RTP apoia vigarices?

RTP

A RTP está de “Parabéns”. Pelos vistos o lema atual da RTP é desinformar e estupidificar a população.
Começo a entender porque há portugueses burlados (e não só!) por vigaristas… Pudera! É a própria comunicação social a dar credibilidade às vigarices, a promovê-las, e a incentivar as pessoas para caírem nas patranhas.

Hoje mesmo, na Rubrica “Acreditar” o telejornal da RTP apresentou um segmento deplorável em termos jornalísticos (podem ver aqui na parte 2, a partir das 20:58, como aparece no relógio do telejornal). Deu-se um megafone a completas parvoíces. Chega-se ao ponto de se ter frases destas: “é no poder das plantas, das energias e da vontade que Carla acredita” – como se aquilo que funciona (como a eletricidade) dependesse da crença de cada um, ou como se não soubéssemos que essas “energias” não existem! Ainda pior, a defensora desta tretologia diz isto: “a quantica pode determinar o fim do ser humano”, provando totalmente que não faz nem a mais pequena ideia do que é a Física Quantica! (nota: não tem nada a ver com prever a morte das pessoas!) Isto foi transmitido como se fosse uma reportagem séria e como se fosse um segmento de informação! Incrível!

Já no passado dia 19 (ontem), a mesma rubrica Acreditar (aqui), continha uma cartomante que afirma que acerta em 90% dos casos – isto são os mesmos que sempre enganaram a Humanidade da mesma forma! Nunca evoluíram!

Para juntar a isto, no dia 17, a mesma RTP, também no Telejornal (aqui, parte 2, 20:56), no mesmo segmento Acreditar, apresenta um curandeiro “que faz diagnósticos medindo a roupa dos pacientes aos palmos”. Como diz o bioquímico e divulgador científico David Marçal, esta é “mais uma peça de publicidade enganosa, do mais ridículo e absurdo possível”.

Como diz o David (que me deu permissão para transcrever as suas palavras), “segundo o relatório Ciência no Ecrã, apenas 0,8% do tempo dos telejornais em horário nobre é dedicado à ciência, a duração média das peças de ciência no telejornal da RTP é de três minutos e vinte e quatro segundos e 92% delas têm menos de 5 minutos”. No entanto, estas tretas, estas vigarices para enganar os telespectadores têm direito a mais de 6 minutos em horário nobre! (a que se junta os mesmos segmentos em outros serviços “noticiosos” – entre aspas – como o Jornal da Tarde. Isto multiplica o tempo em que as vigarices são promovidas na RTP)

Será que a estratégia atual da RTP é enganar os seus espetadores, de modo a que eles possam mais facilmente cair nestas patranhas? Será que as pessoas burladas podem ir pedir responsabilidades à RTP por as enganar desta forma? Deviam!

Nas palavras do David Marçal: “Será que a RTP resolveu criar um espaço regular para as tretas no horário nobre?” O que a RTP “deveria fazer, isso sim seria serviço público, seria ajudar a esclarecê-las, evitando que muitas pessoas, especialmente as mais vulneráveis, sejam enganadas.”
É uma vergonha! E é uma hipocrisia dos responsáveis pela RTP, que utiliza diariamente leis, teorias e factos científicos para transmitir os seus programas, e simultaneamente incentiva os seus espetadores a colocarem os factos científicos de lado de modo a serem enganados pelas vigarices.

Será que na próxima semana vão-me entrevistar a mim, se eu disser que tenho uma água milagrosa que cura tudo pela incrível pechincha de 1.000 euros???

A RTP anda a promover publicidade enganosa!!!
E a própria RTP faz publicidade enganosa a serviços mentirosos. “É publicidade enganosa, paga com o dinheiro dos contribuintes e consumidores de eletricidade portugueses.”

“Segundo o Decreto-Lei n.º 57/2008 de 26 de Março de 2008 que regula o Regime das Práticas Comerciais Desleais, é considerada uma acção enganosa”. Leiam o Artigo 7.º – Acções enganosas.

Do novo artigo do David Marçal, no De Rerum Natura:

artigo

“Não sei que se passa pela cabeça da RTP. Nem que conceção delirante de serviço público justifica isto. Isto é uma ação (deliberada ou inadvertida) que contribui para acabar com o serviço público de televisão.”

“O que passou (…) na RTP não é serviço público. É publicidade enganosa. Onde estão as autoridades que regulam o consumo e o jornalismo?”

12 comentários

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  1. Eu percebo e apoio a indignação, mas eu fiquei perplexa com o trabalho do senhor que faz a anamenese do seu paciente sem que lhe pergunte nada e adivinha a doença apenas orando e passando palmos em cima do casaco do doente. É literalmente fabuloso! Eu nunca tinha visto nada assim. Se a RTP não me mostrasse, eu jamais poderia imaginar algo assim aqui, relativamente, tão perto.

    1. A mim pareceu-me que o doente era conhecido do tal senhor… certo? 😉
      Ele já sabia que tinha problemas na coluna… já ia lá várias vezes… 😉
      Eu também conheço as doenças dos meus amigos… e nem preciso lhes apalpar a roupa 😛

      Quanto à senhora idosa com dores de cabeça… bem, ele também podia dizer que ela tem dores nos ossos porque muito provavelmente ela tem 😉

      Mas seria apalpar a roupa, o trigo, o azeite, as orações, ou olhar para a estátua da senhora da saúde? Fiquei sem saber qual é que lhe dizia as doenças… 😛

      abraços! 🙂

  2. Hoje, 21 de Março, foi a mesma porcaria:
    http://dererummundi.blogspot.pt/2014/03/a-inacreditavel-ideia-de-servico.html
    (pelo David Marçal)

    “A INACREDITÁVEL IDEIA DE SERVIÇO PÚBLICO DA RTP

    A RTP criou uma rubrica regular no telejornal das oito, repetida noutros blocos noticiosos, a que chamou “acreditar”, que é na realidade é um inacreditável espaço de publicidade enganosa.

    Hoje, dia mundial da poesia, a televisão pública financiada pela factura de electricidade para fazer serviço público usou mais sete minutos do horário nobre para promover a crendice e o obscurantismo.
    (…)
    – No dia 21 de Março, a RTP achou por bem usar mais 7 minutos (no início da segunda parte) para promover um médium que afirma “incorporar” os espíritos “de quem partiu”, “geralmente santos”. (…)”

    • Miguel Montes on 21/03/2014 at 13:27
    • Responder

    Ontem à noite fiz um bocado de zapping e na RTP deparei-me com uma mulher a dizer que conseguia ver nos nossos olhos o dia em que íamos morrer. Right…

    Não me espanta que estas porcarias continuem a passar na televisão, porque eles têm que agradar aos “clientes”, e os clientes, na sua maioria gente sem boa formação (quiçá mais velha), querem é estas palhaçadas. Isto, o Preço Certo, músicas pimba, reality shows da treta, SPAM telefónico para ganhar dinheiro e publicidades a comprimidos naturais que prometem mundos e fundos. A televisão é assim porque é que os que os espectadores querem ver.

    Eu já não vejo televisão portuguesa, a minha televisão é a internet.

    • Manel Rosa Martins on 21/03/2014 at 05:09
    • Responder

    É muito triste que antes do 25 de Abril a RTP tivesse a excelente TV-Escola e agora tenha a TV-bullshit crap, não é?

    É triste porque é verdade.

    Que definição é esta de serviço público que se centra na promoção da vigarice?

    E faço eco da indignação de muitos profissionais da RTP que estão indignados por este regresso à Idade Média.

    Obscurantismo, estupidez facultativa e nem uma única validação independente.

    Para mais é um comportamento criminoso: falsa medicina, alegações falsas, má-fé, usurpação de profissão regulamentada e burla tipificada, segundo me informam os especialistas de Direito.

    Sem Lei nem Grei.

    Neste momento, com esta programação do “Acreditar,” estou envergonhado de ser cidadão de Portugal. 🙁

    1. Manel, isto é geral. Em qualquer país, andam a alimentar a mediocridade para, talvez (diria eu na minha ignorância) os poderosos melhor controlarem as massas, a par de tantas outras “armas” como alimentar e permitir a proliferação das pseudociÊncias, e, em especial, a religião. A mediocridade dos temas (nem chamaria temas) existe em praticamente todos os países, nos seus meios de comunicação social e, cada vez, parece acentuar-se mais e mais. Dever-se.ia preocupar em dar a conhecer como as coisas funcionam (programsa de tencologia e ciência em horário nobre), em debater-se sobre as desigualdades económicas que no século XXI já deveriam ser história. Acabar com a porcaria da plutocracia. Estou a sonhar, claro.
      O que é tragicamente irónico é andar a alimentar puro LIXO (e aquela palavra começada por m) com algo que foi construído com a Ciência e tecnologia que anda a par com aquela.
      Pior é mesmo abusar o serviço público para essa bodega – falar provinciano agora, que, Às vezes, diz-se as coisas curtas de forma clara. 🙂

  3. Quando disse à minha mãe que isto era o efeito placebo ela disse que eu era parvo…

  4. Meu amigo, não que te sirva de consolo, mas não é só a TV de Portugal que essas nojeiras empestam. No Brasil a estupidez na TV é regra geral, parece-me até que não se pode trabalhar na TV se não for um completo imbecil. E passarei a usar aqui a palavra “patranha”, já que não encontrei nos costumes de linguagem brasileiros uma palavra tão forte para a categoria de coisas das quais estamos falando. Abraço;

  5. Infelizmente não é só na RTP que este tipo de vigarices (e outros) são divulgadas… Ainda no outro dia, ontem ou coisa que o valha, estava num café e a televisão estava na TVI, e estava a senhora Fátima Lopes a falar com um senhor sobre as fases da lua. Eu ainda tive uns segundos de esperança que finalmente tivessem passado a tentar ensinar algo sério aos espectadores que vêm o programa, mas não, estavam era a falar sobre a relação das fases da lua e dos eclipses com cortes de cabelo, nascimentos de bebés e até a quantidade de crimes que ocorrem!! AHH!! E lembrem-se de cortar a relva durante a lua cheia sempre que possível, para ela crescer mais forte!! (Como não quero arriscar, aviso que isto que acabei de dizer é mentira, não cortem a relva durante a lua cheia que duvido que isso dê efeitos especiais há relva….)
    Isto só visto… Mas mete pena ver como a falta de literacia funcional é tão grave nos dias de hoje e as pessoas nem sequer se apercebem disso…

  6. Vi algumas dessas reportagens e fiquei parvo. É isto que a RTP passa em horário nobre??

  7. Me espanta passar na TV portuguesa; aqui no Brasil, a tv é infestada pseudo-ciências. Lamentável.

  1. […] a RTP seguisse o mesmo exemplo, acabariam os segmentos deploráveis em horário nobre que promovem “mesinhas da Idade Média”, terminariam os programas com debates supostamente equilibrados mas que na prática cospem no […]

  2. […] que estão provados em testes laboratoriais em Universidades famosas mundialmente como em Harvard, será que a RTP está interessada em entrevistar-me para a televisão, de modo a eu poder disseminar estas ideias por toda a […]

  3. […] única, é uma atitude rara. Realço que a RTP, por exemplo, durante 1 semana em horário nobre, produziu uma rubrica supostamente de informação, mas que na verdade só serviu para enganar os espetadores com […]

  4. […] e após terem uma rubrica no telejornal onde apoiaram as vigarices para enganar os portugueses (aqui, aqui e aqui), a RTP agora promove as conspirações tolas sobre extraterrestres (podem ver aqui, a […]

  5. […] Um caso melhor estudado é o da televisão. Segundo o relatório “Ciência no Ecrã”, realizado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social e pelo Instituto Gulbenkian da Ciência, apenas 0,8% do tempo dos telejornais em horário nobre é dedicado à ciência, sendo que a duração média das peças de ciência no telejornal da RTP, por exemplo, é de cerca de três minutos. […]

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