Ano-luz e viagens interestelares

Recentemente, o site de um jornal de grande circulação em São Paulo publicou a notícia da descoberta de um exoplaneta: o GJ667Cc. Situado na constelação de Escorpião, o astro está a 22 anos-luz da Terra. Curioso é que, entre os comentários dos leitores, muitos alegavam que uma viagem até lá “levaria 22 anos”.

Será?

Em primeiro lugar, é preciso entender que ano-luz não se trata de uma referência ao tempo consumido em eventuais viagens espaciais. Segundo a União Astronômica Internacional (UAI), ano-luz é o período em que a luz atravessa no vácuo durante um Ano Juliano (365,25 dias). Logo, trata-se de uma medida de comprimento usada para simplificar gigantescas distâncias entre a Terra e corpos celestes.

Cada ano-luz corresponde a 9.460.730.472.580,8 quilômetros de distância. Entretanto, é muito comum vê-la ser “arrendodada” para 10 trilhões de quilômetros. Isso porque o termo ano-luz é mais difundido em publicações não segmentadas em ciências que na própria comunidade astronômica. Astrônomos geralmente usam outra medida, o parsec – mas isso é assunto aos próximos textos.

Diante dessas constatações, o que seria necessário para que uma viagem ao GJ667Cc durasse 22 anos? Estar em uma nave espacial capaz de igualar a velocidade da luz: aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo.

Contudo, há um detalhe: mesmo que o homem já tivesse construído uma espaçonave apta a percorrer distâncias astronômicas – e seus tripulantes resistissem às brutas forças gravitacionais, não seria possível atingir velocidade próxima à da luz imediatamente. Segundo Stephen Hawking, uma nave transportando humanos poderia acelerar até 98% da velocidade da luz em um período de seis anos. Consequentemente, o tempo da viagem ao GJ667Cc seria maior que esses 22 anos.

Para se ter uma noção, Alpha Centauri A (uma das três estrelas do sistema Alpha Centauri, também conhecido como Rigil Kentaurus), segunda estrela fora do Sistema Solar mais próxima à Terra, está a aproximadamente 4,3 anos-luz da Terra. Sob 99,99% da velocidade da luz, haveria um acréscimo aproximado de 3h30 à ida até Centauri. Veja bem: a 99,99% da velocidade da luz durante toda a viagem!

Em dezembro de 2010, a NASA anunciou que a sonda Voyager 1, então 17,3 bilhões de quilômetros distante do Sol, viajava a 17 quilômetros por segundo – apenas 0,0057% da velocidade da luz. Sob tal velocidade, a nave levaria cerca de 80 mil anos para chegar à Centauri A. Desse modo, uma viagem até GJ667Cc duraria mais de 400 mil anos!

Números como esses dão uma noção de quão distante estamos de realizar viagens interestelares.

17 comentários

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  1. Bom dia..!!! Se tivesse um planeta abitavel no sistema ahpa centauri..que são as estrelas mais próxima da terra,depois da terra..4.2 anos-luz,quase 40 trilhãoes de quilômetros..mesmo assim seria um desafio imenso pra chegar ater lá.e impossível atingir a velocidade da luz..

  2. A Galaxia de Andromeda encontra se a 2.5 milhoes de anos luz da terra. Hipoteticamente se uma de suas estrelas tivesse partido de la a cerca de 2 milhoes de anos seria possivel ve-la? Se sim quando?

    1. Não entendi.

      Todas as estrelas da Galáxia de Andromeda vêm na nossa direção…

        • Nuno Freire on 13/08/2016 at 00:25

        ola doutor carlos, obrigado por responder. mas nao era bem isso que eu queria saber, por isso vou reformular a pergunta. se nos vemos agora a luz de uma galaxia que esta a 2.5 milhoes de anos luz entao essa luz ja partiu de la a 2.5 milhoes de anos certo? agora imagine uma nave extraterrestre que consegue viajar a 95% da velocidade da luz seria possivel ve-la vir na direcao da terra? e se saiu de la a 2 milhoes de anos ja teria chegado ca? ou nao seria possivel ve-la por causa da velocidade? obg e cumps

      1. “se nos vemos agora a luz de uma galaxia que esta a 2.5 milhoes de anos luz entao essa luz ja partiu de la a 2.5 milhoes de anos certo?”
        — Certo.

        “agora imagine uma nave extraterrestre que consegue viajar a 95% da velocidade da luz seria possivel ve-la vir na direcao da terra? e se saiu de la a 2 milhoes de anos ja teria chegado ca? ou nao seria possivel ve-la por causa da velocidade?”

        O 95% é para complicar… 😉

        Imagine que a nave viaja a 20% da velocidade da luz. Então a sua “luz” não chegou cá, mesmo que ela tenha partido há 5 milhões de anos. Ou seja, não seria possível ainda vê-la.

        O 95% é quase a mesma coisa…
        Ou seja, devia ser a mesma coisa. 95% quer dizer menos que a velocidade da luz, por isso, a sua “luz” (nós podermos vê-la) ainda não chegou cá.
        No entanto, a essas velocidades deverá considerar os efeitos da Relatividade.

        Como pode ver neste post, com o efeito da dilatação do tempo, é possível chegar “mais cedo” aos locais. (“Mais cedo” para quem viaja, entenda-se 😉 )
        http://www.astropt.org/2009/01/31/teoria-da-relatividade-dilatacao-do-tempo/

        abraços

  3. Bem, acho que esses 22 anos voce quis referir aos habitantes da terra em repouso, para os tripulantes o tempo relativo seria 1 ano e 9 meses, segunda a equação: Δt2 = Δt1√(1 – v²/c²)

    • Rogério Leite da Silva on 24/12/2015 at 22:42
    • Responder

    Uma viagem para Alpha Centauri de ida e volta e com uma paradinha por lá de mais ou menos 36 dias terrestre levaria aproximadamente 12 anos terrestre e uns 12 meses para a tripulação parece muito pela nosso tempo de vida que tem a media de 70 a 80 anos mas se nosso tempo de vida terrestre fosse de 200 a 300 anos 12 anos se tornaria fichinha é mais a inda para a tripulação, ou seja, a evolução anda de mãos dadas, acredito que neste seculo atual não sairemos do sistema solar, e já no próximo seculo já estaremos capacitados para viagens as estrelas mais próximas, isto é se não ocorrer algumas coisas novas, ou seja, grandes descobertas que nos façam darmos saltos enormes. Difícil de prever.

    Abraços:

    • JOSÉ ALBERTO MENDE AGUIAR on 18/11/2015 at 21:24
    • Responder

    esse negocio de ir para o espacio sideral ou planeta marte ,estrela alfa do centauro , isso é muito complicado gente . curto muito astronomia tudo que fala do universo eu gosto de ler. uma coisa eu fico pensando, um foguete espacial quando sai com impulso da terra até órbita é com gaz que nem sei o nome certo , e depois para chegar a lua ou a outro planeta que combustivel e usado , é bateria carregada ou outra energia. por que a distância é muita leva meses ou ate anos. com velocidade terrivel , pois não a espaço na nave para guardar combustive. . que mistério é esse, tira essa duvida obrigado .

    1. Só precisa de combustível para o impulso e depois para abrandar. Tudo o resto é feito pela gravidade, tal como Newton nos ensinou 😉

      abraços

    • Valdisar Junior on 31/07/2015 at 17:03
    • Responder

    Bem, no que se refere à “criatividade científica”, imagino que logo logo estaremos em missões planetárias, visto que quando falamos em distancias estelares não ficamos limitados à uma condição linear e imutável. Alguns artifícios são considerados, como o buraco de minhoca e a própria geometria espacial que pode ser favorável em determinadas circunstancias. Espero estar vivo para presencias tal feito.

    • Ricardo Correia on 23/06/2012 at 11:50
    • Responder

    Excelente artigo.

    Mesmo viajando à velocidade da luz, precisamos de 4,3 anos para chegar a Alpha Centauri. MAIS 4,3 anos para regressar, isso dá praticamente 9 anos só de viagem. Ou seja , para alem dos Engenheiros Aeroespaciais, tambem os biólogos têm que fazer muitos estudos sobre criogenia(?).
    É… vai levar uns anos…

    Mais uma vez, parabens pelo artigo,

    Abraço

    1. Se viajasse quase à velocidade da luz, a viagem demoraria 5 meses, devido à dilatação do tempo 😉
      http://www.astropt.org/2009/01/31/teoria-da-relatividade-dilatacao-do-tempo/

      abraços!

        • Rafael Ligeiro on 24/06/2012 at 19:18

        Em resumo, o tempo passaria mais vagarosamente à heroica tripulação que a nós, aqui na Terra.

        De qualquer modo, ainda que houvesse tecnologia para tais viagens, o tempo continuaria a ser um ponto complicado.

        Ida e volta à Centauri duraria dez meses – sem contar a “estadia” por lá, afinal seria um baita desperdício ir até lá para voltar imediatamente, sem comprar um lembrança, visitar um shopping center… rs Mas na Terra, praticamente dez anos teriam se passado.

        Logo, será que o interesse pela exploração espacial continuará igual ao de hoje daqui dez anos?

        Não falo isso por conta da comunidade científica, mas sim por conta dos governantes, que poderiam cortar investimentos referentes à área.

        Essa questão se agrava quanto mais longa for a viagem.

      • Rafael Ligeiro on 25/06/2012 at 07:50
      • Responder

      Ricardo,

      Uns anos?! Você acabou de colocar uma pressão imensa sobre a comunidade científica… O grande Carlos Oliveira e seus colegas precisarão de clones para dar conta da “demanda”! rsrsrs

      Brincadeira! Entendi sua colocação! 😉

      O que escrevi ao Cavalcanti emprega-se ao seu comentário. Inclusive o modesto agradecimento de minha parte. Muito obrigado!

      Abraços!

  4. Artigo perfeito! Altamente didático, Rafael. 😉

    Viagens interstelares nos dá alguma “noção” da dimensão que é este universo – como também o quanto ainda precisamos avançar na questão das viagens espaciais (Engenheiros Aerospaciais ainda têm muito trabalho pela frente).

    Outra coisa que seu excelente artigo faz pensar: é necessário uma civilização dotada de uma tecnologia “impensável” para nós – não somente no deslocamento de suas supostas naves, como também na questão de uma “logística” para se deslocarem. Portanto, muito mais difícil que supostos extraterrestres enviarem suas sondas pra ficar nos bisbilhotando, por exemplo, seria uma invasão à Terra de toda uma civilização.

    Parabéns e abraços! 😉

    1. correção: *Engenheiros Aeroespaciais.

        • Rafael Ligeiro on 25/06/2012 at 07:33

        Pois é…

        Essa condição de “atraso” fica bastante clara quando levamos em conta que ainda há tanto para explorar em nosso Sistema Solar… Ou ainda se pensarmos que, ainda que a Voyager 1 fosse aproximadamente 177 vezes mais veloz, atingiria “apenas” 1% da velocidade da luz.

        Nada contra a comunidade científica. Aliás, muito pelo contrário. Esforço e resultados destes são pontos notáveis, sobretudo se levarmos em conta que a exploração espacial intensificou-se apenas a partir da segunda metade do século passado!

        Acontece que chega até a ser ilusório afirmar que tais viagens tratam-se de desafios gigantes… Extrapola tal ponto! Torná-lo o mais próximo da viabilidade nos próximos 100 anos, por exemplo, seria um dos saltos mais impressionantes dados pelo homem em toda a história.

        Em tempo: Cavalcanti, obrigado mais uma vez!

        Picasso dizia que “Um quadro só vive para quem o olha”. Com textos, penso que não seja diferente. O que o leitor é capaz de extrair é essencialmente importante, o que “vivifica” as palavras.

        Abraços e, mais uma vez, obrigado pelos elogios!

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