Oposição de Marte! É relevante? Afeta-nos? Fiquem mais perto de Marte e vejam a transmissão do evento

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Hoje, 8 de Abril, é dia de Oposição de Marte.
Quando acabarem de ler este texto, estarão 1.000 km mais perto de Marte.

O que é isso da Oposição?
Os planetas orbitam o Sol. Por vezes, ficam do mesmo lado do Sol, alinhados em relação ao Sol. Muito simplesmente, quando a Terra está de um lado do Sol, Marte está do mesmo lado e os dois planetas estão alinhados com o Sol, então temos uma Oposição de Marte (Marte está no lado oposto ao Sol, para um observador situado na Terra). Se estivéssemos em Marte, a Terra estaria entre nós e o Sol. Como o plano da órbita de Marte tem uma inclinação de 1,85º em relação ao plano da órbita da Terra, na maioria das oposições a Terra passa um pouco acima ou abaixo do Sol e fica invisível por o Sol a ofuscar. Mas, se a oposição ocorrer próximo da linha de intersecção dos dois planos, então um observador em Marte veria um Trânsito da Terra. Um observador em Marte, equipado com um telescópio que filtrasse mais de 99,9% da luz solar, poderia ver o pequeno disco do nosso planeta a passar à frente do Sol.

É só isto. São eventos interessantes para a astronomia.

Imagem retirada do Solar System Scope

Imagem retirada do Solar System Scope

Estes alinhamentos são eventos relativamente comuns entre planetas. Nós já assistimos a milhares deles. Não afetam a Terra em nada.
Na verdade, estudando as órbitas dos planetas (a Terra tem uma órbita de 365 dias terrestres e Marte tem de 687 dias), percebemos que estes eventos entre Terra e Marte acontecem com uma periodicidade de 778 dias (quase 2 anos e 2 meses). A cada 778 dias, temos uma oposição de Marte.

Há websites que andam a dizer que Marte vai estar enorme no céu. Isto é mentira. Marte vai ser o pontinho ligeiramente avermelhado que sempre foi. Vamos poder vê-lo um pouquinho maior. Mas só quem observa o céu regularmente vai notar isso. Observadores ocasionais não notam nada.

Marte fotografado no dia 6 de Março de 2014 pelo astrónomo amador Australiano Anthony Wesley, através de um telescópio de 16 polegadas. Crédito: Anthony Wesley

Marte fotografado no dia 6 de Março de 2014 pelo astrónomo amador Australiano Anthony Wesley, através de um telescópio de 16 polegadas. Crédito: Anthony Wesley

Por outro lado, não é só na noite de dia 8. Os sensacionalistas andam a dizer que vai ser só nessa noite, mas é mentira. As mudanças no Universo são graduais. Qualquer dia desta semana, Marte vai estar no céu basicamente do mesmo tamanho. É absurdo pensar que dia 7, Marte vai estar pequenino, no dia 8 vai estar enorme, e no dia 9 vai estar pequenino de novo. Além de absurdo, é mentira.
Marte é facilmente observável no nosso céu noturno. Vejam esta noite, que será igual a amanhã.

science at nasa

Pode-se pensar que durante uma oposição, então Marte está mais próximo da Terra. Até pode ser, mas não é obrigatório que assim seja.
As órbitas são elípticas, por isso por vezes Marte está mais próximo do Sol (e da órbita terrestre) e outras vezes mais longe. Da mesma forma, a órbita da Terra por vezes faz a Terra estar mais próxima do Sol e outras vezes mais afastada (mais próxima da órbita de Marte).
Assim, as oposições por vezes são mais favoráveis (se ambas as órbitas se encontram mais perto entre si) e outras vezes mais desfavoráveis (se ambas as órbitas se encontram mais distantes entre si). Desta vez nem é muito favorável nem desfavorável. É mais favorável que em 2012, por exemplo, mas é menos favorável do que vai acontecer em 2018 por exemplo.

A Terra vai estar mais próxima de Marte a 14 de Abril às 14 horas (de Portugal), quando a sua distância será de cerca 92 milhões de quilómetros de distância. Não hoje.

Procurem Marte no vosso céu. Vão ao Heavens-Above, coloquem a vossa morada (a cidade mais próxima donde habitam) onde diz “Configuração – Altere o seu local de Observação”, depois confirmem essa configuração, e a seguir cliquem onde diz “Astronomia – Mapa do céu”. Ficarão com o vosso mapa do céu no exato momento em que fizerem isto. Mudem depois em baixo a data ou as horas, para poderem ver quando Marte aparecerá no vosso céu e onde.

Notem que nos dias próximos da oposição Marte estará numa região do céu diametralmente oposta à região do céu por onde anda o Sol, pelo que: quando o Sol nasce, Marte estará a por-se; quando o Sol se põe, Marte nasce; e quando é meia-noite de tempo solar aparente, Marte estará a passar no meridiano. Quem se lembrar disto encontra Marte facilmente no céu.

mapa heavens

Hoje vai ser a Oposição de Marte às 22 horas de Portugal (18 horas em Brasília).
Podem ver Marte no vosso céu, ou se preferirem o conforto de um computador, o Observatório Slooh (com os astrónomos Bob Berman e Paul Cox) vai transmitir ao vivo este evento quando forem 23 horas de dia 8 em Brasília (3 horas da manhã de dia 9 em Portugal):

P.S.: já acabaram de ler o texto? Parabéns! Estão neste momento 1.000 km mais perto de Marte do que no início 🙂

19 comentários

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  1. Ola fiquei com muitas duvidas agora ? Hoje é dia 11 de Abril , e marte seria visto apenas dia 08 mas agora ao abrir a janela as 3:47 da madrugada avistei marte por favor me responder .

    1. Marte pode ser visto todas as noites.

      No dia 8 foi a Oposição de Marte 😉

      abraços

  2. Qual a opinião de vcs sobre a foto feita pelo rover em Marte em que aparece uma luz brilhante no fundo da paisagem lunar?

    1. Nós aqui não damos opiniões. 😉
      Ou temos conhecimento do assunto, ou não temos.

      Neste caso, sabe-se que são raios cósmicos a atingir a câmera do Curiosity. Um fenómeno totalmente normal e recorrente.

      abraços

    • Felipe Sarinho on 08/04/2014 at 19:27
    • Responder

    E como não podia faltar
    http://noticias.terra.com.br/ciencia/espaco/alinhamento-entre-%20%20terra-sol-e-marte-antecipa-fim-do-%20%20mundo,ffcf3bcfb0145410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html

    titulo sensacionalista pra chamar atenção, e logo no começo ele ja se contradiz
    parece que as pessoas não sabem o quanto esses eventos (oposição e marte e eclipses lunares) são comuns…

    1. É o chamado “jornalismo de alterne”, também conhecido como “jornalismo de fim-do-mundo”. 😛

        • Felipe Sarinho on 09/04/2014 at 04:22

        Teve nada de relevante sobre o assunto em 2013 agora querem se garantir logo por 2 anos 😛

        • juruti on 10/04/2014 at 00:15

        Ainda sobre essa notícia do Terra, o que há de verdade na lua de sangue?

      1. Sobre isso, tem os nossos outros posts, nomeadamente:
        http://www.astropt.org/2014/03/21/luas-sangrentas/

        abraços

  3. Lá vai você estragar a ideia de todo mundo olhar para o céu e admirá-lo! Ontem à noite, aqui em São Paulo, a noite estava linda! Eu acho… Com tanta poluição a gente pode só pressupor que estava, mas pelo menos dava para ver a Lua e algumas estrelas.
    Eu até ia olhar o céu de novo hoje à noite para ver se dava para ver as “luzes” que fotografaram por lá, que também suponho ser janelas entreabertas por marcianos descuidados (ouvi dizer que eles moram debaixo do solo marciano).
    Agora, sabendo disso tudo, que graça tem? 😛

    De qualquer forma, esta semana o nosso telescópio vai estar de plantão. Dá de você estar errado… 😀

    1. Que foi que eu fiz, Mirian? 🙁

      Você deve olhar para o céu sim. 🙂 Eu até deixei as informações para você encontrar melhor Marte no céu 🙂

  4. Bom dia

    Já agora, uma dúvida. A força da gravidade que sentimos (1G) é sempre a mesma independentemente da aproximação ou afastamento de outros planetas? É pelo facto de termos uma atmosfera que isso acontece?

    Porque de repente pergunto se no caso de planetas sem atmosfera, a força da gravidade que se sente por exemplo em Marte, é sempre a mesma?

    Estou a ler um livro interessante (Breve História de Quase Tudo – Bill Bryson), e lembrei-me de uma experiência que fizeram com uma esfera pendurada num pêndulo junto de uma montanha, onde, em virtude da existência da massa da montanha, seria de esperar que essa esfera possuísse uma ligeira inclinação.

    Abraço

    1. Não sei se cheguei a perceber a pergunta….

      1 G é a força de gravidade que sentimos na superfície da Terra.
      Se um planeta (ou objeto, como uma estrela de neutrões) tiver maior massa, terá maior gravidade.
      Se nós nos encontrarmos mais longe do centro de gravidade, sentiremos menos a gravidade. Se nos encontrarmos mais perto do centro de gravidade, sentiremos mais.

      Tudo depende da massa, e da distância ao centro de gravidade.
      Isto é o que nos diz a Lei de Newton.

      Quer Mercúrio quer Marte têm uma força de gravidade semelhante. De cerca de 1/3 da terrestre.
      Júpiter tem uma gravidade cerca de 2 vezes e meia superior à nossa na sua “superfície”.

      É isto?

      abraços!

        • MSendim on 08/04/2014 at 20:50

        Boa noite,

        Penso que este amigo estava a perguntar, por um lado, se a atracção gravítica exercida pela Terra sobre um corpo que esteja na sua superfície diminui se outro planeta se aproximar e, por outro, se a existência de atmosfera faz variar o valor de “g”.

        Abraço .-))

    2. Primeiro devemos notar que o “1 G” que refere não é uma força, mas sim uma aceleração. É a aceleração produzida pela Terra num qualquer objeto próximo da superfície da Terra, sendo igual para todos os objetos que se situem no mesmo local. A força (gravitacional) produzida pela Terra num objeto é igual ao produto do tal “G” pela massa do objeto, e esta força designamos por peso! 🙂 O valor padrão de g (é esta a notação que se deve utilizar), escrito com 2 casas decimais, é 9,81 m/s^2.

      A aceleração da gravidade g varia de local para local na superfície da Terra, com uma amplitude máxima de cerca de 0,7% (ver por exemplo http://en.wikipedia.org/wiki/Gravity_of_Earth).

      A aceleração da gravidade produzida por um objeto varia com o inverso do quadrado da distância, pelo que a aceleração da gravidade produzida por qualquer planeta (que não a Terra) em qualquer objeto situado na superfície da Terra é muitíssimo menor do que o valor de g e por isso pode, para todos os efeitos práticos, ser desprezado. Por exemplo a Lua, produz uma aceleração gravitacional da ordem de 0,00004 m/s^2 em qualquer objeto próximo da superfície da Terra. Marte, quando está mais próximo da Terra, produz uma aceleração em qualquer objeto próximo da superfície da Terra da ordem de 0,00000001 m/s^2.

      A presença de uma atmosfera reduz o valor do **peso** de um objeto quando comparado com o valor sem atmosfera, pela seguinte razão. Um objeto mergulhado num fluido (por exemplo uma atmosfera) sofre a ação de uma força contrária à direção da aceleração gravitacional. Essa força é designada por impulsão. A impulsão é responsável, por exemplo, por fazer com que um balão cheio com hélio suba na atmosfera. Em números redondos, à superfície da Terra, cada objeto sofre uma impulsão igual a cerca de 0,1% do seu peso, pelo que este efeito é maior do que o produzido por planetas distantes.

      Finalmente, acrescentaria um outro fator que leva a que um objeto na superfície da Terra seja afetado por uma aceleração ligeiramente menor do que a da gravidade: esse fator é a rotação da Terra. Neste caso o efeito é, no máximo, da ordem de 0,035 m/s^2, mas diminui com o aumento da latitude do lugar.

      Espero ter ajudado…

        • Nuno on 09/04/2014 at 11:45

        Bom dia

        Obrigado a todos pelos esclarecimentos. Dúvida resolvida!! 🙂

        Abraços

        • MSendim on 09/04/2014 at 22:14

        Daniel,

        Concordo com tudo menos com “a aceleração da gravidade produzida por qualquer planeta (que não a Terra) em qualquer objeto situado na superfície da Terra é muitíssimo menor do que o valor de g e por isso pode, para todos os efeitos práticos, ser desprezado”. Veja a relação entre a Lua e as marés, por exemplo :-)))

        Um abraço,

        MSendim

        • Daniel Folha on 10/04/2014 at 00:34

        MSendim,

        Obrigado pelo comentário. Não me esqueci do efeito das marés e em particular esse efeito veio-me à cabeça quando escrevi a frase que cita. Acontece que as marés são resultado do efeito diferencial da força gravitacional da Lua e do Sol em todo o planeta Terra, sendo as marés oceânicas apenas o efeito mais visível. No meu comentário eu estava apenas a referir-me ao efeito em objetos na superfície da Terra sendo que não estava a incluir nestes objetos o próprio planeta ou os oceanos que dele fazem parte, e estava a limitar-me a estes objetos porque o leitor Nuno levantou a dúvida acerca da “força da gravidade que sentimos”. Para algum leitor que ainda fique com dúvidas, em nós, podemos ignorar, sem reservas, qualquer efeito maré produzido pela Lua, pelo Sol ou por qualquer planeta, nem vamos pesar mais ou menos num balança dependendo da localização em relação à Terra da Lua, do Sol ou de qualquer outro planeta.

        De qualquer dos modos, pelo seu comentário e por esta minha resposta, os leitores ficarão certamente melhor esclarecidos neste assunto, pelo que reitero o meu agradecimento.

        Abraço.

        Daniel

        • Daniel Folha on 10/04/2014 at 01:07

        E porque em ciência por vezes podemos ter que “engolir” as nossas palavras, deixo aqui a hiperligação para um artigo publicado na revista científica Annals of Botany, que acabei de descobrir, e cujo título é “Lunisolar tidal force and the growth of plant roots, and some other of its effects on plant movements”: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22437666

        Ressalva: Não li o artigo, apenas o título e o resumo. A existir causalidade entre os fenómenos referidos (e faço notar que correlação entre fenómenos não implica uma relação causa e efeito), algumas das minhas palavras em comentários anteriores podem ser consideradas erradas! 🙂

        Isto é ciência. 🙂

        P.S. Tanto quanto posso perceber, o Annals of Botany é uma revista científica séria e os artigos nela publicados são sujeitos a revisão por pares (peer review).

  1. […] 2014, Marte esteve em Oposição no dia 8 de Abril, e esteve mais perto da Terra no passado dia 14 de Abril. Desde essa altura que se tem afastado da […]

  2. […] Comparação. Humor. Luas (Medo e Terror). Metano. Água a fluir em Marte. Vida. Oposição (2012, 2014). Sobrevoar a superfície. 1.000.000.000 pixeis. Catástrofe em 2014? Chuva de detritos. Estranho. […]

  3. […] Ceres e Vesta seriam perceptíveis a olho nu, a um observador com visão normal que se encontrasse, na altura, no mesmo local do Curiosity. Os dois objectos brilham, neste momento, nos céus marcianos, com magnitudes aparentes de + 5,8 e +4,0, respectivamente. Ambos são visíveis na direcção da constelação de Virgem – curiosamente, na mesma constelação onde, nesta altura, podem ser encontrados nos céus do nosso planeta (relembro que Marte esteve em oposição no início do mês). […]

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