Fui ver o filme “O Estranho/Curioso Caso de Benjamin Button“, que é baseado num pequeno conto de 1921 de F. Scott Fitzgerald.
A história é realmente curiosa: um homem nasce velho e vai ficando mais novo à medida que os anos vão passando.
Basicamente, um homem nasce com 80 anos e vai regredindo com o passar do tempo até se tornar um bebé.
É uma ideia extremamente apelativa que leva naturalmente as pessoas a imaginar “e se…?”
Estou em crer que toda a gente gostaria de viver para sempre…
Ou viver de outra maneira – ao contrário.
Daí eu ter gostado do filme!
Apesar do filme ser um pouco parado – sobretudo na parte do hospital com a idosa Daisy a morrer -, o facto da premissa ser excelente compensa o ritmo mais baixo.
Adorei a evolução dele, com uma caracterização fantástica.
Adorei também a cena onde se vê o lançamento de uma missão espacial a partir da Flórida na década de 1960.
Gostei bastante, no início, de ver o tempo a voltar para trás…
Adorei o filme pela imaginação que desperta, mas também pelas mensagens sociais (lições de vida) que transmite.
Algumas dessas mensagens são:
– o controlo é ilusório: nós pensamos que controlamos o que se passa na nossa vida, mas é só uma ilusão.
– a vida é feita de uma série de coincidências, que não controlamos.
– toma as decisões! Não deixes a vida passar por ti. Não fiques à espera que as coisas aconteçam.
– as pessoas devem perceber o seu propósito na vida, e fazer por esse propósito, em vez de desperdiçarem a vida.
– oportunidades perdidas ou oportunidades ganhas não são objectivamente más ou boas no momento.
– as pessoas evoluem, vão aprendendo e mudando, ao longo da vida.
– devemos agradecer pela vida que temos, porque amanhã poderá ser pior.
– tudo depende do momento e não propriamente das pessoas: duas pessoas perfeitas para ficarem juntas, pode não dar certo se não for o momento certo (the right timing).
– no final da vida, devemos deixar para trás a raiva e os arrependimentos.
Gostei de ver que em bebé, ele sofre dos mesmos problemas do que quando era idoso: nomeadamente, nota-se a falta de algumas faculdades.
Tal como se passa em todos nós…
Isto denota a ideia de um ciclo: o nosso começo é semelhante ao nosso fim.
Outro aspecto que achei interessante prende-se com a altura em que se conhecem.
O primeiro encontro entre eles dá-se quando Benjamin aparenta ser idoso (apesar de ter somente 12 anos) e Daisy é uma criança.
A partir daí, vão-se encontrando por vezes, mas nunca dá certo entre eles.
Só dá certo entre eles – eles são felizes – somente quando ambos têm sensivelmente a mesma idade. Ou seja, quando se encontram no meio.
Achei bastante curioso, ele ficar mais novo à mesma velocidade que nós ficamos mais velhos. Ou seja, à taxa de 1 ano por ano.
Isto não tinha necessariamente que ser assim: ele poderia ficar mais novo a uma taxa inferior ou superior à normal.
Também achei interessante ele ser uma criança com aparência de velho.
Apesar da aparência, a sua curiosidade era de criança. Mentalmente, ele era uma criança.
Ou seja, fisicamente ele fica cada vez mais jovem, mas psicologicamente ele envelhece normalmente.
Em termos de experiências, ele foi envelhecendo, evoluindo. Teve cada vez mais experiências e foi aprendendo.
Igualmente interessante é o facto de, perto do final da vida, quando é um jovem rapaz, Benjamin ter demência e alzheimer, mostrando mais uma vez que ele envelheceu mentalmente (apesar de rejuvenescer fisicamente).
O filme tem várias citações interessantes de que gostei bastante:
O bebé é um milagre. Mas não é um milagre que as pessoas esperam ver.
Quem muda somos nós; não os locais. Nós é que vamos mudando ao longo da vida, e vemos as coisas de forma diferente.
As pessoas são importantes quando as perdemos. Nessa altura, percebemos o valor que elas tinham na nossa vida.
A vida não é medida em minutos, mas em momentos.
As nossas vidas são definidas pelas oportunidades. Mesmo por aquelas que perdemos.
Não devemos sentir pena de nós próprios.
Nada dura para sempre.
Há coisas que nunca esquecemos.
Daisy partiu a perna. Mas se um milhão de outros acontecimentos não tivesse existido, bastava um desses eventos não ter acontecido, e ela não tinha o acidente.
A vida é uma série de cruzamentos e incidentes sem qualquer controlo.
Somos todos diferentes. E todos contribuímos para a sociedade.
Nunca é tarde demais para seres quem desejas ser. Podes começar quando quiseres.
Podes mudar ou continuar na mesma; não há regras para como deves viver a tua vida.
Espero que vejas coisas que te espantem.
Espero que sintas coisas que nunca sentiste.
Espero que conheças pessoas com diferentes pontos de vista.
Espero que tenhas uma vida de que te orgulhes.
Se descobrires que não te orgulhas, espero que tenhas a força suficiente para começares de novo.
Passando à crítica científica:
Em termos históricos, o filme parece um documentário, mas não é.
Em termos físicos, não há acidentes que possam provocar o reverso de uma lei universal.
A nível biológico, apesar de no futuro ser possível reverter os efeitos do envelhecimento, com avanços a nível celular e da genética, o certo é que isso não trará o reverso do processo de envelhecimento, trará sim um retardar desse processo, passando as pessoas algumas centenas de anos como jovens de espírito e de corpo.
Daí que penso que na realidade não encontraremos este tipo de histórias quer na Terra quer com extraterrestres.
No entanto, a Ficção Científica já mostrou o envelhecimento revertido algumas vezes.
Por exemplo, no episódio Innocence, de Star Trek Voyager, em que a raça de extraterrestres Drayan tem um processo de envelhecimento contrário ao nosso – nascem velhos e morrem crianças.
Na série animada de Star Trek, acontece um acidente que leva a que tudo funcione ao contrário, incluindo o processo de envelhecimento.
Acabo este post com uma citação de Woody Allen:
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