Todos nós temos segredos.
O segredo do Bruce Wayne era ser o Batman.
Se existisse a Wikileaks na altura (fictícia), o segredo do Batman seria comunicado a todo o mundo.
Será que isso seria bom ou mau?
Há opiniões para todos os gostos…
Coloco este cartoon que recebi por e-mail, por causa da descoberta da “bactéria de arsénico”.
Tal como eu disse nos comentários 43 e 46, parece-me sobretudo que a NASA iria ser sempre criticada pela forma como fez as coisas.
Se a NASA fizesse tudo “secretamente”, continuando sem se saber quem é o Batman, e continuando sem se saber da investigação da Felisa até todas as críticas serem limadas (no normal processo científico), então a NASA iria ser criticada por estar a encobrir “informações secretas”, e as especulações sobre elas iriam ser aos milhões.
Como a NASA até decidiu expôr a identidade do Batman, expondo os resultados obtidos pela investigação da Felisa, ficando assim completamente aberto à opinião pública o processo científico de críticas e contra-críticas que se seguem, então a NASA é na mesma criticada por ter objectivos secretos ao expôr isso.
Para mim, parece-me que a NASA seria sempre presa, tendo cão ou não tendo.
Uma outra crítica, diferente, pode ser dizerem: “O Instituto de Astrobiologia da NASA (NAI) não deveria ter dito que iria divulgar a identidade do Batman, porque isso levou logo as pessoas a pensarem que ele era extraterrestre”.
Claro que o NAI existe para estudar vida na Terra e especular sobre vida noutros lados. Sabendo-se que o Batman tem capacidades acima do homem comum, é normal que o NAI esteja interessado nele, e quiçá até pensar que algo semelhante pode existir noutros planetas. Afinal, em 1835 (menos de 200 anos), imaginava-se que homens-morcego existiam na Lua.
Mas será que o NAI é culpado de haver pessoas que em vez de esperarem pela conferência, e perceberem nas entrelinhas (ou contactando a NASA directamente, que era para isso que servia o embargo!), resolveram disseminar mentiras dizendo que o Batman era um lagarto que veio do planeta Vulcan?
Pessoalmente, não me parece que a NASA seja culpada pelas especulações daqueles que nem quiseram contactar a NASA para saberem as respostas.
Uma outra crítica, diferente, pode ser dizerem: “Afinal a NASA não provou nada. Tirou a máscara e disse que era o Bruce Wayne, mas quiçá aquilo até era outra máscara e existia outra pessoa realmente por baixo da máscara do Bruce Wayne”.
Ou então dizerem: “Se calhar apanharam o Bruce Wayne e fizeram-no usar a máscara do Batman. Mas o Batman verdadeiro é outro”.
Ou então dizerem: “Já todos sabíamos que era o Bruce Wayne. Isto não é nenhuma notícia bombástica”.
Ou então dizerem: “A NASA decidiu agora divulgar a identidade do Batman, para desviar as atenções do Pinguim”.
Bem, eu posso estar aqui até amanhã a imaginar críticas.
Como vêem, podem existir milhares de críticas que podemos imaginar e especular sobre elas.
No entanto, na prática, nada muda.
O Instituto de Astrobiologia da NASA disse que tinha uma comunicação importante a fazer sobre uma descoberta que poderia afectar a procura de vida extraterrestre (neste caso do Batman, seria procurar homens-morcego na Lua, como há 175 anos atrás). Na prática o que fez foi descobrir algo na Terra (a identidade do Batman) e especular sobre se o mesmo não poderá existir noutros lugares (afinal, é o NAI, logo tem outros planetas em mente).
A NASA não tem culpa de jornalistas e bloggers começarem desenfreadamente a darem o nome de 50 pessoas em Gotham City como prováveis identidades do Batman.
A NASA não tem culpa que as pessoas, em vez de esperarem pelas respostas, comecem a especular que afinal o Batman é um lagarto do planeta Vulcan.
A NASA usou obviamente o facto de ter descoberto a identidade do Batman, como marketing promocional. Afinal, foi ela que descobriu, e para a NASA esta é uma descoberta importante (mesmo que para a pessoa comum, teria sido mais interessante ser um lagarto de Vulcan).
A NASA preferiu divulgar agora a identidade do Batman, porventura por motivos de publicidade para ter direito a mais financiamentos (para continuar a tentar descobrir a identidade dos outros mascarados), e para não ser acusada de guardar informações secretas sobre investigações que a NASA considera como importantes (se só divulgasse a informação no final de ter a certeza absoluta).
A NASA preferiu divulgar agora a identidade do Batman para o processo científico de críticas e contra-críticas naturais (porque na prática, o Batman até pode nem ser sempre o Bruce Wayne, como a NASA pensa), ser totalmente aberto à opinião pública, e ser um foco de educação para a pessoa comum de como se produz o processo científico (até se ter o resultado final aceite por todos).
Na minha opinião, parece-me uma decisão perfeitamente normal e compreensível, sem precisar haver “motivos secretos”.
Aliás, este anúncio da conferência, e os resultados da conferência, são semelhantes a muitos outros anteriormente. Não percebo as críticas ou o choque, porque este é o modo de operar da NASA. Nada foi diferente do passado (a última grande conferência foi sobre isto). Não houve nada especial/diferente agora (a não ser as especulações jornalísticas despropositadas).
6 comentários
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Fiz uma compilação das críticas de 30 pessoas da ciência, aqui:
http://www.astropt.org/2010/12/08/criticas-aumentam-a-bacteria-de-arsenico/
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No comentário 34 do post que está em link, da “bactéria de arsénico”.
Falou muito bem; gostei de lêr isto: é saber falar. Gostei muito da critica….
Onde podemos ler/ouvir a crítica feita pela Zita Martins?
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Olá,
Pensando um bocadinho melhor, e clareando as ideias, parece-me que para mim há 3 tipos de críticas:
– as secretas: que para mim não fazem qualquer sentido, porque não têm qualquer evidência a suportá-las.
– as que eu admito mas não concordo.
– as que eu até poderei concordar.
No caso das primeiras (secretas), podem ser aos milhares que se vai lendo pela net, por isso nem vale a pena falar delas.
De resto, penso que há 4 críticas principais que são as que nos devemos debruçar:
1 – A NASA divulgou resultados que não passaram por revisões científicas, e por isso poderão estar cientificamente incorrectos.
Esta é uma crítica clara, científica, e que deve ser avaliada pelos cientistas.
Esta crítica foi referida, e de forma excelente, pela Zita Martins.
Se a NASA cometeu este erro, é realmente um erro grave.
2 – A NASA não devia fazer estas conferências de imprensa, antes de ter os resultados finais. Ou seja, o processo normal da ciência, deveria continuar fechado só para os cientistas.
Esta é uma crítica que admito, mas com a qual não concordo.
Penso que na sociedade da informação em que vivemos, queremos saber o máximo de informação possível, e que essa informação seja importante.
Entender o processo da ciência, que é feito de críticas e contra-críticas, penso que é essencial. Esta é a natureza da ciência, que se faz da dúvida constante.
Em vez de só mostrar o resultado final, depois de limadas todas as críticas, como era feito antes, agora a NASA tem um entendimento educacional diferente – abrindo ao público o processo da ciência.
3 – A NASA está a dar demasiado valor à publicidade.
É outra crítica que admito, mas penso que é compreensível que a NASA queira mostrar aquilo que vai fazendo.
Os pseudos estão por todo o lado. Os lobbys estão por todo o lado. Todos eles fazem publicidade ao seu produto.
Então porque há-de a NASA continuar “cinzenta”, sem “festa”?
Por outro lado, note-se que a publicidade (conferência) a esta notícia foi igual a outras no passado. Nada foi diferente nesse sentido. A NASA operou exactamente do mesmo modo que tem feito.
4 – A linguagem da NASA deu a entender que a notícia iria ser sobre extraterrestres.
Esta foi a linguagem da NASA:
“NASA will hold a news conference at 11 a.m. PST on Thursday, Dec. 2, to discuss an astrobiology finding that will impact the search for evidence of extraterrestrial life.”
Aceito perfeitamente a crítica que em vez de “will”, deveriam ter colocado, por exemplo, “may”. Penso que seria cientificamente mais correcto. Penso que também em termos de linguagem seria mais correcto, e não levaria a tantas más interpretações. Ou seja, houve erro na linguagem.
No entanto, é preciso compreender a NASA.
O entendimento do NAI foi:
– somos nós, astrobiologia, que financiamos, logo terá consequências nessa direcção.
– se realmente bactérias podem viver do arsénico, então pode ser que noutros lados, a origem da vida tenha sido diferente da nossa (elementos diferentes). Claro que é especulação, mas com base, pensam eles, no resultado da investigação da Felisa.
Ou seja, esta é uma crítica que tem coisas correctas, é uma crítica que se pode aceitar devido ao que eu acabei de dizer. No entanto, é uma crítica que perde valor, tendo em conta que o artigo estava embargado, e quem (jornalistas) quisesse tirar dúvidas poderia contactar a NASA. Logo, as idiotices que se viu escritas nos jornais e foram ditas na TV foram culpa dos jornalistas em causa que nem sequer se dignaram a perder alguns minutos a contactarem a NASA para desfazerem as dúvidas.
Ou seja, se há culpas da NASA na forma como escreveu as coisas, para mim, há mais culpas dos jornalistas que especularam sem sentido em vez de tentarem saber mais com os especialistas.
E isto é algo que tem acontecido já por várias vezes. Por exemplo, aqui:
http://www.astropt.org/2010/07/30/exoplanetas-os-erros-jornalisticos/
Em que os jornalistas não perceberam que a palavra “candidatos” quer dizer que não estão confirmados, e por isso decidiram especular sem sentido, em vez de perguntarem aos responsáveis.
Pessoalmente, em termos científicos, quero é saber mais sobre o 1º ponto.
Pessoalmente, em termos educacionais, aplaudo o 2º ponto: abrir o processo da ciência ao público. O que não houve da parte da NASA é uma contextualização desse processo, o que pode levar a pensar que a ciência é uma bandalheira e os cientistas são maus. Ou seja, a NASA precisar explicar adequadamente esse processo, explicar devidamente a natureza da ciência.
Eu também não concordo com esse tipo de críticas. A única crítica válida a meu ver, terá a ver com a suposta falta de evidências para a afirmação de que o fósforo é substituído por arsénico no DNA e noutras biomoléculas da bactéria, uma ideia exposta em vários blogs de ciência. Mas isso também são coisas que acontecem com mais frequência do que as pessoas pensam, é como o Carlos disse algures nos comentários, antigamente estas discussões eram tidas à porta fechada e tínhamos apenas acesso ao resultado final refinado, agora toda a gente as ouve e fica com a ideia de que os cientistas não sabem o que andam a fazer…
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[…] tentei explicar o porquê da NASA ter divulgado esta descoberta, neste post, e comentário. Penso que a minha posição baseia-se numa perspectiva educacional, de defesa do processo […]