Terapias Alternativas e os ursos de peluche

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A ciência funciona. Toda a gente que está neste momento a ler-me através de uma coisa chamada internet, sabe isso. Toda a gente que utiliza eletricidade também reconhece o seu funcionamento. Toda a gente que utiliza um telemóvel, mesmo inconscientemente, admite o funcionamento perfeito de uma série de leis, teorias e conceitos científicos.
Não há como negar: a ciência funciona e a prova está em todo o lado no nosso mundo moderno.

Além disto, nós compreendemos que existe uma evolução científica, fruto de uma melhor compreensão das leis que governam o Universo que nos rodeia. Há 20 anos atrás, os poucos telemóveis existentes eram enormes e pesados blocos que só permitiam fazer chamadas; hoje são pequenos e podem fazer tantas coisas que envergonham os seus primos de há 20 anos atrás. O mesmo se passa em termos de computadores, por exemplo, com os atuais a serem muito menores que os armários de há algumas décadas atrás, sendo que hoje são muito mais avançados que esses. Esta evolução não é só tecnológica: há 40 anos nada sabíamos sobre o ciclo solar e desconhecíamos as ameaças de asteróides perto da Terra, por exemplo. Hoje conseguimos até saber antecipadamente quando um asteroide vai passar perto da Terra, e podemos visualizar na internet, em direto, esse evento. Imagine-se até que há poucos séculos atrás, morríamos facilmente de varíola ou até de uma “inofensiva” gripe. Ridículo, não é? Pois, só parece ridículo atualmente, devido aos avanços da ciência. E esses avanços da ciência vamos sabendo deles diariamente. Todos os dias, a ciência avança, e nós temos conhecimento disso.

Em contraposição, a pseudociência não funciona nem evolui.
Em estudos duplamente cegos (em que existe um mínimo de influência pessoal), toda e qualquer pseudociência (seja astrologia, Reiki, homeopatia, feng shui, etc) provou-se como falsa. Os únicos efeitos positivos conhecidos são o placebo. Mas esse é um efeito relativo, subjetivo, pessoal, que pode ser conseguido inventando uma qualquer história falsa – por exemplo, quando se dá uma pastilha de açúcar a alguém, para curar uma dor de cabeça, sendo que a pessoa não sabe que só está a ingerir açúcar. Ou seja, da mesma forma que não há nada na pastilha que alivie a dor de cabeça da pessoa, também não há nada em qualquer pseudociência que promova os efeitos que falsamente são divulgados pelos seus promotores. E os vigaristas (os que vendem as pseudociências afirmando que elas funcionam) sabem bem que elas não funcionam, daí, por exemplo, não comprarem eles próprios bandoletes quânticas ou água milagrosa.
Além disto, a pseudociência não evolui: as mesmas tretas que eram ditas no milénio passado, em séculos passados e em décadas passadas, são exatamente as mesmas tretas que são ditas atualmente. Esta semana na pseudociência é exatamente igual à semana passada na pseudociência: nenhuma descoberta. Não há qualquer evolução no conhecimento. Não há qualquer evidência que coloque em causa ou que melhore as crenças daqueles que acreditam (ou dizem que acreditam) nestas tretas.

Então porque existem pessoas que se deixam enganar? Porque existem pessoas que compram gato por lebre? Porque existem pessoas que se agarram a algo que não funciona nem nunca funcionou nos vários milénios de existência da Humanidade?
Uma das razões é a falta de educação das pessoas. As pessoas não têm a educação necessária (literacia funcional) para conseguir distinguir o conhecimento da vigarice, e deixam-se levar pela desinformação.
Por vezes, é também uma questão de desespero: na falta de uma solução viável, as pessoas agarram-se a qualquer promessa que lhes seja oferecida.
Por outro lado, seguir uma determinada crença que promete esperança e uma vida melhor quase sem trabalho nenhum, é apelativo.
Por último, quem acredita numa pseudociência sente-se confortável e “em segurança”. É uma falsa segurança (já que é baseada numa mentira), mas o facto é que a pessoa pensa que a pseudociência a protege do mal (mesmo imaginado) que não quer na sua vida.

Na verdade, a crença numa determinada pseudociência é o mesmo que uma criança abraçar um urso de peluche.
Com o urso de peluche, a criança vai sentir segurança ao ponto de pensar que um urso de peluche a vai defender de potenciais monstros que existem debaixo da sua cama ou até de ladrões que a queiram raptar. Toda a gente sabe que, cientificamente, o urso de peluche não defende coisa nenhuma. No entanto, toda a gente também compreende que na cabeça da criança, o urso dá-lhe conforto e segurança (uma falsa segurança, que existe somente na imaginação da criança).
No caso das pseudociências, passa-se basicamente o mesmo. Pessoas com mentalidade infantil com medo do mundo à sua-volta, pensam que algo que só existe na sua mente permite-lhes defender contra desafios reais e imaginados. Cientificamente prova-se com testes que as pseudociências (o urso de peluche) não servem para coisíssima nenhuma. No entanto, existe alguma vantagem (placebo) em a criança ter o urso de peluche. É uma falsa segurança, de alguém inocente (que não sabe como o mundo funciona) e com medo da vida, que pensa que um urso de peluche a vai proteger de problemas reais e imaginários.

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  1. […] da Matemática. Professor (arte de ensinar). Literacia. Bananas. Visão da Ciência. Ursos de Peluche. Burro e Feliz. Morte dos Especialistas. Correlação e Causalidade. Ilusões Óticas. Navalha de […]

  2. […] Muito menos existe um juízo de valor sobre a energia. Quando alguém fala ao telemóvel/celular, essa energia (que está a chegar ao aparelho que está próximo da nossa orelha) não é uma energia “positiva” ou “negativa”. Não nos afeta a esse ponto de nos dar “sorte” ou “azar” em algo. Seria uma estupidez considerarmos que as ondas rádios são “positivas” ou “negativas” para nós, que afetam o nosso humor ou a nossa sorte. A verdade é que não há quaisquer “energias positivas” ou “energias negativas” que são transmitidas sobre nós de modo a nos afetar o dia, a semana, o mês ou a vida. Novamente, as alegações dos pseudos não fazem qualquer sentido. Parecem sim historinhas de embalar, sem qualquer existência na realidade, como as que contamos às crianças. […]

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