Evidências de grafite em amostras da Apollo 17 mostram o dramático passado do sistema solar interior há 3,9 bilhões de anos

O astronauta Harrison Schmidt coletando amostras na missão Apollo 17. Crédito: NASA

O astronauta Harrison Schmidt coletando amostras na missão Apollo 17. Crédito: NASA

Quase 40 anos depois da última missão tripulada à Lua, Apollo 17, o programa espacial da NASA Apollo continua a produzir descobertas intrigantes.

Os humanos não põem os pés na Lua desde 14 de dezembro de 1972, quando os astronautas Eugene Cernan e Harrison Schmitt, da missão Apollo XVII deixaram a superfície lunar para retornar ao lar. Afortunadamente, os astronautas Schmitt (o primeiro e único geólogo a pisar na Lua) e Cernam, haviam recolhido 110 kg de material lunar, a maior quantidade de rochas e solo lunar já coletada em uma missão, antes de dirigir-se de volta a Terra.

Evidências de grafite em rocha lunar revelam a história dramática da Lua e do Sistema Solar Interior há 3,9 bilhões de anos. Crédito: NASA

Estas amostras lunares ainda rendem novos insights sobre a história da Lua, como foi evidenciado em artigo publicado na edição de 02 de julho da revista Science, afirmando ter encontrado a primeira evidência sólida de grafite em uma amostra lunar. O grafite é uma forma familiar de carbono, comumente usado na fabricação de lápis.

Andrew Steele, astrobiólogo da Instituição Carnegie em Washington e colegas pesquisadores analisaram uma amostra da Apollo XVII com uma técnica chamada espectroscopia Raman, a qual fornece detalhes mais precisos da composição química do material analisado.

Os pesquisadores encontraram dezenas de partículas de grafite em uma pequena mancha escura da amostra, em uma área de apenas 0,1 milímetros quadrados, assim como sete rolos de carbono, em formato de agulha, conhecidos como ‘bigodes de grafite’. Esta não é a primeira vez que o carbono é encontrado na Lua, outras amostras pesquisadas revelaram traços deste elemento introduzido pelo vento solar e também contidos em compostos de hidrocarbonetos. No entanto, estas bolsas discretas de grafite em micro-escala parecem ser uma rara descoberta.

A hipótese de uma possível contaminação terrestre das amostras de Apollo tem sido considerada como altamente improvável, dado que os depósitos de grafite estão contidos sob a superfície da amostra e os bigodes de grafite somente são formados em temperaturas extremamente altas, temperaturas estas que a amostra não foi submetida desde a sua formação.

Evidências do último grande bombardeamento?

Os pesquisadores concluem que as inserções do grafite nas amostras foram causadas pelo impacto de um antigo meteorito, provavelmente durante um período de intenso bombardeio que ocorreu no Sistema Solar Interior há 3,9 bilhões de anos, conhecido como o Grande Bombardeamento Tardio (LHB – Late Heavy Bombarment). As crateras lunares são indubitavelmente um valioso registro do evento LHB, cujos efeitos aqui na Terra foram apagados em grande parte pela erosão e regeneração geológica que se processa na superfície do nosso planeta.

Os fragmentos de grafite, afirmou Steele, “são basicamente restos de poeira rica em carbono de um meteorito que continha esse elemento, ou dióxido de carbono que pode ter se condensado a partir de um gás”, liberado por um impacto. Se o cenário acima demonstra ser este caso, os bigodes e as partículas de grafite podem ser fragmentos intactos do meteorito que escavou a bacia de impacto Serenitatis perto do local de pouso da Apollo XVII.

Paul Spudis, cientista lunar do Instituto e Planetária e Lunar em Houston, que não esteve envolvido nesta nova pesquisa, disse que o grafite parece realmente têm uma origem violenta, mas mas não está totalmente claro se o impacto efetivamente tenha ocorrido. “Eu diria que a interpretação da origem desse material é razoável”, disse Spudis. “Provavelmente trata-se do remanescente de um impacto.” Mas ele acrescenta que o objeto massivo impactador pode não ter sido o mesmo que escavou a Bacia Serenitatis. Ele e um colega escreveram um artigo em 1981, sugerindo que o derretimento das rochas lunares coletadas durante a missão Apollo XVII pode ter sido causado por múltiplos eventos.

Seja qual for o caso, é evidente que os recursos científicos fornecidos pelo programa Apollo estão longe de se esgotar. Os desenvolvimentos de técnicas mais sensíveis de análise química e microscopia serão usados em novas análises das amostras lunares existentes, no futuro próximo. São boas notícias, considerando que nenhuma nação parece estar próxima de voltar a enviar o homem à superfície lunar nos próximos anos. “Há ainda muito a aprender com essas amostras lunares”, disse Steele. “Elas representam um rico tesouro de dados geológicos que os cientistas vão estudar, por gerações.”

Harrison Schmidt perto da Split Rock (Apollo 17) O Cientista-astronauta Harrison Schmidt perto de uma grande rocha durante uma exploração da superfície lunar por ele e companheiro astronauta da Apollo 17, Eugene Cernan. Esta grande rocha foi chamada “Split Rock” (Pedra Rachada). Cientistas analisaram amostras tiradas da Split Rock e concluíram que ela foi formada por solidificação de material de impacto. Isto quer dizer que Split Rock foi formada por rocha derretida, lançada pelo impacto de um meteorito. Ao fundo você pode ver também o jipe lunar que foi utilizado pelos astronautas para se deslocarem para longe do local de pouso e coletar amostras lunares.

Harrison Schmidt perto da Split Rock (Apollo 17) O Cientista-astronauta Harrison Schmidt perto de uma grande rocha durante uma exploração da superfície lunar por ele e companheiro astronauta da Apollo 17, Eugene Cernan. Esta grande rocha foi chamada “Split Rock” (Pedra Rachada). As amostras tiradas da Split Rock indicam que ela foi formada por solidificação de material de impacto. Isto quer dizer que Split Rock foi formada por rocha derretida, lançada pelo impacto de um meteorito. Ao fundo você pode ver também o jipe lunar que foi utilizado pelos astronautas para se deslocarem para longe do local de pouso e coletar amostras lunares.

Fontes

O artigo acima é uma tradução livre (com adaptações editoriais e complementos), baseada nas fontes abaixo:

  1. Scientific American: Getting the Lead out: New Look at Apollo 17 Moon Sample Reveals Graphite Delivered by a Lunar Impactor por John Matson
  2. Science AAAS: Graphite in an Apollo 17 Impact Melt Breccia por A. Steele, F. M. McCubbin, M. Fries, M. Glamoclija, L. Kater e H. Nekvasil

1 comentário

    • Carlos Oliveira on 23/07/2010 at 19:29
    • Responder

    moondaily.commoondaily.com…

    Oi ROCA,

    Esta descoberta nas rochas da Apollo 17, não está ligada a esta na Apollo 14?

    http://www.moondaily.com/reports/Caltech_Team_Finds_Evidence_Of_Water_In_Moon_Minerals_999.html

    http://www.moondaily.com/reports/Water_On_The_Moon_Is_Widespread_999.html

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