Planetas Infernais

Na 215ª reunião da American Astronomical Society (AAS) uma equipa de astrofísicos liderada por Brian Jackson do Goddard Space Flight Center da NASA apresentou um estudo sobre a possível evolução do exoplaneta CoRoT-7b, a primeira Super-Terra descoberta pelo método dos trânsitos e anunciada há cerca de um ano.

Há 15 anos atrás, a primeira população de exoplanetas a ser descoberta foi a dos chamados “Júpiteres Quentes”, planetas maciços muito próximos das suas estrelas hospedeiras. Mais recentemente, começaram a ser descobertos numerosos planetas com massas e densidades mais próximas dos planetas telúricos no nosso Sistema Solar e aos quais se deu a designação de Super-Terras. Estes planetas orbitam as suas estrelas hospedeiras a distâncias comparáveis às dos “Júpiteres Quentes”.

Brian Jackson e a sua equipa ficaram intrigados com a possibilidade de haver alguma relação entre estes dois tipos de planetas. Talvez as Super-Terras agora descobertas não sejam mais do que os núcleos densos e expostos de “Júpiteres Quentes” que se evaporaram ao longo de milhões ou milhares de milhões de anos. Estes corpos celestes designam-se de planetas ctónicos e a sua existência foi prevista há já vários anos pela teoria. A observação de extensas núvens de gás em torno de “Júpiteres Quentes” como o HD209458b, parece confirmar que pelo menos alguns destes planetas perdem uma parte significativa das suas atmosferas. Já agora, o termo ctónico vem do Grego e quer dizer literalmente “da Terra”. O termo era aplicado frequentemente a divindades do inferno mitológico.

Para estudar a possibilidade referida a equipa realizou uma simulação da evolução da Super-Terra CoRoT-7b. O dito planeta orbita uma estrela, cuja idade se estima em 1.5 mil milhões de anos, em pouco mais de 20 horas. A simulação modela a perda de massa do planeta e as variações na sua órbita ao longo do tempo. As forças de maré no sistema gradualmente circularizam e diminuem o tamanho da órbita do planeta. Por sua vez, a maior proximidade à estrela provoca uma maior perda de massa do planeta. Por outro lado, à medida que a massa do planeta diminui, as forças de maré referidas diminuem, bem como os seus efeitos na órbita do planeta. Trata-se de uma teia complexa de interações.

Os resultados da simulação foram surpreendentes. Aparentemente, o CoRoT-7b terá tido inicialmente uma massa próxima de 100 vezes a da Terra, aproximadamente a massa de Saturno, e terá orbitado a estrela hospedeira a uma distância 50% superior à actual. Por outras palavras, o CoRoT-7b terá iniciado a sua vida como um “Júpiter Quente” pouco maciço e a sua forma actual corresponde apenas ao núcleo exposto e fortemente irradiado desse planeta inicial — um planeta ctónico.

Este estudo aponta assim para a possibilidade de que algumas das Super-Terras e Neptunos descobertos recentemente orbitando muito próximo das suas estrelas hospedeiras sejam mais exemplos desta população de planetas infernais.

O artigo original está aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.