Os restos mortais de Nicolau Copérnico foram reenterrados este sábado dia 22 de Maio numa catedral em Frombork (Polónia), onde o cientista tinha servido como clérigo, tendo as cerimónias sido lideradas pelo ArcebispoJozef Kowalczyk, primeiro núncio apostólico da Polónia (desde a II Guerra Mundial).
Quando passam 467 anos após a sua morte, Copérnico foi finalmente enterrado num túmulo identificado.
Este túmulo encontra-se marcado por uma lápide de granito preto gravada com um mapa do sistema solar.
Durante a cerimónia, o Arcebispo de Lublin Jozef Zycinski, criticou os excessos da Igreja relativamente às teorias de Copérnico.No século XVI,a Igreja condenou as ideiasde Copérnico sendo queo livro de Copérnico”De Revolutionibus Orbium Coelestium” constava da lista de livrosproibidos pelo Vaticanotendo sido retiradodo Index em 1835. Este livro foi publicado já no fim da vida de Copérnico, que sempre fez tudo para adiar a sua publicação, tendo recebido uma cópia impressa no dia em que faleceu.
Recorde-se queo Papa João Paulo II, de origem polaca, já tinha reconhecido também o mérito científico de Copérnicoem 1999 após visitar o local de nascimento do astrónomo em Torun.
Astrónomo,matemático,médico eclérigo, Copérnico e o seu modeloheliocêntrico tiveram uma profunda influência no desenvolvimento da Ciência e da Astronomia em particular. Tal como muitos outros padres e leigos de Frombork, Copérnico foi enterrado num túmulo sem identificação debaixo do piso da catedral de Frombork.
A história da descoberta dos restos mortais de Copérnico é digna de uma história de detectives. Durante dois séculos, diversos pesquisadores tentaram descobrir em vão o túmulo do famoso cientista, tendo sido apenas encontrado em 2005.
Numa pesquisa sistemática e penosa, Jerzy Gassowski e a sua equipa do Instituto de Antropologia e Arqueologia em Pultusk (Polónia Central), localizaram os restos mortaisde Copérnico na base de um dos 16 altares da Catedral de Frombork. O crâneo e osossos encontrados do que parecia ser um indivíduo do sexo masculino na casa dos 70 anos, foram enviados para um laboratório da polícia forense de Varsóvia para ser feita uma reconstruçãopor computador do rosto do individuo encontrado.A reconstrução gerada por computador condizia com a figura de Copérnico, mas a certeza só poderia ser obtida com testes precisos de DNA. Infelizmente uma tentativa de reconstrução da árvore genealógica de Copérnico falhou pelo que não era possível encontrar alguém para comparação genética. No entanto, Goran Henriksson, um astrónomo da Universidade de Uppsala na Suécia teve umaideia brilhante: era sabido que durante a guerra do séc. XVII entre a Suéciaea Polónia, tinha sido levado um espólio pelos suecos para a Suécia. Nesse espólio encontrava-se o livro “Calendarium Romanum Magnum” de Johannes Stoeffler publicado em 1518 e que tinha pertencido a Copérnico durante muitos anos. Goran Henriksson teve a ideia de ir à biblioteca da Universidade procurar o livro. Ao analisarem o livro, verificou-se que continha restos de cabelo, pelo que cientistas suecos e polacos compararam o DNA destes restos de cabelo com o retirado de um dente do crâneo encontrado na catedral de Frombork, tendo obtido um resultado positivo.
Deste modo foi possível confirmar com um elevado grau de certeza de que se identificou onde se encontrava os restos mortais de Copérnico, tendo sido possível finalmente colocá-los num túmulo devidamenteidentificado e prestar uma última homenagem a este grande homem de Ciência.
1 comentário
Acho muito bem que os nossos ilustres antepassados tenham jazigos dignos de serem contemplados… Não é tão bom visitar uma catedral e poder apreciar um bocado do corpo ou algum osso daqueles cujos feitos ficaram imortalizados? Ir à capela do tesouro, em Pádua e, no nicho central, contemplar o admirável relicário do ourives Giuliano de Florença, guardando a Língua incorrupta do nosso S. António? Ou passar na Igreja de Santa Cruz em Varsóvia e poder ver o coração de Chopin dentro de um frasco com álcool? E que tal fazer uma petição para convencer a Fundação Mozarteum a procurar, no seu espólio, os cabelos do Sr. Mozart? Não me parece nada bem que os seus ossos andem ao Deus dará numa vala comum do cemitério de são Marcos em Viena… Até já estive a pensar fazer uma viagem ao Kruga park e dar a comer uma porção do meu corpo às hienas. É que segundo os estudos da Dr Lucinda Backwell foram encontrados cabelos humanos com cerca de 200.000 anos no cocó fossilizado desses mamíferos da família dos Hyaenidae. Quem sabe se não ficará também algum osso meu imortalizado para a posteridade? Escreveu Galileu, em Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano, acerca do elogio das grandes invenções do espírito humano: “…mas todas estas invenções surpreendentes, de que altura não serão dominadas pelo espírito daquele que imaginou o meio de comunicar os seus mais secretos pensamentos a qualquer outra pessoa, esteja ela separada dele por uma muito longa distância ou por um muito longo intervalo de tempo, de falar aos que estão nas Índias, as que ainda não nasceram e não nascerão antes de mil. Ou dez mil anos? E com que facilidade! Pela combinação de vinte caracteres sobre uma folha. Que a invenção do alfabeto seja portanto o selo de todas as belas descobertas humanas.” É, portanto, deixar os ossos do pessoal em paz e contentarmo-nos em apreciar o conhecimento que esses Homens nos proporcionaram e que chegaram até nós através da escrita. Até porque como profetizou o cosmógrado Savinien de Cyrano, “ O Sol dia a dia se liberta e se purga dos restos da matéria que alimenta o seu fogo. Mas quando tiver consumido totalmente a matéria de que é composto, expandir-se-á de todos os lados para procurar outro alimento, e propagar-se-á a todos os mundos que já tinha construído antes, em especial aos que estiver mais perto. Então esse grande fogo, refundindo todos os corpos, relança-los-á de qualquer maneira de todos os lados como antes, e tendo-se pouco a pouco purificado, começará a servir de Sol aos outros planetas que irá gerar ao lança-los fora da sua esfera”… para este evento faltam apenas cerca de 7.5 mil milhões de anos! Nessa altura nenhuma relíquia ou jazigo terão importância, mas o conhecimento acumulado pela Humanidade poderá subsistir no Universo viajando à velocidade da luz sob a forma de zeros e uns…