Portugal volta à Idade das Trevas?

Nos EUA, alguns artigos totalmente irresponsáveis nos jornais nos anos 90 (como podem ler aqui e aqui), levaram a mais de uma década de informações falsas e divulgação mentirosa sobre os “perigos” das vacinas.
Basta ver até algumas entrevistas no Larry King para perceber que as pessoas nada percebiam de ciência, só davam argumentos disparatados, etc, mas mesmo assim eram protegidos pela péssima comunicação social, que só dá valor à controvérsia e não às evidências científicas.
E no entanto, os resultados destas campanhas de medo são claros.

Hoje acordo, leio o Público, e vejo um artigo que fala do mesmo em Portugal.
Um artigo onde se tenta balancear as crendices pseudo às evidências científicas, como se elas tivessem o mesmo peso!
A jornalista nem sequer explica os péssimos argumentos dados por aqueles que querem voltar à Idade das Trevas!
Apesar do artigo dizer isto, e muito bem:
“Há quem atribua a força destes movimentos a um artigo publicado em 1998 que associava a vacina tripla (sarampo, papeira e rubéola) a casos de autismo. O artigo foi considerado fraudulento, mas os ecos continuaram a fazer-se sentir. Oitenta e cinco das pessoas agora afectadas não estavam vacinadas e, no Reino Unido, muitos dos que adoeceram são hoje jovens e adolescentes que eram os bebés da época.” – este é que deveria ser o cerne do artigo! Avaliar as evidências e perceber quais são os resultados! Infelizmente, o artigo pretende dar valor à controvérsia.

O artigo é este.

O que esta jornalista faz?
Entrevista uma “terapeuta da reflexologia” (nada tem de medicina, sendo simplesmente uma massagem com nome pomposo a tentar fazer referência a supostos sistemas pseudo-holísticos) que diz que a sua criança nunca teve doença nenhuma. Como milhões que tomam vacinas também não têm. Mas para quê informação??? Assim como milhares na Idade das Trevas não tinham problema nenhum, apesar dos milhões que morriam antes do 1º ano. Mas para quê perceber de matemática e de estatística, quando o objetivo é ludibriar as pessoas com argumentos falaciosos?
Entrevista um “terapeuta sacrocraniano” (nada tem de medicina e é pura massagem pseudo) que diz que: “as certezas científicas de hoje podem ser mentiras amanhã”. Ora, isto são puras mentiras pseudos de quem não tem qualquer noção de como se evolui no conhecimento! A internet analógica não estava errada por haver hoje internet digital! Newton não estava errado, só porque Einstein conseguiu criar uma teoria da gravidade mais completa! Se este pseudo acha que a certeza científica de hoje na Gravidade é uma mentira, então que faça a experiência do Dawkins e se atire do topo de um edifício de 20 andares. Assim já vê que só por Einstein ter aparecido e ter corrigido Newton em vários aspetos, NÃO quer dizer que a Gravidade tal como Newton a descreveu estivesse errada!!! Mas esta parvoíce, este argumento pseudo, é muito comum! Nem percebem que ciência é sinónimo de ACUMULAR DE CONHECIMENTO. Não quer dizer que o que sabíamos ontem estivesse mal; quer dizer que hoje sabemos MAIS.

Enfim…

Pessoalmente, parece-me um péssimo artigo, porque só com o intuito da controvérsia (do mesmo género dos movimentos criacionistas de “ensinar a controvérsia” na educação), coloca ao mesmo nível o conhecimento médico, dos argumentos disparatados dos pseudos.
Não estão ao mesmo nível, nem deveriam estar neste artigo. O nível de conhecimento é completamente diferente. E a prova disso é que os que defendem os argumentos pseudo utilizam certamente carros, internet, computadores, telemóveis, máquinas de hospitais, etc – tudo que lhes é dado pela ciência e pelo conhecimento científico.
Ou seja, parece-me que este artigo quer colocar ao mesmo nível o conhecimento, e a ignorância hipócrita. E não devia! Devia sim utilizar a pesquisa inteligente e o pensamento crítico para criticar ambas as posições. E não o faz! Porque se o fizesse, só tinha que definir como DISPARATES os argumentos dos pseudos.

Começo a ficar farto destes constantes ataques à ciência que se vê pela imprensa…
Sinceramente não me parece que esse seja o objetivo desta jornalista. Muito pelo contrário. Parece-me que ela tenta dar relevância à ciência.
Mas ao colocar ao mesmo nível o conhecimento, a ciência, da evidência anedótica e demais argumentos falaciosos dos pseudos, está indiscutivelmente a prestar um péssimo serviço aos seus leitores e à verdade. Está a colocar ao mesmo nível quem lhe transmite o conhecimento, e quem hipocritamente lhe transmite ignorância. É colocar ao mesmo nível quem lhe diz como funciona um computador ou lhe explica como funciona a gravidade terrestre, daqueles que lhe dizem que o mundo vai acabar amanhã devido ao Sol explodir (ou outra vigarice/parvoíce qualquer).
Uma das funções do jornalista deve ser saber avaliar a credibilidade das suas fontes, e decididamente neste artigo parece-me que a jornalista quer fazer passar a ideia que todos os entrevistados têm a mesma credibilidade. O que é mentira!

11 comentários

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  1. Nos EUA, o movimento anti-vacinas alastra-se:
    http://news.yahoo.com/ap-impact-more-kids-skip-school-shots-8-085128437.html

  2. Já agora, recomendo este artigo:
    http://whoknewindeed.wordpress.com/2011/07/06/vacinas/

  3. Nossa, eu li e fiquei horrorizado!
    Tipo, aqui no Brasil quando sai alguma materia como essa, a gente pode até tentar ir na justiça e tentar bloquear sua exibição pois tal matéria induz a erro a que lê-la e tal erro pode custar a vida de uma criança!Trata-se de uma materia sensacionalista e com fundo de charlatanismo e esse tipo de publicação pode induzir a quem ler a ir para um caminho perigoso e que pode custar a vida de seu filho!
    Ja tentaram entrar em contato com alguem em Portugal com intuito de tentar arrumar uma forma de bloquear tal matéria? Não trata-se de impedir a imprensa de agir, trata-se de impedir informações falsas, sem base cientifica plausivel e de alta duvidabilidade levado a risco eminente a vida de outros! Creio que com essas alegações a justiça pode tomar providencias!

    • Marina Frajuca on 05/07/2011 at 23:22
    • Responder

    E o mais incrível é que pessoas com formação na área possam pensar da mesma forma.
    Tenho colegas que chegam a ponderar a hipótese de vacinar ou não os filhos. Alegam que estes artigos podem ter algum fundamento. Penso que é mesmo como diz o Marco, pensam em teorias de conspiração, e que os laboratórios querem é vender.
    Haverá sempre gente muito credula, mas nos últimos tempos a aliar-se a credulidade está a juntar-se tb a estupidez.

  4. Esperemos bem que não, mas com esta crise, nunca se sabe…

  5. Os filhos desses pseudos nunca apanharam as doenças para as quais as vacinas conferem protecção, não porque as doenças são uma invenção maquiavélica dos médicos, mas porque a maioria da população encontra-se vacinada, o que lhes confere protecção por arrasto. Se toda a gente fizesse como eles seria o desastre total!

    A vacinação foi uma das maiores conquistas da medicina, levamos praticamente à extinção doenças horríveis e taxa de mortalidade infantil diminuiu drasticamente. A varíola chegou mesmo a ser erradicada e a poliomielite para lá caminha. Mas agora quase ninguém se lembra do quão horríveis essas doenças eram, porque se ainda tivessem essa lembrança, já pensavam duas vezes. Doenças como o sarampo não são para brincadeiras, podem ter complicações gravíssimas!

    Um dos mitos mais disseminados, que não passa de mais um erro de correlação/causalidade, é de que tomando a vacina contra a gripe faz que se apanhe logo gripe. A vacina contra a gripe confere protecção contra os vírus influenza, que são os causadores da gripe. O que acontece é que as pessoas apanham uma constipação depois de tomar a vacina, que é causada por outros tipos de vírus, como o rinovírus, e depois confundem os sintomas porque são semelhantes. Contra a constipação comum a vacina não confere protecção.

    Este problema da anti-vacinação é mesmo um caso paranóia patogénica, e resulta simplesmente das pessoas não terem as ferramentas mentais para distinguirem factos de teorias da conspiração que encontram na internet. Na cabeça deles, eles encontraram uma terrível verdade que escapou a toda a gente, e isso apenas faz com que se sintam como uma espécie de heróis quixotescos. Um ego assim tão insuflado não ajuda nada a trazê-los de volta para a realidade…

    1. “Na cabeça deles, eles encontraram uma terrível verdade que escapou a toda a gente, e isso apenas faz com que se sintam como uma espécie de heróis quixotescos. Um ego assim tão insuflado não ajuda nada a trazê-los de volta para a realidade…”

      E depois, na ironia maior em tudo isto, estes pseudos de ego inflamado, chamam arrogantes aos cientistas.
      Estes arrogantes ignorantes, que nada percebem daquilo que falam, chamam arrogantes àqueles que têm conhecimento e lhes dizem a verdade.

      Aqueles que sabem e afirmam que 2 + 2 = 4, são insultados de arrogantes por aqueles que nada percebendo do assunto (imaginam que 2 + 2 = 568957), têm a mania/arrogância de pensarem que a sua ignorância vale tanto como o conhecimento dos cientistas…

        • Ana Guerreiro Pereira on 05/07/2011 at 21:02

        Arrogantes, limitados pela ciência, cxom a mania que são detentores do conhecimento….sabes? É por estas e por outras q mtas vezes penso que mais vale guardar o conhecimento para mim (antesestar feliz do que ter razão ahahah).

        Qto ao Público: http://provedordoleitor10.blogspot.com/2011/07/ninguem-ouve-o-que-dizem-os-leitores.html

    • Ana Guerreiro Pereira on 04/07/2011 at 19:04
    • Responder

    Escreveste-lhes a alertá-los?

    Sabes, pessoalmente, estou tão mas tão mas tão farta que me começo a convencer que é uma batalha perdida e que não admira que a ciência acabe sempre reservada a “elites”.

    Tenho ouvido tanta parvoíce, tantas evidências anedóticas, tanto apelo à ignorância, tanta falácia, tanta…sei lá o quê, que acho q é demais e q se calhar é impossível esclarecer as pessoas. Principalmente qd não querem ser esclarecidas ou qd por pura teimosia não dão o braço a torcer. Começo a fartar-me, mesmo…

    Desabafos…

    1. Não.
      Não consigo colocar lá o link do astroPT para eles verem o porquê das minhas críticas (eles não aceitam links).

      E já no passado alertei e, ou não aceitaram o comentário, ou não quiseram saber das críticas.

      Tendo em conta a quantidade de comentários totalmente aparvalhados que aceitam diariamente em dezenas de artigos… e quando é um comentário de alguém a dar-lhes informações credíveis, eles não aceitam ou não querem saber… desisti.
      Para quê andar a perder tempo a tentar credibilidade às notícias, quando a não-resposta que me dão é basicamente a dizer que agradecem comentários parvos mas não querem saber da credibilidade para nada?

        • Ana Guerreiro Pereira on 04/07/2011 at 19:09

        E não querem. Querem é vender jornais.

        Por isso é que digo, mas vale a pena sequer? Aos jornais deste estilo só interessa vender. Mesmo q o jornalista seja sério e competente, acredita que de certeza que já foi ameaçado de despedimento caso não dê a orientaçao exigida (já aconteceu e sei de um caso específico, mas logicamente q não posso entrar com nomes…)… Expresso, Público, até o Ciência Hoje. Triste. Mesmo muito, muito triste.

  1. […] mais informações sobre vacinas e o movimento anti-vacinação podem consultar: Portugal volta à Idade das Trevas? Vacinas Infografia – Vacinas Anti-vacinação, o direito de escolher e o que isso exige. E […]

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