O Marlo Lewis escreveu um livro sobre o livro-filme do Al Gore.
É um livro demolidor sobre as teorias de Gore a respeito do aquecimento global.
Na verdade, Marlo analisou o livro de Gore a fundo e descobriu o seguinte: 26 afirmações enviesadas, 17 afirmações enganosas, 10 afirmações exageradas, 28 afirmações especulativas e 19 afirmações erradas. Ou seja, Al Gore não se preparou bem para escrever o que escreveu sobre o aquecimento global. Nem foi bem aconselhado, pois teve concerteza gente a trabalhar para ele.
Na verdade, parece evidente que Gore não tem conhecimentos suficientes para escrever sobre alterações climáticas. É pena, pois desta forma perde credibilidade no que diz.
É claro que Gore acredita no que escreve, mas não teve o cuidado devido em confrontar fontes, nem cautela alguma com certo tipo de teorias. Gore quer passar uma teoria. Uma teoria alarmista sobre o aquecimento global. E faz isso com grande convicção.
Mas não deve ser o único. Desconfio que há por aí mais gente a escrever sobre o assunto sem o ter estudado devidamente. Mas é impressionante a quantidade de livros publicados sobre esta questão.
Alguns bem fundamentados, mas outros apenas alarmistas e não é fácil sabermos no que podemos acreditar. Por isso, o livro do Marlo Lewis tem uma vantagem. Aponta directamente para os estudos científicos sobre o problema. Podemos assim tentar encontrar referências mais credíveis. É claro que a lista é enorme e não é fácil pesquisarmos tudo. Mas é uma boa ajuda. E é também um livro que nos ajuda a pensar de forma céptica.
Isto não quer dizer que o Lewis tenha razão em tudo o que diz, pois o tema é demasiado complexo e há várias perspectivas sobre o assunto. Mas pelo menos obriga a olhar para o problema com outros olhos.
O mais curioso é que este livro tem passado despercebido. Pouco destaque tem tido. Como se fosse um livro incómodo. Inconveniente.
Na edição original inglesa, o livro tem dois ursos polares na capa, na edição portuguesa, o atelier do Henrique Cayatte fez-lhe uma capa mais à maneira com um mundo quente. É curioso terem tirado os ursos da capa. Se calhar descobriram que os ursos não estão a morrer por causa do aquecimento global.
Mas o livro é uma decepção do princípio ao fim!
Esperava-se mais de duas pessoas que dizem no prefácio que são cientistas e que vão explicar a questão do aquecimento global da forma mais directa possível com as explicações científicas mais recentes. Na verdade, o que fazem é promover um roteiro alarmista sobre o aquecimento global de forma disfarçada. Aliás, um dos autores (Sir David King) foi o mesmo que disse em 2004, que as alterações climáticas são “o problema mais grave que enfrentamos hoje, mais grave que a ameaça do terrorismo.” Ora quem diz uma coisa destas só pode escrever um livro com o mesmo sentido.
Embora, os autores digam que não são activistas ambientais, a verdade é que o parecem na forma como abordam o problema. Com ar de ciência lá vão falando do problema dizendo que tem havido muita confusão ambiental sobre as alterações climáticas e muita desinformação. É um facto, mas os autores não ajudam muito a clarificar a confusão, pois tomam partido pela corrente alarmista dando vários exemplos sobre as causas e os sinais do aquecimento global que são discutíveis e não consensuais como os autores querem fazer crer. Fazem mesmo afirmações que são polémicas do ponto de vista científico, embora no livro passem como verdadeiras. Portanto, há um recurso à ciência de forma selectiva com vista a fazer passar uma determinada mensagem. Portanto, o livro tem na 1ª parte (sobre o problema do aquecimento global) alguma manipulação na abordagem que faz e que é pouco científica.
Depois na parte das soluções é mais política do que ciência, o que até não admira atendendo ao perfil de David King. Afinal estamos a falar de um ex-conselheiro de Tony Blair, que convenceu o antigo primeiro-ministro britânico dos benefícios da política de redução do carbono. Digamos que é uma espécie de um Al Gore inglês, mas mais cauteloso e com um discurso mais científico. Mas disfarça mal, pois quem souber um pouco da história percebe que tipo de agenda promove.
Há tempos saiu um livro do João Lin Yun sobre o aquecimento global. Fiz uma ligeira referência à publicação aqui, mas depois de o ver com mais atenção gostava de dizer mais alguma coisa.
É um livro de ciência popular sobre o problema das alterações climáticas e o que devemos fazer para evitar o aquecimento global. É um livro na senda de outros, que aponta soluções para tentar resolver os grandes problemas do aquecimento global, dentro de uma corrente alarmista, tão típica deste tipo de literatura. Portanto, não vem acrescentar nada ao que já existe em português.
O que seria interessante num livro destes era uma abordagem rigorosa e criteriosa do problema do aquecimento global e do tipo de soluções racionais que podemos adoptar. Mas o que vemos é mais um ecologista alarmado a fazer um apelo geral às armas contra o aquecimento global. Embora seja mais contido que Al Gore, o estilo alarmista não anda muito longe do antigo Vice-presidente norte-americano.
Mesmo assim, devo confessar que gostei da capa e que resulta bem em termos gráficos, embora em termos de teoria dê uma mensagem errada. É que o aquecimento global é inevitável e não é possível invertê-lo por muito política de redução do carbono que se faça (aliás, o próprio autor reconhece isso), pois nem sequer sabemos ao certo qual é o peso específico da actividade humana no aquecimento global e do C02 em particular no actual ciclo climático. O que podemos fazer é minorar o aquecimento global de forma a não termos impactos negativos repentinos no planeta. Mas mais do que isso é pura ilusão. Portanto, arrefecer a Terra não é uma ideia muito viável ao contrário do que diz o título do livro.
Em suma, mais um autor a dizer que a humanidade está condenada se ninguém fizer nada rapidamente. É óbvio que temos que fazer alguma coisa, mas é com calma e sentido de realidade, não é com alarmismo.
Jul 24
1 comentário
E não há razões para alarmismo?
Parece-me que devemos ficar seriamente preocupados e alarmados com o impacto que as alterações climáticas poderão representar.
É, aliás, esse impacto que me preocupa.
É a extinção em massa, a destruição de habitats, a instabilidade política, económica e sobretudo social que a teremos de enfrentar.
A Terra continuará cá, por muitos e longos anos, e acabará por recuperar na sua imensa escala temporal.
Quanto a nós, humanos, devemos estar preocupados e com razão.