Brian Cox, físico de partículas e professor na Universidade de Manchester, muito conhecido por ter apresentado uma série de programas da BBC sobre física e astronomia com grande sucesso, recebeu um prémio de grande prestígio na Grã-Bretanha: o President’s Medal.
Recebeu-o a 3 de outubro do ano passado como reconhecimento pelos «serviços prestados na promoção da Ciência e em inspirar uma nova geração de físicos».
Além dos programas na BBC, Cox escreveu com o colega Jeff Forshaw um livro de divulgação, The Quantum Universe, desvendando com o estilo informal e rigoroso que o caracteriza os mistérios da Física Quântica.
No seu currículo consta também, ainda nos tempos de estudante, uma passagem frutuosa como teclista de uma banda de pop/rock, os D:Ream. Nos dois álbuns em que Brian Cox participou, a banda chegou ao Top5 das tabelas de vendas no Reino Unido.
Cox não é apenas um físico de partículas e um professor, é um Carl Sagan britânico, pelo menos no que respeita ao reconhecimento público, à capacidade de comunicação e ao carisma diante das câmaras.
Tal como sucede com as estrelas de rock e cinema, dificilmente sai à rua na Grã-Bretanha sem distribuir autógrafos e beijinhos a raparigas loucamente entusiasmadas pela, enfim, Física Quântica. Em 2009, a revista People incluiu-o na lista dos homens mais sexy.
Claro que toda esta popularidade lhe tem dado oportunidades para fazer uso da sua eloquência e chegar a um público vasto. Foi precisamente o que aconteceu durante o jantar em Londres onde recebeu o galardão quando defendeu, com garra, o combate à iliteracia científica e a aceitação da Ciência como um pré-requisito essencial às democracias.
O vídeo completo da sua intervenção pode ser visto aqui, mas eu prefiro a versão de Brandon Fibbs, que pegou no segmento mais ‘poético’ do discurso de Cox e lhe juntou belas imagens evocativas das nossas glórias científicas.
Vivemos numa sociedade – como o grande astrofísico e comunicador Carl Sagan sempre enfatizou – inteiramente baseada em ciência, tecnologia e engenharia. Todas as grandes e importantes decisões que a nossa democracia será forçada a tomar nas próximas décadas, por aí fora até ao século XXI, serão baseadas em ciência, no método científico, no entendimento do que é chegar, pela Razão, a conclusões suportadas pela evidência.
Se a apresentação da Ciência é uma do tipo Frankenstein – más interpretações do que fazemos, falsas representações sobre as maravilhas da exploração –, então estamos com um problema nas nossas democracias, o mesmo que teremos de enfrentar se não tivermos uma população educada.
Para uma democracia moderna e científica funcionar corretamente, precisamos que o maior número possível de cidadãos tenha ao menos o entendimento do que é o método científico, para não falar dos factos.
Quando perguntaram a Humphry Davy [químico inglês] por que razão insistia em explorar, ele respondeu: ‘Nada é mais fatal para o progresso da mente humana do que presumir que as visões da ciência são definitivas, os triunfos completos, já não existem mistérios na Natureza nem novos mundos a conquistar’.
Esta parte do discurso – aqui traduzida por mim de uma forma mais ou menos livre – é muito mais meiga do que é habitual, porque outra característica de Brian Cox é a falta de pachorra: num dos episódios de Wonders of the Solar System, a tal série da BBC que o tornou mundialmente conhecido, Brian Cox referiu-se à Astrologia como «um monte de lixo».
Quando os astrólogos protestaram, Cox respondeu da seguinte forma: «Peço desculpa à comunidade astrológica por não me ter feito entender. Deveria ter dito que toda esta onda New Age está a minar o próprio tecido da nossa civilização».
Cox é conhecido por arrumar certos temas em poucas palavras. A crença criacionista segundo a qual o mundo foi criado há seis mil anos merece-lhe apenas uma: «Disparate».
Sobre a crença de que o mundo iria acabar em 2012 e o pelotão de chanfrados que nos azucrinou a cabeça meses a fio: «Isso é tudo um monte de merda. E quem acredita nisso é estúpido – são estas as minhas considerações sobre o assunto».
Sendo assim, esta célebre foto de Brian Cox tirada no intervalo das gravações do programa da BBC já começa a fazer mais sentido. E não deixa de ser uma forma mais curta e incisiva de repetir algumas das ideias defendidas no discurso em Londres.
2 comentários
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Alguns consideram o Brian um comunicador ainda mais eficaz que o Neil.
E vcs?
Gosto muito do senhor, embora conheça apenas alguns segmentos…
[…] especulação e de factos. Sagan. Magia. Teorias da Conspiração (razões biológicas). Brian Cox: literacia científica. Xadrez Cósmico. Beleza da Ciência. Profecias da Ciência. 7 Equações. […]
[…] haveria de questionar o físico e excelente comunicador Brian Cox, mais de vinte anos depois, devemos lutar pela noção democrática de que a Ciência não é […]