Na continuação do post anterior vem, agora, a segunda parte:
Mas por um minuto vamos considerar que as abduções são reais. Qual o propósito delas? “Estudar nossa fisiologia” é geralmente o que diz o entusiasta de discos voadores. É uma alegação bem estranha. O alienígena para aprender sobre a nossa fisiologia parece usar o mesmo método de dissecação de cadáveres de Mondino de Liuzzi que nasceu em 1270 d.C. em plena Idade Média. Para quem anda em discos voadores é um método bem arcaico, e convenhamos, após milhões de abduções eles ainda não aprenderam muita coisa, o número de abduzidos não pára de crescer segundo a Revista UFO… Sofreriam de algum tipo de dificuldade de aprendizagem?
“Na verdade nessas abduções eles querem introduzir chips em nossos corpos com algum propósito obscuro”. Hum… Sobre esses chips só temos as alegações de que eles existem. Jamais um chip alienígena foi estudado por um cientista: não existe nenhuma publicação científica sobre isto. Parece que esses chips são mesmo acessórios reservados aos abduzidos e aos entusiastas de OVNIs. Eu me pergunto como esse pessoal sabe que esses chips são mesmo chips? Uma civilização avançada produziria circuitos integrados semelhantes aos nossos? Estranho… A tecnologia deles, segundo os próprios crédulos em visitantes espaciais, deveria estar anos-luz à frente da nossa. Eu consigo imaginar coisas bem mais avançadas com a nanotecnologia, onde o circuito integrado são linhas gravadas numa escala 1000 vezes mais fina que uma folha de papel [7]. Mais estranho ainda é que um público leigo consiga reconhecer chips fabricados em outras partes da nossa galáxia. Mas que os chips existem nenhum entusiasta de abduções nega.
Mas além de evidências de coisas úteis como estudar nossa fisiologia com métodos da Idade Média e introduzir chips parecidos com os do século 21 em nossos corpos, há ainda evidências físicas que os extraterrestres visitam a Terra, ou pelo menos assim alegam alguns. São os círculos ingleses. Plantações têm sido amassadas por todo o mundo. Convém dizer que Doug Bower e Dave Chorley confessaram em 1991 que eram os autores dos círculos ingleses e demonstraram como faziam para amassar a plantação [8]. Se humanos podem fazer os círculos, eu me pergunto se a hipótese do alienígena que para chegar aqui gastou a metade da energia do Universo, ou pelo menos a energia de todos os recursos de um planeta, é mesmo coerente. Digamos que seja. Para que servem os círculos? “São um tipo de comunicação entre eles, ou talvez possíveis locais de pouso.” Novamente, talvez pela décima vez nesse texto, isso é estranho. Os soldados chineses tinham um meio de comunicação mais eficiente. Com sinais de fumaça transmitiam mensagens por centenas de quilómetros através da Grande Muralha [9]. Nós já passamos dessa fase, temos satélites de comunicação, e os alienígenas aparentemente preferem amassar plantações. Me pergunto se durante a noite eles se comunicam. Sobre os círculos serem pistas de pouso… Nós mandamos sondas a Marte e não marcamos o local de pouso com círculos ou pedras. Nesse ponto a nossa tecnologia parece estar anos-luz à frente da utilizada por alienígenas. Há quem diga que a comunicação não é entre eles, e sim um contato com a humanidade. Mas de novo, o contato é altamente ineficiente. Somente alguns privilegiados, normalmente acompanhados de médiuns, gurus, seitas, ou parapsicólogos conseguem estabelecer o contato. Ao resto da humanidade é privado esse contato que, cheira ser antes de tudo, um contato espiritual.
É nesse ponto que se concentra a conclusão do meu texto. A separação entre alegações fantásticas sem quaisquer provas, e as evidências científicas sobre qualquer coisa que possa estar ligada a alienígenas. Talvez a própria ciência seja em parte responsável por essas alegações fantásticas sobre alienígenas. O assunto parece negligenciado pelas instituições científicas, e tais estudos acabam caindo nas mãos de ufólogos, bem intencionados na maioria das vezes, mas talvez sem os recursos e sem o preparo científico necessários para oferecer respostas de tamanha magnitude. Uma das poucas instituições científicas que se empenha no estudo sistemático de OVNIs é o GEIPAN, uma unidade da agência espacial francesa, a CNES. Até o momento em 22% dos casos estudados pelo GEIPAN não foi possível identificar o OVNI (ou PAN como são chamados pelo GEIPAN) [10]. A razão para essa negligência quanto ao assunto OVNI parece estar ligada ao Condon Committee, o nome informal do Projeto Colorado, um grupo da Universidade do Colorado financiado entre 1966 e 1968 pela força aérea dos EUA para estudar OVNIs. A conclusão do diretor deste projeto, o Dr. Edward U. Condon, diz que estudos mais extensos sobre OVNIs provavelmente não podem ser justificados na expectativa de avanços científicos. Há quem discorde. Uma revisão dos casos OVNIs desde 1970 organizada por Peter Sturrock, professor de física da Universidade de Stanford, chegou à conclusão de que “pode ser útil avaliar cuidadosamente os relatórios sobre OVNIs para extrair informações sobre fenômenos incomuns atualmente desconhecidos pela ciência.” [11].
[7] IMB, nova tecnologia: chips miniaturizados http://lqes.iqm.unicamp.br/canal_cientifico/lqes_news/lqes_news_cit/lqes_news_2007/lqes_news_novidades_969.html
[8] Los círculos de los sembrados http://www.arp-sapc.org/articulos/circulos/circulosmisterio.html
[9] Como enviar um sinal de fumaça http://viagem.hsw.uol.com.br/enviar-sinal-de-fumaca.htm
[10] GEIPAN http://www.geipan.fr/
[11] Scientific panel concludes some UFO evidence worthy of study http://news.stanford.edu/pr/98/980629ufostudy.html
Por Filipe Leonardo
3 comentários
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Cultura Racional dos livros Universo em Desencanto já explica isso desde 1970.
Somos fruto de uma grande deformação, energia pura, limpa e perfeita, transformada em energia deformada, que é a matéria. Pois energia não acaba, se transforma.
Excelente texto!
O problema é que nada disto é sobre extraterrestres… é tudo sobre nós… é tudo sobre humanos pensarem e imaginarem tecnologias da humanidade do século XX. :S
[…] Fenómenos Atmosféricos Luminosos Transitórios (Sprites). Abduções (tecnologias, propósito). Detectar. Crítica. Sagan. Tyson. Feynman. Mori. Bill Clinton. Associações. TV com programa. […]