Recentemente escrevi sobre o Evento de Carrington, neste post.
Esta Tempestade Solar deu-se em Setembro de 1859, e foi a tempestade geomagnética mais poderosa alguma vez registada na história da Humanidade.
Na altura escrevi também que ela produziu auroras fantásticas nos céus da Terra, e até causou algumas falhas nos serviços de telégrafo.
Estava agora a ler este artigo do Apollo11.com que começa assim:
“Em 1859, uma violenta explosão solar praticamente bloqueou todas as comunicações telegráficas do planeta, eletrocutando técnicos e produzindo auroras boreais até nas latitudes baixas. Agora, um novo estudo mostra que se ocorresse uma super explosão solar, as consequências seriam ainda piores.”
O telescópio espacial Kepler observou 83 mil estrelas como o Sol durante 3 meses e registou 368 super-explosões (que podem ser desde 100 vezes a 10 milhões de vezes mais fortes que as CMEs produzidas no Sol) em 148 estrelas como o Sol.
Ou seja, só 0,18% das estrelas similares ao Sol produziram estas super-explosões, e a probabilidade de estrelas de baixa rotação, como o Sol, ter estes eventos é ainda mais baixa.
Por outro lado, estas super-explosões poderão depender dos campos magnéticos dos chamados Júpiteres Quentes (planetas gigantes próximos da estrela), que existem em grande quantidade no Universo, mas não no nosso Sistema Solar. Mas este estudo parece mostrar que a relação com Júpiteres Quentes, não existe.
Penso que há aqui várias coisas a considerar.
Em primeiro lugar é que esta informação é correcta. Mas será que os leitores vão perceber as explicações ou vão ser levados pelo título sensacionalista (“Sol: estudo mostra que super flare destruiria camada de ozônio“) e pelas frases iniciais também a levar para um certo sensacionalismo de fim do mundo?
Em segundo lugar é que não sei se o artigo é baseado neste da BBC, mas com uma pitada de marketing de fim do mundo, no sentido de que “quem conta um conto aumenta um ponto” de modo a publicitar melhor o artigo.
Em terceiro lugar é que a informação não é totalmente correcta, nomeadamente o Evento de Carrington. Na altura houve falhas em alguns serviços, mas não foi um caos generalizado como o artigo dá a entender. Ou seja, não é preciso exagerar sobre as consequências do que aconteceu.
Em quarto lugar penso ser necessário referir as diferenças entre probabilidade e possibilidade. Exemplo: Será que eu posso atravessar uma parede de cimento? Posso! Mas será que vou conseguir? Não, mesmo que dê com a cabeça na parede todos os dias durante 3 biliões de anos! Ou seja, mesmo que isto seja uma possibilidade, a probabilidade disto acontecer é muito menor que, por exemplo ganharmos a lotaria ou um asteróide dizimar-nos. A probabilidade do Sol ter uma destas super-explosões é tão baixa que não tem qualquer interesse para nós. Aliás, existem evidências fortes que nunca houve nada disto no último milhar de milhões (bilhão, no Brasil) de anos.
Em quinto lugar, não entendo as referências ao Evento de Carrington. O Evento de Carrington não foi uma super-explosão. Na verdade é completamente insignificante quando comparado com super-explosões. Seria como comparar formigas com elefantes. Ou seja, se um elefante me puser a pata em cima, é normal que me esmague. Mas o que tem isso a ver com formigas, apesar de serem ambos animais? A verdade é que uma formiga não me esmagaria. E a probabilidade de um elefante me esmagar num piquenique no parque ao lado da minha casa aqui no Texas é irrelevante. O mesmo se passa aqui entre o Evento de Carrington e super-explosões.
Daí que ao contrário do sensacionalismo nos Media, Brad Schaefer, professor de astrofísica na Louisiana State University, diz claramente: A Terra está a salvo destas super-explosões.
A notícia diz também que se uma super-explosão vinda do Sol atingir a Terra, então acabaria com a camada de ozono da atmosfera, levando a extinções em massa, e obviamente ao desaparecimento da Humanidade (devido à extrema radiação).
Estes possíveis resultados foram compreendidos a partir de modelos de computador.
Mas isto são especulações sem qualquer significado prático. Isto é o mesmo que dizer que se eu atravessar a parede de cimento, do outro lado encontro o Pai Natal. A verdade é que eu não vou encontrar o Pai Natal, porque não vou conseguir atravessar a parede de cimento. Da mesma forma, a nossa camada de ozono está a salvo porque não teremos estas super-explosões no Sol.
Uma possível consequência destas super-explosões é muito interessante.
A radiação destas super-explosões pode fornecer a energia necessária para iniciar as reacções químicas necessárias que podem levar à vida.
Claro que isto é pura especulação científica, mas diz-nos que as super-explosões podem não ter só efeitos devastadores para a vida.
Ou seja, resumindo e concluindo:
– É importante saber-se o que pode acontecer em estrelas similares ao Sol.
– Viram-se super-explosões em estrelas similares ao Sol.
– Em todas as estrelas estudadas, o número de estrelas similares ao Sol que desenvolveu estas super-explosões é mínimo.
– Os astrónomos ainda não sabem os mecanismos concretos que formam estas super-explosões, mas estão a investigar o assunto.
– As super-explosões podem exterminar toda a vida complexa num planeta, mas por outro lado podem também ajudar a vida a começar.
– Estas super-explosões não acontecem no nosso Sol.
Leiam o artigo na Nature.
12 comentários
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(…comentário editado…)
E então amigo? O que você me diz sobre o assunto?
Author
Digo que aqui não damos publicidade a imbecilidades repetidas todos os anos (daí o comentário ter sido editado).
Já pensou procurar no website da Casa Branca onde está esse comunicado? Pois, não existe…
Sabe por acaso que Obama não é astrónomo, e essas “descobertas” só poderiam ter sido feitas por observatórios astronómicos? Vá lá ao website do suposto Observatório que fez essa descoberta e procure por esse comunicado… Pois, não existe…
O que eu sugeria é que deixasse de ler websites vigaristas, que repetem as mesmas mentiras todos os anos, mudando somente a data para apanharem crentes em tolices.
Quanto ao campo magnético terrestre, também já temos aqui posts a explicar esse assunto; basta as pessoas lerem os nossos artigos em vez de acreditarem em ignorantes de internet.
abraços
Então não é preocupante para humanidade, pois não existem super-explosões no nosso Sol.
O medo vende! Nem que seja a contar uma história.
Abraços.
Hoje foi televisionado o filme Presságio ( Tela Quente)que trata exatamente desse assunto… Me pergunto se todas as teorias de fim do mundo não seria a pré-estréia para garantir o sucesso de bilheteria desses filmes( inclusive do filme 2012)… Afinal de contas são milhões de dólares em venda de bilheteria… Os crentes afirmam exatamente o contrario… Que os filmes são um aviso do que acontecerá :-/
Poxa AstroPT, para de desmentir os caras =/ UAUHAUA
Ja tinha lido esse artigo no Apollo11, mas aqui como sempre tem uma Otima explicação
é uma vantagem da ciencia, se ela afirma uma coisa não quer dizer que é verdade, primeiro se faz o experimento, se der certo, é real, se não, é falso (ao contrario dos pseudos onde tudo para eles é real) é uma logica a se seguir: poque aconteceria agora o que não acontece antes?
Otimo texto,confesso que quando li o artigo a alguns dias atras,fiquei ( com a pulga atras da orelha)quis até trazer a duvida aqui no astropt
Agora sim ficou bem entendido no texto que li anteriormente ficou meio que poderia ser uma possibilidade palpavel e não muito remota
Parabéns
A foto-montagem, para quem costuma ver o sol, mete mesmo medo ^^
WOW! Concordo contigo, Cristovão. 😉
Ufa… Até tenho calores 🙂
Author
Qual foto montagem???
É uma foto real, e aquela chama vai-nos atingir a 21 de Dezembro 😛
LOLLLLL
BAZINGA! 😛
Tás a brincar mas mete mesmo impressão. As maiores manchas que alguma vez vi “em directo” pelo meu telescopio eram umas “manchitas” apenas (salvo seja) do tamanho de Júpiter. Numa mancha desse tamanho caberia os planetas do nosso sistema solar e mais uns 100 dos mais de 700 exoplanetas descobertos até agora. Devia ser fixe ver uma foto-montagem desde género mas em h-alpha 🙂
Abraço
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