Fenómenos “Airglow” e “Gravity Waves” captados pelo astrofotógrafo Miguel Claro na reserva Dark Sky Alqueva

É com grande prazer que partilho com todos os leitores do astroPT, algumas das imagens que fiz recentemente em Mourão, no Alentejo, uma das regiões mais escuras pertencentes à reserva Dark Sky Alqueva, a poucos quilómetros de Monsaraz.

MilkyWayMourao-Airglow-netAP

Assim, nesta última sessão tive a oportunidade de registar várias imagens e alguns fenómenos celestes como o “Airglow” e “Gravity Waves”, fenómenos raros com um carácter científico muito interessante. Tudo isto é claro, sob a imponente presença da Via Láctea, claramente perceptível a olho nu, num céu bem contrastado e livre da poluição luminosa das grandes cidades.

Podem sempre consultar as legendas identificativas de cada imagem, para melhor compreenderem os fenómenos e objectos celestes, nela patentes.

MilkyWayMourao-Airglow-LABEL-netAP

Veja esta imagem em alta resolução aqui.

Em todas as imagens que se seguem, está presente o fenómeno conhecido por “Airglow”, em português, designado por Luminescência fotoquímica (que também é chamado de quimioluminescência) causada pelas reacções químicas de radiação solar (Ultravioleta e raios-X) com os átomos e as moléculas presentes na atmosfera superior. Visualmente, este será o fenómeno mais próximo de uma aurora boreal, embora seja bastante difícil de percepcionar a olho nu. As Auroras boreais ocorrem também a altitudes semelhantes e a sua luz deriva também de átomos excitados. Há contudo uma diferença, a excitação das auroras é causada por colisões com partículas energéticas provenientes do Sol, enquanto que a radiação solar de comprimento de onda curto que ocorre durante o dia, produz a luminescência atmosférica (Airglow) através de excitação química, em que os átomos de oxigénio excitados electronicamente, são a componente principal deste fenómoeno também conhecido por “Nightglow”, o brilho da própria atmosfera Terrestre, factor que impede que as noites no planeta Terra sejam completamente escuras, mesmo no deserto, tal como ocorre no próprio Espaço, fora do planeta. Ao contrário das auroras que só ocorrem nas latitudes superiores, por isso só visíveis nos países nórdicos, o “Airglow” ocorre em todo o globo e pode assim ser visível nas latitudes mais baixas, como Portugal.

No entanto, o “Nightglow” é muito fraco na região visível do espectro, e por isso difícil de ser visto por observadores a olho nu. A iluminação que nos chega ao solo horizontal, aqui na Terra, proveniente desta luminescência atmosférica, é aproximadamente a mesma que proporcionaria a de uma vela a uma altura de 91 metros do solo, ou seja, mesmo muito fraca. No entanto, poderá ser cerca de 1.000 vezes mais forte na região infravermelho, assim, pode ser captada utilizando câmara sensíveis ao h-alfa, região do espectro próximo do infravermelho, como é o caso da Canon 60Da que utilizei para captar estas imagens.

O tom amarelo do “airglow” deriva das emissões dos átomos de sódio, numa camada a cerca de 92 km de altitude. Já o tom esverdeado tão característico que faz lembrar uma aurora boreal, decorre da emissão de átomos de oxigénio numa camada atmosférica situada entre os 90 a 100km de altura.

AndromedaAirGlow-Pano1785-netAP

Na imagem de cima, captada na região da Ermida de São Pedro, em Mourão, é possível ver a constelação da Cassiopeia, assim como a grande galáxia de Andrómeda M31, situada na constelação de Andrómeda e envolta pela forte presença de luminescência atmosférica (Airglow), com uma forte emissão proveniente de átomos de oxigénio.

Na imagem abaixo poderá consultar a legenda:

AndromedaAirGlow-Pano1785-LABEL-netAP

Veja esta imagem em alta resolução aqui.

Na imagem abaixo, da Ursa Maior, é possível ver para além do “Airglow”, as chamadas “Gravity Waves”. As “ondas” ocorrem entre todas as camadas estáveis de fluidos de diferentes densidades. Assim, as “Gravity Waves”, ou ondas gravíticas (ondas de flutuação), são abundantes na densa camada estável da atmosfera superior. Os seus efeitos são visíveis nas nuvens da estratosfera, na ondulação das nuvens noctilucentes da mesosesfera e também nas deslocações lentas das bandas de airglow da termosfera, como retrata a imagem da Ursa Maior.

UrsaMajorAirGlowMourao-Label-net

Veja esta imagem em alta resolução aqui.

Se pretenter visitar este local de excelência, não se esqueça que será já no próximo dia 12 e 13 e Julho, que se realizará a Dark Sky Party, no centro náutico de Monsaraz. Saiba mais aqui.

Aqui poderá consultar links adicionais sobre “Airglow”:

http://www.britannica.com/EBchecked/topic/10997/airglow

http://www.atoptics.co.uk/highsky/airglow2.htm

Mais imagens do autor disponíveis emwww.miguelclaro.com | www.facebook.com/Astroarte

4 comentários

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  1. AGRADECIA DA VOSSA PARTE INFORMACAO SOBRE OS RAIOS ASCENDENTES QUE TEM SIDO INOVACAO .O IMPACTO QUE ELES PROVOCAM COM A CAMADA DE OZONO E O PREJUIZO A PROPRIEDADE HUMANA

    • Dinis Ribeiro on 05/11/2013 at 15:45
    • Responder

    As fotografias são muito interessantes!!!

    Junto mais um link sobre o airglow: http://en.wikipedia.org/wiki/Airglow

    …e também saliento a existência deste satélite: http://en.wikipedia.org/wiki/SwissCube-1

    ( designed to conduct research into nightglow within the Earth’s atmosphere )

    Quanto ás “gravity waves” há este link: http://en.wikipedia.org/wiki/Gravity_wave

    …e gostaria de salientar este fenómeno: http://en.wikipedia.org/wiki/Cloud_street

    que é (por vezes) utlizado no voo á vela: http://www.soaringacademy.org/mountain-safety.php

    If the environmental air is near saturation, condensation may occur in updrafts produced from the vortex rotation. The sinking motion produced between alternating pairs of rolls will evaporate clouds.

    This, combined with the updrafts, will produce rows of clouds.

    Glider pilots often use the updrafts produced by cloud streets enabling them to fly straight for long distances, hence the name “cloud streets”.

    http://ukglider.com/gliding-along-a-cloud-street/

  2. Grandes fotos e boa explicação para “totós”

  1. […] Santo. ESO. Foto do Ano 2011. APOD. PODs. Timelapse. Concurso. Miguel Claro: imagens, alinhamento, Airglow e Gravity Waves, D. Nuno Álvares Pereira, mosaico, […]

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