Artigo de Carlos Vogt sobre a Teoria da Relatividade Geral, de Einstein, assinalando as participações brasileira e portuguesa na observação de eclipses solares utilizados para a comprovação dos pressupostos dessa teoria.
“No Brasil, país em que a astronomia tem uma longa tradição e um grande desenvolvimento, em particular, desde a criação do Observatório Nacional, em 1827, o nome-ícone do amadorismo astronômico qualificado é nada menos que o do imperador D. Pedro II. Devoto da ciência, culto, poliglota, viajado. Um amador especialmente preparado no amor do conhecimento. Um amador iniciado.
Há um episódio na história da física moderna que a liga de maneira indelével ao Brasil, através da ocorrência de um fenômeno natural, um eclipse solar, de sua observação astronômica, ou no caso específico, astrofísica, e da decorrente comprovação de uma teoria revolucionária do conhecimento das leis do universo.
Em 1911, com a teoria da relatividade restrita já consagrada, Einstein que vinha trabalhando na sua teoria da relatividade geral, na verdade, uma nova “teoria da gravitação”, enuncia, no artigo “Sobre o efeito da gravidade na propagação da luz” que o campo gravitacional deveria provocar a curvatura da luz.
É nesse momento que, nas urdiduras do acaso, o Brasil, mais especificamente Sobral, no Ceará, começa a entrar em cena.
A previsão de Einstein de que a luz sofreria desvios ao passar por um campo gravitacional, dada a pouca intensidade do efeito, só poderia ser verificada, experimentalmente, observando-se a passagem da luz por um corpo de grande massa.
Isso se deu em 1919, durante o eclipse solar, cujas observações registradas em Sobral, no Ceará, foram definitivas para a comprovação da sua teoria.
O próprio Einstein tivera a idéia de fotografar estrelas próximas às bordas do sol – possível apenas numa situação de eclipse total –, fotografar as mesmas estrelas à noite e comparar as fotos para verificar se houve ou não mudanças em sua posição relativa.
Várias foram as tentativas de realização dos experimentos fotográficos, em diferentes partes da geografia terrestre e muitos foram os astrônomos, de origens diversas, que se associaram ao esforço dessa comprovação.
Em 1914, estava previsto para o dia 21 de agosto um eclipse solar, organizando-se, com apoio financeiro da família Krupp, obtido pelo próprio Einstein graças ao seu prestígio como cientista, uma expedição alemã que da Criméia, na Rússia, deveria tentar obter as tão desejadas fotos estelares.
Um fator não climático, mas histórico e político impediu de vez a observação do eclipse: a deflagração da Primeira Guerra Mundial.
Em 1918, no dia 8 de junho, novo eclipse do sol, dessa vez observado dos EUA, no estado de Washington, sem poder contar com os instrumentos que haviam permanecido retidos na Rússia.
A guerra interferiu novamente no processo de verificação da teoria retardando a observação do efeito de curvatura da luz para a dupla expedição inglesa de 1919, na ilha de Príncipe, possessão portuguesa na costa ocidental da África, e em Sobral, no nordeste brasileiro. Ambas as expedições foram preparadas pelo astrofísico inglês sir Arthur Eddington, que comandou as de Príncipe, que já estivera no Brasil, em Minas gerais, em 1912, e que adotara, com devota convicção, a teoria da gravitação de Einstein, empenhando-se a fundo na sua demonstração.
As fotos tiradas pelo grupo, do qual também, em Sobral, faziam parte brasileiros, entre eles, Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, foram definidoras e definitivas, já que o tempo na ilha de Príncipe no dia 19 de maio de 1919, não ajudou muito no esforço da equipe que lá se encontrava para a mesma finalidade de observação e fotografias do eclipse solar.
No dia 6 de novembro do mesmo ano, o Joint Eclipse Meeting, ocorrido em Londres, coroava a teoria de Einstein em substituição à teoria da gravitação universal de Isaac Newton, que reinara soberana no mundo da ciência da natureza e de suas leis por mais de dois séculos”.
Artigo completo (Revista Eletrônica de Jornalismo Científico – Com Ciência)
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