A Pareidolia é uma ilusão que nos permite reconhecer objetos familiares perante estímulos visuais vagos ou caóticos. O jornalismo desta peça da TVI é uma ilusão que nos permite reconhecer artigos jornalísticos em textos vagos ou caóticos: se o observarmos bem, até podemos reconhecer um título e um lead, palavras que formam frases e frases que formam parágrafos.
«Uma imagem captada pela sonda Curiosity no passado dia 14 de agosto veio relançar a discussão da existência de vida extraterrestre no planeta Marte» – escreve o pareidolista anónimo da TVI.
«Na fotografia é possível ver algo parecido com um fémur e, nas redes sociais, tal como blogues de apaixonados pelo tema, já circula a teoria de que esta é a prova da existência de extraterrestres.»
«A imagem inicialmente divulgada por um blogue da especialidade e, depois, por vários órgãos de comunicação social, tornou-se em poucos dias viral na Internet.»
Isto é muito perturbador
Para a TVI, um blogue amador de OVNI é um blogue da especialidade capaz de divulgar imagens captadas pela sonda Curiosity da NASA. Esta notícia tem implicações extraordinárias: não é a NASA a divulgar inicialmente as imagens da Curiosity.
Afinal, a NASA é apenas uma subdivisão do UFO blogger e a sonda um objeto não-voador mas bem identificado que a malta daquele blogue controla a partir do teclado.
Bem, assim já fico mais descansado. Se alguma coisa correr mal em Marte, já sabemos que basta fazer Ctrl+Alt+Del para reiniciar o Curiosity. É possível que o computador de bordo esteja a correr o Windows 8, o que explica esta mania que a NASA tem de enviar fotos em mosaicos. Obrigado, TVI.
A existência de um osso marciano implica aceitar, sem abrir os olhos, na existência de uns microrganismos quaisquer capazes de lhes comer as carninhas. Todos os ET que já vi no Laboratório de Investigação Avançada do YouTube são feitos de carne e osso, pelo que este não pode ser exceção. Isso significa que a velha expressão terrestre «sete cães a um osso» teve uma notável expressão no passado marciano.
Claro que a NASA já veio dizer que a forma daquela rocha se deve a anos, séculos, milénios de erosão provocada pelos ventos ou, talvez, pela água que suspeitamos ter corrido outrora em Marte – mas de que servem as explicações de uma reles subdivisão perante as extraordinárias conclusões da casa-mãe? Nada.
Pareidolia? Ilusão? Que disparate. Digam essa às pessoas que já viram Jesus Cristo nas nuvens ou em torradas, atrevam-se a dizer-lhes que uma nuvem é uma nuvem e uma torrada uma torrada: vão ver como serão ridicularizados por acreditar em disparates desses.
A hipótese ortopédica tem outra implicação muito grave: não será o osso marciano o vestígio de uma antiga civilização de canídeos que fugiu do planeta vermelho moribundo e se fixou na Terra? Terá a Curiosity descoberto os restos de uma zona de recriação onde os marcianos se juntavam para beber uns copos e roer uns ossos?
Terão sido os lobos a sua Força de Operações Especiais?
Estarão os marcianos disfarçados de cães adoráveis? Andamos a fazer festinhas aos nossos fiéis bichinhos sem saber que estes, em segredo, planearam conquistar os nossos corações e a nossa confiança de forma a ser-lhes mais fácil conquistarem o planeta sem grande resistência? Oh, céus, será que alguma vez nos perdoarão pelos concursos de beleza em que os obrigámos a entrar?
1 comentário
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Só por brincadeira. A cadela, Mia, da minha filha deve ser mesmo uma marciana descontente com o planeta para que se mudou. Ela é terrível. Sempre inquieta, sempre a ladrar, sempre a roer tudo,mas inteligente. É uma arraçada de labrador.
[…] No entanto, obviamente, na internet existem muitos imbecis. E existiu um que disse que vê um osso (fémur). Além da pareidolia, existe obviamente a falta de imaginação de pensar que os marcianos… são humanos. Estas são as imbecilidades imaginadas pelo “Laboratório de Investigação Avançada do YouTube“. […]