Desdém Filosófico

Como o Rui Costa já tinha informado neste post, há 2 semanas atrás participamos num auto-intitulado “Café Filosófico”.

Primeiramente, tivemos uma sessão de divulgação de astronomia no Planetário do Porto.
Nessa sessão, o Filipe falou sobretudo de poluição luminosa, do que é, e de formas de a evitar perto de nós.
É uma sessão que recomendo, se quiserem saber mais sobre este tema.

A seguir, no mesmo espaço, deu-se o evento designado “Café Filosófico/Cosmológico”.
Desde já recomendo que não percam 1 hora do vosso tempo nesta treta.

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Já no passado participei em Cafés Filosóficos – até porque em quase todo o lado eles existem – e não é coisa que me atraia.
Mas nunca tinha tido más experiências. Agora tive.
Este Café Filosófico no Planetário do Porto foi um desastre.
No meu entender, quem mais contribuiu para este desastre foi o filósofo. Talvez tivesse estado num dia mau. Não sei. Todas as pessoas têm direito a ter dias maus.

Mas comecemos pelo início.
No início do “café”, o filósofo explanou como se iria processar este debate.

Ele começou por dizer que isto não era uma “conversa de café”.
Ora, iria ser conversa. Chama-se café. Mas não era conversa de café. Como vêem, o início não é nada auspicioso quando as primeiras palavras que se dizem é para dizer que o título do evento é enganador.

Ainda na introdução, o filósofo, mesmo sem dizer a palavra, explicou que iria optar por uma estratégia construtivista, chegando mesmo a dizer que éramos nós que faríamos as nossas escolhas sobre como a conversa iria fluir.
No entanto, provando que isto não é verdade, quando a audiência se entusiasmou mais com a discussão sobre tortura, o filósofo prontamente interrompeu para dizer que não era isso que se estava a discutir e que nos devíamos manter no tema.
Como se percebe, teoricamente até parecia bom; mas na prática foi precisamente o contrário daquilo que foi prometido.

Ainda na introdução, o filósofo explicou-nos que iria ser uma espécie de árbitro.
Realmente, foi um árbitro. Mas foi-o bem à portuguesa: apitando a tudo o que não ia de acordo com o que ele pretendia, tornando-se ele próprio na “estrela do café” (algo que me pareceu ser o objectivo do café); em vez de deixar as coisas correr e “arbitrar à inglesa” (a chamada “visão larga” que tanto se fala actualmente nos jornais desportivos).

Ainda na introdução, ele disse-nos que existia uma regra.
A regra era simples: o tempo que uma pessoa demorasse a expôr a sua opinião, a seguir deveria haver o mesmo tempo de silêncio antes da próxima pessoa dar a sua opinião.
Isto parece-me uma regra excelente. Difícil de concretizar, mas teoricamente excelente.

Sinceramente, parece-me que grande parte das pessoas cumpriu a regra.
Curiosamente, a pessoa que tenho a certeza que não cumpriu a regra foi o próprio filósofo, que interrompia as pessoas quando queria, sem se importar em esperar que a pessoa acabasse de falar nem se importava em deixar passar o tempo de silêncio, mas imediatamente punha-se logo a protestar com a pessoa em causa.

Como o filósofo nos disse, a forma de termos uma melhor percepção de quanto tempo deveríamos esperar até falarmos, seria repetir mentalmente o que a pessoa tinha dito.
O problema é que isto é totalmente errado. Porque pensamos mais depressa do que falamos. Por isso seria normal que a percepção das pessoas do tempo que teria passado seria mais rápido do que na realidade foi. Pessoalmente, eu tinha o cuidado de tentar repetir duas vezes o que tinha sido acabado de dizer, de modo a não ter estes problemas.

Apesar de eu achar que na generalidade as pessoas cumpriram o tempo estipulado, o certo é que houve alguns momentos em que a regra foi realmente quebrada.
O filósofo em 2 casos interviu. Mas foi uma intervenção que na minha opinião roçou a total falta de educação. Eu estava sentado logo à entrada do planetário. Ele numa vez virou-se para uma professora que estava na esquerda do planetário, e noutra vez para um senhor que estava do outro lado do planetário (de frente para mim), e tratou-os como se eles fossem mentecaptos. Aliás, senti sempre que ele nunca tratou as pessoas como adultas, mas sim como pessoas que precisavam ser “postas na linha”; claramente o “poder da arbitragem” subiu-lhe à cabeça. Nestes dois casos específicos, pareceu-me claramente que ele foi bastante rude para as pessoas. Ok, as pessoas não respeitaram a regra. Terá sido sem querer, obviamente. Nem elas tinham relógios nem tinham telemóveis (foi-nos dito para os desligar no início), e obviamente não tinham a experiência dele em treinar o “tempo subjectivo em silêncio”, logo não havia necessidade de os tratar daquela forma humilhante (a professora falou comigo no final da actividade).

O grande objectivo do Café Filosófico, segundo ele, era que as pessoas ouvissem. Uma das consequências seria elevar o nível da discussão, retirando a paixão e a emoção de responder rápido “sem pensar”. Isto seria um bom objectivo.
O problema, mais uma vez, foi que, para mim, o único que não soube ouvir os outros, foi o próprio filósofo.
Lembro-me perfeitamente da troca de palavras que ele teve com a Paula e com a Maria João (uma mulher que estava lá, sentada à minha frente).
Com a Paula já não me lembro bem qual era o assunto, mas lembro-me perfeitamente de ele estar constantemente a fazer-lhe a mesma pergunta. Ela respondia-lhe, mas o que ela lhe respondia não servia. Então ele fazia de novo, e manipulou a conversa de tal forma, em jeito de bully, que ele só a “largou” quando ela disse aquilo que ele queria ouvir. Ela não podia dizer o que queria, porque ele não a queria ouvir; ela tinha que dizer aquilo que ele queria ouvir. Isto é somente uma técnica de manipular a conversa, e é o contrário de tentar ouvir o que os outros têm para nos dizer: o único objectivo é fazer com que os outros digam aquilo que queremos ouvir.
Com a Maria João, a conversa prendeu-se com o ruído. Para a Maria João, com quem falei no final, ruído é tudo que é som não natural (por exemplo, a música durante a sessão de planetário). No entanto, o filósofo pressionou-a de tal forma, que ele retirou a conclusão (sem ela dizer), que o ruído era mau e o silêncio era bom. Isto foi um tema recorrente: ele achou sempre que silêncio é que era bom e falar era mau. Já a Maria João não queria dizer nada disso. Como ela me disse no final, as florestas tropicais estão cheias de ruídos (da natureza) e ela considera isso como bom. Para ela, não havia essa dicotomia silêncio/ruído e muito menos havia o julgamento de que o silêncio é que era bom. Mas a manipulação da conversa feita pelo filósofo fez com que as pessoas lá tivessem outra percepção: porque ele levou a conversa no sentido do que ele queria, em vez de ouvir o que a Maria João tinha para dizer.
Daí eu dizer que o único que não sabia ouvir os outros, era ele. É bastante paradigmático ele achar-se com capacidade para ensinar os outros a ouvir, quando ele próprio não o sabe fazer.

Por duas vezes, ele criticou os professores que lá estavam.
Segundo ele, estarem professores só complica o café filosófico, porque segundo ele, os professores querem é transmitir conhecimento e não têm respeito pelas opiniões dos outros. Ele não disse isto, mas deu a entender.
Na prática ele disse que os professores iam para lá com “agenda própria”. Não percebi bem o que ele queria dizer com isso, mas ele tentou dizer que se devia a quererem ensinar os outros – como se isto fosse negativo. Deixo a pergunta: como se caracteriza o comportamento de alguém que cria um “café filosófico” para fazer de bully sobre outros, manipulando as conversas de modo a que eles digam o que ele quer? Será isto “agenda própria”?
Existiram aqui 3 grandes problemas: (1) nas 2 vezes em que ele criticou os professores fê-lo com “bocas”, que ele justificou como estando somente a tentar ser engraçado, mas que denota uma clara infantilidade; (2) ele ao mandar essas “bocas” estava a insultar vários professores que lá estavam; (3) o que ele queria criticar não eram professores mas sim os especialistas nos assuntos, mas penso que nem isso conseguiu perceber.
Na verdade, o que lhe fazia “comichão” era existirem lá pessoas com conhecimento no assunto que se estava a debater. Por exemplo, quando a conversa mudou para os comportamentos dos animais, existiam lá biólogos. É totalmente normal que os biólogos dessem opiniões informadas com conhecimento dos assuntos. Para ele, isto era mau, porque subvertia a ideia de um café onde todas as opiniões fossem igualmente válidas (leia-se: ignorantes).

Claro que este ataque aos professores e especialistas nos assuntos não passou despercebido. E a Diana, por exemplo, deu voz à sua indignação por aquele espaço estar a ser utilizado para atacar o conhecimento.

Houve mais uma situação que me ficou na memória.
O Manel também se indignou com o ataque ao conhecimento. E quis falar. Mas tal como o filósofo fez para várias outras pessoas, mandou-o calar que ele é que iria falar. Mas enquanto os outros se deixaram levar pela atitude de bully, o Manel não o fez. E o Manel não se calou. E que fez o filósofo? Amuou e foi-se sentar atrás do Manel. Não só foi a única vez (que eu me lembre) em que ouviu a outra pessoa sentado (denotando que não lhe dava importância), mas após o Manel falar, ele virou-se para ele e de forma que considero rude, disse-lhe: “Já acabou? Posso falar agora?”
Novamente, parece-me que ele se considerava superior às pessoas que lá estavam, por isso tratava as pessoas como se estivessem abaixo dele.

Existiu mais um comportamento que detestei.
Por duas vezes, o filósofo/árbitro criticou baixinho pessoas que estavam do outro lado da sala. Quando ele estava do meu lado, eu ouvi-o a criticar de forma que considero insultuosa a Diana (que estava na parte esquerda do planetário), e soube no final que quando ele estava do lado esquerdo me criticou de forma insultuosa a mim (dizendo algo do género: “faz-lhe bem estar calado”).
No meu entender, isto denota infantilidade e má-educação para com as pessoas que estavam a perder o seu tempo para assistir a uma actividade dele.

Sinceramente, fiquei com a nítida sensação que o café serve para o “árbitro” achar que tem uma posição superior aos outros, e sobretudo para atacar o conhecimento que se tem dos assuntos.

A típica resposta que o filósofo queria ouvir era: “A consciência é a campainha da alma…triiiimmmm” – algo deste género foi dito lá e foi muito bem recebido.
Se alguém até tem conhecimento do assunto, é criticado.
Imaginem um neuro-cirurgião estar lá, ouvir esta resposta sobre a consciência, e ainda ser criticado se quisesse partilhar o conhecimento que existe sobre o fenómeno da consciência. Isto foi o que aconteceu constantemente no “café”.

Por fim, deixo 5 conclusões com que fiquei no final:

1 – o filósofo não soube coordenar eficazmente a discussão, sobretudo porque não sabe valorizar o conhecimento em detrimento da mera opinião. Tratou com desdém o conhecimento, os professores, e as pessoas que estavam a assistir. Faz-me duvidar que ele alguma vez tivesse tido aulas sobre coordenação deste tipo de actividades, onde pudesse, sob supervisão, perceber aquilo que fazia mal e bem. É pena.

2 – o objectivo, segundo o coordenador, era que as pessoas aprendessem a falar menos – e menos de imediato – e passassem a ouvir mais. É paradoxal que quem mais falou e quem menos ouviu os outros em toda a actividade foi o próprio coordenador. É o exemplo típico de “olhem para o que eu digo, mas não para o que eu faço”.

3 – tendo em conta que no final houve uma pessoa que deu feedback positivo à forma como a coordenação foi feita, percebe-se que há pessoas que gostam de ser mal-tratadas e manipuladas nas conversas. Isto é triste mas é a realidade.

4 – tendo em conta que o planetário é um local de conhecimento, onde se privilegia aquilo que se sabe, incluindo o papel dos professores e investigadores dos assuntos, é uma traição à imagem do planetário deixarem utilizar o seu espaço para insultos/”bocas” gratuitos aos professores e ao conhecimento.

5 – porque escrevi este post? Porque temos centenas de posts a alertar para os pseudos, de modo aos nossos leitores não se deixarem cair nas tretas da astrologia, homeopatia, pulseiras quanticas, falar com mortos, etc, etc, etc (a pseudociência pode assumir muitas formas). Este post tem o mesmo objectivo: não caiam nas tretas ditas nestes cafés filosóficos (este foi claramente um exemplo de actividade pseudo); prefiram sempre o conhecimento às “opiniões no ar”.

16 comentários

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  1. Caro Carlo,

    Não concordo; quer sobre a sua interpretação da personalidade do Thomas Huxley, quer sobre a sua forma de abordar o bully. Vejo que usou o termo falácia no seu sentido filosófico e não literal – o que faz sentido visto que a conversa parte de um lanche filosófico – nada a acrescentar nesse ponto (salutar a sua explicação!).

    A titulo de curiosidade, você é vigarista com os vigaristas?

    Abraço!

    1. Olá Luís,

      Vou ter que corrigir novamente o meu nome 😉

      Bem, quanto à personalidade do T.H. Huxley não é a minha interpretação: foi mesmo o apelido com que ficou conhecido. Não é uma questão de concordar ou discordar. Ou melhor, o Luís pode concordar ou discordar desse apelido popular, como pode concordar ou discordar de cognomes que colocaram a Reis portugueses. Mas não é uma questão de concordar ou discordar da existência deles. Não é a minha interpretação, nem o Luís poderá discordar, se eu afirmar que D. Afonso Henriques ficou conhecido como o Conquistador.

      Quanto à forma como se abordam os bullies, sou bastante liberal: cada qual aborda como quer e lhe apetece. Eu faço como quero. O Luís aborda à sua maneira.

      A sua última pergunta é interessante: eu sou bastante direto e tendo por base o conhecimento científico quando falo dos vigaristas. Os vigaristas usam a ciência diaramente, mas afirmam que não “acreditam” nela. Para mim, isso faz deles hipócritas e vigaristas. Da mesma forma que imagino que o conhecimento científico é para eles uma vigarice, daí dizerem tão mal dele (enquanto o utilizam com 100% de sucesso).
      Por isso, na opinião deles, eu com conhecimento científico é que sou vigarista. Por isso, essa resposta poderá ser entendida como sim.
      Deverá ser entendida como não, num tribunal, por exemplo. Já que o que eu digo (conhecimento científico) tem evidências, enquanto o que eles dizem não tem (pelo contrário, o que dizem é contrário às evidências).

      Se a sua pergunta vai mais longe, para preceitos morais mais generalizados, se devemos ser vigaristas com vigaristas: pessoalmente, eu não me oponho, até porque lá diz o ditado popular: ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão. E há um outro ditado qualquer com dá-los a provar do seu próprio veneno. Algo assim do género.
      Eu provavelmente não tinha personalidade para isso: vigarizar alguém conscientemente. Mas não me oponho a quem vigarize os vigaristas. Da minha parte, limito-me a apontar-lhes publicamente as vigarices. E as pessoas, tendo essa informação, que façam as suas escolhas: se depois de terem as informações, ainda assim escolhem ser vigarizadas, estão no seu direito.

      abraços

  2. Não comento o café porque não estive lá nem conheço nada semelhante. Achei interessante o diálogo. O Tomás admito que seja um bully provocador ao vivo e um tipo manso a escrever online. O Luís parece-me ter a necessidade da última palavra e gozar também de um “ego trip” no seu próprio espaço. Repare na ultima frase do Tomás «… continuar a conversa aqui» e na sua resposta «acho estranho dizer que não quer continuar… e continuar…»; entre outras que houve ao mesmo estilo.

    Mas li entusiasmado até ao fim, o que hoje em dia é fora do comum.

    1. Caro Luís,

      Suponho que estivesse a falar de mim. O meu nome é Carlos e não Luís.

      Quanto à última frase que refere, é uma falácia extremamente comum. Não é só o Tomás que a utiliza, mas realmente foi utilizada por ele.
      Refere-se a uma pessoa estar numa discussão, numa troca de ideias, e implicitamente continuar, continuar, e continuar a discussão, mas depois para “parecer bem” aos “olhos da audiência”, tentar pôr-se num “plano superior” dizendo que a discussão está “abaixo” dele, por isso nem tem tempo para isso, nem quer continuar… mas continua, continua, continua. É um paradoxo que convém sempre apontar.
      A pessoa que quer continuar uma discussão, continua. Quando não quer continuar, não continua. Dizer que não quer continuar, não assumindo o que faz, porque quer parecer bem, mas continua na mesma, é, no mínimo, paradoxal.

      Ao contrário do que muitas vezes se assume em Portugal (que fica mal discutir publicamente), pessoalmente acho que as discussões são positivas e podem ser enriquecedoras, daí que devem ser expostas, para as pessoas tirarem as suas próprias conclusões.
      Agradeço ter dado o feedback de que ficou entusiasmado com a discussão 😉

      abraços

        • Luis on 19/05/2015 at 23:37

        Caro Carlos,

        Não vejo a coisa dessa forma. Não vejo dolo nem tentativa de enganar com má intenção (falácia). A sugestão do Tiago é continuar a conversa por email… não é parar nem enganar a audiência. Pelo menos não o leio assim.

        Por outro lado sou obrigado a concordar consigo no que diz respeito ao interesse público da conversa! Estavam a esgrimir-se argumentos de qualidade; ainda que dadas as circunstâncias o bully neste caso particular – especialmente para o fim da conversa – era o Carlos; na minha opinião.

      1. Pessoalmente, tenho como característica não me deixar calcar por pessoas armadas em bully, e tenho prazer em virar bully sobre quem acha que pode ser bully.
        Também não gosto de vigaristas, de hipócritas, etc e tal. Não tou a dizer que é este o caso: estou só a dizer que, tal como já disse dúzias de vezes neste blog, gosto bastante de aplicar a personalidade do chamado “Darwin’s bulldog” quando alguém tem atitudes que não considero corretas de alguma forma.

        Note que no meu comentário não falei em dolo. Vejo sim como um paradoxo. E isso é certamente.
        Se uma pessoa não quer continuar uma conversa, não continua essa conversa dizendo que não a quer continuar.
        Tal como uma pessoa que não quer beber leite, não continua a beber leite enquanto diz que não o quer beber. Isto, claro, se estamos a falar de adultos, e não crianças que são obrigadas a fazer algo contra a sua vontade.

        As pessoas deviam assumir o que querem, e fazerem aquilo que dizem. Quando se continua uma conversa dizendo que não se quer continuar a conversa, está-se a fazer o contrário do que se diz.

        abraços!

    • Tomás Magalhães Carneiro on 28/04/2013 at 14:28
    • Responder

    Carlos,

    não me leve a mal por não querer continuar a conversa aqui. Parece-me que não estamos a acrescentar nada ao que foi já dito e não me parece que valha a pena estar a fazê-lo por aqui, até porque continua a fazer-me perguntas que partem de pressupostos que não aceito e continua a insistir em factos que não aconteceram, como por exemplo eu ter-me “virado aos gritos” para alguém. Já agora não acho correcto que esteja a empolar dessa forma o que aconteceu que foi um simples forçar ao cumprimentos das regras que devem ser cumpridas independentemente da idade e sexo da pessoa.

    Deixo-lhe aqui o meu mail pessoal para o caso de querer continuar esta conversa em privado, pois terei todo o gosto em esclarecer qualquer mal-entendido que ainda possa existir.

    (…)

    Um abraço,
    Tomás

    1. Tomás,

      É óbvio que eu não levo a mal.
      Acho estranho dizer que não quer continuar… e continuar…
      Mas vou assumir que não encontrou nada mais enriquecedor para fazer 😉

      Não me parece que eu esteja a empolar. O que eu escrevi foi a minha percepção das coisas.
      Não sei qual a sua definição de gritar.
      Para mim, virar-se para uma pessoa e dizer: “Páre. Não fale já. Agora falo eu.” E dizer isto com um tom de voz 2 a 3 vezes superior a qualquer outra voz que se fez ouvir dentro do planetário, e num tom de voz no mínimo 5 vezes superior à pessoa que estava a falar na altura, constitui gritar para a pessoa em causa.

      Não me parece que eu tenha dado relevância ao sexo. Falei agora da situação que se passou com uma pessoa que não conheço, por isso, penso eu, permite-me ter uma noção mais afastada da situação.
      Eu podia obviamente falar da situação em que o Tomás se vira para o Manel de maneira bastante rude de modo a que ele se cale, mas aí como eu conheço a pessoa poderia eu próprio cair em subjectivismos desnecessários.

      Quanto à idade, sim, parece-me que tem relevância.
      Lembre-se que a pessoa terá uma experiência de vida superior à sua. Lembre-se que a pessoa poderá ter conhecimentos superiores aos seus. Lembre-se, quiçá, que ela até poderia ser sua mãe!
      Lembre-se que falar para um jovem de 15 anos é diferente de falar para uma pessoa de 40. Lembre-se que não está a falar para uma criança de 3 anos que precisa ser educada por si de modo a saber quais os seus limites.
      Eu não sei como o Tomás costuma falar para as crianças. Mas nitidamente fiquei com a ideia que o Tomás gosta de tratar a sua assistência como se todos tivessem 3 anos.
      Por isso, em relação à idade, penso que sim, tem extrema relevância.

      Eu por mim já tinha acabado a conversa mal escrevi o post. Nada mais tenho a dizer. Note que os meus comentários não acrescentaram nada de relevante ao que eu já tinha escrito.

      Quanto ao seu e-mail, por uma questão de protecção pessoal da sua parte, decidi editar o comentário. Quando se expõe o e-mail desta forma em blogs, está-se mais susceptível de receber carradas de SPAM.
      Se quiser, eu volto atrás e exponho novamente o seu e-mail; não lhe quero impôr esta minha decisão. Acredite que só o fiz por boas intenções (do Tomás não receber SPAM).
      De resto, eu tive acesso ao seu e-mail pessoal desde o seu primeiro comentário, já que sempre que comenta é-lhe pedido que escreva o seu e-mail (mas desta forma, não expõe o seu e-mail pessoal).

      abraços!
      Carlos

    • Tomás Magalhães Carneiro on 28/04/2013 at 10:47
    • Responder

    Carlos,

    quanto à rudeza da minha forma de moderar… bem isso deixo à consideração de cada um. E repare que em momento algum recusei o adjectivo nem me interessa fazê-lo. Admito perfeitamente que eu (ou o meu estilo) possa ser considerado rude por algumas pessoas, mas isso não me parece que afecte a qualidade do Café Filosófico, até lhe dá um travo distinto. A alguns esse travo dará asco, mas não posso, nem quero, fazer muito quanto a isso.

    Quanto a isto que escreve:

    “Mas o Tomás mudou de opinião sobre os professores? Deixou de “mandar bocas” baixinho? Passou a privilegiar o conhecimento em vez da mera opinião desinformada?”

    Já ouviu certamente falar da falácia da dupla pergunta. Só nestas duas linhas o Carlos comete três dessas falácias.
    E todo o seu texto, ou textos, acerca do Café Filosófico são extremamente enviesados e pejados de subjectividades e truques retóricos que o levam a considerações e interpretações muito tedenciosas e errónias (levou até um dos seus leitores a revelar uma certa agressividade latente – bem pior que a minha rudeza, deve concordar…)

    Pelo que acho que seria penoso para os dois continuar com este não-diálogo e devemos ficar por aqui pois ambos temos coisas bem mais enriquecedoras para fazer.

    Desejo-lhe as maiores felicidades no seu trabalho de divulgação da ciência (que este nosso encontro levou-me a conhecer), eu continuarei com o meu na promoção da Filosofia.

    Sinceramente,
    Tomás

    1. Tomás,

      Como deverá compreender, o que eu fiz foram 3 perguntas separadas e independentes. Não as juntei. Separei-as. Além disso, não foram perguntas retóricas: pode responder Sim ou Não. Se me convida para repetir algo que foi muito mau, obviamente espera-se que tenha mudado de comportamento, senão para quê o convite?
      Ou o convite terá sido uma falácia sua?

      Além disso, realço que são 3 perguntas. Sendo assim, caso fosse uma falácia, seria a da questão-tripla.
      Mas não é falácia, já que não está dentro da questão complexa. Noto que não estudou devidamente esta falácia.

      Mas se realmente achou que fui demasiado complexo, eu separo as coisas:

      3 perguntas separadas:

      1 – mudou de opinião sobre os professores?

      2 – deixou de “mandar bocas” baixinho?

      3 – passou a privilegiar o conhecimento em vez da mera opinião desinformada?

      As perguntas estão agora expostas de forma simples, devidamente separadas, e não falaciosas?

      Posso fazer outra: passou a respeitar as pessoas que se dirigem ao suposto café filosófico?
      E agora sim, posso utilizar a falácia da complexidade na questão: passou a tratá-las de forma adulta como pessoas adultas merecem ser tratadas?

      Quanto a ser rude, tem razão: pode ser uma questão subjectiva.
      Uns podem achar que virar-se aos gritos num planetário para uma senhora professora de talvez 50 anos, a mandá-la calar-se é um sinal de excelente “arbitragem” e uma simples questão de “estilo”.
      Eu não acho.

      Podem também haver pessoas que fiquem maravilhadas consigo quando não deixa falar as pessoas, e impõe que elas respondam aquilo que o Tomás já pensa.
      Novamente, eu não acho que isto deva levar a admiração, mas deve sim levar à denúncia de comportamentos manipuladores.

      Sabe o que é que eu acho?
      Acho que teoricamente a regra que tentou implementar seria excelente (de esperar antes de responder).
      Acho também que teoricamente o objectivo das pessoas se ouvirem mais seria excelente… mas só se o Tomás liderasse por exemplo e não fizesse exactamente o contrário daquilo que quer impôr nos outros.
      Acho que é uma excelente estratégia o de perguntar o nome às pessoas (uma estratégia educacional que vem em quase todos os livros).
      Acho que o Tomás é muito mais simpático e calmo quer quando saiu do planetário e falou informalmente, quer por aqui.
      O problema é que dentro do planetário imprime um estilo bully porque deixa-se levar pela “falácia” do Abuso do Falso Poder. Na verdade, isto não é uma falácia, mas sim o que nos eua se chama de “ego trip”.

      abraços,
      Carlos

    • Tomas Magalhaes Carneiro on 28/04/2013 at 02:22
    • Responder

    Carlos,

    acho que falamos sobre isso no final da sessão (e agora tenho pena de não ter ido beber um copo com vocês no final como me convidou pois esta situação poderia ter sido esclarecida) e é interessante ver que muita gente sai destas sessões com impressões opostas, como verificou. Agora, não me parece que deva atribuir isso a que algumas pessoas gostem de ser manipuladas, que haverá seguramente, mas não todas nem a maior parte.

    Julgo que a sua reação se deve sobretudo a não ter percebido bem o que ali se pretende,Tlz por eu próprio não ter esclarecido bem, e o Carlos terr visto as suas expectativas frustradas o que é compreensível mas não faz com que o que ali se passa seja uma charlatanice ou pseudo filosofia. Repare que se pretendessemos fazer ciência o “pseudo” assentaria como uma luva, mas não é de ciência que se trata. Mas de filosofia. E não de filosofia em contexto acadêmico mas… amador (à mingua de melhor termo) com tudo aquilo que nos faz querer saltar da cadeira 😉

    Convidei-o a participar novamente pois acho que o Café Filosófico merecia uma apreciação mais justa (não escrevi positiva) no seu blogue mas se não o quer fazer pelo menos perca algum tempo a visitar o blogue Filosofia Crítica (onde fez o favor de deixar um comentário) onde poderá contextualizar um pouco melhor este trabalho e ver que, pelo menos isso, não tenta passar por aquilo que não é.

    1. Tomás,

      Se as pessoas gostam de ser maltratadas e adoram (porque não sabem) quando alguém aplica falácias nos diálogos, então estão a ser manipuladas… e ficam com a sensação que gostaram. O psicólogo Michael Shermer explica isso. Não é algo que eu “descobri”.

      Eu falei com 3 pessoas no final, como expliquei no meu texto em cima. 2 delas não pertenciam ao grupo de pessoas que eu já conhecia, nem sequer as vi mais desde aí. As 3 ajudaram-me a escrever este feedback.

      Eu não acho que o que se passou foi charlatanice ou pseudo-filosofia. Como expliquei no texto, para mim o grande problema foi o coordenador. A actividade até teria interesse (daí termos 8 ido lá), mas o coordenador estragou-a.
      Como eu escrevi no texto, pode ter sido um dia mau, ou então pode não ter tido aulas de coordenação… não sei. Posso especular dúzias de motivos… mas são irrelevantes no contexto da minha análise, que se focou somente naquilo que aconteceu.

      Tomás, pergunto-lhe, por exemplo: tem noção que é bastante rude virar-se para uma senhora talvez de 50 anos e dizer-lhe em voz alta: “Páre. Não fale já. Agora falo eu.”
      Isto é extremamente rude.

      Tomás, pergunto-lhe, por exemplo: tem noção que as pessoas que lá vão, não têm a sua experiência na contagem do tempo subjectivo e por isso irão haver certamente enganos naturais?

      Tomás, pergunto-lhe, por exemplo: tem noção da forma rude com que tratou o Manel e a Paula (que estava claramente constrangida porque não podia dizer aquilo que queria)?

      Tomás, pergunto-lhe, por exemplo: tem noção que fica extremamente mal visto por todos quando manda “bocas” baixinho para as pessoas à sua volta, criticando de forma insultuosa as pessoas do outro lado?

      O contexto de pseudo tem a ver com as falácias que foram utilizadas no diálogo. É isso que torna algo pseudo ou não.
      Como pode reparar, eu próprio critico alguns “artigos científicos” porque contém várias falácias. Isso torna-os pseudos.
      A conversa pode até ser sobre arte, que pode ser uma conversa pseudo, se a pessoa argumenta com base em falácias.
      Ou seja, ser filosofia, é irrelevante. O que conta é como o diálogo se processou.

      Quanto ao “saltar da cadeira”…. note bem que eu me contive para não falar de mim durante o texto.
      Mas já que puxa essa expressão, que eu utilizei na fase final do café, quando estavamos num diálogo mais informal… veja bem o que aconteceu: eu na altura estava a fazer uma auto-reflexão, estava a criticar-me a mim próprio e à minha tendência para a impulsividade. Estava a dizer que não fui tão impulsivo. Estava a auto-reflectir. Estava até a elogiar o café filosófico por poder providenciar este tipo de auto-reflexão e de maior contenção da impulsividade individual.
      Deixe-me repetir: estava a elogiar o café filosófico e estava a fazer uma auto-reflexão/auto-crítica.
      Terá o Tomás percebido isso? Escusa de responder. Eu sei que na altura nada percebeu. Porque não me ouviu. O Tomás tinha uma “agenda própria” e ouvir o que estavamos a dizer não fazia parte dos planos (peço desculpa, mas foi a impressão com que fiquei) – não foi só o Tomás, eu percebi que outra rapariga lá também não percebeu.

      Eu não deixei qualquer comentário no Filosofia Crítica. Coloquei sim um link para lá, para dar o crédito ao sítio onde vi o poster e a referência a esse café. Pode é ter havido um backtrack, um comentário automático enviado pelo astroPT para lá a dizer que esse site foi mencionado aqui. Terá sido isso?
      Sinceramente não cheguei a perceber o que é “Filosofia Crítica”. Idealmente seria filosofia com sentido crítico. Mas sentido crítico não existiu na sessão a que assisti.

      Tomás, eu participaria em algo novo.
      Mas o Tomás mudou de opinião sobre os professores? Deixou de “mandar bocas” baixinho? Passou a privilegiar o conhecimento em vez da mera opinião desinformada?
      Alguma coisa mudou nisto?
      Sinceramente, duvido, porque as pessoas não mudam de uma hora para a outra…

      abraços!

    • Tomas Magalhaes Carneiro on 28/04/2013 at 01:34
    • Responder

    Caro Carlos,

    Vejo que ficou com uma impressão negativa do Café Filosófico no Planetário e parece-me que isso o fez ficar com uma idéia errada do que se pretende com aquelas sessões.

    Convido-o, por isso, a participar novamente mas desta vez procurando cumprir as regras do diálogo apresentadas logo no início da sessão. Mais importante que o conteúdo do que é discutido é a nossa atitude perante o diálogo e perante os outros, e é por isso que é fundamental cumprir as regras que tornam o diálogo possível.

    Terei todo o gosto em recebê-lo novamente.

    Um abraço,
    Tomás

    1. Caro Tomás,

      Eu da minha parte não vou participar mais. Já chega uma experiência negativa.
      Existe um ditado que diz: “À primeira cai quem não sabe…” Deixo a continuação do ditado para quem o quiser completar.

      Quanto a cumprir as regras do diálogo, pergunto-lhe: tem noção que o Tomás em toda a sessão foi quem não cumpriu as regras por si definidas? Lembra-se das vezes em que impediu as pessoas de falar, não acatou os tempos de silêncio, e quando elas falavam o Tomás tentava fazer com que elas dissessem o que o Tomás queria?

      Parece-me que mais do que regras teóricas, o que foi mais interessante foi ver as regras serem aplicadas na prática. O Tomás deveria liderar por exemplo. O seu exemplo, na minha opinião, foi um total desrespeito pelas regras impostas por si próprio.
      Peço desculpa, mas eu não vou seguir essas “regras práticas”.

      Mas não saber coordenar ou estar num dia mau, desculpa-se e sugere-se que se adquira mais competências nessa área.
      O que não se desculpa são as “bocas”, as críticas baixinho, e o desrespeito com que tratou o conhecimento e os professores. Isso, como deveria concordar, é péssimo e demonstra desdém e desrespeito pelas pessoas que perderam o seu tempo para irem assistir a uma actividade sua.

      (sabe, se eu tratasse os meus alunos desta forma, seria despedido de certeza. Suponho que qualquer professor seria despedido se tratasse desta forma os seus alunos (alunos esses que até são mais novos, ao contrário de pessoas mais velhas que tinha na sua sessão e que deveriam merecer o seu respeito). Como pode o Tomás desdenhar a profissão de professor quando nem este nível de respeito aplica nas suas sessões?)

      Por isso, agradeço-lhe o seu convite, mas sou obrigado a declinar.

      abraços,
      Carlos

    • Paulo Mesquita on 28/04/2013 at 01:19
    • Responder

    Gostei muito deste teu texto. É uma linha pensamento e crítica que aprecio esó tenho pena de não twer estado lá, pois conhecenod os meus maus fígados para estas charlatanices de pseudo intelectuais, cheira-me que à filisofia de café eu iria opôr-lhe um pouco da minha requintada “psicologia aplicada”. Os meus filhos já a experiamentaram em raras ocasiões quando se portaram mal para além do tolerável.

    A propósito de filhos, aos meus e ao longo de 28 anos a principal mensagem que lhes tenho passado tem sido esta:

    tolerância zero para cobarida moral e ética; tolerância zero para Bullies; tolerância zero para diletantismo intectual estéril. por isso creio que esse tal café filosófico, comigo lá teria sido mais um “Arraial da Ribeira” do que uma conversa de planetário…hehehe. Ainda bem que não fui.

    um abraço.

  3. Já agora, para ficar claro: este post não pretende atacar a filosofia. Até porque eu adoro Filosofia da Ciência.

    Na escola secundária (10º ano e 11º ano penso eu), tive um professor de filosofia que, até hoje, considero que foi um dos melhores professores de sempre que tive. Deu-nos 2 cadeiras: filosofia e sociologia. E era fantástico! E, espantem-se, era padre! Mas um padre com uma mentalidade muito mais aberta e mais moderna do que apanhei neste café filosófico.

    Na Universidade, tive uma professora de filosofia da ciência simplesmente genial. Ela sim aplicava o método construtivista, em que ela era um guia, um “árbitro”. E terá sido uma cadeira das que mais aprendi e das que mais me deu gozo ter.

    Tive também filosofia em astronomia, mas aí não gostei tanto porque foi coordenada de modo tradicional, com palestras.

    Além disso, tal como vos disse, já participei noutros cafés filosóficos – fora de Portugal – e não desgostei. Até porque os coordenadores souberam sempre respeitar a assistência; coisa que no meu entender não existiu desta vez.

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