Eu compreendo que Paul Kalas tenho dito que ia tendo um enfarte quando detectou no visível um planeta extra-solar em torno da estrela Fomalhaut, na constelação do Peixe Austral. Afinal Kalas estudava Fomalhaut há 15 anos e nunca tinha visto nada. Agora apanhou um planeta na luz visível, sendo uma detecção directa de um planeta, que tem a novidade de ser na banal luz visível, uma novidade neste domínio e mais difícil. Portanto, eu percebo isto.
Mas isso não invalida que antes de Kalas, outros tenham detectado planetas extra-solares no infra-vermelho de forma directa.
O Público faz hoje destaque da descoberta do planeta em Fomalhaut. É bom um jornal diário dar um destaque destes a uma descoberta de planetas extra-solares. O DN também segue um pouco a mesma linha, embora com uma notícia mais pequena. Mas o Público comete um erro logo no começo da notícia: Já se conhecia a existência de uns 300 planetas fora do nosso Sistema Solar. Mas pela primeira vez quatro deles deixaram-se fotografar. É uma novidade absoluta. Idem para o DN. Não é nenhuma novidade. Já em 2004 e 2005 tinham sido fotografados planetas extra-solares. Basta ver os comunicados do ESO aqui e aqui. O jornal traz também uma entrevista com Nuno Santos que refere justamente as descobertas de 2004 e 2005. Diz que nenhuma das anteriores descobertas é tão convincente como esta, mas parece que actual também carece de confirmação, portanto, não se percebe como é que pode ser mais convincente que as anteriores.
Até agora foram detectados 9 planetas extra-solares por detecção directa, 8 no infravermelho e 1 na luz visível.
Todos têm a sua importância para a ciência e olhar para um planeta no visível ou no infra-vermelho é igualmente importante do ponto de vista científico.
Por outro lado, esta descoberta carece de confirmação. Fez-me lembrar que o estatuto do 1º hipotético planeta detectado por observação directa (2M 1207B) está longe de ser consensual. Na verdade existem várias reservas quanto ao verdadeiro estatuto deste famoso planeta, pois parece tratar-se claramente de um objecto que nasceu juntamente com a anã castanha, embora com uma massa planetária. Daí que há quem ache que o objecto em questão e a anã castanha são na verdade um sistema binário e não um planeta e uma estrela.
Isso mostra que o nosso conceito de planeta não é muito claro ou abrangente no caso dos planetas extra-solares e que não consegue incluir coisas esquisitas como o 2M 1207B. Agora é curioso como todos os comunicados do ESO divulgam o 1207B como um planeta extra-solar.
Portanto, seguindo esta linguagem popular digamos que a 1ª detecção directa de um extra-solar foi mesmo o 1207B, embora a sua definição como planeta seja polémica e escape ao conceito tradicional de planeta. Desse ponto de vista, o Fomalhaut B é mais fácil de definir como planeta que o 1207B. Disso também não há dúvida.
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