Dando continuidade às Aplicações Práticas na Engenharia, Física e Astronomia aqui e aqui, neste terceiro artigo será abordado acerca da Radioatividade aplicada no campo da Física Nuclear. Ao final do artigo, será resolvido um exercício proposto do livro-base, Physics For Scientists And Engineers Extended Version (Tipler e Mosca), onde mostrará a aplicação do tema abordado – utilizando conceitos físicos/químicos e equações matemáticas aplicadas na área supracitada.
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Radioatividade
– Descoberta da Radioatividade
No século XIX, o físico francês Becquerel, responsável pela descoberta do urânio (U) estudando determinadas substâncias fluorescentes, notou que o K2(UO2)(SO4)2 (um dos sais de urânio) tinha a capacidade de “marcar” tanto uma chapa fotográfica quanto finas lâminas de metal – mesmo quando este sal não era estimulado nem por raios catódicos nem por radiação solar. Diante disso, o físico francês concluiu que este emitia raios com propriedades similares às dos raios X (descoberto anteriormente por Röntgen). Estava descoberta a radioatividade.
– Os Experimentos de Rutherford
No final do século XIX, Marie Curie, estudando minérios de urânio, mostrou que a intensidade da radiação emitida seria proporcional à quantidade de urânio (puro) contido nos minérios – fenômeno atômico. Então, o físico inglês Rutherford elaborou um aparelho para compreender este fenômeno, como mostra o esquema abaixo:
Uma vez passando pelo campo magnético provocado pelas placas, Rutherford percebeu que os feixes de radiação tinham desviado suas trajetórias: os denominados raios α (alfa) foram desviado em direção à placa (-); então, continham cargas (+) na sua constituição. Os denominados raios β (beta), por sua vez, sofriam desvio para a placa (+); portanto, continham cargas (-) na sua composição. Os raios γ (gama) só foram descobertos por Villard (físico francês), no início do século XX, quando repetiu o experimentos de Rutherford. Os raios γ não sofrem qualquer desvio – por se tratar de ondas eletromagnéticas. Ao contrário das partículas α e β, as ondas γ não possuem nem massa atômica nem carga elétrica; em outras palavras, não alteram nem o número atômico (Z) nem a massa atômica (A). Posteriormente, foi-se aperfeiçoando as pesquisas nesse campo, onde se permitiu determinar a carga, massa atômica, capacidade de penetração e velocidade:
Tipo de radiação |
Massa (em u) |
Capacidade de Penetração |
Velocidade (com relação à velocidade da luz no vácuo) |
Alfa (+2) |
4 |
Baixa |
1/10c |
Beta (-1) |
0 |
Moderada |
9/10c |
Gama (0) |
0 |
alta |
c |
– Taxa de Decaimento (R)
Seja N o número de núcleos radioativos no instante t. Considerando aleatório o decaimento de um núcleo qualquer, o número de núcleos que decaem em um intervalo de tempo dt é proporcional a N e dt. A variação de N é dada por:
onde λ é a constante de decaimento. A taxa de variação dN/dt é proporcional a N. Dividindo ambos os termos por N, temos:
Integrando a equação:
Como λ é uma constante, esta sai da integral. Portanto, a equação acima fica:
Trata-se de duas integrais imediatas:
Passando o logaritmo para o outro lado da igualdade, a equação acima fica:
Isolando N:
Onde N é o número de núcleos radioativos em um dado tempo t. De modo análogo:
Que representa a taxa de decaimento (radioativo) por segundo e R0 = λN0 no instante t = 0. O tempo de meia vida (ou período de semidesintegração) é o tempo necessário para que um núcleo radioativo se desintegre à metade de sua massa inicial e é dado por t1/2 . Após n meias-vidas, a taxa de decaimento R fica:
Onde o tempo de meia-vida varia conforme o material praticado.
– Decaimento alfa
É sabido que elementos químicos com números atômicos bastante elevados (Z > 83) ou núcleos tão leves do grupo dos lantanídeos, podem ser instáveis para decaimento α – já que a massa atômica do núcleo radioativo inicial é maior que a soma das massas dos produtos deste decaimento. Genericamente:
No decaimento acima, o núcleo-filho tem 2 prótons e 2 nêutrons a menos que o núcleo original.
– Decaimento beta
Quando um determinado núcleo contém excesso de nêutrons ou falta destes, ocorre decaimento beta β. Durante o decaimento, os elétrons livres são emitidos próximos à velocidade da luz (como já vimos na tabela mais acima); o número de massa (A) permanece constante e o número atômico (Z) aumenta uma unidade β-1 ou diminui β+1. Como possuem massas muito pequenas, velocidades maiores que as partículas α e menor carga elétrica, possuem uma capacidade maior de penetração que estas – chegando à ordem de 50 a 100 vezes.
Para o decaimento beta :
Para se aprofundar sobre a questão da energia não se conservar durante o decaimento β, sugiro a leitura do capítulo 40 do livro-base deste artigo.
– Decaimento gama
Como já vimos anteriormente, os raios gama (γ), ao contrários das partículas alfa (α) e beta (β) são ondas eletromagnéticas com comprimentos de ondas bastante pequenos (10-5m) e por isso não sofrem desvio quando submetidos à um campo magnético. Durante seu decaimento, tanto o número atômico (Z) quanto o número de massa (A) não sofrem alterações em seus valores. Contudo, a vida média do decaimento alfa é bastante curta, sendo geralmente observado quando sucede os decaimentos beta e gama. Para o decaimento do cobalto-60:
– Aplicações da Radioatividade
Comumente, utilizamo-nos das várias aplicações desta área da ciência e sequer percebermos, como mostra o quadro abaixo:
Sub área |
Aplicação |
Indústria |
Utilização de isótopos radioativos em análises não destrutivas de matérias |
Datação com carbono 14 |
Permite-nos determinar a idade de diversos artefatos históricos e pré-históricos |
Agricultura |
A irradiação provocada pelo isótopo Co-60, por exemplo, provoca a extinção de bactérias e fungos – causadores do apodrecimento dos alimentos e atuando como esterilizadores |
Medicina |
Inserimento de uma pequena quantidade de material radioativo para determinar as condições de determinados órgãos; utilização do traçador I-131 para tratamento do câncer de tireóide; aplicações diversas na Medicina Nuclear |
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Exercício Prático (CAPÍTULO 40 – NUCLEAR PHYSICS)
33) A sample of a radioactive isotope is found to have an activity of 115.0 Bq immediately after it is pulled from the reactor that formed the isotope. Its activity 2 h 15 min later is measured to be 85.2 Bq.
(a) Calculate the decay constant and the half-life of the sample.
(b) How many radioactive nuclei were there in the sample initially?
Resolução
Dados: R = 85,2 Bq
R0 = 115,0 Bq
t = 2h 15min = 2,25 horas
λ = ?
λ1/2 = ?
N0 = ?
– O exercício sugere determinarmos a constante de decaimento e o tempo de meia-vida da amostra do isótopo radioativo e determinar o número de núcleos radioativos iniciais.
(a) A taxa de decomposição é dada por:
R = R_0 e^(-λt)
e R_0 = λN_0. Aplicando o logaritmo para retirarmos a constante de decaimento λ do expoente, temos:
λ = ln(R/R_0 ) / (-t)
Substituindo os valores contido nos dados:
λ = ln(85,2/115,0) / (-(2,25)) = 0,13 h^(-1)
O tempo de meia-vida é dado pela equação abaixo:
λ_(1/2) = ln(2) / λ
Substituindo o valor da constante de decaimento encontrado:
λ_(1/2) = ln(2) / 0,13 = 5,33 horas
Que é o tempo necessário para que uma amostra de um isótopo radioativo se reduza à metade da massa inicial.
(b) Isolando N0:
N_0 = R_0 / λ
Fazendo λ = 0,13 h-1 = 3,6×10-5 s:
N_0 = 115,0 /〖3,6×10^(-5) = 3.184,61 ou [3,18×10]^6 núcleos radioativos presentes na amostra inicial
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[…] tinha discorrido num artigo anterior acerca da radioatividade. No final do século XIX, o físico francês Becquerel descobriu a […]
[…] Ciência Importante, Educação por Cavalcanti15/09/2012 Prosseguindo com o artigo Aplicações Práticas na Engenharia, Física e Astronomia, hoje abordaremos acerca dos processos de fissão e fusão nuclear – com a resolução de um […]