Conjunção de Júpiter, Vénus e Mercúrio

O movimento dos planetas em torno do Sol (translação), associado ao próprio movimento de translação da Terra origina, de tempos a tempos, conjunções entre 2 ou mais planetas.

Vénus e Júpiter estão prestes a passar um pelo outro; pelo menos na aparência. Para tornar tudo ainda mais interessante, Mercúrio também participa nesta “dança” de planetas.
Ontem, dia 23, Júpiter ainda estava relativamente afastado de Vénus e de Mercúrio. Mas a distância entre os 3 irá diminuir nos próximos dias e os três planetas, apesar de serem todos visíveis a olho nu, caberão no campo de visão de uns simples binóculos.

Após esta conjunção, Júpiter continuará a descer, noite após noite, em direção ao Sol, acabando por ser ofuscado pelo clarão do pôr-do-sol no final do mês. Já Vénus e Mercúrio continuarão a afastar-se do Sol, sendo visíveis num céu mais escuro dia após dia. Para quem nunca viu Mercúrio, sempre tão arisco, esta pode ser uma excelente ocasião para o observar.

Esta é também uma boa ocasião para imaginarmos o Sistema Solar a 3 dimensões. Normalmente vemos, em livros ou revistas, representações do Sol e das órbitas dos planetas. Mas o livro, a revista ou mesmo o écran do monitor do PC é uma superfície plana que nos apresenta apenas 2 dimensões: comprimento X largura. Falta a profundidade.
Se efectivamente o Sol e os planetas estivessem todos no mesmo plano, estaríamos, nos próximos dias, a assistir a um fenómeno surpreendente: Júpiter a aproximar-se de Mercúrio e de Vénus. De seguida, a 27 de Maio, Mercúrio passaria pela frente dos satélites galileanos para de seguida passar pela frente de Júpiter (dando-se um trânsito), após o que passaria de novo pelos satélites que eventualmente estivessem do lado Este do planeta. 2 dias depois, seria Vénus que passaria pela frente de Júpiter e dos seus 4 satélites.
Mas não é isto que irá acontecer. Os 3 planetas passarão aparentemente próximo uns dos outros, mas estarão sempre suficientemente afastados para nem sequer ser possível observá-los juntos pela ocular de um telescópio. E daqui podemos concluir que os planos das órbitas de Júpiter, Vénus e Mercúrio não são coincidentes.

Além disso, esta aparente proximidade, não passa de uma ilusão de perspectiva. Os planetas estão bem longe uns dos outros e a distâncias bem distintas do Sol. Desenganem-se os catastrofistas que imaginam que estas conjunções têm qualquer significado especial e que poderá haver interações peculiares entre os vários planetas nestas ocasiões…

A partir daqui e de outras observações simples, que não requerem qualquer instrumento óptico, podemos concluir que, se tomarmos como referência o plano da órbita da Terra em torno do Sol, todos os planetas e respectivos satélites orbitam em planos diferentes.

Contudo, convém ter bem presente que estas órbitas, em forma de elipse e em que o Sol ocupa um dos focos, apesar de estarem todas inclinadas umas em relação às outras, intersectam todas o centro do Sol. A inclinação é apenas um dos vários parâmetros que definem uma órbita, mas é o que provoca este afastamento dos planetas durante as conjunções.

Esta é uma lição simples que se pode retirar desta conjunção que podemos apreciar se olharmos para poente pouco depois do pôr-do-sol.