Há vários problemas com pessoas que não confiam na ciência, mas que confiam na metafísica: Primeiro é a falta de conhecimento técnico. Esta falta é normal e aceitável uma vez que só sabe algo de muito específico quem quer. O grave é desacreditar a ciência a partir desta falta de conhecimento. A isto podemos chamar falácia de ignorância (não é um insulto, é o nome que se dá a este tipo de falácias). Outro problema é a difícil aceitação dos factos científicos e do erro metafísico. A incapacidade de compreensão e os chavões ciêntíficos típicos de áreas complexas e profundas faz com que os falaciosos metafísicos acreditem menos ainda na ciência. Assim pressupõem que os chavões são estratégias que os cientistas têm de ludibriar os inocentes. É como aqueles casais que falam por códigos para os filhos não perceberem do que estão a falar.
A ciência não esconde. A ciência descobre e divulga. A outra face científica é a investigação, que é bastante técnica e complexa (é a que usa os chavões). A divulgação tem o objectivo de pegar nos chavões e na complexidade científica, dar um toque mais simplificado das coisas complexas, e usar bastantes referências usuais e familiares. Convém, ainda, remeter para metáforas.
Óbvio que a divulgação não apresenta a ciência crua mas num prato bonito. Os leigos não ficam a saber que as cenouras afinal tinham casca, que a cebola crua não sabe tão bem e que são necessárias facas para a produção da ementa. Até aqui tudo bem desde que se saiba degustar. O pior é quando nos dizem que a cenoura não tem casca e é azul. Tentamos explicar que não mas não adianta. Tentamos falar em facas de corte para a casca mas não compreendem o que isso é e acham que é uma forma de ludibriar. Assim, também inventam que as cenouras são azuis porque existem beringelas azuis. Terei de dizer à pessoa para tirar um curso de cozinha para perceber. Claro que soa mal. Mas a pessoa diz-me para ler uns blogs sobre as cenouras azuis flutuantes.
Assim, podemos tentar explicar com os chavões a ciência, para quem pede. É o último recurso para explicar a realidade. Mas aí aparece uma outra ideia absurda dos metafísicos: A realidade que aprendemos é, na verdade, mentira. Então, ensinaram-nos que as facas cortavam e elas afinal não cortam? Ensinaram-nos que as cenouras são laranjas mas os professores é que as pintavam? Então se a faca não corta como é que o metafísico está a cortar a carne no prato dele e como é que ele usa facas em casa? Como é que tem carne em casa que foi cortada com uma faca num talho? São pormenores que chateiam e não dão jeito nenhum, não interessam.
Após esta introdução vamos à ciência!
Já tentei explicar o que são as mutações e como nos protegem ou levam, a curto prazo a uma estratégia de sobrevivência, a médio prazo a uma taxa diferencial de reprodução positiva e a longo prazo a uma evolução da população que poderá ser disruptiva, estabilizadora ou ainda direccional.
Vamos começar pelo início. O que são as alterações genéticas, como surgem, para que servem e que efeito têm?
A alteração genética pode surgir de duas formas: por mutação ou por recombinação.
Uma mutação é uma redistribuição de bases e a recombinação é a redistribuição de longos trechos de DNA. A transferência genética é o mecanismo que liga os dois anteriores e o resultado é Inovação.
Comecemos, então, com o primeiro mecanismo de inovação genética:
Mutações
Podem ser Pontuais – A consequência no DNA é a alteração, inserção ou deleção de bases
Ou podem englobar Grandes Extenções – A consequência para o DNA é a deleção, duplicação, inserção, inversão ou translocação de trechos.
Na origem das mutações etão erros de replicação, erros de reparação, erros de recombinação ou ainda tautomerismo de bases
Os resultados nas proteinas podem ser as seguintes:
Mutações silenciosas, missense, samesense, nonsense, null mutation ou ainda frameshift.
As consequências para o fenótipo (consequências físicas, visíveis) são estas:
Missense, nonsense, frameshift, que podem originar fenótipos defectivos, null mutations (letais em genes essenciais – housekeeping), mutações leaky (permitem a sobrevivência) e mutações letais condicionais.
Uma das mutações em que os metafísicos mais insistem como impossibilidade de evolução é a mutação espontânea. A cada 104 a 107 replicações ocorre uma mutação espontânea hereditrária, bastante pouco. Contudo, quando ocorrem pode ser por diversos motivos:
Desaminação, oxigénio reactivo, agentes alquilantes, análogos de bases, agentes despurinizantes, agentes intercalantes ou radiação UV.
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Podem ler mais no NCBI, um consórcio científico com artigos científicos. Muito muito bom! É aqui e noutros consórcios científicos e bases de dados, que se pode encontrar a informação mais credível e, também, mais crua.
1 comentário
“A isto podemos chamar falácia de ignorância (não é um insulto, é o nome que se dá a este tipo de falácias)”
Qualquer pessoas que se insulte por lhe chamarem ignorante é… digamos…(inserir insulto ao intelecto)….
Toda a gente é ignorante em inúmeros assuntos…. Se alguém pensa que não é ignorante talvez deva consultar um especialista em doenças mentais…
“Assim, também inventam que as cenouras são azuis porque existem beringelas azuis.”
Só conheço roxas, existem mesmo azuis ou é sarcasmo??