A vida eclodiu replicante no planeta, sem tons de azul, há cerca de quatro mil milhões de anos.
Biomoléculas contendo simultaneamente informação e “habilidade” autocatalítica de se replicarem, no interior de bolhas primevas delimitadas por películas lipídicas, deram a toada constante para o mote replicativo assexuado na biosfera.
Desses tempos apreciamos a fidelidade na cópia eficiente e exacta da informação mais ajustada ao envolvente, capaz de garantir uma explosão exponencial de clones colonizadores da imensa solução aquosa que envolvia e arrefecia suavemente os resquícios da acresção planetária.
Ainda não encontramos fósseis terrestres desses primeiros tempos. Por isso são úteis quaisquer fósseis extraterrestres que corroborem esta hipótese e emprestem substância científica à ficção.
A replicação assexuada populou o planeta de seres unicelulares em suspensão aquosa. Cada novo átomo incorporado acrescentava excitação à duplicação até ao ajuste da estabilidade conforme à fidelidade original.
Uma chuva de elementos “supernovos”, jorrados pela explosão distante de uma supernova, causaria convulsões assexuadas muito excitantes para as bolhas replicantes.
Sob agitação constante em banho-maria” a vida terá evoluído de excitação em excitação, molecular e elementar, sempre com rima presa na assexualidade de uma exuberante mitose.
Pelo menos e tanto quanto sabemos durante uns dois mil milhões de anos, a vida pendulou assim até à incorporação, não de moléculas e elementos, mas de outras “bolhas replicantes”, num exercício deambulante de predação indiferenciada.
E, numa relação atrevida, uma bolha incorpora outra bolha até um resultado estável. A tendência entrópica controla-se num erotismo que dissolve o paradigma procariótico de um único ambiente interino. Num espasmo vesicular, a vida abraça-se em novos compartimentos intracelulares num prenúncio eucariótico.
António Piedade
(continua – primeiro de uma série de posts sobre este assunto)
2 comentários
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