Em Janeiro de 2008, uma equipa de astrónomos do Max-Planck-Institut für Astronomie deu a saber a descoberta de um planeta do tipo “hot jupiter” em torno da estrela TW Hydrae a 182 anos-luz. A descoberta não seria particularmente notável se não fosse o facto da TW Hydrae ser uma estrela muito jovem (8-10 milhões de anos) e activa do tipo T Tauri, uma fase evolutiva que precede a sequência principal.
A estrela já era conhecida por exibir um espesso disco proto-planetário, com uma inclinação de apenas 7 graus relativamente à nossa linha de visão, observado em rádio e infravermelho. Sabia-se também que a parte interior desse disco estava quase limpa de poeiras, indiciando a existência de planetas já formados.
O novo planeta foi descoberto exactamente nesta região mas muito próximo da estrela hospedeira, a qual é de tipo espectral K7V e tem 70% da massa do Sol. A medição da variação na velocidade radial da estrela conjugada com a inclinação conhecida do plano orbital (supostamente a mesma do disco), permitiu determinar com exactidão o período de translação em 3.56 dias e a massa em aproximadamente 10 vezes a de Júpiter.
A confirmação independente desta descoberta é importante uma vez que a detecção de planetas utilizando a velocidade radial é extremamente difícil em estrelas tão jovens, devido às suas atmosferas em constante bulício. O artigo apareceu na conceituada revista Nature e alguma informação pode ser vista aqui e a notícia original aqui.
Mas em Agosto de 2008, o famoso Nuno Santos explicou-nos que uma equipa composta por ele, outro astrofísico do CAUP, e outros astrofísicos espalhados pelo mundo, percebeu que afinal o tal planeta gigante não era planeta, mas era somente uma mancha estelar (uma “mancha solar” na estrela TW Hydrae).
“No início do ano uma equipa de astrofísicos liderada por Johnny Setiawan (Max Plank Institut for Astronomy, Alemanha) anunciou na revista Nature a descoberta de um planeta gigante de curto período a orbitar a TW Hydrae, uma estrela muito jovem (~10 milhões de anos) de tipo T Tauri. Esta descoberta foi baseada em medidas de velocidade radial, obtidas com o espectrógrafo FEROS, no telescópio de 2.2-m em La Silla (ESO).
Tratava-se de uma descoberta de grande importância com impacto na nossa compreensão sobre as escalas de tempo de formação de planetas gigantes. Pela primeira vez foi detectado um planeta gigante a orbitar uma estrela jovem, ainda com o seu disco proto-planetário.
Ou assim se pensava…
Agora, uma equipa internacional que inclui dois astrofísicos do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto publicou um artigo em que coloca em dúvida a existência do planeta anunciado pela equipa do Max Plank. Os astrofísicos observaram a estrela usando uma panóplia de intrumentos e telescópios (tais como o espectrógrafo CRIRES, no VLT, e o espectrógrafo CORALIE, no telescópio Suiço do observatório de La Silla, ESO), para obter novas medidas de velocidade radial em comprimentos de onda visíveis e do infra-vermelho. Juntamente com uma série de modelos de manchas estelares, os resultados mostram que as variações de velocidade radial observadas por Setiawan et al. não se devem à presença de um planeta, mas sim à existência de enormes manchas escuras na superfície da estrela.
As manchas escuras são capazes de induzir variações na velocidade radial semelhantes às observadas se um planeta orbitasse a estrela.
No entanto, e ao contrário do caso de um planeta, no caso das manchas a amplitude da variação depende do comprimento de onda observado, ou mesmo da forma como medimos a velocidade radial.
O contraste entre uma mancha escura e a restante foto-esfera estelar depende do comprimento de onda.
Estes resultados ajudaram os astrofísicos a melhor compreender os fenómenos de actividade estelar, bem como a desenvolver novas formas de os diagnosticar.”
Leiam o Abstract, o paper, e este artigo.
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