A fabulosa história da Nebulosa do Caranguejo. Um conto maravilhoso da realidade.

Mosaico de Imagens da Nebulosa do Caranguejo Crédito NASA/ESA/HST

Mosaico de Imagens da Nebulosa do Caranguejo
Crédito NASA/ESA/HST  –                                                                                                                                   Podem > clicar a imagem para a ampliar , e optar por + para ver os detalhes, para voltar para o artigo >retroceder, no “browser..”

Nestes dias, tem o AstroPt celebrado o aniversário do telescópio Espacial Hubble, a que é a experiência mais bonita de toda a História da Humanidade, incluindo para os que se propuseram, na altura da sua orçamentação, anulá-la. Esses também estão de parabéns porque têm boa oportunidade de abrirem, agora, os olhos.

Das dezenas de milhar de imagens já oferecidas ao público, todos temos umas assim…como dizer, que achamos mais bonitas ainda.

Confesso-vos que por mim escolhi esta imagem da Nebulosa do Caranguejo, mas não foi só por ser incrível, foi pela história que li e que está por detrás deste objecto astronómico.

É que nesta imagem do Telescópio Espacial Hubble surgem filamentos de gás de poeira que formam um casulo, ou uma teia, conhecido como Nebulosa do Caranguejo, que se localiza na constelação de Touro. A nebulosa nasceu quando uma estrela maciça explodiu como uma supernova no ano de 1054 (tal como foi vista da Terra). Hoje, ela continua a expandir-se para a galáxia em alta velocidade, semeando a Via Láctea com elementos pesados ​​que podem ser incorporados em novas estrelas e planetas. A nebulosa ​​estende-se por cerca de 10 anos-luz, e rodeia o núcleo esmagado da estrela original, conhecida como estrela de neutrões.

Estrela de Neutrões, com 1,5 vezes a Massa do Sol, 20 quilómetros de diâmetro, uma crosta sólida com 2 Km de profundidade e um núcleo fluído, devido às tremendas pressões no seu interior. Uma colher de açúcar pode ali pesar, pela força gravítica, cerca de 10 toneladas. Crédito nrumiano

E o conto prossegue, contado pelos cientistas: ficaram até, aqui entre nós, muito entusiasmados em contar o que ali se vê: o Hubble captura a dinâmica da Nebulosa do Caranguejo.

A nova sequência de imagens do telescópio espacial Hubble do remanescente duma enorme explosão estrelar está a abrir aos astrónomos uma janela fantástica para observarem a notável relação dinâmica entre a pequena Pulsar do Caranguejo e a grande nebulosa a quem ela proporciona toda esta energia.

O colorido da foto completa a história da Nebulosa do Caranguejo, que é o remanescente duma explosão de supernova testemunhada há mais de 900 anos.

A nebulosa, que perfaz 10 anos-luz de diâmetro, situa-se a 7.000 anos-luz de distância da Terra na constelação do Touro. Os filamentos brancos, esbranquiçados, cor-de-rosa e cobre (seguindo um padrão cada vez mais carregado)  que seguem na direção das orlas da nebulosa são os remanescentes da estrela, que foram expelidos para o espaço pela explosão.

No centro da Nebulosa do Caranguejo está a Pulsar do Caranguejo – o núcleo colapsado da estrela que explodiu. O Pulsar do Caranguejo é uma estrela de neutrões em rápida rotação – um objecto com apenas cerca de seis quilómetros de diâmetro, mas que contém mais massa do que o nosso sol. Como gira a uma velocidade de rotação  de 30 vezes por segundo, o poderoso campo magnético da Pulsar do Caranguejo varre as partículas, acelerando-as e chicoteando-as na nebulosa para velocidades próximas da da luz.

Imaginam um disco proto-planetário, ali também designado por nó cometário, estar a ser varrido para fora por estas partículas de alta energia?

É que ali podem ver alguns destes discos, em forma de gota, alguns diriam de girino, com o tamanho equivalente a 2 sistemas solares a serem empurrados para a orla da nebulosa a cerca de metade da velocidade da luz !

Outras gotas, bastante mais pequenas, também são expelidas, e isso leva a ponderar a hipótese muito forte de serem os pólipos de futuros planetas órfãos, sem estrela anfitriã, que povoam, já hoje, a nossa galáxia.

Pois é aqui que nascem as estrelas, os planetas, os cometas, e é aqui, nestas incríveis fornalhas, que são forjados os elementos da Tabela Periódica, com a honrosa excepção do Hidrogénio e do Hélio, que são mais leves e têm uma estrutura atómica mais simples.

E o maravilhoso fundo azul, como é ele formado?

O brilho azul na parte interna da nebulosa – é luz emitida por electrões de alta energia que são lançados em espiral através do campo magnético do Caranguejo – que por sua vez é gerado pelo seu Pulsar.

As imagens permitiram saber que a parte interior da Nebulosa do Caranguejo é muito mais dinâmica do que se pensava.

O caranguejo, literalmente, muda de filamentos no espaço de poucos dias à medida que estes se afastam do pulsar a 150 mil quilómetros por segundo!

E agora, como todo o pequeno conto tem um fim, sabem o que me levou a escrever isto? Foi um girino, um pequeno e simples animal que ontem vi num charco destas chuvas de Março/Abril.

É que ele, como nós, é feito dos mesmos elementos, da mesma matéria, desta que está ali a ser forjada na Nebulosa remanescente do Caranguejo.

Ele, como nós, é feito pelas poeiras das estrelas.

E aqui fica um conjunto de imagens da Nebulosa e do seu Pulsar.

800crab

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Notas e créditos

A foto do telescópio espacial Hubble foi captada a 5 de novembro de 1995 pela Wide Field and Planetary Camera 2 no comprimento de onda de cerca de 550 nanómetros, no meio da parte da luz visível do spectrum eletromagnético.

Créditos: Jeff Hester e Paul Scowen (Arizona State University) e NASA e ainda NASA / ESA / J. Hester / A. Loll (ASU).

6 comentários

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    • Rita Pinto Leite on 03/05/2013 at 10:48
    • Responder

    WAW!! Obrigada Manel!!
    Obrigada a ti e ao AstroPt por me darem todos os dias um bocadinho mais de consciência do que sou, donde vim e para onde vou e com isso cada vez me sentir mais feliz 🙂

  1. Boa escolha e belo texto !

      • Manel Rosa Martins on 01/05/2013 at 13:12
      • Responder

      Obrigado Luís, foi feito a pensar nas pessoas que chegam cansadas a casa após um dia de trabalho, das suas atribulações do dia-a-dia para terem um conto real, para verem um pouco da espantosa realidade que está contida nos objectos da Ciência.

      Porque merecem. 🙂

  2. 10 anos luz de diametro, explodiu (vista da terra) ha 1000 anos, o que da uma velocidade de expansao media de 1% da velocidade da luz ou 3000 km/s.

    Como comparacao, a Voyager 1, o objecto mais rapido construido pelo homem (ok, o segundo, a New Horizons vai um bocadinho mais depressa, nao vai?) viaja a 3.6 AU/ano, uns estonteantes 62000 km/h ou 17 km/s.

    Ou seja, umas 200x mais lenta que a velocidade media de expansao da nuvem.

    Uma explosao do caraças…

    1. Excelente comparação 😀

        • Manel Rosa Martins on 01/05/2013 at 13:06

        Excelente comparação, mas permitam-me corrigir uma imprecisão.

        17 x 10 mil= 170.000 (Km/s)

        ~< Dez mil vezes a velocidade da Voyager/New Horizons.

        🙂

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