CRUZEIRO DO SUL – VII
Vamos começar a falar dos nomes envolvidos com a constelação do Cruzeiro do Sul. O primeiro da imensa lista é Augustine Royer, arquiteto do Rei da França Luis XIV. Royer também tinha outra função, a de cartógrafo. Num de seus mapas, em 1679, ele tentou homenagear seu rei e patrão criando duas constelações: a do “Lírio” (Lilium), flor que era o emblema do reino da França; e a do “Cetro e a Mão da Justiça” (Sceptrum), símbolos do poder real. Nenhuma dessas duas constelações conseguiu sobreviver, mas outra que ele havia criado está entre as oficiais: a da Pomba (Columba).
Muitos dão o crédito a Royer pela também invenção do Cruzeiro do Sul, o que é estranho porque esse grupo de estrelas já era identificado quase dois séculos antes.
O que então motivou a História a ter dado os créditos de autoria do Cruzeiro do Sul somente em 1679 para Royer?
Uma das hipóteses é que, apesar do Cruzeiro figurar nos mapas e globos bem antes de Royer, sua posição estampada ainda não era precisa porque era baseado em depoimentos e anotações de navegadores, chegando aos cartógrafos com alguma distorção. Houve casos em que o Cruzeiro do Sul era desenhado de forma totalmente adversa à sua localização. Tal precisão só viria a surgir no século XVII, chegando ao ápice na época de Royer.
Royer chamou o Cruzeiro do Sul de Crux Australis, que corresponde ao nome latino da constelação. Talvez o nome Australis, além de reforçar sua localização no hemisfério sul celeste, tivesse servido para diferenciar o Cruzeiro do Sul da Cruz do Norte (asterismo da constelação do Cisne, cujo alinhamento principal lembra uma cruz). Isso seguiria a regra que já era adotada (Peixe Austral para diferenciar da constelação de Peixes; Triângulo Austral para diferenciar da constelação do Triângulo, só para dar alguns exemplos). Ironicamente, anos depois o Australis cairia em desuso, ficando somente o nome Crux, que era já era utilizado antes de Royer para seguir a nomenclatura latina das constelações.
O que pode também se observar em globos e atlas anteriores a Royer, é que o Cruzeiro do Sul era mencionado por seu nome em espanhol (Cruzero, Crusero ou Crucero), o que fugia à regra de que os nomes das constelações devem ser postos na língua latina. O que parece ser apenas um detalhe sobre o uso de idiomas, só reforça a origem popular dessa constelação, indo na contramão dos critérios para criação das constelações, muitas vezes por motivos políticos ou interesses pessoais de cartógrafos e astrônomos.
O Cruzeiro do Sul poderia ter caído no esquecimento, mas sua utilidade para orientação nas navegações era tão grande que os cartógrafos se viam obrigados a mencionar essa constelação em seus mapas, que eram instrumentos indispensáveis dos navegadores. Sua popularidade cresceu exatamente na época que novas rotas marítimas estavam sendo exploradas. É provável que se o Cruzeiro do Sul tivesse sido criado por algum povo durante o período da Revolução Industrial, talvez ainda estaríamos mencionando suas brilhantes estrelas como parte do Centauro, ao mesmo modo que Ptolomeu.
É claro que outros fatores entram aí: os grandes nomes das navegações faziam parte de nações cristãs, o que ajudou ainda mais a popularizar esse agrupamento estelar, já que o símbolo dessa religião é a cruz.
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