Pulsar hiper-denso contradiz Teoria de Einstein? Não!

Pulsar (esquerda) é orbitado por uma estrela anã branca (centro). e ambos são orbitados por uma mais distante anã branca (mais fria, no topo). Crédito da ilustração: Bill Saxton, NRAO/AUI/NSF.

Pulsar (esquerda) é orbitado por uma estrela anã branca (centro), e ambos são orbitados por uma mais distante anã branca (mais fria, no topo). Crédito da ilustração: Bill Saxton, NRAO/AUI/NSF.

Se forem ao Google e colocarem “pulsar hiper-denso” ou “hyper-dense pulsar” veem alguns links a afirmarem mentirosamente que esta descoberta coloca em causa a Teoria da Relatividade.

Tendo em conta que a Teoria da Relatividade tem tantas provas, uma afirmação dessas é logo à-partida mais que sensacionalismo. É uma vigarice.

Mas afinal qual é a notícia?

A notícia é simples: foi descoberto um pulsar num sistema estelar triplo que permite ter um laboratório gravitacional único. Este sistema triplo é o melhor laboratório cósmico natural encontrado até hoje para fazer este tipo de medições.

Assim, tal como noutros casos, foi descoberto um sistema natural no espaço que nos permite testar a Teoria Geral da Relatividade.

Este sistema contém um pulsar e duas anãs brancas. Todo o sistema encontra-se a cerca de 4.200 anos-luz de distância da Terra.
O pulsar (que conclui 366 rotações por segundo) tem uma estrela anã branca (mais quente) na sua órbita, e ambos os objetos têm uma anã branca (mais fria) um pouco mais distante a orbitá-los.
Até aqui, tudo normal, já que é um sistema com 3 “estrelas mortas”, sendo que uma delas tinha tanta massa que deu origem a um pulsar (estrela de neutrões).
O que não é tão normal é a proximidade entre as três estrelas: elas encontram-se mais próximas entre si do que a Terra está do Sol.

A natureza e a geometria do sistema permite que se possa calcular a massa das 3 estrelas com incrível precisão.
Além disso, a proximidade entre as 3 estrelas permite que se possa estudar melhor a gravidade, nomeadamente algumas das características da Teoria Geral da Relatividade. Neste caso, trata-se de testar melhor o princípio da equivalência (que nos diz que o efeito da gravidade sobre um corpo não depende da natureza ou da estrutura interna desse corpo).
A proximidade entre as estrelas permite uma grande precisão na medição dos pulsos do pulsar (na sua rotação) e perceber qual o seu desvio.

Sabemos que quando temos uma supernova, grande parte da massa que resta torna-se um pulsar (ou então um buraco negro). No entanto, um pouco dessa massa torna-se energia de ligação gravitacional (que mantém o denso pulsar). O princípio da equivalência forte diz-nos que esta energia deveria ter efeito gravitacional (tal como se fosse massa). Este princípio, na base da Relatividade, distingue esta Teoria de outras alternativas.

Ou seja, testando este sistema, pode-se saber se a Teoria Geral da Relatividade vai ter mais uma evidência experimental da sua validade…. como tem acontecido sempre.

Ou seja, fantástico! Este sistema dá-nos um laboratório real, muito mais preciso que antigamente, para podermos testar alguns efeitos previstos pela Relatividade Geral (como já tem acontecido no passado e com resultados positivos). Mais precisamente permite-nos perceber se o desvio nos pulsos (rotação) do pulsar está de acordo com uma quantidade de gravidade equivalente à sua massa mais a tal energia de ligação.

A notícia é esta.
Dizer que isto coloca em causa ou que contradiz a Relatividade Geral é uma mentira, é uma manipulação com o objetivo de enganar, é uma vigarice.

Pulsar in Stellar Triple System from NRAO Outreach on Vimeo.

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