Cosmos é uma série brilhante.
Daí que não seja surpresa o facto de ter sido nomeada para 12 Emmys e ter ganho alguns deles, incluindo o Emmy para Ann Druyan pela escrita dos episódios.
Merece. A série consegue explicar temas científicos complexos numa linguagem acessível ao público.
Claro que existiram episódios melhores e episódios piores, mas no geral, a série é excelente!
Para mim, os melhores episódios foram: 2º, 3º, 8º, 9º, e 13º.
A forma de explicar os temas, na sua generalidade, foi excelente.
Os efeitos especiais (CGI) por toda a série foram incríveis. Visualmente a série é fantástica.
Para mim, o maior problema desta série é que na maioria dos episódios foram incluídos “à força” assuntos diferentes. A transição entre os temas por vezes era paupérrima (porque não existia ligação possível). A desconexão nos episódios, a inconsistência na narrativa, a falta de encadeamento entre temas num mesmo episódio, irritou-me.
Como referi em alguns episódios, não entendi o porquê de se perder tanto tempo com certos temas.
Sobretudo porque não se falou de outros, para mim, mais importantes. Exemplos: relatividade, diversidade de planetas extrasolares, física quântica, bosão de Higgs, a probabilidade de vida no sistema solar (ex: Europa), etc.
Em especial a Física Quântica, tendo em conta os milhares de vigaristas que existem no mundo que utilizam a palavra quantica para enganar e promover a morte de pessoas, era vital explicar.
Não entendi algumas críticas à série.
Por exemplo, não entendo as críticas dos Criacionistas. A nova série foi bastante criticada pelos extremistas religiosos, levando a que Tyson apontasse o dedo aos hipócritas. O Criacionismo requer um tempo igual para eles na televisão, o contraditório. Mas eles por acaso sabem que uma televisão se faz com… ciência? Eles exigem que um dispositivo científico ignore a ciência e promova crenças pessoais. É ridículo e uma hipocrisia!
Na verdade, deviam era acabar os programas religiosos na televisão. Não é censura. Os programas religiosos poderiam obviamente divulgar as suas palavras utilizando as energias religiosas (e não aquelas explicadas pela ciência). Mas isto não é requerido pela ciência e pelos cientistas. Porque não? Porque a ciência é para todos e é tolerante.
Ainda mais ridículo se torna, porque se os Criacionistas tivessem visto os episódios, percebiam que eles não foram anti-religião. Pelo contrário, como se viu logo no primeiro episódio ao enaltecer Giordano Bruno… uma pessoa de fé. Cosmos é a favor da verdade, das evidências científicas, contra os dogmatismos e a intolerância. Os Criacionistas, pelos vistos, identificam-se com serem intolerantes e dogmáticos…
Também me parece bastante sintomático da época em que vivemos: os fundamentalistas ignorantes celebram programas como o Big Brother (onde se promovem as imbecilidades), mas se existe um programa que promove conhecimento, então protestam imediatamente. O objetivo é manter a população na ignorância.
Li algumas críticas na net sobre este novo Cosmos dizer basicamente o mesmo que o anterior, e não avançar muito no conhecimento.
Pessoalmente, concordo com aqueles que defendem que este novo Cosmos deveria falar ainda mais de temas “normais”, que fazem parte do dia-a-dia das notícias astronómicas, como fez o anterior Cosmos. Por exemplo, devia ter falado de planetas extrasolares, de física quântica, de potenciais lugares para a vida no sistema solar, etc, incluindo outros temas falados no primeiro Cosmos. Preferia isso a alguns temas escolhidos agora.
Li também algumas críticas ao facto de se ter perdido imenso tempo com educação científica, com o esclarecimento do que é a ciência.
Pessoalmente, eu adorei essas partes. Até porque os EUA precisam imenso disso. E, claro, penso que essas noções são super-importantes para a literacia da população.
Note-se também que a série foi criada porque Ann Druyan sentia “nas últimas décadas um retrocesso em direcção ao medo e à superstição. Um retrocesso que não existia na década de 1960, quando o homem foi à Lua. Voltar ao Cosmos, dizia ela, fazia parte de um novo ciclo de abertura em relação à ciência“. Por isso, é absolutamente normal que se tenha combatido as superstições com educação científica.
Compreendo mas não concordo com as comparações entre este Cosmos e o original. A comparação não me parece justa.
Para nós, que vimos a brilhante série original de Sagan, esse é o topo de todas as séries científicas. Para nós, “filhos” da 1ª série, nenhuma outra vai chegar ao seu nível. Não existe forma de existir outra série Cosmos que consiga estar ao mesmo nível da original de Sagan. Ann Druyan sabia disso. Tyson também. É impossível competir com alguém que faz parte do nosso imaginário. Mas Tyson teve a coragem de aceitar o desafio, mesmo sabendo que iria perder na comparação.
E Tyson, para mim, não desiludiu ao longo da série. Explicou as coisas de forma simples e com boa dicção. Ele expressou-se muito bem. E teve uma outra vantagem: uma ligação direta, emocional, a Sagan. Para mim, Tyson é um excelente sucessor de Sagan.
Além disso, parece-me que temos mais saudades da época da série original, do que propriamente aquilo que nos lembramos da série. Temos saudades desse tempo. Temos saudades de ser crianças… 😉
Eu vi recentemente a série com Sagan. A série tem limitações. O melhor da série é a dicção de Sagan e o conteúdo. Os efeitos especiais são primitivos, Sagan adorava mesmo camisolas de gola alta, e a série teve também (sei agora) alguns problemas que se podem criticar em alguns episódios (como se critica nesta série). Mas nós não nos “lembramos” disso. Porque na altura sabíamos muito menos de astronomia e porque temos a ideia romântica do nosso imaginário. A verdade é que hoje, se víssemos a série original, também seríamos muito mais críticos.
Por outro lado, vivemos noutra época.
Na época da primeira série, ela teve enorme impacto, porque não existia oferta. Só existia isso em divulgação de ciência. Por isso, todos vimos a série.
Hoje existem centenas de canais e milhões de websites a competir à mesma hora, além de que em ciência, existe uma grande variedade de oferta. O impacto de uma só série científica não é o mesmo atualmente (as pessoas estão mais dispersas) – quem vê é quem, à partida, já gosta de astronomia.
Realço também que, pelo resto do mundo (incluindo Portugal e Brasil), esta nova série só passou em canal de cabo, o que obviamente limita bastante o número de pessoas que tem acesso e que viu esta nova série. No sentido contrário, agora, sobretudo os mais jovens, podem ver a série na internet (algo que não acontecia na altura da primeira série).
A verdade é que esta nova série não é para nós (que já vimos a primeira série). Nós vamos sempre preferir a primeira série. Nós vamos sempre achar que a primeira série dava mais valor à substância e esta deu mais valor à forma, à superficialidade dos efeitos especiais.
Esta série é para a nova geração, para inspirar e cativar as novas gerações a aprenderem e a celebrarem ciência. Daí os fabulosos efeitos especiais. Daí porventura a narrativa desconexa na maioria dos episódios (porque atualmente, não se consegue ficar muito tempo atento a um mesmo assunto).
É verdade que tendo em conta o menor impacto da série, a nova geração não será tão influenciada por esta série como nós fomos pela série original. Não vai deixar essas marcas científicas. No entanto, parece-me que, dentro dessas limitações, esta nova série conseguiu inspirar/cativar os jovens que a viram (pelo que fui lendo nas redes sociais). Os jovens que viram esta série tiveram o mesmo sense of awe (deslumbramento) que nós tivemos aquando da primeira série. O objetivo foi concretizado!
E, para nós, podemos ficar com a ideia que esta série é muito superior a qualquer outro programa científico na televisão atualmente. Informação científica de qualidade em horário nobre!
A série conseguiu trazer a ciência para o público na televisão, de uma forma acessível, divertida, com rigor científico, e sem as parvoíces jornalísticas do contraditório (suposto “equilíbrio” com falsidades).
É uma celebração da ciência!
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COSMOS – Main Title Sequence from BBDG on Vimeo.
1 comentário
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A série é muito boa e o nível de dificuldade para entendimento dos leigos no assunto é atendido.
De fato, as transições entre assuntos foram estranhas para mim, deveriam ter tido um cuidado com isso. As vezes fiquei perdido e voltava atrás o vídeo para ver se perdi algo…
Mas não importa, o objetivo foi atendido e o Tyson deu um show de fluência/comunicação.
A comparação com Cosmos de Sagan não tem muito sentido. Os tempos eram outros, definitivamente, os recursos eram muito limitados nos anos 80.
[…] Cosmos é uma série brilhante. […]