Entrevista sobre novos exoplanetas

Foi anunciada a descoberta de 30 novos planetas por uma equipa de astrónomos da qual faz parte o português Nuno Santos. Com o objectivo de esclarecer a relevância desta descoberta o Nuno Santos concedeu amavelmente uma pequena entrevista ao astroPT.org.

[astroPT.org] O espectrógrafo HARPS (High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher) está em funcionamento no Observatório de La Silla, Chile, desde 2003. Porque foram necessários 6 anos até se poder anunciar esta descoberta ?

[Nuno Santos] Pode parecer fácil descobrir um planeta, mas não podemos menosprezar o esforço necessário. Na prática são precisas muitas medidas, muita confirmação e, no caso de planetas de longo período, é necessário medir durante vários anos. Note-se no entanto que já foram anunciados muitos planetas descobertos pelo HARPS. Estes não foram os primeiros. (nota do astroPT.org: na realidade, desde que entrou em funcionamento o HARPS descobriu um total de 75 exoplanetas).

[astroPT.org] O programa de observação do HARPS parece incluir estrelas de tipo solar, estrelas com baixa abundância de metais e anãs vermelhas. Pode falar-nos um pouco sobre o porquê desta variedade ?

[Nuno Santos] O HARPS tinha como objectivo responder a várias perguntas, e para cada uma foram criadas várias amostras de estrelas. Os resultados agora apresentados incluem estrelas de cada uma destas amostras. A maior parte dos planetas foram descobertos numa amostra (a maior) que tinha como objectivo descobrir mais e mais planetas e com isso determinar a distribuição estatística dos diferentes tipos de planetas. Outra amostra tinha como objectivo perceber o tipo e frequência dos planetas em torno de estrelas pobres em “metais”. Finalmente, uma terceira amostra tinha como objectivo estudar a formação de planetas em torno de estrelas de pequena massa (anãs vermelhas).

[astroPT.org] Para além do número de novos planetas anunciados, qual a importância desta descoberta ? O que nos diz sobre o tipo de planetas que existem em torno de estrelas do tipo solar ?

[Nuno Santos] Este anúncio foi feito para “resumir” os resultados do HARPS nos últimos 5/6 anos. Numa frase, estes resultados (no global) confirmam-nos que os planetas são algo muito comum na nossa galáxia, não só os planetas gigantes, mas também os neptunos e as super-terras. São excelentes notícias.

[astroPT.org] Este anúncio incluiu três planetas detectados em torno de estrelas com baixa abundância de metais. O tipo de sistemas planetários que vemos em torno destas estrelas é diferente dos que vemos em torno de estrelas com um conteúdo em metais semelhante ao do Sol ?

[Nuno Santos] A frequência de sistemas planetários parece ser mais baixa, mas não é ainda claro se são diferentes. Há uma tendência para que este tipo de sistemas tenha planetas de longo período. Isto faz com que seja necessário mais tempo para confirmar planetas em torno destas estrelas.

[astroPT.org] Foram também anunciadas 2 novas anãs castanhas. Curiosamente o número de anãs castanhas descobertas com a técnica da velocidade radial é bastante pequeno. O que é que isso nos diz relativamente aos processos de formação das anãs castanhas e dos sistemas planetários ?

[Nuno Santos] Há uma clara falta de anãs castanhas com período orbital relativamente curto (até alguns anos) a orbitar estrelas de tipo solar. Ou seja, ou temos estrelas binárias ou temos aquilo que chamamos agora de sistemas planetários. Esta falta de objectos intermédios sugere que os planetas conhecidos não são uma espécie de estrelas falhadas, mas sim algo que se formou por um processo físico diferente das estrelas. Isso tem implicações para a nossa compreensão dos processos de formação de planetas.

[astroPT.org] Com base nestes resultados e no que se sabe actualmente, pode dizer-se que o Sistema Solar é um sistema planetário típico ?

[Nuno Santos] É difícil de dizer, mas à medida que os estudos continuam começamos cada vez mais a descobrir planetas gigantes de longo período, mais parecidos com os do nosso Sistema Solar.

[astroPT.org] Pode descrever-nos o ESPRESSO, o seu novo projecto ? Em que medida irá superar o HARPS e porquê ?

[Nuno Santos] O ESPRESSO tem como objectivo medir a velocidade radial das estrelas com uma precisão de 10 cm/s (nota do astroPT.org: actualmente o HARPS atinge uma precisão máxima de 0.97 m/s). Isso permitirá detectar planetas do tipo terrestre na zona habitável de estrelas de tipo solar, e é algo que o HARPS dificilmente conseguirá.

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