Bambo em tribunal

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Bambo Guirassy, que se auto-intitula “professor Bambo” ou “Grande Medium Vidente”, promete em jornais e rádios: “Mestre Africano, com mais de 28 anos de experiência, resolve com eficiência problemas de família, amor, trabalho, heranças, complicações com filhos entre outros”.
O anúncio que se lê em jornais e se ouve em rádio, pelos vistos, não é sinónimo de resultado com sucesso.

Ele foi acusado de extorquir 16 mil euros a três casais, e está a ser julgado em tribunal.

Moralmente, é óbvio que é errado o que ele faz: ele promete aquilo que não pode dar, lucrando com essas mentiras.
No entanto, será que a culpa é toda dele?
Ele aproveita-se do facto das pessoas serem irracionais, burras (iliteradas funcionalmente), e estarem desesperadas.

Atente-se, por exemplo, nesta família que passava grandes dificuldades, estando quase na miséria.
E qual foi a solução que pensaram?
Pensaram por exemplo em informar-se com um especialista que pudesse ajudar com um plano económico ou social? Não.
Foram a um “vidente” para terem sorte. E como é que a sorte acontecia? Se lhe dessem dois cheques, um de 4.000 euros e outro de 3.500 euros. Seria o papel dos cheques que continha “energias positivas”?
Infelizmente, optaram por uma solução em que praticamente pediam para ser enganados… O Bambo fez-lhes a vontade.

Outra pessoa tinha uma empresa que vendia pouco. Então, o que fez? Criou um plano de marketing para aumentar o número de pessoas que conheciam a empresa, por exemplo? Não. Consultou o Bambo. E teve sucesso! Sim, parece incrível, mas funcionou. Durante algumas semanas, na época do Natal, a empresa vendeu mais que nas semanas anteriores. Em pleno século XXI, a pessoa não conseguiu perceber que o aumento nas vendas se devia, não ao Bambo, mas sim ao Natal.
Com base no aparente “sucesso”, Bambo disse à pessoa que o marido dela tinha uma amante, e precisava fazer um “tratamento” de 5.000 euros para resolver o problema. Falar com o marido e ter um casamento melhor e baseado na confiança, amor e comunicação eficiente, seria obviamente absurdo. O que melhora um casamento é pagar 5.000 euros a um vidente. Curiosamente a senhora também pagou a detectives privados para vigiarem o marido, e eles garantiram que o marido não tinha amantes.
Ou seja, de forma eficiente, ele convencia esta pessoa que ela tinha problemas e precisava de pagar para ser tratada. Ele não tem culpa que a mulher confiasse mais nele que no marido.

Ainda outro exemplo: um empresário de Albufeira tinha um negócio imobiliário com as vendas a cair bastante. Em vez de tentar aumentar o volume de vendas, preferiu consultar o Bambo. O Bambo, do alto da sua sabedoria, cobriu a cara do empresário com um pano, e essa “consulta” custou 30 euros.
Novamente, não me parece que a culpa seja totalmente do Bambo. Quem dá 30 euros para lhe taparem a cabeça com um pano, e acha que é isso que aumenta as vendas de uma empresa?

Ou seja, basicamente ele utiliza a técnica do Harold Camping: diz que as coisas estão mal e que tem tratamento para elas (mesmo que não haja qualquer relação entre tratamento e resultado). A culpa não pode ser incutida somente a ele, se as pessoas estão dispostas a dar-lhe dinheiro de livre vontade.

Como é que se combate esta falta de literacia funcional na população? Educação e pensamento crítico.

4 comentários

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  1. http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3584652

    Professor Bambo absolvido da acusação de extorsão

    O tribunal entendeu que “os ofendidos aceitaram, acordaram com o arguido o preço dos tratamentos e que depois arrependeram-se e tiveram que psicologicamente encontrar uma explicação para o facto de terem sido crédulos e de recuperarem o dinheiro que lhes fazia falta”.

    • Antonio Sousa on 25/10/2013 at 21:52
    • Responder

    Parece que ainda ninguém se apercebeu (mesmo quem lê isto) de que é mais simples serem outros a pensar do que nós próprios. É uma condição que tenho vindo a observar na história humana conforme a vou estudando.
    Exemplos não faltam e os mais agravantes são as guerras. Como é possível milhares de seres humanos seguirem as direcções de uma pessoa que se nota não estar preocupado com aqueles que o elegeram ou os direcciona? Será que só morre aquele que está ao nosso lado?
    Outro exemplo é o que se está a passar neste nosso país. Como é possível que o povo não pare o país perante o roubo continuado que se está a fazer sistematicamente aos trabalhadores, sim, a classe operaria?
    Se for um jogo de futebol ou uma festinha da treta lá na vila, todos comparecem, mas para protestar, meia dúzia de gatos pingados.
    Situações destas não são exclusivas deste país ou desta época. A cartomancia, o zodíaco, a leitura da palma da mão, as runas, as sombras no fundo duma caneca ou qualquer outro contentor e outros afins são artes do engano que persistem ao longo da nossa historia.
    De quem é a culpa??? Para começar, da lei que não pune legalmente nem castiga exemplarmente quem ainda se dedica a estas façanhas. Não faz a chamada “caça às bruxas”.
    Depois de quem alimenta estas actividades. Cidadãos comuns que pagam para ter a ilusão de que vão dormir com a Agelina Jolie ou que vão ter um pénis grande para se tornarem gigolos ou para terem dinheiro sem parar a cair do céu. São estes os verdadeiros cidadãos que os religiosos chamam de ovelhas (singular) ou rebanho (plural).
    Sim, porque na religião também fazem o mesmo com a diferença de ser aceite sem constatações ou perguntas. Enfim, é a humanidade que temos.
    Ninguém pergunta nada porque dá trabalho saber ou por simplesmente terem vergonha de perguntar e ser escandaloso não saber. É mais fácil serem outros a saber e a dizer. Escuta-se e está feito.
    Limpinho e sem espinhas!

    1. Meio mundo anda a enganar o outro meio… já diz a expressão popular.

      Mas António, assumindo que os exemplos que deu estão ao mesmo nível, como pode a lei punir todos eles? (por exemplo, todos os generais, políticos, presidentes, publicidade enganosa, etc…)
      E porque punir se as pessoas de livre vontade lhes dão dinheiro ou os seguem? A culpa é deles das pessoas não utilizarem o cérebro?

      O António diz-me que tem um feijão mágico que me permite subir ao céu. Eu de livre vontade compro-lhe o feijão. O António não me obrigou a isso. Porque o António seria mais culpado? Porque mentiu e eu não consegui perceber a mentira?

      (note que as minhas perguntas não querem dizer que eu não esteja de acordo consigo… só estou a entender melhor o seu argumento)

      “é mais simples serem outros a pensar do que nós próprios.” <--- parece-me que esta frase é crucial 😉 Por fim, deixe-me dizer-lhe que da minha parte, não concordo com o seu comentário numa coisa: futebol. É óbvio que toda a gente devia seguir o Benfica! E digam o que disserem, somos sempre roubados! 😛

  2. Deviam alugar os préstimos de um estudo de consultadoria. O consultor analisava a situação da empresa durante um ano, para estudar e desenvolver a estratégia em troca de um valente “plafond”. Em consequência desse estudo, detetava que os serviços prestados por terceiros; seguros, custos bancários com viaturas, empréstimos, despesas feitas com a direção da empresa em representação e estratégia comercial pouco ou nada rentável em volume de faturação e prospeção de novos mercados, estavam mal afinados.
    Solução, reduzir os custos com os serviços bancários e seguros, despedir pessoal e deixa-me ficar a orientar o teu dinheiro, porque o mercado vai mal; oh se vai! Toda a concorrência está a apontar as armas e já que não vendes, não é necessário mais vendedores, para além do dono e uma secretária “dedicada” para atender o telefone.
    Visto o esquema, não é passar o pano pelo “melão”, mas acaba por ser um alguidar pela “corneta abaixo” enquanto os recursos “secam”.
    Secando a fonte, passa-se à próxima…
    Isto é uma paródia, mas se lembrarem-se da “Panificadora Eborense”, que deu uma caldeirada que chegou à assembleia dos ratos “AR”…

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