Que descobriu a NASA em Marte?

Marcianos es­con­di­dos nas rochas?

Deve ha­ver na NASA mui­tas pes­soas que gos­tam de fil­mes de sus­pense. E uma des­sas pes­soas é o prin­ci­pal in­ves­ti­ga­dor da mis­são Mars Science Laboratory (MSL), o geó­logo John P. Grotzinger.

Depois da pro­mo­ção «7 mi­nu­tos de ter­ror» usada para des­cre­ver a pro­eza de en­ge­nha­ria que foi a amar­ta­gem do ro­ver Curiosity, John Grotzinger dei­xou es­ca­par em con­versa com o jor­na­lista Joe Palca uma no­vi­dade de dei­xar os ca­be­los em pé a qual­quer pes­soa que se in­te­resse pe­las mis­sões a Marte e pelo que pu­der­mos lá descobrir.

Um dos ins­tru­men­tos a bordo do ro­ver – con­tou Grotzinger – en­viou para a Terra, a par­tir de uma das últi­mas amos­tras de solo mar­ci­ano re­co­lhi­das, re­sul­ta­dos «muito in­te­res­san­tes».

Só esta frase bas­ta­ria para agu­çar a nossa cu­ri­o­si­dade, mas tendo em conta que o ins­tru­mento em causa é o SAM – Sample Analysis on Mars, um la­bo­ra­tó­rio de quí­mica em mi­ni­a­tura – e o que Grotzinger afir­mou a se­guir, só po­de­mos es­pe­rar uma no­tí­cia bombástica.

«A aná­lise a uma amos­tra de solo mar­ci­ano» — re­ve­lou Grotzinger — «re­vela da­dos para os li­vros de História». E as­sim está cri­ado um en­redo de sus­pense para os pró­xi­mos dias: afi­nal o que des­co­briu a NASA em Marte?

Grotzinger não es­pe­ci­fica o tipo de li­vro. Referir-se-á aos li­vros de História que as­si­na­lam a data em que man­dá­mos um ho­mem à Lua pela pri­meira vez? Existem po­ten­ci­ais des­co­ber­tas em Marte com di­reito a en­trada num li­vro de Geologia, por exem­plo, e que nada têm a ver com a des­co­berta de vida em Marte, pre­sente ou passada.

É uma des­co­berta his­tó­rica para al­guns ou his­tó­rica para todos?

Identificar um pro­cesso ainda des­co­nhe­cido para a for­ma­ção de ro­chas e dos so­los no pla­neta se­ria ex­ta­si­ante e his­tó­rico para geó­lo­gos, mas pro­vo­ca­ria tanta co­mo­ção no grande pú­blico como o re­sul­tado um jogo de fu­te­bol da II Liga.

Descobrir in­dí­cios de vida fós­sil atra­vés da pre­sença inequí­voca de car­bo­nos or­gâ­ni­cos, por exem­plo, já se­ria como anun­ciar o ven­ce­dor da Liga dos Campeões. Seria a des­co­berta ci­en­tí­fica do século.

Depois desta con­versa com o jor­na­lista, Grotzinger sa­berá com cer­teza que só o anún­cio da des­co­berta de evi­dên­cias de vida em Marte po­derá es­tar à al­tura das ex­pec­ta­ti­vas criadas.

Sendo as­sim, em que ficamos?

Ficamos à espera.

Só da­qui a al­gu­mas se­ma­nas po­de­re­mos sa­ber o que a NASA des­co­briu em Marte: en­tre os dias 3 e 7 de de­zem­bro, du­rante um en­con­tro da American Geophysical Union, em São Francisco, anun­ciou o pró­prio Grotzinger.

É pre­ciso ter em conta que em 1996 a NASA anun­ciou a des­co­berta de fós­seis de mi­cror­ga­nis­mos no me­te­o­rito ALH84001 – o que veio a revelar-se uma pre­ci­pi­ta­ção, para não di­zer bar­ra­cada ci­en­tí­fica. Ninguém quer me­ter a pata na poça, so­bre­tudo numa ‘poça’ mar­ci­ana po­ten­ci­al­mente con­ta­mi­nada com or­ga­nis­mos da Florida.

Até que os da­dos en­vi­a­dos pelo ins­tru­mento da Curiosity se­jam ana­li­sa­dos e os re­sul­ta­dos ve­ri­fi­ca­dos até à exaus­tão, a NASA manter-se-á na nossa já co­nhe­cida fase de muita cau­tela e canja de ga­li­nha.