NASA descobre vida baseada no arsénico!

bacterias

A NASA comunicou que iria fazer uma conferência de imprensa, como podem ler neste post.
Os maus jornalistas começaram logo com especulações sem sentido, e resolveram disseminar mentiras sobre esta conferência, como podem ler no meu comentário 6. Foram erros jornalísticos semelhantes a estes.

Toda a vida que conhecemos necessita de 6 elementos, um deles sendo fósforo: carbono, oxigénio, hidrogénio, azoto, enxofre, e fósforo.
Ou seja, desde SEMPRE foi dito que TODA A VIDA necessita de FÓSFORO.

Mas foi agora descoberto no lago Mono, na Califórnia, um mundo cheio de extremófilos (vida em condições extremas).
E nesse lago, foi descoberta uma bactéria que, em vez de fósforo, pode utilizar arsénico, que é extremamente tóxico!
Esta bactéria utiliza o arsénico no ADN, como todo o resto da vida na Terra utiliza o fósforo!
(notem que a bactéria também tem fósforo, mas em quantidades tão reduzidas que não é importante para ela. O arsénico sim é que é utilizado!)

O arsénico, não por coincidência, pertence ao mesmo grupo do fósforo na tabela periódica dos elementos. Ou seja, têm “propriedades semelhantes“.

Não só esta bactéria é diferente de todo o resto da vida descoberta até hoje, mas utiliza um elemento que pensávamos ser impossível para a vida!

Ou seja, ao contrário das mentiras de vários jornalistas, NÃO foi descoberta qualquer vida extraterrestre.
Foi sim descoberta “vida completamente diferente” aqui na Terra, como já tínhamos dito no post anterior a anunciar esta conferência.

Aliás, já tínhamos basicamente dito qual seria a descoberta, sem obviamente a confirmar. Até tínhamos divulgado este artigo. E ainda este e este.

lago mono

Deixem-me ser claro: a bactéria descoberta não utiliza o arsénico no lago na Califórnia. No lago, ela utiliza o Fósforo.
Mas o que esta equipa provou, em laboratório, é que a bactéria pode viver do arsénico.
A equipa substituiu o fósforo pelo arsénico, e a bactéria não só sobreviveu, mas reproduziu-se.
Ou seja, para a bactéria, foi como se nada acontecesse, provando ser possível existirem bactérias que podem usar o arsénico em vez do fósforo para sobreviverem.

E isto é que é o mais importante! Porque é a 1ª vez que descobrimos algo do género.
Tal como diz o Davies: “Este organismo tem uma capacidade dupla. Ele pode crescer tanto com fósforo quanto com arsénico. Isto o torna peculiar, mas ainda longe de ser alguma forma verdadeiramente ‘alienígena’ de vida, pertencente a uma outra árvore da vida, com uma origem distinta.”

São obviamente precisas mais provas.
O próximo passo será encontrar vida que possa utilizar só o arsénico, sem qualquer fósforo (esta bactéria ainda tinha vestígios de fósforo).

E sobretudo é necessário a seguir encontrar uma bactéria que não só tenha a capacidade para usar o arsénico, mas que realmente o use nas suas condições ambientais.
(não é certo que esta bactéria o conseguisse fazer no lago, já que na presença do líquido, o arsénico poderia se “partir”)

Mas mesmo assim esta descoberta já é fantástica.

Esta é uma descoberta extremamente importante na biologia, na química, e na astrobiologia!
Não só “deita ao lixo” o que sabíamos sobre a vida na Terra (precisavam sempre de fósforo), mas aumenta enormemente as possibilidades de existir “vida diferente” no Universo!
Por exemplo, em Titã, existe o ambiente “ideal” para bactérias como estas… e não para o tipo de vida que andávamos lá à procura!

felisa lake

Claro que algumas pessoas vão ficar desapontadas, porque não foram descobertos ETs verdes com armadas de naves a vir na nossa direcção.
Mas esse desapontamento, deve-se somente às mentiras divulgadas pelos maus jornalistas.
Para a ciência, esta é uma descoberta excepcional!!!

Em termos de origens da vida, por exemplo, esta descoberta é magnífica, porque isso pode querer dizer que a vida pode ter origens diferentes. (não no caso desta bactéria, porque a sua origem foi como as outras, modificando-se depois no laboratório, e provando que subsiste com arsénico, sem precisar do fósforo)
A vida, sendo baseada no ADN, agora ficou-se a saber que esse ADN pode ter constituintes diferentes. O que é surpreendente!

E isto, claro, aumenta imenso as possibilidades da vida ter origem noutros lados, sob outras condições, e mediante uma química diferente…

Descobrimos finalmente vida completamente diferente (“alien”) de tudo o que já tínhamos descoberto até agora!
E, por incrível que pareça, essa vida foi descoberta… na Terra!!

As mentes dos astrobiólogos expandiram-se, como eu disse no meu outro post.
Agora, as possibilidades são enormes para outros tipos de vida!

Como diz a Felisa Wolfe-Simon, a investigadora principal: “A nossa descoberta lembra-nos que a vida tal como a conhecemos pode ser muito mais flexível do que geralmente assumimos ou mesmo que podemos imaginar. Se um microorganismo pode fazer uma coisa tão inesperada aqui na Terra, o que poderá fazer a vida que nós ainda não conhecemos?

felisa

Para lerem mais:

O jornal Público já escreveu um bom artigo sobre esta descoberta, aqui. A única coisa que critico é que se deviam retratar de terem enganado os leitores no último artigo que escreveram sobre este assunto (ao dizerem que a NASA se recusou a divulgar mais detalhes, e ao dizerem que havia a possibilidade de ser vida numa lua de Saturno).
O mesmo se passou com o Expresso, que depois de uma notícia com graves deficiências, divulgou agora a notícia da Lusa, que está mais consentânea com a realidade, aqui.
O site Viver a Ciência, na pessoa do André Levy, também já comentou este assunto, aqui.
Leiam no Diário de Notícias, aqui.
Leiam também no Ciência Hoje, aqui.
O site da TSF também escreveu sobre isso, aqui.
Podem também ler as nossas “discussões” na lista, sobre este assunto, aqui e aqui.

Leiam este artigo do Inovação Tecnológica, que está muito bom.
Leiam este artigo do Estadão, que está bom.
Artigo na Folha.
Artigo no UOL.
Artigos na Terra: lago, forma de vida, metabolismo diferente, substituição por arsénio, outros elementos, vida ET irreconhecível.

O artigo da NASA está, aqui e aqui.

O artigo na Nature, está aqui.

O artigo da Science, está aqui.

Leiam estas quotes.
Leiam o Space Daily, aqui, aqui, aqui, e aqui.
Podem ler também, na CNN, BBC, FOXNews, NASA Watch, Washington Post, Telegraph, New York Times, On Orbit, Mediaite, Cosmos, Daily Galaxy (comentários), Scientific American, Universe Today, Centauri Dreams, Astrobiology Magazine.

Visit msnbc.com for breaking news, world news, and news about the economy

Toda a conferência da NASA (os últimos 6 minutos são excelentes, porque são “no terreno”):


75 comentários

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  1. “A questão é que a NASA devia ter anunciado apenas aquilo que realmente descobriu (…), sem especular sobre vida extraterrestre nem dar margem a especulações desta natureza, declarando abertamente que não se trata de vida extraterrestre desde o primeiro momento em que um jornalista levantasse a hipótese.”

    < -- Arthur, isso é pura desatenção. A Mary Voytek começa assim: "a conferência vai ser sobre vida na Terra". A Felisa diz que procura excepções à regra, e que o fez num lago da Califórnia (não noutros planetas). O que o Arthur queria que elas dissessem mais??? Queria que elas dissessem algo deste género: "Arthur, olhe que não é sobre aquilo que está a pensar". E fizessem isso para todas as pessoas no mundo? Será que espera que a NASA responda a todos as pessoas que diariamente inventam milhões de especulações diferentes? Não faz sentido esperar isso... É uma investigação que pode afectar a origem da vida, na Terra ou noutro lado qualquer. Abre possibilidades. E é uma investigação financiada pela astrobiologia. Daí se poder especular, por exemplo, para Titã. Quanto à notícia do médico, totalmente de acordo. Nisto estamos de acordo! Isso foi um erro dos Media (interpretaram mal a comunicação da NASA, que é frequente), e um erro da NASA que porventura deveria reformular as palavras de anúncio da conferência (não que elas estivessem mal, porque eu que sou da área, percebi-as bem, como pode ler aqui no blog, 3 dias antes da conferência) http://www.astropt.org/2010/11/30/incrivel-descoberta-na-astrobiologia/

    Obviamente que eu não me iria pôr a imaginar que o médico fez isso, devido à Wikileaks ou à Raínha de Inglaterra. Não preciso imaginar conspirações, quando isto não passa de um erro humano.

    Se existem motivações económicas? Quase de certeza. Mas isso todos nós temos, e são perfeitamente compreensíveis.

    P.S.: quanto à extensão do comentário, por mim não tem problema nenhum. Como certamente já reparou, eu tenho por costume escrever bastante, seja em post ou comentário
    😀

  2. Ai, ai, ai… desculpa a extensão do comentário anterior. Estava divertido argumentar e nem me dei conta do quanto escrevi. Ciência e política são duas paixões, quando surge a oportunidade de falar das duas eu perco a noção do tempo. 🙂

  3. Carlos, vou tentar explicar meu ponrto de vista por outro ângulo, usando um argumento que já usei lá no meu blog.

    Digamos que eu seja pesquisador da NASA e pesquise regeneração de tecidos sob condições de ausência de gravidade. E digamos que eu esteja envolvido com uma linha de pesquisa que utilize polvos como organismos experimentais. Então, no decorrer do meu trabalho, eu encontro um polvo que, sei lá, é capaz de respirar pelos tentáculos. Uma capacidade metabólica nova em toda a história da malacologia, uma novidade fantástica!

    Agora eu vou anunciar o que descobri de duas maneiras distintas.

    Anúncio 1:

    – Descobri um polvo que é capaz de respirar pelos tentáculos.

    Anúncio 2:

    – Descobri um polvo que é capaz de respirar pelos tentáculos. Será que existem polvos extraterrestres com a mesma capacidade?

    Entendes o que estou tentando explicar?

    Tu apresentaste uma falsa dicotomia:

    “Mas pensem um pouco sobre SE vocês fossem o director da NASA, o que decidiam fazer?

    – fazer conferências frequentemente para mostrar o vosso trabalho (que é pago pelo povo, por isso esse povo tem direito a saber o que vocês fazem)?
    – OU acabar com as conferências de imprensa, porque sempre que dizem algo controverso, os maus jornalistas vendem logo as notícias de forma errada?”

    Não é essa a questão.

    A questão é que a NASA devia ter anunciado apenas aquilo que realmente descobriu, que é uma bactéria de um grupo comum com uma capacidade fisiológica interessante porém não inesperada, sem especular sobre vida extraterrestre nem dar margem a especulações desta natureza, declarando abertamente que não se trata de vida extraterrestre desde o primeiro momento em que um jornalista levantasse a hipótese.

    Vou inventar um outro exemplo pra te fazer olhar a coisa toda por outro ângulo.

    Digamos que tu fosses fazer algum exame de saúde de rotina e eu fosse o médico. 🙂

    Eu peço alguns exames de sangue e marco uma consulta de retorno. No dia da consulta de retorno, duas horas antes de vir a meu consultório, tu tens uma consulta com um oftalmologista. Para fazer o exame oftalmológico é necessário dilatar as pupilas, então não podes dirigir e pedes para alguém te trazer de carona. Essa pessoa é de tua confiança e entra no consultório contigo.

    Estás com a imagem de toda a cena em mente? Agora vem a bomba.

    Com os teus exames em mãos, eu olho para a papelada, olho para ti, olho para a papelada, olho para a pessoa que está contigo, olho para a papelada, olho de novo para ti… pigarreio com ar de preocupado… e digo: “Carlos, eu tenho uma notícia importante sobre tua sexualidade, será conveniente falar sobre isso agora?”

    Ih! E agora?

    Oh, céus!

    Consegues te colocar mentalmente nesta situação?

    Eu aposto meu pescoço como em um segundo duas preocupações virão a tua mente:

    1) O que será?

    2) O que a pessoa que está me acompanhando estará pensando que será?

    Dois segundos depois, o estrago estará feito.

    Na tua cabeça e na cabeça da outra pessoa, as mais absurdas hipóteses surgirão, já que sexualidade é um terreno extremamente fértil para a imaginação. E, por algum motivo maluco que nem Freud explica, o simples fato de a outra pessoa especular mentalmente a respeito já é problemático.

    Mesmo que mais nada seja dito, aposto que nesse momento já estarias querendo torcer o meu pescoço.

    Então eu digo: “Carlos, você tem uma mutação na enzima gama-2-bebêprodutase. Significa que você tem uma probabilidade de ter filhos gêmeos duas vezes maior que a média.”

    Ou seja, nada que te faça arrancar os cabelos. Mas aposto que gostarias de me arrancar o pescoço.

    Isso porque o modo como eu conduzi a conversa neste exemplo hipotético deu margem a especulações possivelmente constrangedoras, ainda que apenas por alguns segundos. Eu deveria ter dito de primeira OU que queria ter uma conversa privada OU que “meu caro, você gostaria de ter filhos gêmeos? Parece que você tem uma probabilidade um pouco maior que a média de ter filhos gêmeos devido a uma mutação em uma enzima”.

    Idem no caso da NASA. Eles não deveriam ter dado margem a especulações, mas deixaram que elas se multiplicassem como gremlins na chuva durante dois dias e continuaram a alimentar a histeria falando em ETs por mais alguns dias. Não foi correto proceder assim.

    O ponto que jamais teremos certeza absoluta é a motivação. Tu acreditas que provavelmente a motivação tenha sido econômica, eu acredito que provavelmente a motivação tenha sido política. É até possível que ambos estejamos certos.

    Aposto um par de polvos gêmeos. 🙂

  4. Sérgio,

    E com essa crítica, eu concordo 😉

    Mas acho perfeitamente compreensível.
    Anda toda a gente em cima do Obama que querem que ele faça as coisas para os grupos deles. Quem fica a perder? É sempre a ciência.
    Os únicos que se “sentam lá atrás” à espera de migalhas, são sempre os cientistas. Todos os outros grupos estão sempre a fazer pressão para terem mais fundos.

    Por isso, torno a dizer, se vocês fossem o Administrador da NASA, o que fariam?
    – continuavam a ter um papel de coitadinho, e invariavelmente ficavam a “arder”, porque teriam sempre menos fundos que todos os outros?
    – OU faziam uma maior pressão sobre a opinião pública, com alguma publicidade à mistura, porque é o sentimento dessa opinião pública que poderá modificar o sentimento do Governo em dar-vos alguns fundos para a vossa investigação, que no futuro poderá ter vantagens enormes?

    Sinceramente, não me choca a publicidade com esse objectivo.

    E sinceramente, vejo com bons olhos trazer os debates científicos para a opinião pública, porque, como disse o Benner, é uma das formas de educar as pessoas para o processo da ciência.

  5. Carlos,

    Eu li o artigo mas não vi a conferência. Penso que este trabalho só foi publicado na Science porque partiu de investigadores do Instituto de Astrobiologia da NASA. Não houve muito cuidado na sua revisão; houve sim um interesse no seu mediatismo. A NASA seguiu essa lógica ao anunciar uma descoberta que afinal poderá ter a importância de tantas outras nesta área.

    Vamos ver o que é que as próximas semanas nos reservam.

  6. Deixem-me só acrescentar mais uma coisa:

    A Zita falou, e bem, no Steven Benner. O Benner é um crítico, como ela disse.
    Então será que a NASA o calou?
    Não!
    A NASA convidou-o para a conferência de imprensa!!!
    Podem ver, no post, a conferência de imprensa da NASA onde ele fala alguns minutos.

    Ou seja, a NASA tentou ser balanceada, dando a entender que existem críticas.

    E ainda é criticada por isso? Por mostrar o processo da ciência em acção?

    Nas palavras (mais ou menos) do Steven Benner:
    “I’m the curmudgeon here to throw a wet blanket on things (…) I brought my Richard Feynman props with me. He said ‘science begins when you distrust the experts.’ But this is an exceptional scientific result, (…) This is an exceptional result that needs exceptional evidences (…) The process of science is a clash of contradicting cultures, to bring out the truth (…)”
    Ou seja, ele diz mais ou menos isto:
    “O meu papel nesta conferência é de ser o crítico desta descoberta.
    Esta descoberta é excelente na química.
    É um resultado extraordinário, por isso precisa de evidências extraordinárias.
    Este é o processo da ciência – culturas, opiniões, evidências científicas contraditórias, que no final da discussão levam-nos mais perto da verdade.”

    A Pam Conrad, que falou a seguir, também disse que este resultado não prova que existirá vida assim, mas simplesmente é uma experiência que mostra que existe a possibilidade do arsénico poder ser tolerado (utilizado) por organismos noutros ambientes. Abre possibilidades, mas não encerra o debate.

    Onde é que existem conspirações ou diversões secretas?
    Onde é que existem notícias com espectáculo?

    Este é o processo normal da ciência!
    E estas são conferências de imprensa regulares da NASA a dar conta das suas investigações.

    Não inventem segredos, onde eles não existem.
    Não ataquem a NASA, quer ela tenha cão quer ela não tenha.

    Se a NASA escondesse os resultados, vinham teorias da conspiração sobre existir algo secreto… como a NASA decidiu abrir a discussão (como faz nas frequentes conferencias de imprensa), com os resultados e alguns críticos sentados à mesma mesa, então a NASA é na mesma criticada com planos secretos e com espectáculos…

    enfim…

    Sinceramente, parecem-me críticas que não se aplicam.
    As críticas científicas, à descoberta da bactéria, aplicam-se sim.
    Mas estas críticas não científicas que existiriam sempre, quer a NASA guardasse segredo, quer abrisse o jogo (como o fez), são feitas por quem não se quer colocar no papel da NASA…
    Isto é a minha opinião, claro. E como tal, pode estar errada.

    E tal como disse atrás, parecem-me fruto, em parte, de não perceberem o processo da ciência, aberto para toda a gente, na actual sociedade da informação.

  7. Acho proveitoso todos estes comentários e o debate que está aqui a haver.
    Mas pensem um pouco sobre SE vocês fossem o director da NASA, o que decidiam fazer?

    – fazer conferências frequentemente para mostrar o vosso trabalho (que é pago pelo povo, por isso esse povo tem direito a saber o que vocês fazem)?
    – OU acabar com as conferências de imprensa, porque sempre que dizem algo controverso, os maus jornalistas vendem logo as notícias de forma errada?

    – ter as discussões/críticas às claras na sociedade da informação actual e assim toda a gente poder ter acesso ao processo científico?
    – OU ter primeiro as discussões “por trás de portas fechadas”, e só anos depois anunciar o resultado das descobertas, após todas as críticas serem limadas?

    ou seja, se fossem vocês, preferiam:
    – ser criticados por andarem a esconder o que fazem, e haveria logo bloggers a criar teorias da conspiração com intenções secretas?
    – OU ser criticados porque abrem o processo para todos verem e algumas pessoas ficam chocadas porque cientistas criticam outros cientistas, num processo que é o normal na ciência? (e alguns bloggers, mesmo assim, vão criar teorias da conspiração com intenções secretas, só por vocês abrirem toda a informação)

    Seja o que fôr que decidam fazer, vai sempre haver quem não compreenda…
    A NASA será sempre presa, quer tenha cão, quer não tenha…

  8. Arthur,

    Reproduzo aqui o que já lhe respondi no seu blog:

    Se ouvir a minha entrevista para a rádio percebe que eu também falei de ETs. É normal falar de ETs porque tem essas consequências. Não é nenhum golpe diversionista.
    Também é normal falar de ETs, porque é uma descoberta com fundos da astrobiologia. Ou seja, se vem desse financiamento, é normal falar-se disso. Novamente, não tem nada de diversionista.

    Também não me parece que seja dourar a pílula ou um comportamento diversionista, se algo foi dito de forma desnecessária. Se vir um post passado do astroPT, vê que os cientistas por vezes cometem erros de linguagem. Não é conspiração, não é com o objectivo diversionista, é simplesmente porque não sabem transmitir correctamente aquilo que estão a pensar. Não há qualquer razão “conspiratória” ou “diversionista” por trás. Simplesmente, não sabem falar melhor.
    Veja este exemplo:
    http://www.astropt.org/2010/07/30/exoplanetas-os-erros-jornalisticos/
    Foi o mesmo caso deste anuncio da NASA.
    Os cientistas (e a NASA) transmitem as coisas correctamente (em termos científicos), mas as definições das palavras são diferentes para eles e para o público em geral, e depois há más interpretações.
    Curiosamente, este também foi um exemplo de mau jornalismo.

    Se se acusa a NASA de estar de conluio com o governo de modo a criar factóides diversionistas, de modo a não se dar relevancia a outros assuntos (wikileaks), então isto é criar uma teoria de conspiração.
    Imaginam-se cenários secretos que não existem, nem sequer se tem provas deles.
    “Teoria da conspiração é um termo usado para referir qualquer teoria que explica um evento histórico ou actual como sendo resultado de um plano secreto”

    A NASA, no caso da conspiração dos factóides diversionistas, é inocente.
    O que se passa é que a NASA quer que sejam os seus cientistas a transmitir as notícias. E esses cientistas muitas vezes não sabem falar para o público.
    Faz-me lembrar o filme “Lost in Translation”. Ou então o livro “Homens de Marte e Mulheres de Vénus”. Não existe conspiração dos homens, nem sequer é uma manobra diversionista, eles assumirem que uma frase quer dizer algo, quando as mulheres entendem algo completamente diferente. Da mesma forma, não existe conspiração das mulheres, nem sequer é uma manobra diversionista, quando as mulheres dizem uma coisa, e os homens entendem algo completamente diferente.
    Aqui passou-se o mesmo.
    A NASA diz algo (a anunciar uma conferencia de imprensa que é frequente), e houve pessoas que assumiram que se disse outras coisas.

    E o pior foi os maus jornalistas darem relevância a quem interpretou mal as palavras da NASA (interpretaram que se ia falar de vida ET).
    Porque foram esses maus jornalistas que levaram milhares de outras pessoas a entender tudo mal.

    Mas olhe que os bons jornalistas, falaram com a NASA e a NASA explicou tudo direitinho… 2 dias antes da notícia sair.
    Como vê, não houve qualquer manobra diversionista da NASA, nem sequer tentou “vender algo” que não era.

    A única “conspiração” que pode haver, e há de certeza, é que isto é um pouco de golpe publicitário da NASA para conseguir mais fundos para essa área. Mas isso é normal, não se pode chamar “conspiração” ou golpe “diversionista”. Porque aliás, a NASA faz frequentes conferências de imprensa, como agora.
    Assim como qualquer cientista acha o seu trabalho bastante importante e gosta de ver o seu trabalho reconhecido por mais gente. Por isso, pode ter havido um “dourar a pílula”, como o Arthur disse, nesse sentido. Mas acho compreensível quem trabalha gostar de ver o seu trabalho reconhecido por todos. Seja um cientista, um agricultor, ou o Presidente do país. Ou seja, mais uma vez não tem a ver com conspirações ou golpes diversionistas.

    É tudo perfeitamente explicável.
    Todas estas interpretações erradas resultaram de erros humanos, que se compreendem bem. Não é nada secreto, ou com objectivos diversionistas.

    abraço!

  9. Eu sou o autor do artigo linkado na resposta 33. Esta não é a primeira vez que alguém diz que meu artigo contém uma “teoria da conspiração”, mas existe um equívoco de interpretação nisso. Permitam-me reproduzir a explicação que postei em meu blog:

    *** Início da citação. ***

    Tem gente me jogando pedras nos bastidores me acusando de “sensacionalismo” e de inventar uma “teoria da conspiração”.

    Ora, “sensacionalismo” foi o que a grande mídia fez, não eu. Sensacionalismo é passar dois ou três dias dizendo que será anunciada uma descoberta fantástica, provavelmente vida extraterrestre, quando na verdade só descobriram que uma bactéria comum conseguiu se adaptar a um ambiente normalmente inóspito.

    E “teoria da conspiração” seria se eu dissesse que toda a grande mídia está envolvida em um esforço diversionista para abafar a repercussão do caso WIKILEAKS, o que é bem diferente de dizer que um governo de um país cuja história recente é rica em episódios diversionistas protagonizou um episódio diversionista e a grande mídia, ignorante em ciências e desprovida de senso crítico, engoliu e repassou.

    Conhecendo bem a biologia (sou biólogo) e estando a par do que rola na política estadunidense (leio jornais e não sou desmemoriado) não é difícil somar dois e dois.

    O tom ácido do artigo em relação aos jornalistas não é tanto em função do desconhecimento deles em relação à biologia, mas em função da completa falta de senso crítico: na maioria dos casos eles simplesmente repetiram tudo como a NASA anunciou, sem sequer ler direito o que estavam repetindo, como mostra o fato de continuarem a repetir bobagens sobre “uma nova forma de vida”.

    *** Fim da citação. ***

    Percebem a diferença entre um golpe diversionista do governo estadunidense e uma teoria conspiratória envolvendo amplos setores da grande mídia? Eu acredito que tenha havido muito do primeiro e não do segundo. Não vejo a menor vantagem para a grande mídia de diversos países em abafar um assunto que pode vender muito jornal e espaço publicitário no rádio e na TV, mas vejo grande vantagem para o governo estadunidense em lançar factóides diversionistas neste momento para tentar desviar a atenção da grande mídia do caso WIKILEAKS.

    CERTAMENTE a NASA não é inocente neste processo. Seus pesquisadores falaram o tempo todo em astrobiologia, vida extraterrestre e aliens. Não importa que para o observador atento eles tenham usado estes termos em sentenças cautelosamente estudadas para não comprometerem suas carreiras, o fato é que com esse comportamento totalmente desnecessário (porque trata-se tão somente de um caso de uma bactéria que desenvolveu uma adaptação interessante, não tem nada a ver com ETs) eles induziram uma imensa onda especulativa. Se isso não é dourar a pílula para chamar a atenção, o que seria?

  10. Eu tenho dificuldades em perceber as críticas à NASA.
    A NASA, tal como eu disse, fez uma conferencia de imprensa, como faz regularmente, para anunciar as descobertas que vai fazendo (ainda há pouco foi sobre um buraco negro, por exemplo).
    São coisas normais, que a NASA faz regularmente.

    Nas notícias que é se viu titulos explosivos de que a NASA iria noticiar a descoberta de vida extraterrestre, quando a NASA nunca disse isso.
    Logo, nesse caso a culpa não foi da NASA.

    Quanto ao que a Zita diz, e que terá razão, é o processo da ciência em movimento.
    Uns cientistas (sejam da NASA ou não) fazem umas afirmações, e os outros existem para rebatê-los.
    E o debate, científico, irá certamente continuar.
    Isto é ciência.

    Acho que as críticas se baseiam de pensarem que ciência é religião – que só por alguém (cientistas) dizer algo, então os outros têm que beijar a mão dela.
    E essas pessoas ficam alarmadas quando vêem críticas feitas por cientistas.
    Isto é ciência, meus amigos. É a crítica e o debate científico.

    O que me parece é que vocês ainda não se adaptaram à sociedade da informação.
    Antes, estes debates faziam-se atrás de “portas fechadas”, e vocês só viam o resultado final (a resposta final passados meses, ou anos).
    Agora, estes debates fazem-se para toda a gente ver, seja em blogs, em sites de ciência, seja onde fôr.
    Daí que se vai percebendo melhor o processo da ciência, que é feito de anúncios, críticas, contra-críticas, contra-contra-críticas, etc, num debate continuado.
    Sempre foi assim (alguém tem noção do teor dos debates, com insultos, já do tempo de Galileu?), e sempre será assim.
    Isto é ciência! Isto é o processo científico em movimento. É o processo que tanto sucesso tem tido! E que agora está mais aberto a que toda a gente o veja.

    Não é preciso imaginar que houve erros propositados de modo a causar “espalhafato” (espalhafato esse feito pelos jornais e não pela NASA).
    O que existe sim é uma cientista que acredita nos seus resultados, a NASA que acredita nos seus cientistas, e como se faz sempre na ciência, existem outros cientistas a duvidar dos resultados. É a dúvida constante que é o cerne da ciência.
    Até Einstein (que estava certo) teve críticas enormes à sua teoria. Assim, como os da Fusão a Frio (que estavam errados) tiveram críticas enormes.
    É o normal processo da ciência…

  11. «Quando dizes: “eles nem sequer provam que o Arsenio foi incorporado no “esqueleto” da molecula de ADN (inves do fosforo).”
    Então como responderias ao comentário do Marco F. em cima?
    Ele diz:
    “Pelo que entendi o arsénico não é apenas no DNA, é em tudo o que normalmente levaria fósforo, desde proteínas até ao NADPH e ATP. Estas bactérias devem possuir uma maquinaria enzimática significativamente diferente das formas de vida que utilizam o fósforo, daí o arsénico não ser tóxico para elas.”»

    Atenção que eu disse isso apenas baseado no press release da NASA, eu não tenho acesso ao artigo original. Depois de ler a crítica da Rosie Redfield que a Zita forneceu, também fiquei com a pulga atrás da orelha… Vamos ver quais são os próximos desenvolvimentos. A crítica é parte integrante do processo científico, se for uma “treta” vai acabar por ser refutada mais cedo ou mais tarde.

  12. Tens razão Jorge. Tal como eu disse ao Carlos na Lista, se a NASA começa a fazer passar gato por lebre só prejudica a Ciência e começa a perder a credibilidade junto da opinião pública e isso não é nada bom!

    Independentemente de precisarem de financiamento ou não, a honestidade científica está em primeiro lugar e os cientistas da NASA ou a administração ou lá quem se lembra de lançar notícias com pompa e circunstância tem de ter consciência que o resto da comunidade científica de estúpido não tem nada e com certeza lhes vai cair em cima se eles não são precisos e honestos nas suas comunicações.

    O caso do meteorito foi uma das maiores barracas científicas da NASA dos últimos tempos e teria merecido um Ig Nobel…

    Não quer dizer que os estudos neste caso não abordem um tema importante. Mas há que lhes dar apenas a importância devida, sem invenções à mistura e mostrando sempre uma elevada integridade científica. Se não houver este cuidado, o que fica, tal como resumiu muito bem a Zita Martins, é apenas a constatação de que a montanha pariu o rato…

  13. Eu concordo com Jorge Almeida em tudo o que ele disse.

    E não acho que os princípios da NASA sejam assim, tão ideais quanto se propaga, como “a busca do conhecimento”, pura e simples.

    Seria impossível fazer uma lista de todas as aplicações lucrativas que as descobertas da NASA geraram e ainda geram. Eu apenas não posso acreditar que essas aplicações não influenciem os projetos da NASA, e vice versa. Acho que isso seria muita ingenuidade da minha parte.

    Resumindo o que quero dizer, a NASA gera lucro, e o lucro gera a NASA, ainda que isso não seja explicitado.

    A minha crítica aponta para a decepção que um anúncio como esse pode provocar naqueles que possuem em si o forte princípio da verdade: crianças, jovens em geral. Jovens que desejam se tornar cientistas e/ou astronautas.

    O impacto que um anúncio emocionante, que depois é desacreditado, tem em alguém calejado como eu, é perto do zero absoluto (o último golpe que levei foi o ALH84001. E confesso que esse me preparou de vez para quando surgissem os demais “anúncios explosivos” da NASA).

    Já o mesmo impacto, numa criança é bem maior.

    Friso porém, que não achei grande coisa desse “achado”, nem que o mundo foi impactado por ele como foi com o ALH84001. Mas a NASA, ao meu ver, não deveria tratar as coisas desse jeito. E se amanhã anunciarem sinais de vida em Europa, só para depois alguém mostrar que “era apenas um raríssimo processo geoquímico”?

  14. Esta notícia e a interpretação que será possível haver vida extraterrestre baseada no arsénico, fez-me pensar no Principio da Plenitude.

    Existem 3 principios filosóficos na base de todas as discussões de vida extraterrestre. Por toda a história, as razões para se acreditar em ETs eram muitas vezes com base num destes 3 principios:

    Principio da Plenitude: tudo o que pode existir, vai existir. Se algo é possível, então certamente irá existir. Ou seja, se existe a possibilidade, então de certeza que ela se tornará real. É um principio muito utilizado na religião, e também pelos pseudos.

    Principio da Mediocridade: não somos especiais de forma alguma. A Terra não está no centro do Universo, nem será o único planeta com vida. Nem sequer poderá ser o único planeta com vida inteligente. É um princípio que se admite que começou com Copérnico, e desde aí tem tido cada vez uma maior importância, sendo “provado” cada vez em maior quantidade pela ciência.

    Principio da Uniformidade: as leis da natureza são iguais em todo o Universo. Logo, por exemplo, a lei da gravidade funciona da mesma forma aqui e “do outro lado” do Universo. Da mesma forma, a lei da vida funciona da mesma forma aqui e em qualquer outro planeta ou galáxia. Não há forma de provar, simplesmente assume-se isso. É um género de axioma, que não se prova, mas assume-se/acredita-se/consente-se.

    Estes 3 principios não são científicos. São filosóficos, baseados em crenças pessoais.
    O próprio Carl Sagan, que acreditava piamente neles, assumiu que estes princípios não podem ser utilizados para justificar cientificamente algo.

    Eu, por exemplo, sigo religiosamente o Principio da Mediocridade. É uma das minhas bases pessoais para tudo o que penso.
    Daí ser contra Multiversos, principios antrópicos, antropocentrismo, geocentrismo psicológico, etc.
    Mesmo com a quântica, e a posição de importância do observador, mesmo assim, tal como Einstein, penso que haverá um nível mais abaixo que explicará isso, não sendo afinal necessário esse observador.

    Ora, no caso da notícia sobre esta bactéria, penso que as consequências badaladas (mesmo por mim) baseiam-se somente no Principio da Plenitude. E assim os argumentos serão falaciosos.
    Ou seja, assumindo que a bactéria é de arsénico, então só porque se conseguiu modificá-la em laboratório, imagina-se logo que ela deverá existir em várias outras partes do Universo.
    Ou seja, se pode existir, então irá existir – Princípio da Plenitude.

  15. Bem, se forem formas de vida… lá voltamos à conversa sobre o meteorito ALH84001
    😉

    Penso que o Universo é independente de nós, mesmo que isso nos custe muito ao ego
    🙂
    Eu, como Einstein, acredito numa realidade independente, mais “básica” que a quântica. Acredito em regras determinadas, e não em possibilidades
    😛

    Porque assume que a NASA fez de propósito?
    E mesmo que o tenha feito de propósito por motivos económicos, para ser financiada, porque isso é assim tão mau?
    A NASA não está na actividade em que está para fazer dinheiro, ou para vender livros.
    O objectivo é a exploração do Universo, fazendo evoluir o conhecimento humano (logo, o seu objectivo é diferente da Ufologia).
    A NASA está dependente das leis do mercado livre e depende também dos investidores. Além de depender, claro, do dinheiro dos impostos dos americanos.
    Logo, para chamar investidores tem que dizer aquilo que anda a fazer, e mostrar que investigações anda a efectuar.

    Se são investigações com resultados dúbios… isso é outro problema.
    E caberá aos outros cientistas e aos investidores analisarem se realmente essa investigação vale a pena.

    abraço!

  16. Realmente, eu falava de algo como traços de oxigênio ou dejetos de bactérias, pois acredito que ETIs (ETs Inteligentes) não têm razões para desejar ser encontrados (via mensagens-rádio, ou mensagens-laser por exemplo). Muito pelo contrário, prefeririam uma existência cada vez mais discreta ou “sombria” (melhor, em termos de estratégia de exploração e defesa). Seria essa a explicação para a matéria escura (bases ETs “discretas” no vazio do espaço)?

    Alguém já disse sobre isso de mensagens ETs que, “na selva, é melhor ouvir primeiro que sair gritando”. Eu concordo e acho que todos os ETIs pensam o mesmo, pois é lógico (isso explicaria o insucesso do projeto SETI).

    E se a NASA só quis gerar discussão sobre o assunto e com isso, render mais pesquisas, digo que ela vai pelo mesmo caminho da ufologia, que tudo afirma, depois deixa o ônus da prova para os céticos. E enquanto o povo discute, ufólogos vendem mais livros e dvds de vídeos de ufos. Acho que aí cabe bem a frase que diz que “algo bom não pode vir de algo mau e vice versa”. Se as mentiras já não são coisas más, então o que será da verdade?

    Quanto a Marte, creio que mesmo com nossas sondas e rovers por lá, se descobrirmos vida, ou fósseis de antigos seres vivos, só se terá certeza disso depois de enviarmos outras sondas, especialmente preparadas para analisar essa descoberta mais a fundo.

    E quanto a árvores e o universo eu pergunto: se não existisse nem ao menos um ser consciente no universo, ele existiria? Será que o universo depende de seres como nós para se fazer existir? Será a consciência fruto do universo ou o universo fruto da consciência?

    Será que amanhã a NASA vai anunciar que as “nanobactérias” também são mesmo formas de vida?:

    http://is.gd/ie0mJ

    E aí? Será?

    :O

  17. scientificamerican.comscientificamerican.com…

    Olá Zita,

    Antes de mais, agradeço-te o comentário.

    Bem, tendo em conta que TU és a especialista no assunto, e tendo em conta que deste uma referência de outra especialista do assunto, pouco mais há a dizer.
    🙂

    Li todo o post da Rosie Redfield.
    Achei absolutamente fantástico.
    Não percebi tudo ao pormenor, porque não trabalho nessa área, mas percebi bem todas as críticas feitas e o porquê delas.

    Algumas das críticas penso que já estavam expostas em cima. Outras já tinha ideia, do que fui lendo desde que a notícia saiu.
    Por exemplo:
    – ser uma bactéria mudada e não propriamente se ter encontrado algo novo na natureza.
    – a bactéria reproduzir-se, “viver”, melhor com fósforo do que arsénico. E como a natureza tende a escolher as “melhores” opções, tendo em conta a energia disponível, é normal que na prática na natureza se continuar a escolher fósforo.
    – ainda haver fósforo (penso que é crítica do Steven Benner).
    – a bactéria já era conhecida nestes ambientes. Já se falava do arsénico nestes casos há uns anos.
    – não ser estável na solução aquática (penso que é crítica do Steven Benner).
    – pertencer à mesma árvore da vida que nós (ou seja, não é vida “completamente diferente”).
    etc…

    Mas as outras críticas dela, realmente não fazia a mínima ideia.
    Por isso, obrigado por as partilhares aqui!

    Quando dizes: “eles nem sequer provam que o Arsenio foi incorporado no “esqueleto” da molecula de ADN (inves do fosforo).”
    Então como responderias ao comentário do Marco F. em cima?
    Ele diz:
    “Pelo que entendi o arsénico não é apenas no DNA, é em tudo o que normalmente levaria fósforo, desde proteínas até ao NADPH e ATP. Estas bactérias devem possuir uma maquinaria enzimática significativamente diferente das formas de vida que utilizam o fósforo, daí o arsénico não ser tóxico para elas.”

    E como responderias ao Cristiano, que diz que isto é uma manobra da NASA para ter um maior financiamento, já que isto será uma notícia similar à conferência do Clinton quando disse que se descobriu vida no meteorito ALH 84001?

    E como explicas que vários sites de ciência, escritos por pessoas de ciência, digam que isto é uma descoberta fantástica?
    Ou, colocando de outra forma, para ti esta descoberta não tem interesse?
    E caso tenha interesse, qual é esse interesse?

    E como explicas que o Ron Oremland, que era um dos grandes críticos da Felisa Wolfe-Simon, pensando que ela era “maluca”, tenha-a convidado para o grupo dele, aceite os resultados, e é um dos nomes no paper?
    http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=arsenic-life

    Na tua opinião, será esta descoberta:
    – um golpe publicitário da NASA?
    – um engano inocente dos cientistas?
    – um engano propositado dos cientistas?
    – uma mistura de vários?
    – o artigo poderá conter a interpretação mais “factual” dos resultados?
    – nenhuma das hipóteses acima, mas sim outra?

    Bem, seja o que fôr, isto é excelente. É ciência em movimento. É o processo da ciência no seu melhor.
    Ou seja, descobre-se algo, critica-se essa descoberta, certamente que vai haver críticas às críticas, melhora-se o processo, e assim sucessivamente, até se chegar a um resultado melhor – que seja aceite e reproduzível por toda a comunidade científica.

    Novamente, obrigado Zita!

    P.S.: se tiverem dúvidas em quem “acreditar mais” (se no que eu digo no post/na entrevista ou no que a Zita criticou), neste assunto de microbiologia não há dúvidas. A Zita tem mais razão. Ela é que é a especialista. Por isso, eu próprio, entre o que eu penso e o que ela diz, vou pelo que ela diz
    😉

    1. A comprovar-se o que diz a autora desse blog, isto assim mina a credibilidade da NASA sempre que se refere a questões como o meteorito ou agora o DNA com arsénio incorporado… Para a próxima que surgir algo a anunciar de explosivo, já não acreditamos… e à terceira é de vez.. 🙂

      Contudo, o artigo original devia ser disponível de forma gratuita dado o impacto que tem, independemente de ser ou não verdadeiro. É uma boa oportunidade de ver a ciência a funcionar: os argumentos dos autores, e, do outro lado, o dessa autora do blog que contraria os resultados obtidos…

  18. Ola Carlos,

    tenho passado os ultimos dias a corrigir uma serie de erros relacionados com esta descoberta. Basicamente, isto tudo resume-se a descoberta de mais um extremofilo, nada mais. Qualquer Quimico com formacao em Bioquimica/microbiologia ao ler o artigo da Science ve claramente que eles nem sequer provam que o Arsenio foi incorporado no “esqueleto” da molecula de ADN (inves do fosforo). E isto foi tambem dito na conferencia de imprensa pelo Prof. Steven A. Benner… Nao vou entrar em detalhes extensos aqui, mas o artigo seguinte (escrito por uma Prof. de Microbiologia) demonstra muitissimo bem que nada foi provado pela NASA, e que o trabalho tem uma serie de falhas

    http://rrresearch.blogspot.com/2010/12/arsenic-associated-bacteria-nasas.html

    Definitivamente a montanha pariu o rato… Uma vez que este blog e lido por tanta gente, e um favor a nivel da educacao (e a nivel de outros orgaos de comunicacao) que os factos sejam de facto mostrados como sao.

  19. Vi também este artigo, em que se fala de conspirações:
    http://arthur.bio.br/2010/12/03/charlatanismo/anuncio-da-nasa-e-factoide-para-abafar-caso-wikileaks

    Pessoalmente, não concordo nada com a premissa desta opinião: de que o anúncio desta descoberta foi para retirar visibilidade ao caso da Wikileaks.

    Primeiro porque já tinha visto esta ideia disseminada num Fórum qualquer por um americano, em que ele comparava isto à conferência de imprensa do Clinton sobre o meteorito marciano. Ele dizia que esse anúncio foi para retirar visibilidade ao caso da Monica Lewinsky.
    Ora, isto é completamente errado, porque o anúncio do meteorito foi em 1996, e o caso da Mónica foi em 1998.

    Em segundo lugar, eu estive a ver a TV americana.
    Não houve qualquer “abafamento” do caso Wikileaks.
    Em 8 horas a ver um determinado canal, teria-se no máximo 5 minutos a falar da bactéria descoberta, 3 horas a falar do material da Wikileaks, 3 horas a falar dos votos no Congresso sobre a subida ou descida dos impostos, e 2 horas a falar na falta de emprego.

    Logo, não existe aqui qualquer conspiração dessa natureza.

    O que existe sim é muito simples:

    Existe pouco dinheiro para distribuir. Andam todos os lobbies e mais alguns em cima do Obama para ele lhes dar o dinheiro que existe anualmente.
    A NASA obviamente que quer também dar a conhecer o que faz, e por isso faz conferências frequentes para divulgar as suas descobertas. Logo, não só por uma divulgação natural, mas também para poder receber mais financiamentos, foi feita esta conferencia a dar conta de uma vida “estranha”.
    Ou seja, a NASA faz estas conferencias frequentemente por 2 objectivos:
    – dar a conhecer a todos aquilo que vai descobrindo.
    – dar a conhecer aos financiadores para poderem continuar a financiá-la.
    Isto não é uma “conspiração”. É algo perfeitamente às claras, visível, e que toda a gente sabe.

    Neste caso específico desta notícia, o que houve desta vez – a diferença para as outras conferencias frequentes da NASA – foi algum jornalismo deplorável que se deixou levar por ideias completamente idiotas.
    Mas isso também está longe de ser uma conspiração.
    Só reflecte o péssimo nível jornalístico de alguns “jornalistas”.

  20. Enviaram-me este artigo sobre esta descoberta:
    http://sandrahanksbenoiton.wordpress.com/2010/12/03/news-from-nasalife-comes-in-other-flavors-no-kidding/

    Parece-me que começa muito bem.

    No entanto, pelo meio, passa a entrar por caminhos pseudos. Acho que a autora não percebe uma coisa muito simples: não se saber a resposta certa, não quer dizer que não se saiba o que está errado.
    Esta é uma concepção errada frequente na ciência. Pensa-se que por se descobrir uma coisa nova, então tudo o que a ciência diz de outras coisas está errado, e essas coisas podem ser verdadeiras.
    Não!
    2 + 2 = 4. A ciência pode AINDA não saber que a resposta é 4. Mas tenta chegar a essa resposta certa. Se a ciência ainda não sabe a resposta certa, quer isso dizer que outra qualquer resposta é correcta? Não!
    2 + 2 = 346 é uma resposta errada. A ciência já sabe isso.
    Pode-se saber as respostas erradas antes de saber as respostas certas.
    Daí que fazer confusão entre as duas, como se o que a ciência diz passasse a ser mentira, é puro erro.
    Por cada Einstein, existem milhares de parolos com ideias que se provam completamente erradas.
    A ciência é o nosso único filtro objectivo para separar os Einsteins (ideias correctas) dos milhares de pseudos (ideias incorrectas) que pululam no nosso mundo.
    Isto foi algo que já tinha explicado aqui:
    http://www.astropt.org/2010/11/29/prahlad-jani-o-homem-que-nao-come-nem-bebe-ha-70-anos/

    Por outro lado, o artigo que referi termina muito bem ao dizer:
    “is probably more closely related to a lack of imagination in presuming we are the standard by which all must be judged.”
    Exacto!
    Farto-me de criticar a astrobiologia neste aspecto.
    Durante 200 mil anos, o Homem sempre foi a medida para toda a vida no Universo.
    Continuamos a pensar que somos o que de mais importante existe no Universo!
    Continuamos apegados ao antropocentrismo e ao geocentrismo psicológico!

  21. O ROCA é colaborador aqui no astroPT e tem muitos posts aqui também
    😉

    O que são “sinais de vida”? Oxigénio? Ou mensagem-rádio? Bactérias ou ETs inteligentes? Não cheguei a perceber…
    Porque quando você fala em Marte, e diz “sinais de vida” em Marte, esses sinais de vida serão encontrados por sondas, rovers, ou orbitadores, que já estão lá… logo, poupa-se o tempo de enviar a nave para lá… certo?

    Quanto à sua explicação da TUR (o universo só existe enquanto a pessoa existir), isso fez-me lembrar a famosa pergunta: se uma árvore cair na floresta, e ninguém ver/ouvir, será que ela caiu mesmo?
    O que também está ligado à quântica, ao gato de Shrodinger, em que só havendo a observação, existindo um observador, é que realmente o Universo “cai na real”/passa a existir dessa forma.

    abraço!

  22. A.C. (Antes de Cristiano – quando não havia nada, nem mesmo o caos)
    D.C. (Depois de Cristiano – quando o universo passou a existir de fato [pelo menos para mim])

    Realmente, eu posso usar isso. O que me faz pensar numa teoria maluca, que faz cada vez mais sentido para mim, quanto mais penso nela. O conceito é simples:

    Antes de nascermos, na prática, o universo não existia para nós (por prática entenda-se: tudo o que está diretamente relacionado com a existência do indivíduo, no caso, eu). Por mais que se diga que o universo tem 13,7 bilhões de anos, para cada pessoa, ele tem a idade que ela tem (no meu caso, apenas 38 anos, a minha idade atual). Todo o resto é o que dizem para nós desde que nascemos. Assim, na prática, o universo tem a idade daqueles que o observam, o que significa que ele tem idades diferentes, dependendo do observador (Einsten não podia ter dito isso melhor!).

    Então, por isso, acho que vou chamá-la de Teoria do Universo de Idade Relativa (TUIR), ou somente Teoria do Universo Relativo (TUR).

    Mas, deixando as alucinações de lado, as críticas que quis mostrar são essas mesmas, do site do ROCA.

    Vocês são amigos? Se forem, é uma feliz coincidência, pois visito os dois sites, o do ROCA e o AstroPT todos os dias, “religiosamente.” 🙂

    Também concordo que a vida deve existir em formas bastante diversas. Respirando metano ou quem sabe, hidrogênio mesmo (afinal, é o gás mais abundante do universo).

    E aumento a minha aposta: 3 anos no máximo.

    (a aposta é maior quanto menor é o tempo previsto, já que o risco é maior de errar)

    Acredito nisso. 3 anos para descobrirem sinais de vida em outro lugar além da Terra.

    Depois, provar que é de vida mesmo, aí vai demorar… Mesmo que esses sinais estejam em Marte, ponha-se aí mais uns seis meses (no mínimo), que é o tempo para uma nave chegar lá. Se for num exoplaneta, então,…

  23. Olá Cristiano,

    O link é para o Eternos Aprendizes, do ROCA, que traduziu artigos em inglês que já estão dados como links no post em cima.
    Mas o artigo dele não diz mais do que eu já digo no post, aqui:

    “São obviamente precisas mais provas.
    O próximo passo será encontrar vida que possa utilizar só o arsénico, sem qualquer fósforo (esta bactéria ainda tinha vestígios de fósforo).

    E sobretudo é necessário a seguir encontrar uma bactéria que não só tenha a capacidade para usar o arsénico, mas que realmente o use nas suas condições ambientais.
    (não é certo que esta bactéria o conseguisse fazer no lago, já que na presença do líquido, o arsénico poderia se “partir”)”

    Essas são as críticas, a que o Cristiano também faz referência, certo?

    Quanto ao “A.E.T.”, eu continuo a usa o A.C. 🙂
    Mas o meu A.C. é ligeiramente diferente…
    Existe um cartoon do Calvin em que ele diz que, para ele, existe A.C. e D.C., que para ele quer dizer Antes de Calvin e Depois de Calvin.
    Eu passei a usar o mesmo, mas com o meu nome: Antes de Carlos e Depois de Carlos
    😛
    O Cristiano pode fazer o mesmo
    😀

    Gostava de acreditar nesses 5 anos, mas sou mais céptico quanto a isso… é que continuamos muito limitados no que sabemos. Por exemplo, continuamos à procura de vida com oxigénio… o que para mim não faz grande sentido…

  24. Carlos, parece que há mais nessa descoberta do que consigo ver. Pelas últimas notícias, o brilho dela caiu um pouco (ainda que não se apague). Veja:

    http://migre.me/2GLwO

    Sei que ainda é um notícia importante, mas também sei que a NASA precisa muito de financiamento. Acho que o anúncio poderia ter sido um pouco mais moderado, sem tanto alarde…

    Às vezes critico de forma emotiva tais descobertas, mas isso é porque, como 110% da civilização desse planeta (mesmo que o resto dos 110% não concorde comigo), me interesso por ETs. Espero estar vivo no dia que a NASA ou outro órgão ligado a exploração espacial vier a público dizer que encontrou vida ET. Será um dia inesquecível, com certeza! Algo para marcar a história, tipo A.E.T (Antes dos ETs)/D.E.T (Depois dos ETs). Marcação que até os mais céticos usarão com orgulho.

    Acredito que isso acontecerá logo. Apostaria em no máximo 5 anos (façam suas apostas!). Mas quem sabe? Até lá, aprendamos mais sobre vida na Terra mesmo. Com arsénico ou com fósforo, tanto faz. Afinal, foi o único exemplo que nos deram… É o que temos que usar.

  25. Obrigado ROCA, vou colocar no post 🙂

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