O projecto HATNet (Hungarian-made Automated Telescope Network) acaba de anunciar a sua trigésima descoberta, o HAT-P-30b. O planeta tem um período orbital de 2.8 dias, 71% da massa de Júpiter e 134% do raio do mesmo planeta. Trata-se de um planeta interessante ainda por uma outra razão. Observações do efeito de Rossiter-McLaughlin demonstraram que a sua órbita é fortemente oblíqua, ou seja, está inclinada, no caso cerca de 74 graus, relativamente ao plano que contém o equador da estrela. A estrela hospedeira é mais quente e maciça que o Sol.
O primeiro protótipo do projecto HAT foi construído em 1999 na Hungria, por Gáspár Bakos, inspirado num conceito proposto pelo astrónomo polaco Bohdan Paczy?ski, durante a sua licenciatura e primeiro ano de pós-graduação, sob a supervisão de Géza Kovács e com o apoio de membros Hungarian Astronomical Association (HAA). Este protótipo consistia numa objectiva Nikon 180 mm f/2.8 ligada a uma câmara CCD com o chip Kodak KAF-0401E (resolução 512 × 768, tamanho do píxel 9 micrómetros) e foi testado de 2000 a 2001 no Observatório Konkoly, em Budapeste.
Em 2003, Bakos, agora no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, conseguiu apoios e financiamento para criar uma rede de instrumentos HAT, a HATNet. Os módulos, designados por HATs, são completamente automatizados, controlados por um computador com sistema operativo Linux, e são constituídos (desde Setembro de 2007) por objectivas Canon 200mm f/1.8 ligadas a câmaras CCD com uma resolução de 4096 x 4096, fornecendo um campo de visão de 10.6 graus quadrados. O sistema óptico é suportado e guiado por uma montagem equatorial em ferradura e protegido por uma cúpula em forma de concha. Com esta configuração, um HAT é capaz de uma precisão de 4 mili-magnitudes para estrelas até magnitude de 9.5 e 10 mili-magnitudes para estrelas até magnitude 12.5 (magnitudes no vermelho), em exposições individuais de 3.5 minutos.
Os módulos HAT foram colocados em três observatórios do hemisfério norte: o Fred Lawrence Whipple Observatory (FLWO, Arizona), o Submillimeter Array (SMA, Hawaii) e o Florence and George Wise Observatory (WISE, Israel). O objectivo é tentar obter a maior cobertura possível em longitude para um dado campo e, simultaneamente, ter redundância no caso de algum dos locais estar debaixo de condições atmosféricas que impeçam a observação. Todas as observações realizadas pelos HATs são enviadas de forma automática, via Internet, para o Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics.
O processo de identificação de candidatos até à confirmação final da sua natureza planetária é complexo e moroso. Em primeiro lugar, as curvas de luz obtidas pelo projecto são calibradas e é aplicado um algoritmo que detecta de forma automática padrões semelhantes a trânsitos/eclipses. As ditas curvas são depois selecionadas manualmente com base na sua forma e outros parâmetros. Os candidatos que apresentam curvas de luz consistentes com trânsitos de planetas são depois observados em pequenos observatórios por fotometria e espectroscopia para eliminar a possibilidade de os trânsitos serem devidos a sistemas múltiplos com componentes em eclipse ou alinhamentos fortuitos com sistemas com eclipses na linha de visão. Depois de passarem todos estes testes, os candidatos mais prometedores são observados no telescópio Keck I, com o espectrógrafo HIRES, para determinar se são realmente planetas e, em caso afirmativo, calcular a sua massa e densidade média. Estes filtros sucessivos são essenciais para garantir que só são observados com o Keck os candidatos que dão mais garantias de serem planetas. O tempo de observação num telescópio de topo é extremamente caro.
(selecção de candidatos na HATNet)
Em 2009, o projecto expandiu a sua rede para o hemisfério sul com novos módulos instalados no Chile (Las Campanas), na Namíbia (Khomas Highland) e na Austrália (Siding Spring). Estes módulos são diferentes dos instalados no hemisfério norte. São constituídos por 4 astrografos Takahashi Epsilon de 180mm f/2.8 com câmaras CCD Apogee Alta com resolução de 4096 x 4096, resultando num campo de visão de 8 graus quadrados. Esta configuração permitirá a detecção de trânsitos menos profundos e observar estrelas mais débeis e com mais precisão que o HATNet norte. Para esta nova fase, a estimativa de descobertas feita pelo projecto é de cerca de 20 a 60 novos planetas por ano.
A primeira detecção da HATNet deu-se em 2006, com a descoberta do HAT-P-1b, um Júpiter Quente em órbita de uma estrela anã semelhante ao Sol na direcção da constelação do Lagarto (Lacerta). O projecto tem contribuído de forma importante para o estudo dos exoplanetas com a descoberta de sistemas com propriedades únicas. De entre os trinta planetas entretanto descobertos destacam-se por exemplo: dois dos quatro primeiros Neptunos em trânsito — HAT-P-11b e -26b; o primeiro planeta muito maciço em trânsito — HAT-P-2b; o primeiro planeta inchado com a massa de Saturno — HAT-P-12b, e; o primeiro planeta com órbita retrógrada — HAT-P-7b.
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