Alguns anos atrás eu trabalhava num observatório situado numa cidade do interior. Todas as semanas, durante 4 dias, haviam as sessões de observação do céu. Escolhia as constelações e os objetos conforme a época e priorizava aquelas que são as mais brilhantes para driblar a poluição luminosa que cercava as instalações.
Lógico que eu e minha equipe estávamos lá para ensinar as pessoas que visitavam o local, mas às vezes nossa maneira de passar as informações acaba gerando situações inusitadas.
Uma delas foi a de uma mulher que foi até lá para observar as atrações do dia. O atendimento foi normal e não houve nenhuma iniciativa daquela moça em perguntar algo enquanto mostrava estrelas e planetas da programação.
Ao final, saindo de sua suposta timidez, a moça resolveu perguntar quais seriam as próximas atrações. Respondi que na próxima quinzena (as atrações eram quinzenais) seria a constelação do Touro (as constelações eram usadas como referenciais para observar estrelas e objetos do céu profundo de uma região da esfera celeste). A moça prontamente perguntou quando seria observada a constelação de Peixes. Respondi que não colocaria Peixes na programação “porque ela é muito ruim de se ver. Não presta.”. Alguns segundos depois a moça retira-se do observatório sem sequer se despedir, com uma cara estranha, de poucos amigos. Como diariamente tínhamos contato com pessoas de vários tipos de comportamento, algumas educadíssimas, outras nem tanto, nem suspeitava que dali viria a bizarra reação.
No dia seguinte, à tarde, surge uma pessoa querendo falar com o responsável pelo observatório (era eu). Ela se identifica como prima de alguém que havia visitado o local e que, segundo ela, “havia sido maltratada durante o atendimento”. Estranhei o ocorrido porque naquela época somente eu fazia o atendimento no observatório, enquando que outros da equipe faziam o atendimento no museu onde o observatório ficava anexo.
Pedi maiores detalhes do episódio e finalmente veio a pérola: a moça que havia visitado o observatório na noite anterior ficou indignada quando eu disse que “não colocava Peixes na programação porque não prestava”. Demorei um pouco para tentar entender onde havia mal tratado a moça com aquela frase, porque falei na maior naturalidade, sem me exaltar. Ao ver que fiz uma cara estranha a prima explicou que a tal moça era do signo de Peixes, por isso ficou zangada quando descartou o signo dela.
Como havia dito antes, o observatório ficava num local com poluição luminosa. E mesmo com um céu bem melhor que visto das capitais, a má localização do equipamento (ficava no meio de uma praça iluminada) só permitia ver objetos dos mais brilhantes. Ainda assim, a estrela mais brilhante de Peixes tem entre 3a. e 4a. magnitude, ou seja, não tem um brilho de uma Aldebaran, Achernar ou Rigel. Que culpa eu tinha? Minha única alternativa era descartá-la e priorizar outras bem brilhantes.
Um clássico da ignorância com requintes bizarros. Ainda bem que a prima havia me avisado. E se as pessoas soubessem que eu havia excluído também da programação o Câncer e o Aquário? Podia ter levado um tiro ao sair do expediente…
6 comentários
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Luis Carlos, por acaso é um dos piores signos do Zodíaco – dito pelos astrólogos.
Mas neste caso, “não presta” quer simplesmente dizer que não se vê bem… “não presta para se ver” naquela altura naquele local.
o seu erro foi ter falado que a constelação de peixes nao prestava como se ela fosse inferior as outras!
“Eu nào sou mais de Sagitário, né?”
Não sei, por acaso mudou de habitação?? 😉
LOLLLLLLLLLLLLLL Saulo 🙂
Realmente, ainda bem que não houve mais com armas… se fosse aqui no Texas, tinha que ter mais cuidado…
😛 ehehehehe 😀
Ai de você se dissesse isso de Sagitário! Ai de você! Epa! Eu nào sou mais de Sagitário, né? Tsc, Tsc…
Não consigo entender como em pleno século XXI com toda a divulgação científica existente, as pessoas ainda se mantêm em mentalidades limitadas e governadas por superstições tolas.