Contrastes

Milhares de milhões de pessoas e outros seres vivos já pisaram este pequeno planeta azul.
Poucas serão as pessoas que tiveram a plena consciência da imensidão do tempo que a Terra já atravessou, e muito menos da incomensurabilidade do espaço, do Universo que nos rodeia.
Um mundo pleno de contrastes, um mundo onde atrocidades desumanas acontecem em Sudão, Chade, Colômbia, Birmânia, Tibete, faixa de Gaza; onde a fome leva milhões de crianças que nunca tiveram oportunidade de conhecer alguma coisa boa que fosse; um mundo onde as guerras alimentam interesses, um mundo onde as religiões ainda não se entendem, respeitam mutuamente, incompreensivelmente gerando-se ódio contrapondo paradoxalmente aos seus mais elementares princípios; um mundo onde os meios de comunicação manipulam e subjugam o pensamento crítico das pessoas como meio de controlo por parte de governos; um mundo de puro consumismo alimentado por repetitivas manobras publicitárias; um mundo frio e cruel onde milhares de multinacionais apenas vêem o lucro como fim para as suas acções independemente do seu impacto no ambiente, independemente de uma pequena alteração das suas acções poder afectar a vida de milhões de pessoas sem posses; um mundo sem consciência global humanitária, onde mesmo muitas das organizações ditas humanitárias parecem impotentes ou mesmo apanhadas na malha de interesses económicos; um mundo onde os políticos são arrogantes, insensíveis aos problemas sociais, um mundo onde a Ciência não está a ser capaz de responder a todos os desafios, apesar da evolução tecnológica que estamos a viver, um mundo da informação que parece estar cega ao outro lado duro da Humanidade: os milhões que perecem e dão um grito, um eco de pedido de ajuda, no qual se perde, duramente, no meio dos interesses económicos, no meio da corrupção, da impotência… estamos num mundo que parece egoísta, cego, insensível.

A evolução com sentido de Humanidade nunca se deu… será utópico pensar num mundo perfeito, mas pelo menos… com alguma dignidade para com seres humanos que tanto sofrem, poderíamos fazer algo.
Não digo que teremos todos de abraçar essa responsabilidade, cada um de nós poderá ter preocupações próprias o que será natural. Mas tendo esta consciência, não podemos ficar indiferentes.
Olhando a Terra do espaço: é naquela bola azul, naquelas porções de terra em que tudo isto sucede.
Na nossa casa que mais parece um asilo, em que cada um parece olhar para o seu umbigo. Não faz sentido um mundo assim!

Este é um mundo feito de aparências. Quando chegam as alturas festivas, como a que se aproxima agora, todos se lembram do outro lado, hipocritamente, fazendo-se assim passar por pessoas de carácter, ou aquando festivais de cariz benemérito quando por trás a verdade é outra.
É este o mundo de milhares de milhões de anos no qual o Homem ainda mostra preconceitos de cor, sexo, religião… é este o mundo de hipocrisia onde estamos… é este o mundo onde os recursos esgotam a um frenesim esgotante, é este o mundo que temos no terceiro lugar a contar do Sol..

Ir conquistar outros planetas, como Marte, como forma de meta, de aparente superioridade a nada conduz enquanto não tivermos, começarmos a ter plena consciência humanitária global verdadeira e efectiva.

Do fundo do coração, desejava, ingenuamente ou não, que este fosse um mundo de mais justiça onde ela não existe (ou quando existe, tentam subvertê-la), um mundo onde a fatalidade parece omnipresente, desejava que fosse um mundo mais liberto de preconceitos. Talvez se houvesse uma consciência dos que mandam — talvez esta mensagem que escrevo (seria pedir muito?) devesse ser dirigida aos dirigentes principais do mundo, será alguma vez possível mudar a mentalidade, será possível alguma vez criar a verdadeira sinergia — para um outro mundo diferente.
O mundo seria bem melhor com o conhecimento verdadeiramente partilhado, com menos crenças, com menos preconceitos, com menos interesses económicos.

Vista do espaço, a Terra é um maravilhoso ponto azulado mesclada de vórtices de manchas brancas, onde, por vezes, deixam entrever a porção castanha que nós pisamos. E, em breve, tudo isto terá sido apenas um bafo no tempo cósmico.

Deveríamos dignificar melhor a nossa presença efémera.

Que projectemos a nossa consciência na imensidão do Universo, não sejamos pequenos na consciência como a Terra o é no Universo.

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