mas eram imprecisas na identificação das partes integrantes de uma constelação. Ainda bem que, com o desenvolvimento das coordenadas celestes, a União Astronômica Internacional delimitou as constelações oficiais, não baseadas nesta ou naquela estrela, mas sim na região da esfera celeste utilizando as coordenadas. Dizemos agora que constelação é uma “região da esfera celeste”.
Fazendo de conta que o céu não é tridimensional (como os antigos achavam), podemos delimitar o céu em pedaços ou lotes. Cada lote é uma constelação. Hoje, após a oficialização pela União Astronômica Internacional, temos a esfera celeste dividida em 89 lotes pertencentes às 88 constelações.
Como o Cruzeiro do Sul era parte integrante do Centauro, na divisão da esfera celeste em lotes essa constelação acabou ficando com a menor delas. O Cruzeiro é a menor das 88 constelações oficiais existentes no céu. Na Humanidade muitos têm mais afeição por coisas menores, não é mesmo? Se o Cruzeiro do Sul fosse do mesmo tamanho do Escorpião ou da Ursa Maior, será que ela figuraria em símbolos da pátria?
Obviamente, o que ajuda na identificação do Cruzeiro do Sul não é apenas seu desenho de cruz. Suas 4 estrelas principais estão entre as 130 mais brilhantes do céu (conseguimos enxergar ao todo cerca de 6.000!). Sua principal estrela está entre as 15 mais brilhantes de todo o céu, sua segunda estrela mais brilhante está entre as 20 de maior brilho, a terceira é integrante do TOP25 de maior brilho e a quarta, a mais fraca do desenho da cruz, consegue ficar entre as 130 estrelas mais brilhantes do céu. Com isso podemos dizer que o Cruzeiro do Sul, a menor de todas as constelações, é a constelação com maior concentração de estrelas brilhantes por área total. Seus míseros 68,45 graus quadrados de área, apenas 0,17% da esfera celeste, possui 4 estrelas entre as mais brilhantes do céu! Não é para qualquer uma! Vai encarar?
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Deixo para vocês um enigma:
Tinha dito mais acima que a esfera celeste foi dividida em 89 lotes para as 88 constelações oficiais. Por que essa diferença no número de lotes e no número de constelações? Será que existe uma área neutra? Será por causa do Sol que passeia pelas constelações? Será por causa da posição do Astro Rei, que onde ele está a esfera celeste parra a ter uma zona desmilitarizada? Será uma espécie de ‘área 51 celeste’, uma zona tridimensional continuum dividida pela hipotenusa da diástole extrassensorial tangente ao gráfico para atendimento ambulatorial de ETs?
Tentem decifrar no espaço para comentários. Até a próxima!
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Tradicionalmente, só as primeiras doze fazem parte do zodíaco. Mas, a partir de 1930 (quando a União Astronômica Internacional padronizou as constelações), Ophiuchus é incluído, e o zodíaco passa a ter 13 constelações. Zodíaco é o conjunto das constelações cortadas pela eclíptica (o caminho percorrido pelo Sol durante o ano), e como o Sol passa por Ophiuchus geralmente entre 30 de novembro a 17 de dezembro, esta constelação é uma legítima constelação zodiacal.
[…] Vespúcio! E para você, quem ficou eternizado como o autor da constelação? Vamos investigar isto.Alguns posts atrás havia questionado a diferença entre o número oficial de constelações (88) e o número de […]