(este é um sketch feito por Galileu que mostra Neptuno)
Nos últimos dias têm saído várias notícias sobre a possível descoberta de Neptuno por Galileu, 234 anos antes de oficialmente o planeta Neptuno ter sido descoberto!
Galileu viu o planeta Neptuno, mas não o conseguiu identificar correctamente.
Isto acontece por vezes na ciência, e oficialmente nomeia-se como descobridor aquele que identifica correctamente os objectos (ex: planetas extrasolares).
Escrevi um artigo no Ciência Hoje. Leiam o artigo, clicando aqui.
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As mais recentes notícias astronómicas dizem-nos que Galileu descobriu o planeta Neptuno em 1613. Esta seria uma extraordinária surpresa histórica! Neste artigo tentaremos dar um contexto histórico a esta descoberta.
Desde a antiguidade que se conhecem seis planetas: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno. Estas eram as “estrelas errantes” no céu, e pensava-se que seriam os únicos existentes.
Até que William Herschel decidiu procurar extraterrestres na Lua. Mas como isso não dava dinheiro, o trabalho que ele tinha do Rei George II era, sobretudo para procurar estrelas duplas.
Em 1871, viu algo no céu que o espantou e pensou ser uma nebulosa. Mas como o objecto se movia, então pensou ser um cometa. E comunicou a descoberta deste novo cometa à comunidade astronómica. Surpreendentemente, o “cometa” afinal era um novo planeta no sistema solar: Úrano!
Curiosamente, já outros no passado tinham visto este planeta: John Flamsteed em 1690, 1712 e 1715, James Bradley em 1753, Tobias Mayer em 1756, e Pierre Le Monnier viu-o 12 vezes (!) de 1760 a 1770. Mas todos eles pensaram que se tratava de uma estrela!
Úrano tinha umas discrepâncias no seu movimento em órbita do Sol. Várias hipóteses foram propostas para explicar esse comportamento estranho. A explicação mais convincente foi que existiria um novo planeta para lá da órbita de Úrano.
Com o auxílio da matemática
Em 1845, o britânico John Couch Adams, utilizando somente a matemática, conseguiu calcular a existência e posição do novo planeta. Mas nem James Challis, do Observatório de Cambridge. nem George Airy, do Observatório Real de Greenwich, fizeram o favor ao Adams de olhar pelo telescópio e provar que o novo planeta estava lá. Assim, Adams não tinha como provar que os seus cálculos estavam correctos.
Ao mesmo tempo, o francês Urbain Le Verrier também andava a fazer cálculos para prever a posição do novo planeta. Em 1846 escreveu um artigo científico com esses cálculos que davam uma posição próxima daquilo que Adams tinha previsto uns meses antes – mas que, àparte Adams, Challis, e Airy, ninguém tinha conhecimento.
Airy leu o artigo de Le Verrier e pediu a Challis para procurar o planeta no céu, porque a descoberta dele seria um triunfo para a astronomia britânica. Challis assim o fez. A 12 de Agosto de 1846, Challis tirou várias fotografias ao céu onde constavam centenas de estrelas. Não conseguiu discernir Neptuno. Viu-o, mas pensou que era uma estrela! John Herschel (filho de William Herschel) também o tinha visto em 1830 e Michel Lalande em 1795, mas ambos também pensaram tratar-se de uma estrela!
Entretanto, Adams decidiu tornar público e oficial os seus cálculos, e daí decidiu ir apresentá-los numa conferência astronómica a 15 de Setembro de 1846, mas enganou-se nas datas e quando chegou lá a conferência já tinha acabado! Por isso, o mundo continuou a não ter conhecimento dos resultados de Adams. Le Verrier pediu a alguns observatórios para procurar o novo planeta no sítio que os seus cálculos tinham previsto, e a 23 de Setembro de 1846, Johann Galle and Heinrich D’Arrest, no Observatório de Berlim, descobriram o novo planeta.
O novo planeta foi chamado de Neptuno e a sua descoberta foi um triunfo para a matemática, já que tinha sido previsto por ela. A descoberta de Neptuno é creditada a ambos, Adams e Le Verrier.
Controvérsia recente
Mas agora surgiu uma nova controvérsia relacionada com Neptuno. David Jamieson, físico da Universidade de Melbourne, estudou as anotações de Galileu e diz que o descobridor das 4 grandes luas de Júpiter também observou o planeta Neptuno.
Segundo anotações e desenhos de Galileu, enquanto observava Júpiter e as suas luas por um telescópio, perto do maior planeta do nosso Sistema Solar, Galileu Galilei observou o planeta Neptuno por três vezes: a 28 de Dezembro de 1612 o astro pareceu quieto no céu daí que Galileu pensou tratar-se de uma estrela; a 6 de Janeiro de 1613 Galileu desenhou um misterioso ponto negro sem qualquer legenda, que está bem no sítio onde se sabe agora que Neptuno se encontraria; e a 27 de Janeiro de 1613 tornou a ver o mesmo ponto, mas pensou que se trataria de uma estrela, apesar de parecer ter-se movido em relação a outra estrela no céu
Ou seja, Galileu observou Neptuno 234 anos antes da sua descoberta oficial. Desenhou Neptuno nas suas anotações. E foi a primeira pessoa a detectar o movimento do novo planeta! Mas incompreensivelmente pensou tratar-se de uma estrela.
Porque será que Galileu não pensou que aquele ponto seria um novo planeta? David Jamieson está a estudar outros documentos de Galileu de modo a tentar responder a essa pergunta. No entanto, a mim parece-me que isso se devia à “prisão mental” ao paradigma da época. Mesmo os audazes e os que pensavam criativamente, como foi o caso de Galileu ou Einstein, têm sempre alguns pressupostos dos quais não se querem/podem livrar, porque a criatividade não resulta do anarquismo.
Naquela época toda a gente tinha a certeza da existência de somente 6 planetas nos céus. Por muito que o Heliocentrismo e o Renascimento trouxessem uma abertura da mente a novas ideias, algumas continuavam bem vincadas. A ideia dos seis planetas era uma delas.
Daí que vários astrónomos viram os planetas Úrano e Neptuno antes das suas descobertas oficiais, mas todos eles pensaram tratar-se de estrelas ou cometas, nunca imaginando que poderiam existir outros planetas no sistema solar (essa era uma ideia que nem sequer se punha). Galileu foi somente um dos astrónomos que caiu nesse erro.
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