Já reparei que, muitas vezes, as pessoas não acreditam na ciência porque já ouviram algum fracasso ou alguma alteração em alguma teoria. Costumam dizer “o que era ontem não é hoje” então para elas isso é válido para rejeitar tudo o que lhes apeteça. É uma falácia. É uma desculpa. Uma generalização sem um argumento sólido. É um “dá jeito”.
Na ciência também há pessoas pouco desejáveis, como em todo o lado. Em ciência também pode haver fraudes. Já as houve, há e continuará a haver. Os criacionistas são um bom exemplo de grupo que pega numa fraude científica e utiliza-a com o pretexto de não acreditar em nada de ciência que vá contra a sua ideologia (no entanto continuam a acreditar num deus que mata, que promove violações, pedofilia, genocídio e ódio). Este tipo de ideologias tem prazer em refutar que eu tenho 2 olhos porque já viram uma vez alguém com três olhos e porque eles acreditam muito que eu também posso ter. Ora acreditar muito, com os pés bem juntinhos e fazer promessas e juras é muito bonito, mas eu prefiro pessoas que mostrem trabalho.
Posso acreditar muito mas mesmo muito que o meu fogão faz comida. Suponhamos que acredito mesmo com muita força. Até posso jurar com as mãos muito coladinhas e prometer que dou 3 voltas à minha casa de joelhos, mas isso não faz o meu fogão trabalhar sozinho. Infelizmente há gente que prefere acreditar com muita força (e usar fraldas para esse efeito) para que o seu filho fique curado do que ir, por exemplo, a um médico cujo trabalho é, sei lá, salvar pessoas porque, acho eu, tem conhecimento para isso. Obviamente que o deus muito bondoso diz com voz amável aos papás “o vosso filho é um santo e vocês também, por isso eu vou levá-lo para o céu”. Os ex-papás ficam regozijados: “deus fez a sua vontade”. Tão bom.
A ciência por ser um edifício bem construído costuma remendar fissuras. A ciência procura falhas e corrige-as. Já aconteceu no passado, acontece hoje e acontecerá. Isto acontece porque os cientistas são competentes e a ciência é um edifício cheio de domótica, que se aconchega à realidade, que se optimiza e que não é tradicionalista. Não se apega a crenças nem romantiza o que não tem emoções. É crua. É real.
Se uma declaração científica é feita, logo aparecem vários grupos científicos a demonstrar os mesmos resultados ou a refutá-los. A religião não tem esse corrector. Alguém diz que viu um cristo numa tosta de queijo na Venezuela e, no dia seguinte, já estão a fazer uma missa com choros, na Itália. A ciência auto-corrige-se com a ajuda de peer-review e com a ajuda de elementos externos como os jornalistas científicos.
A ciência pode ser considerada como um copo. A dinamite não é má. Pode é ser mal utilizada. A dinamite é o que é independentemente da sua utilização. A ciência é o que é, é imparcial. O uso que se faz dela não a rotula como boa ou má. A ação é que é boa ou má. A sua utilização pode ser útil ou inútil. Com perspectivas boas e com fins para uma melhor sociedade ou com fins para umas boas férias (tal como acontece com a religião e as pseudociências). Um copo pode ter água, água milagrosa, ou água com raticida. O copo não é o culpado, o que lá está dentro é que deve ser julgado.
10 comentários
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É muito bom quando a visão que temos (a ideia do todo) é compreendida por alguém, ainda mais quando é difícil descrevê-la.
Uma vez fiquei a pensar na responsabilidade que um ser que vive na galáxia de Andrômeda teria na minha vida. E no que esse ser seria diferente (na responsabilidade) da minha vizinha.
Concluí que, em princípio, ninguém têm responsabilidade na vida dos demais, mas gostamos de associar um evento “nosso” com o evento de alguém que nos importa.
E por isso dizemos que quando uma mulher diz “não” a o homem que lhe quer namorar, parte o coração deste último.
Mas em princípio, ela apenas disse “não”, e o homem sentiu-se com o coração partido.
E se notar bem, nessa frase, não há uma relação efetiva entre os dois fatos.
Então, em suma, se achamos a sociedade importante para nós, admitimos que a afetamos e somos afetados por ela.
Isso pode ser visto como algo inválido – a relação – se não nos importamos com a sociedade.
É uma relação de amor. E como todo amor, pode ser não-correspondido. 🙂
De acordo que os cientistas fazem parte da comunidade. Mas as responsabilidades muitas das vezes não podem ser partilhadas.
Veja o exemplo do padeiro. O padeiro faz pão, e o cientista vai lá comprar. Vamos supôr que o cientista faz uma bomba que coloca dentro do pão, que depois explode e mata muitas pessoas.
Será que a culpa é do padeiro por o cientista ter usado o seu pão?
Deixe-me também pegar no seu exemplo do corpo 🙂 ehehehe
Vamos supôr que o sr. X tem um cancro (células “más”) no braço esquerdo. As células do braço direito fazem parte do mesmo corpo, mas serão elas culpadas das células no braço esquerdo?
Eu percebo a sua ideia do todo. E não estou a dizer que está errado 😉
Só lhe estou a dar uma outra visão do problema, uma visão compartimentada de responsabilidades 😉
abraço!
Mas isso é assumir que as partes (cientistas) agem isoladamente do todo (pobres e políticos, e o mundo em geral).
Acho que temos responsabilidades uns pelos outros. E nenhum cientista trabalha isoladamente. Até o padeiro, que fornece ao cientista o
pão que ele come todas as manhãs, tem alguma coisa a ver com o resultado das pesquisas do cientista.
Acho que isso é uma sociedade. É como um corpo. E todos somos como células desse corpo.
E se todos funcionarmos bem, o corpo estará bem, e todas as demais células que o compõem.
É uma relação parte->todo->partes->parte.
Cristiano,
Como sabe, muitas das vezes, as aplicações de um saber não são compreendidas na totalidade quando se descobre algo.
Mas que acha que um cientista pode fazer?
Os cientistas deviam retirar todas as facas do mercado, por exemplo, porque podem ser usadas como arma branca para matar?
E já agora, devia-se retirar os garfos também… e também os paus (exemplo: ramos de árvores) porque também podem ser usados para assassinar alguém.
Tenho a certeza que os tacos de baseball são feitos actualmente com base em experiências científicas (para serem mais eficazes para bater na bola, para velocidade, efeitos, etc).
No outro dia, um jogador usou um desses tacos para em casa matar a mulher.
A culpa é dos cientistas?
Por outro lado, quem dá o poder aos políticos são as pessoas. 2 tipos de pessoas: as mais pobres que continuam a deixar-se levar pelas promessas infundadas dos políticos, e as mais ricas que contribuem para as campanhas para depois terem favores.
Em nenhum desses extremos ficam os poucos cientistas que existem.
abraço!
Mas quem dá o poder aos políticos (que não sabem fazer ciência)? Não são os cientistas?
E antes de concluir uma descoberta, ninguém pensa no uso que os políticos podem fazer dela?
Não acha imprudente cientistas agirem como se eles (os maus políticos) não existissem?
É desse “correr sem parar” da nossa atual ciência que eu falo.
Cristiano,
Saber de ciência é por exemplo saber de reacções nucleares.
A ciência, esse saber/conhecimento, pode ser usado para fabricar bombas ou entender o Sol para termos energia praticamente inesgotável.
Pode ter a certeza que nem é a ciência nem são os cientistas que decidem fazer bombas…
Essas decisões são políticas.
😉
Porém, é discutível se a ciência deve ser mesmo isso que vemos que é: uma busca incessante pelo saber.
Talvez ela devesse caminhar e parar, às vezes, antes de dar outro passo importante.
Não existiriam coisas que seria melhor não sabermos (antes da hora)? Aprendemos a construir armas nucleares, e qual foi a utilidade delas até agora? Provar que podem parar uma guerra matando milhares de pessoas?
Mas segundo essa lógica (do artigo), a ciência não tem culpa, pois “apenas” nos permite obter o saber para construirmos tais armas.
Ou seja, não é culpa da pá se através dela, nós escavamos uma ou outra caixa de Pandora…
Ok. A ciência é só uma ferramenta. E ferramentas não têm culpa. Certo?
A coitada da caixa de Pandora não tem culpa se alguém a abre. O mesmo se dá com a coitada da cápsula de césio 137.
Mas fazer armas e colocá-las nas mãos de crianças não me parece uma boa ideia.
Portanto, armas não deviam existir nesse jardim da infância chamado Terra.
E quem faz as armas, o faz com a ajuda da ciência.
O problema nesse argumento de que a ciência não tem culpa é que a ciência não existe na natureza. A ciência não é algo isolado de nós. Ela é um brinquedo humano (e só de nós, pelo que sabemos). E sem humanos, ela não existe. E humanos não são perfeitos. São bons e/ou maus. A ciência também o é. Pode apostar que tudo que fazemos é como nós somos. É bom e/ou mal.
No final a ciência somos nós. Ambos somos indissociáveis. Ambos somos bons e/ou maus.
A ciência é aqueles que a fazem.
Portanto, quando alguém falar “o que a ciência nos dá” pode ter certeza de que é o mesmo que dizer:
“O que queles milhares de cientistas nos dão.”
Então, quando alguém fala “eu não acredito na ciência”, apenas está dizendo:
“Eu não acredito naqueles milhares de cientistas.”
Olhando assim, a ciência parece bem menos perfeita, e a dúvida dessas pessoas (que não creem na ciência), bem mais razoável certo?
Ok. Obrigado pelo oportunidade de debater o tema.
moacyr,
exactamente. O que está dentro do copo é que pode ser julgado. Nestes 3 casos a ciência é a única estrutura que tem o poder de ser empírica e de se ajustar às observações e ao mundo real. O resto não é testável, logo não dá para afirmar se é verdadeiro. Eu não posso dizer que tenho um copo feito de fé ou feito de um vidro feito de ar, um pseudo-vidro que produz fluxos energéticos para uma água que cura.
Conseguiste aldrabar um comentário mas isso não o torna válido. Pelo contrário, pode é torná-lo inválido. Pegaste num enunciado com uma razão, um raciocínio e uma conclusão, ou seja, um argumento e tornáste-o diferente pois colocaste no enunciado um elemento não testável. Repara;
“O meu carro anda depressa porque tem um bom motor e 4 bons pneus. Pode chegar a 240 Km/h” e agora, “o meu camelo anda depressa porque tem um bom coração e 4 boas pernas. Pode chegar a 240 Km/h”. Só mudei o nome do objecto e o que lhe é referente.
Tudo é uma questão de ponto de vista. Veja um trecho de teu comentário com apenas o sujeito trocado:
“A DIVINDADE pode ser considerada como um copo. DEUS não é mal. Pode é ser mal entendido. DEUS é o que é independentemente da sua utilização. A DIVINDADE é o que é, é imparcial. O uso que se faz dela não a rotula como boa ou má. A ação é que é boa ou má. A sua utilização pode ser útil ou inútil. Com perspectivas boas e com fins para uma melhor sociedade ou com fins para umas boas férias (tal como acontece com a religião e as pseudociências). Um copo pode ter água, água milagrosa, ou água com raticida. O copo não é o culpado, o que lá está dentro é que deve ser julgado.”