Saber.

Teoria CVJ: O conhecimento é a crença, verdadeira justificada.

Basta pararmos um pouco  a observar as pessoas para ver que crenças há muitas e portanto o conhecimento não pode ser apenas sinónimo de crença. Também podemos perceber que se uma coisa é verdade mas nós não acreditamos que seja, não faz sentido dizer que temos esse conhecimento. E assim avançamos para a segunda parte.

Para ser conhecimento, essa crença tem de ser verdadeira. Mas aqui temos um verdadeiro problema. Não temos uma maneira infalível para chegar à verdade. Já estamos de acordo (ou deviamos estar) de que não basta acreditarmos para que seja verdade, e aproveito para acrescentar que também não é apenas testando que garantimos a verdade. Já que isso implicaria também infalibilidade. Mas sabemos que não temos isso porque erramos nos testes e nas interpretações várias vezes. Como a verdade não entra por nós adentro por osmose, há quem tenha querido ver-se livre dela. Mas não é possível. Precisamos sempre de um critério para o que consideramos verdadeiro, para caracterizar a correspondencia entre conceitos e a realidade. Basta pensar na frase que o afirma:  “é verdade que a verdade não existe”. Leva a um beco sem saída, é de facto uma afirmação godeliana. É preciso aceitar a falta de absolutismo na aquisição da verdade mas não a descartar. Temos de ver de qualquer modo o que vamos considerar que se aproxima mais ou menos da verdade (já que esta continua em si um conceito absoluto). Por isso passamos para a terceira parte e a mais importante em termos práticos. A justificação.

Conhecimento é a crença, verdadeira e justificada, e já que com as caracteristicas anteriores não podemos contar, apesar de não as podermos descartar, temos de considerar então a justificação que uma crença tem como verdadeira, para que seja conhecimento.

Na realidade, o que distingue duas afirmações quaisquer uma da outra é a justificação que elas têm. Justificar por ser crença de alguém ou por afirmar repetidamente que “é a verdade” ou “eu sei”, são justificações sem sentido. É igual a dizer que “é porque é”. Mas não é conhecimento.

Existe um numero infinito de afirmações que se podem fazer acerca de qualquer coisa.  Mas só uma pequena porção corresponderá a algo real (sim, a verdade está em grossa inferioridade numérica, seja ela o que for) . A única maneira que se encontrou até agora para distinguir uma afirmação de outra qualquer nesse conjunto infinito, foi dando importância à justificação. Não conseguimos distingui-las por serem crenças de alguém ou por serem verdade, já que a justificação é o melhor que temos dessa coisa que chamamos verdade.

A maioria das criticas a esta teoria do conhecimento vêm precisamente da falibilidade da justificação. Mas se aceitarmos que provavelmente não há certezas absolutas e que procuramos o melhor conhecimento possível, então, como faz a ciência, devemos por enfase na justificação. Não sabemos absolutamente, mas é mais racional separar por terem melhores ou piores justificações do que por acreditar mais ou menos. E quanto a ser mais ou menos verdade, tudo o que temos para isso é… A justificação.

E já agora, dentro de uma aproximação relativa da verdade, em que não temos certeza se é verdade ou não mas procuramos o melhor possível, é o teste empirico e metódico que faz (tem feito)  a maior diferença. O teste empírico não garante por si a verdade absoluta mas até sermos todos deuses é o melhor que temos para justificar afirmações, já que raciocinando apenas tem sido impossivel (muitos, muitos erros)  saber como as coisas são fora das nossas póprias mentes (e dentro delas também já que se fala nisso).

Mesmo este bocadinho de texto que os filósofos considerariam filosofia, é conseguido com recurso a experiencia empirica e metodica. Senão ainda acreditavamos que acreditar por si só significava alguma coisa. Ou que existe um modo de sermos “iluminados” e alcançar “a verdade” assim de repente – …e ainda há muita gente que acredita. Infelizmente apresentam más justificações para isso.

Conseguir afirmações que se distingam por serem eficazmente aplicadas à realidade dá muito trabalho. Mas pode-se ensinar como se faz.

 

Resumindo, a grande  Pergunta é:

(Shakespear enganou-se, não é essa)

“Como é que  se sabe isso?”

 

2 comentários

  1. É um problema haver tanta gente a achar que a realidade é como nós acreditamos que ela é sem mais nada, sem uma preocupação com a justificação.

    Mas se a realidade fosse independente para cada um de nós conforme e a crença, iríamos ter resultados diferentes para a mesma observação, mesmo em testes sistemáticos, para cada um dos observadores.

    E sabemos que tais resultados diferentes só aparecem de acordo com a crença para questões do próprio observador (se a cena foi muito ou pouco violenta, se doi muito ou pouco, etc).

    E sim, normalmente na ausência de serem capazes de produzir uma justificação as pessoas reagem dizendo que é uma opinião e supõem que isso significa que qualquer afirmação está em pé de igualdade com qualquer outra. Mas as opiniões são formas fracas de conhecimento. Se se conseguir uma justificação lógica, matemática ou cientifica já não é uma mera opinião.

    E mesmo entre duas opiniões, pode existir sempre a distinção entre a que estiver melhor fundamentada.

    Aquelas pergunta de “o que é a verdade” é normalmente outro refugio para quem não tem argumentos. Mas é uma falácia que presume que ou temos conhecimento perfeito e total ou não temos nada. Mas ou o universo é uma coincidência gigantesca ou conseguimos pelo menos saber algo aproximado do que as coisas são e provamos isso com previsões.

    E uma resposta qualquer é sempre pior que uma que explique mais coisas e preveja mais resultados futuros.

    Infelizmente ainda existe muita coisa que não se sabe. E o erro aqui está em cair no apelo à ignorância de dizer que se não se sabe é porque é como nós queremos…

    Enfim. Vamos tentado blogar e mostrar os esforços que a humanidade tem feito para chegar à verdade ainda que esta possa ser inalcansavel (segundo Godel é ), defendendo a educação mais rigorosa, etc.

  2. Eu adoro quando vêm com com as ideias new age/ pós-modernistas de que existem múltiplas verdades igualmente válidas à escolha do freguês. À primeira vista até soa bem, assim toda a gente fica contente, é como escolher o sabor de um gelado. Como todas as verdades (vulgo opiniões pessoais), são igualmente boas, ninguém está errado e toda a gente é inteligente e sábia. O problema é que na realidade, por mais que deseje flutuar no ar utilizando a meditação transcendental, isso não o torna realidade.

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