A maioria dos cientistas e filósofos defende que, quando tudo o resto é igual, a teoria mais simples é a melhor.
Desde Aristóteles a Kant, de Kepler a Hawking, (não esquecendo o conselho de Einstein, que dizia que “uma teoria deve ser tão simples como possível, mas não mais que isso”), a unanimidade que rodeia a simplicidade é apenas ultrapassada em sucesso pelos frutos que nos permitiu – e permite – colher.
Seja na investigação criminal, no diagnóstico médico ou no melhor senso comum, a simplicidade tem a sua importância. Guilherme de Ockham popularizou a questão da simplicidade usando uma analogia com uma lamina para desbastar o supérfluo de uma teoria. A chamada Lâmina de Occam (mais à frente).
Se é fácil aceitar que a simplicidade é muito útil e leva a conhecimento, o que já não é tão fácil é justificar essa crença. Arrasta consigo inúmeras questões que ultrapassam em muito o âmbito deste texto, mas abordaremos as principais. Por uma questão de simplicidade.
Por exemplo o que significa ser “mais simples”? Em relação a quê? Segundo os filósofos temos de separar a simplicidade em dois princípios, de acordo com aquilo a que nos referimos: Elegância e parcimónia.
Eles estão intrinsecamente relacionados mas têm justificações diferentes e muitas vezes estão comprometidos um com o outro, isto é, enquanto pomos simplicidade de um lado, estamos a tirar do outro.
Então, um é a simplicidade sintáctica ou elegância, que se refere à clareza e numero de hipóteses que acompanham a teoria. Quanto mais mecanismos hipotéticos tivermos de supor para a explicação funcionar, mais complicada esta será. É relativa à complexidade da própria formulação, e não depende da língua em que é escrita, tal como comprovado com recurso à teoria da informação.
E a simplicidade ontológica ou parcimónia, que se refere à quantidade ou qualidade de entidades postuladas. Ou seja, significa que não devemos dizer que existem coisas, em numero ou variedade, que não sejam necessárias para o poder explicativo de uma teoria. A Lamina de Occam é normalmente incluída nesta definição. Um enunciado possível é “as entidades não devem ser replicadas para além do necessário”. Se podes dizer que a teoria A explica B não faz sentido considerar uma teoria A+x para explicar B na mesma. É porque x não pertence à explicação.
Enquanto parece ser “fácil” demonstrar que não devemos estar a por na teoria entidades novas que não acrescentam nada à explicação, que são portanto desnecessárias, não é tão fácil justificar a elegância (simplicidade sintáctica), ou interpretações mais gerais da simplicidade como pressuposto ou princípio.
Dizer que a teoria que tem menos pressupostos secundários (embora sem postular nada de novo) é a que está provavelmente correcta, como por exemplo quando um detective formula hipóteses de como se deu um crime e uma hipótese considera vários assaltantes (são tudo entidades já existentes) a fazer vários roubos na mesma casa e em diferentes alturas do período em causa e outra hipotese considera que um assaltante fez tudo de uma vez, e preferimos esta ultima, não é tão obvio como se justifica claramente o porquê. Porque é fácil de ver que pode estar errada, pois coincidências existem. Daí a ter de acrescentar o “provavelmente”, para a coisa bater certo.
De resto, este tema dá para escrever livros e só a fonte que usei para escrever este pequeno texto tem 22 páginas. A simplicidade é algo que não só tem ajudado a conhecer – afinal uma teoria que em vez de simplificar só complica não explica lá grande coisa – como tem sido ela própria alvo de grandes estudos, desde estatísticos a puramente metafísico.
Para terminar queria apenas aproveitar para comentar que as teorias da conspiração são vulgarmente bons exemplos para dar de teorias que violam os princípios de simplicidade. A razão porque são tão atraentes para o cérebro humano, sendo tão complicadas, pode estar relacionada com as consequências de não identificar correctamente uma conspiração quando efectivamente encontramos uma. Por isso a evolução natural terá preferido os que aceitam facilmente teorias da conspiração, mesmo se são extremamente rebuscadas e envolvem frequentemente pressupostos extraordinários.
Mas também é por uma questão de simplicidade que mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Porque as mentiras tendem a ser mais complicadas que a verdade, e algures algo vai falhar.
Bibliografia:
Simplicity, Stanford Encyclopedia of Philosophy em:
http://plato.stanford.edu/entries/simplicity/
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