Placebo.

Um efeito da crença e não do tratamento
na percepção e não na realidade.

O efeito placebo, embora real enquanto efeito no paciente, não é algo que sirva para tratar nada porque não corresponde (com poucas  excepções, veremos à frente) a uma melhoria real. Como me parece que ainda há muita confusão acerca disto, espero que este post ajude. No fim e logo na primeira referencia encontra-se a ligação para um trabalho de revisão que eu penso que só por si é suficente para sustentar as afirmações que aqui faço.

Recorte o rótulo e faça o seu próprio placebo. Fácil e barato.

O efeito placebo, quando eliminadas todas as outras variaveis, é resultado apenas de quanto o paciente acredita no tratamento (pode haver variaveis relacionadas, por exemplo: atenção recebida, motivação, etc) . Está ligado à percepção e não à coisa percepcionada.  Não há nenhum “mind over matter” do género dessa crença ser capaz de matar virus ou bactérias, reduzir tamanho de tumores ou baixar o colesterol. Factores  objectivos não são influenciados pelo efeito placebo (a).
Apenas coisas que estejam muito relacionadas com o que o paciente sente podem ser influenciadas.
O que sobra é que o placebo não é mais que uma outra versão da velha questão de percepção vs realidade. A pessoa não está melhor mas acredita que está. Para questões que estão ligadas à percepção vai relatar que está melhor. O efeito da crença no placebo altera a percepção da pessoa sobre os seus próprios sintomas. Por isso, o efeito placebo só vai aparecer em sintomas que só possamos avaliar através da percepção do paciente. Por exemplo, a dor, a nausea, o estado emocional, disturbios psiquiatricos, etc. Nestes tipo de casos, com forte participação do sistema nervoso central, o efeito placebo parece ser real em todos os sentidos.
Resta dizer que nem toda a gente é susceptivel de sentir os beneficios da crença e por exemplo doentes de Alzheimer tornam-se refractários.

Nada disto não significa que o placebo não seja importante, já que a dor, a nausea e o estado emocional devem ser parte das preocupações do terapêuta. E são questões importantes para todos nós e em algumas doenças são tudo o que podemos combater.
Mas como é uma consequencia da tendencia do observador sobre si proprio e  é uma questão de percepção, o efeito placebo pode ser encontrado em qualquer coisa que se faça ou administre ao paciente desde que seja acompanhado com uma justificação convincente do seu efeito. Desde que se crie a crença. E segundo alguns estudos, nem precisa de ser assim tão convincente, parece que basta o paciente sentir que pode fazer alguma coisa, já que quem acredite no placebo por si só  relata todas as melhorias que se espera acontecerem no placebo, mesmo depois de saber que é placebo.

Mas a verdade, e sem que entre em contradição com tudo o que foi dito antes, é que há outros estudos que salientam a importancia de todo o aparato na manipulação da crença no tratamento que dá origem ao placebo.
O preço conta no efeito da crença no tratamento (2) , e até a cor das embalagens (3) .

Por isso, o que se deve defender, é que se use e amplifique o efeito placebo das coisas que já fazem de facto diferença no organismo.(ver discussão para uma possivel exceção).
Isto pode fazer-se através de uma melhor explicação do procedimento médico, de um optimismo razoável mas nunca francamente enganador (isto é, mostrar com convicção que cada caso particular  vai estar nos 90% que curam e não nos 10% que ficam na mesma mas sem ocultar esta possibilidade), de dar simpatia, de instalações mais agradáveis, de uma preocupação genuina com o bem estar do paciente, etc.

Não é por isso preciso mentir para conseguir efeito placebo.
Ao introduzir a mentira entre a relação do profissional de saude e o paciente estamos a criar uma fragilidade potencial desnecessária. O que precisamos é confiança. E defendo que a verdade é um caminho para lá chegar.

Notas:
(a) Existem autores que procuram encontrar factores fisicos objectivos onde se possa medir o efeito placebo. Não foram encontrados em aspectos bioquimicos ou fisicos do interior do organismo, mas eles relatam que encontraram em alguns aspectos fisicos externos. Não consigo encontrar esse estudo por isso se o conhecerem digam-me onde ele anda já que faz parte da discussão de “poucos objectivos vs nenhuns objectivos” e seria interessante incluir neste post. Parece-me no entanto que sendo a ultima revisão sistematica a concluir que “nenhuns sintomas objectivos fisicos” sofrem alteração por placebo, essa é a palavra actual da ciencia. Ainda por cima sendo uma “Cochrane Review”, com altos standards de exigencia.  Naturalmente que a influencia em disturbios psicológicos, relativamente bem documentada, também nao pode ser considerado um factor fisico objectivo e é bem explicado pelo facto de ser algo de forte cariz neurológico, a fonte e a sede de toda a percepção. É obvio que a crença e a percepção fazem coisas no cerebro.

Editado para acentuar a  exclusão dos problemas do Sistema Nervoso Central e relacionados, acerca dos quais as conclusões do artigo e da literatura são pouco claras.

 

Referencias  e leituras recomendadas:
(1) http://onlinelibrary.wiley.com/o/cochrane/clsysrev/articles/CD003974/frame.html
(2) “Commercial Features of Placebo and Therapeutic Efficacy,” Rebecca L. Waber; Baba Shiv; Ziv Carmon; Dan Ariely, Journal of the American Medical Association, March 5, 2008; 299: 1016-1017.
(3) http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2359128/pdf/bmj00573-0060.pdf
(4) E aqui um artigo a desafiar os anteriores que é muito popular no Google: http://mindhacks.org/hotel-maids-challenge-the-placebo-effect/243/

27 comentários

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  1. Olá João Coutinho,
    sem saber deste post, iniciei uma conversa com o Carlos sobre o efeito placebo, mais tarde ele mostrou-me este link.
    Li o texto, (não tive paciência para os comentários).
    Fiquei com uma dúvida e agradecia que ajuda-se:
    Como é que é possível concluir que “nenhuns sintomas objectivos físicos” foram medidos se o sistema nervoso estabiliza as condições intrínsecas do organismo como a pressão sanguínea, tensão de O2 e de CO2, teor de glicose, de hormonas e pH do sangue, e participa dos padrões de comportamento, como os relacionados com a alimentação, reprodução, defesa e interacção com outros seres vivos?
    Basta ser homem para sabermos que um simples pensamento pode aumentar………….. níveis hormonais e….
    Como é que pode-se chegar a uma conclusão dessas?
    “nenhuns sintomas objectivos físicos”

    1. Na experiência feita – como em todas as experiências – há certas medições. Neste caso, os parâmetros medidos mostraram que não existiram alterações 😉

      abraços

  2. Ana:

    “avançou-se somente que pode ser por via do sistema imunitário em alguns casos que não só psicológicos (caso contrário, anda-se a fazer grupos placebo inutilmente…?). ”

    Olha que não sei. Eliminar o placebo dos testes é introduzir outras variaveis como dificultar a ocultação de medico e paciente, deixar de poder perguntar parametros subjectivos – que são importantes, etc. Parece-me que temos de aturar o placebo para sempre, mas não estou a dizer que não haja testes que tenham um desenho e objectivos que justifiquie não o usar. Mas é uma maneira facil de tentar que todas as outras variaveis sejam iguais.

      • Ana Guerreiro Pereira on 06/06/2011 at 00:07
      • Responder

      Eu não quis dizer que se devia eliminar o placebo dos testes, muito pelo contrário. E aindas só me deste UMA referência (só para fazer alusão ao tentares explicar-me como se argumenta cientificamente), embora de revisão, e referiste UMA equipa (“É um artigo de revisão de tudo o que se sabe sobre placebo pelo pessoal da Cochrane”) que acha isso. E eu tenho estado a TENTAR passar-te o que se passa no meio médico em relação ao placebo e qual é a opinião geral, em meio médico, bioquímico, biológico, etc, quanto ao mecanismo envolvido. Não é por UMA pessoa ter encontrado evidências em DETERMINADAS condições controladas de que poderá não ser via sistema imunitário, que o resto da comunidade científica vai deitar fora sem mais nem menos a ideia de que o pensamento positivo e o refoço positivo estimulam o sistema imunitário. Porque, João, estimulam. Se preferes achar que não e que sofres por a comunidade científica não estar a aceitar em pleno. E eu NUNCA disse que o mecanismo era via o sistema imunitário, disse que é a hipótese que tem sido avançada. E, mais, é um FACTO que o sistema imunitário reage ao positivismo; portanto, se reage a reforços positivos, tb reage ao placebo. Porque é também essa a essência do placebo.

      E, como já disse, lamento, mas não voltarei a esta discussão, uma vez que sofres tanto com ela.

      Se não me levas a mal, uma sugestão: se por um lado os posts são maioritariamente para leigos -e, perdoa-me, mas alguns dos teus postes não são acessíveis a leigos; por acaso este é o mais acessível- por outro lado relembra que muitas pessoas que aqui comentam podem não ser novatas e se calhar tb têm algo a dizer e talvez não sejam completamente ignorantes, especialmente se forem investigadores bioquímicos…

      Abraço.

        • Marina Frajuca on 06/06/2011 at 15:21

        Ana,

        Concordo plenamente, e tentei referir isso precisamente no segundo comentário. Apesar de ter tido bioquimica durante o curso (sempre detestei quimica), não tenho grandes bases para discutir dados bioquimicos. No entanto tive farmacologia, e conheço a farmacocinetica, tenho 14 anos de serviço, trabalhei em três hospitais, onde se lida com placebos, penso que deve contar para alguma. No entanto achei que não valia a pena continuar a insistir.

      1. Ana GP:

        Em resumo, tu consideras que um artigo de revisão vale menos que a tua evidencia anedótica? É que tu não me deste nenhuma.

        “Porque, João, estimulam. Se preferes achar que não e que sofres por a comunidade científica não estar a aceitar em pleno. ”

        Não, eu sofro por não ter conseguido passar a mensagem da evidencia cientifica mais corrente por cima daquilo que tu ja achas que sabes acerca do placebo. NEm a ti, nem à Marina, nem pelos vistos a ninguém. Mas que a comunidade cientifica esteja contra mim???? Mas eu estou a usar o que é considerado o melhor tipo de evidencia!

        O ad populum anedotico do que pensa a comunidade medica não me preocupa, não me deixa sofrer 😛 . Porque mesmo qeu fosse real que pensam qeu o placebo tem algum efeito sobre questões objectivas como infecções, cancros, etc, nenhum clinico não está a par de toda a investigação centifica o tempo todo. É natural que os tipos que estudam apenas o placebo saibam mais sobre ele que efermeiros e médicos clinicos.

        O qeu me custa é pessoas cultas não aceitarem as evidencias.

        Tu estás a dar-me a percepção que tens da comunidade médica. Mas isso é um apelo à autoridade que nunca vale mais que evidencia empirica sólida e é anedotico porque não é sistematico. É a tua percepção.

        E um artigo de revisão são vários artigos num só. É o máximo expoente da medicina baseada na evidencia. Eu tenho mais artigos, mas sendo este de revisão é redundante estar a por mais.

        Não tenho a pertenção de querer comparar artigos individuais com outros de revisão. Nem de refazer de novo a revisão sistematica toda o que me parece que nunca teria tempo para fazer algo tão bom como os tipos que se estã a dedicar a isto à decadas.

        Se escolhes acreditar na evidencia anedotica, etc. Estas a escolher as cerejas. Estas mercê da “confirmation bias” que todos temos. Da incapacidade de fazer boa estatistica recorrendo à intuição.

        O mesmo para a Marina.

        Lamento que tenhas ficado aborrecida ja que não percebo porque te hás de chatear com um comentário que era obviamente a exagerar uma reacção – e era uma brincadeira, obviamente que não tenciono usar apelos emocionais para arguementar a favor do placebo. Ou contra.

        Mas devias rever o que usas para fazer uma opinião e uma critica.

        Quanto aos investigadores bioquimicos que tenham algo a dizer, pois que digam. Mas se querem argumentar contra evidencias sólidas têm de trazer evidências sólidas.

        Não apelos ao que os outros acreditam, à experiencia pessoal, à autoridade, etc. Isso são tudo formas muito mais fracas de evidencia.

  3. Ana:

    “E há mesmo a percepção de um sistema imunitário mais reactivo pela simples razão de que a pessoa está optimista; as pessoas com personalidades pessimistas têm tendência a ficar com as defesas mais em baixo. ”

    Nao… Isto é precisamente o que eu queria chamar a atenção… Como sofro…

    Isto é falso no que se refere a placebo. Pode ser verdade em questões de longo prazo e relacionadas mais com a existencia de Stress ou não. Mas a verdade é que quando se estuda apenas o placebo, todos os outros factores afastados, este efeito não aparece.

    Se duvidas do post, lê o artigo. É um artigo de revisão de tudo o que se sabe sobre placebo pelo pessoal da Cochrane.

    “Logicamente que tal não é linear nem se conseguiu encontrar propriamente uma relação directa entre o placebo e a bioquímica do organismo”

    Não há! E isto até os tipos que andam a discutir com os da Cochrane admitem. Em termos bioquimicos, isto é, medições de parametros quimicos do sangue, não ha efeito placebo.

    “E convém não esquecer que a mente também funciona por meio de reacções bioquímicas: se há um efeito psicológico, tb há um efeito bioquímico, por isso mesmo”

    Mas vamos lá a ver… O cerebro não é o corpo (apesar de ser parte do corpo) por mais importante que seja na homeostasia. As reacções que se passam no cerebro não têm acção direta, excepto a conduzida pelos axonios e hormonas, no resto do corpo. E por essa via, graças a deus, há um filtro muito grande para que possam seguir apenas coisas que o corpo compreenda e tenham significado na homeostasia. Em questões relacionadas com o sistema nervoso central, eles também não encontraram efeitos de placebo em medições analiticas. Apenas concluiram que tiverem de ter um intervalo largo para isso e para achados fisicos relacionados com as doenças que estudaram ligadas ao SNC. MAs bioquimicas não. O qeu dizes está desacreditado. Era isso que queria dizer com este post. Deve estar uma miséria…. Ugnh. Vê a primeira referencia.

    Por outro lado se dizes que há algo que um metaestudo desacredita tens de refutar com metaestudos ou criticas à metodologia. Não serve apresentar um ou outro artigo. Por mais interessante que seja.

    Quanto à mentira branca, não fiz disso uma coisa dogmatica. Apenas que ainda há muito por onde recorrer antes de chegar à mentira branca, mas que provavelmente não depende de esforços individuais. Requere um investimento em recursos humanos (psicologos, mais tempo dos médicos, enfermeiros, etc, que eles actualmente não têm) e ambientes fisicos mais agradaveis.

      • Ana Guerreiro Pereira on 05/06/2011 at 23:56
      • Responder

      Olha João, tenho de te confessar que não me agradou o teu comentário “Nao… Isto é precisamente o que eu queria chamar a atenção… Como sofro…”

      De maneira que nada mais tenho a dizer-lhe.
      Abraço.

    • Ana Guerreiro Pereira on 04/06/2011 at 01:42
    • Responder

    Na realidade, em todos os testes clinicos com produtos farmacológicos é sempre incluído o chamado efeito placebo, precisamente para discernir qual é o efeito químico do medicamento. Seja em que teste clinico for e inclusivemente com cancros. Logicamente que o alcance do placebo é deveras limitado e não substitui um tratamento nem uma cura; na realidade é o efeito sinérgico entre o placebo e a o efeito farmacológico que está em causa. E há mesmo a percepção de um sistema imunitário mais reactivo pela simples razão de que a pessoa está optimista; as pessoas com personalidades pessimistas têm tendência a ficar com as defesas mais em baixo. Logicamente que tal não é linear nem se conseguiu encontrar propriamente uma relação directa entre o placebo e a bioquímica do organismo, avançou-se somente que pode ser por via do sistema imunitário em alguns casos que não só psicológicos (caso contrário, anda-se a fazer grupos placebo inutilmente…?). E convém não esquecer que a mente também funciona por meio de reacções bioquímicas: se há um efeito psicológico, tb há um efeito bioquímico, por isso mesmo. E, por acaso, é engraçado que no caso das depressões, se o paciente não acreditar na eficácia do medicamento, pode-se verificar uma reacção totalmente oposta (uma espécie de nocebo), ou pura e simplesmente não haver reacção apreciável; neste caso, como disseste e muito bem, o placebo é uma muleta imprescindivel.

    É óbvio que não é ético enganar as pessoas. Mas continuo a dizer que aquilo a que chamas a mentira branca é muito, muito, muito comum numa vasta gama da população. As pessoas acreditam, João. Não consegues demovê-las disso por muitas conversas que tenhas nem por muita confiança que tenham no seu clínico. Nem consegues introduzir esse tipo de relação num hospital público sobrelotado e com falta de meios, que é a realidade de muitos hospitais. Nem podes obrigar as pessoas a aceitar que acreditam em falsidades, pelo contrário, vão-se voltar contra ti e perderás a sua confiança. É muito complicado, é, mas a mentira branca é a única hipótese em muitos, mas muitos casos.

    1. Ana;
      (este comentário devia vir depois do outro, não sei como isto aconteceu… )

      Repara uma outra coisa. Se queres estudar o placebo, tens de eliminar todas as outras variáveis.

      Por isso vais comparar os tipos cheios de stress com os tipos cheios de stress e não os tipos cheios de stress com os tipos sem stress enquanto estudas uma variavel qualquer. A não ser que queiras estudar os efeitos do stress e aí convem não fazer variar o placebo.

      Por exemplo, no caso dos péssimistas. Se queres estudar o efeito placebo, tens de comparar péssimistas e placebo com péssimistas sem placebo. Se queres estudar o péssimismo tens de eliminar a variavel placebo. Há uma outra maneira, felizmente. Que é pegar numa amostra grande e apostar que a distribuição de péssimistas está pro

        • Ana Guerreiro Pereira on 06/06/2011 at 00:16

        Por acaso ao estava-me a referir ao efeito placebo de todos os medicamentos, e a subtrair-se o efeito placebo ao efeito do medicamento… e o meu comentário “caso contrário anda-se a fazer grupos placebo inutilmente” não foi nem uma pergunta nem uma afirmação propriamente dita; foi uma ironia. A ironia de que se há sempre um grupo placebo em todos os ensaios clinicos, sejam estes de que ordem forem… por alguma razão é.

        Não percebo, assim, o teu comentário. Tal como não percebo o comentário relativamente ao cérebro… o cérebro não é o corpo? E?… homeostasia? e?… eu estava a falar de efeitos psicológicos. Se é psicológico, vem de onde? do fígado?… 😛

        Acho sinceramente, que nem tu estás a percerber-me a mim, nem eu a ti, por arrasto. Ou melhor, ninguém está a perceber onde é que o outro quer chegar.

      1. Ana:

        O cérebro é corpo obviamente. Mas quando eu falo de cerevro e corpo estou a falar de cerebro e o resto do corpo. OK?

        Mas para simplificar talvez aceites simplesmente que é o unico qeu produz uma mente e que essa mente não controla completamente o resto do corpo ao nivel bioquimico. Está limitada pelo tipo de mediadores que tem com o resto do corpo. É assim tão simples.

  4. João Coutinho, colocando o conteúdo do post momentaneamente de lado, gostaria de perguntar-te uma coisinha apenas: estás a escrever também para leigos ou só para os teus pares?
    Entendo o AstroPT como um espaço de Divulgação Científica e não de Comunicação Científica. Qual a diferença? O público para quem falamos/escrevemos. Como é notório, a maioria das pessoas que passa por aqui (ou, o mais certo, quem comenta os posts) tem, de alguma forma, suficientes conhecimentos científicos para entender a linguagem que utilizas. Contudo, não podemos esquecer quem vem cá e não está dentro do «mundo da Ciência» (além de não comentar) , pode sentir-se inibido pela proliferação de jargão técnico/científico.
    Não estou a fazer a apologia do «nivelar por baixo», pois uma função primordial de um Divulgador de Ciência é, exactamente, educar públicos. Mas o recurso exclusivo a essa língua maravilhosa que é o «Cientifiquês» (eu padeço de um mal semelhante, que é o «Jornalistiquês») afugenta muita gente.
    Fica a sugestão!

    1. Maria João Pratt:

      Gostaria que o post fosse acessível a todos.
      Mas sinceramente não estou a ver onde poderia reduzir mais a linguagem sem aumentar o tamanho do post (subtituindo por explicações) ou perder informação. Mas Reconheço à muito a necessidade de ter um editor! Os que os têm queixam-se deles os que não têm querem um para polir os textos…

      Se tiver tempo agradecia que me desses os exemplos concretos para as criticas que faz para que possa pensar melhor nas suas criticas.

      Outra coisa, refere-se a este post concretamente ou a todos os que escrevi?

      Ja que é jornalista gostaria de poder ter a sua opinião. Quero de facto chegar a todos. Não me importo de deixar um ou outro pormenor que obrigue as pessoas a ir à net que acho que é uma coisa boa, mas o conteudo geral e mensagem principal tem de ser acessiveis.

  5. Estou com pressa e só li na diagonal, mas existe também o chamado efeito nocebo, que é o oposto do placebo. As pessoas sentem efeitos negativos quando acreditam que estão a tomar algo que lhe faz mal. O mecanismo acaba por ser o mesmo…

    1. Este não é dos meus melhores posts… Vê a primeira referencia, é muito interessante.

  6. Olá Hugo:

    Eu refiro que o placebo é real para todos os casos com sistema nervoso central envolvido. Isto resolve a primeira questão que poes.

    Quanto às pessoas precisarem de medicamentos reais é obvio. É porque placebo não chega.

    Quanto aos esquizofréncos melhorarem com placebo, também penso que quer dizer que é uma doença multifactorial ou com muitas variaveis relacioanadas com autopercepçao e bem estar. Penso que era esperado sendo uma doença associada ao sistema nervoso central. Com placebo resolves umas coisas mas não outras, por isso vez melhoras parciais. Quanto ao ultimo estudo teria de o ler com atenção e se calhar não sou a pessoa ideal para responder a essa questão. Mas parece-me que quando o que esta doente é o proprio cerebro, sede de precepçãoe de crença, as coisas se complicam e temos de esperar resultados dificeis de interpretar.

    “como se explica que medicamentos reais não tenham efeito em pacientes que acreditam que estão a tomar um placebo”

    Podes jsutificar isto? É que tirando as exceções ja apontadas não me parece que possa ser verdade.

    “que placebos tenham efeitos negativos em pacientes que acreditam que estão a tomar o medicamento errado para a condição que têm?”

    Porque devem ter sido testes sem ocultação ou com poucos numeros e ou acerca de coisas relacionadas com a percepção e estado emocional, etc.

      • Ana Guerreiro Pereira on 04/06/2011 at 01:47
      • Responder

      No entanto uma coisa é certa: se o paciente de esquizofrenia pára de tomar a medicação (e muitos param-na por acharem que não lhes faz nada, nota…), rouba um taxi, foge do hospital e acaba tudo numa perseguição policial à Hollywood até ao Alentejo… 😀 (isto foi um caso real, não estou a bazingar…). Logicamente q dependerá do paciente.

  7. Não concordo que os placebos não tenham efeitos reais nos pacientes. O seu uso é mais evidente na psiquiatria e há melhorias notáveis. Não apenas o paciente acredita que está melhor, como melhora na realidade. Claro que se pode argumentar q…ue em casos de depressão, ansiedade, etc o placebo apenas serviu para dar força às pessoas para enfrentarem os problemas e melhorarem, mas então como se explica que algumas melhorem apenas com medicamentos reais e necessitem de certos princípios activos? E como se explica que casos como a esquizofrenia, com uma causa física também apresente melhorias com placebos? (http://www.medscape.com/viewarticle/736915) E mais, esse efeito tem aumentado (http://schizophreniabulletin.oxfordjournals.org/content/36/3/504.long). E olhando para as coisas de modo diferente, como se explica que medicamentos reais não tenham efeito em pacientes que acreditam que estão a tomar um placebo ou que placebos tenham efeitos negativos em pacientes que acreditam que estão a tomar o medicamento errado para a condição que têm?

      • Marina Frajuca on 03/06/2011 at 19:19
      • Responder

      Tudo que diz no ultimo paragrafo e verdade.
      Isso porque, as pessoas são todas diferentes, e reagem de forma diferente tanto á doença como ao tratamento. Por exemplo, se tiver uma dor de cabeça posso tomar 1gr de paracetamol e ele faz efeito, no entanto, há pessoas que só conseguem alivio recorrendo a algo mais forte, como o ibuprofeno.
      Depois há um factor que muito importante, na doença mental, na maioria dos casos, desconhece-se a origem (sabe-se factores de risco, propensões, etc, mas causa concreta não há. No caso das psicoses, como a esquizofrenia, estas pessoas têm uma alteração da percepção da realidade, vêm e ouvem coisas que mais ninguém percepciona – alucinações, e têm delírios, nos quais basta ter “uma voz a dizer que o medicamento o está a envenenar” ou que não é o medicamento bom para a doença para ele acreditar e negar a sua toma ou mesmo não terem bons resultados.

        • Ana Guerreiro Pereira on 04/06/2011 at 01:55

        Marina, engraçadamente eu sá alivio as enxaquecas com paracetamol 😀 Não com aspirina nem qq outro principio activo 😀 só mesmo com paracetamol… interessante, não? 😀

        Lá está, as pessoas são diferentes, logo vão reagir de formas diferentes à doença, ao tratamento medicamentoso, ao tratamento psicológico se o houver e ao proprio placebo.

        Com pessoas como nós, acontece o que o João defende, um “efeito placebo das coisas que já fazem de facto diferença no organismo”. Porque nós temos uma visão diferente da realidade e do funcionamento do mundo. Quem percepciona o mundo através de sistemas de crenças, não irá ouvir o médico…e corre para op naturopata. Assisto a isso regularmente…e inclusive em doutorados com sólidas de bases de bioquímica…

    1. Ja agora, o ultimo artigo que aponta é muito interessante embora ainda so tenha lido metade. Aos interessados fica a nota.

      • Ana Guerreiro Pereira on 04/06/2011 at 02:09
      • Responder

      (o principio activo não será a aspirina, lol, mas o ácido acetilsalicíllico :D, na minha frase misturei um produto com o principio activo farmacológico, sorry)

  8. Marina:
    OLá,

    Eu penso que não estamos em desacordo em muita coisa : ) só num pormenorzinho.

    Em primeiro lugar esta a falar de estudos cegos controlados com placebo na psiquiatria em que um medicamento é desafiado em relação ao placebo. Correcto. Mas pense no desafio do placebo em relaçao a não fazer nada de nada. Mais sobre isto à frente. Todas as areas com psi envolvida têm enorme ligação ao efeito placebo já que a percepção somos nós.

    Depois nota tal como eu que não ha efeitos bioquimicos mensuraveis por analitica laboratorial. De acordo tambeḿ, tudo o que leio `a anos fala disso.

    “mas a nível físico já se encontram melhorias.” Ok. Aqui é que há disputa entre o pessoal da Cochrane (publicado o ano passado, e é o terceiro de uma série cada vez mais afinada) e revisores anteriores que eu tinha lido. Mas estamos a falar de melhoras que só possam ser atribuidas a placebo e não ao desenrolar natural da doença ou outros factores. E estamos a falar de revisões metaestudfos. Isto é, pode haver artigos pontualmente a mostrar melhorias fisicas em desafio do placebo mas são exceções sem significado estatistico.

    “Por experiencia, sei que sintomas como a ansiedade e insónia podem ser reduzidos com um placebo. ” 🙂 E na wikipedia vem um estudo onde o placebo tem a duração de tratamento de 8 meses!!!! Mas isso não é um factor fisico externo, no corpo, Penso que é isso que é procurado. Nenhum estudo nega a influencia do placebo na mente e nas coisas que a mente controla diretamente. Aliás, esse é o ponto em que todos estão de acordo. 🙂

    ” Mas quando vimos um doente angustiado, sem se conseguir controlar, optamos pelo mal menor.” Ha… A mentirinha branca? Quando não há outra solução penso que será aceitavel. Dificilmente posso argumentar contra isso. Mas como sistema não. Eu estou a pensar em praticas completas fundamentadas em placebo. Em todo o caso, será que não podiamos evitar a mentirinha branca recorrendo a motivação, e dizendo que se fizer tal e tal vai funcionar (autofullfuling profecy ) 🙂

    De qualquer modo, a mensagem que eu queria passar é que o placebo não é algo que possa em caso algum substituir um tratamento estabelecido se este não tiver outras contra-indicações. E que o placebo não é um efeito forte como se pensava aqui há uma decada em que até o cancro crescia mais depressa e as infecções paravam, etc. Isso esta desacreditado pela maioria dos estudos.

    Penso que a explicaçao que melhor encaixa e que é discutida é que o placebo é um efeito inespecifico e um efeito não do tratamento mas do doente e contexto. Não vejo que esteja em desacordo com a maioria do que diz.

      • Marina Frajuca on 03/06/2011 at 18:56
      • Responder

      Claro que existem formas de motivar, sem se recorrer ao placebo. E nós fazemos, tais como sessões de relaxamento e ajudar os doentes a encontrar uma forma de se relaxarem por eles. Mas ísso é quando, por exemplo a ansiedade, está associada a um disturbio, como o do pânico, que é um processo moroso e que logo á partida não se resolve só com medicação.
      Eu refiro-me a uma crise de ansiedade esporádica (por qualquer motivo, que agora não vem ao caso), ou até uma insónia. Esqueci-me de mencionar no comentário anterior, que temos evidencias reais físicas. As crises de ansiedade desenvolvem-se sempre com aumento da frequência cardíaca (daí terem a percepção que vão morrer, o coração bate tão rápido que parece que não cabe na caixa toráxica), nestes momentos não adianta o dialogo, nem recorrer a técnicas de relaxamento. Podemos sim recorrer aos meds e aos placebos. Se voltar-mos a avaliar a FC após algum tempo esta baixa, mesmo com os placebos.
      Não querendo contrariar os estudos efectuados, nem negar os seus princípios. Um estudo vale muito, mas nem sempre a reflete a realidade , pois são ambientes demasiado controlados e até e até os estudados estão de alguma forma condicionados.

      1. Marina:

        Parece-me que isso está no campo das coisas relacionadas com o SNC. TEntei deixar isso como excepção, acho que tenho de rever o texto. Os autores alertam para poder haver aí uma excepção do seguinte modo:

        “There was no statistically significant effect of placebo interventions in the seven other clinical conditions investigated in three trials or more: smoking, dementia, depression, obesity, hypertension, insomnia and anxiety, but confidence intervals were wide.”

        Enfase no intervalo de confiança largo.

        Por isso tentei deixar isso em aberto. Mas não mais do que o que é sugerido pelo estudo.

        Em relação ao final : Eu acredito mais em experiencia metodica que em testemunhos individuais. Em ciencia sabemos que são a fonte melhores dados, ja que eliminam tendencia do observador…. etc. Problemas de colheiram interpretaçºao existem sempre. Mas os metodicos são os melhores.

    • Marina Frajuca on 03/06/2011 at 17:05
    • Responder

    Olá,
    Em resposta “não foram encontrados em aspectos bioquimicos ou fisicos do interior do organismo, mas eles relatam que encontraram em alguns aspectos fisicos externos”.
    Desconheço qualquer estudo com placebos fora da área psiquiátrica.
    Sei que na área psiquiátrica qualquer medicamento é testado paralelamente com um placebo, e que os indivíduos não sabem a que grupo pertencem. De momento não possuo nenhuma monografia para poder demonstrar, mas nelas podem se ver os resultados sintoma a sintoma. Nenhum destes estudos (com placebo) demonstra eficácia em termos bioquímicos (não há qualquer alteração nos neuroreceptores, como é obvio não existindo nenhum principio activo), mas a nível físico já se encontram melhorias.
    Por experiencia, sei que sintomas como a ansiedade e insónia podem ser reduzidos com um placebo. Recorremos a eles quando há uma sobrecarga de medicação, e já não podemos fornecer mais medicação e não conseguimos que os doentes acalmem. O poder da sugestão é muito forte, e a crença que determinados sintomas só são reduzidos com medicação, fazem com que o placebo faça efeito. O mal do uso placebo, é que além de não estarmos a ser verdadeiros com os doentes (os doentes julgam que estão de facto a tomar um medicamento), continuamos a incentivar o seu uso. Mas quando vimos um doente angustiado, sem se conseguir controlar, optamos pelo mal menor.
    Não é um estudo, mas serve a titulo de demonstração prática de como os placebos, de facto podem dar algum resultado.

  1. […] Anti-Vacinação (fraude). Graviola (cancro, comentários). Aqua Detox, Hidrolinfa. Placebo (aqui, aqui, aqui). Nocebo. Terra Plana. Geocentrismo (conferência, documentário, Janeway). Terra Ôca. […]

  2. […] psicológicos positivos que as crenças religiosas podem ter. Há diversos estudos que demonstram placebos, relaxamento devido à responsabilidade ser passada para outro ser, e daí haver menos stress, […]

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