Bactérias Multi-resistentes Curáveis com Fé e Chá?

Mais uma vez um blog anti-científico faz das suas. Prefere curar pela fé, rezinhas e chazinhos pessoas com infecções bacterianas em vez de permitir à ciência o seu espaço. Para este autor a ausência da prova é a prova da ausência (o que é errado). A ineficácia da biologia no combate às bactérias multi-resistentes é a prova de um deus bondoso.

Todos sabemos como uma população bacteriana fica resistente e, no limite, multi-resistente. Este processo de resistência prova que há evolução. Num grupo de bactérias há aquelas mais aptas (de acordo com as curvas de Gauss), as mais aptas poderão sobreviver a um antibiótico. Quando uma pequena população resistente sobrevive ocorre o chamado efeito gargalo, em que esse grupo mais apto se torna numa população maior quase unicamente composta por bactérias mais aptas. O pool genético dessa população é diferente da população anterior.

Quanto às multi-resistentes o que ocorre é exctamente o mesmo, mas com resistência a vários antibióticos.

Podémos verificar a evolução em acção numa população bacteriana.

Obviamente que é complicado tratar deste tipo de infecções. São necessárias novas estratégias e é isso a que se refere Margaret Chan, directora-geral da OMS, : “na ausência de acções correctivas e protectivas urgentes, o mundo caminha para uma era pós-antibiótica, na qual muitas infecções que hoje são comuns deixarão de ter cura e irão, mais uma vez, matar sem esmorecer”. Assim, há medidas a implementar: “Entre as medidas sugeridas estão o desenvolvimento e implementação de um plano nacional financiado, o reforço das capacidades de vigilância e laboratorial, a garantia de acesso ininterrupto a medicamentos essenciais de qualidade garantida, a regulação e promoção do uso racional de fármacos, o reforço da prevenção e controlo de infecções e o fomento da inovação, investigação e desenvolvimento de novas ferramentas.” (aqui)

A causa deste problema é o uso inadequado de antibióticos e é preciso agir depressa e com novas abordagens.

Infelizmente o blog termina com um comentário típico de quem nunca teve contacto com o mundo científico. Refere que “Ninguém do mundo evolutivo parece com esperanças que o ser humano desenvolva uma mutação aleatória que lhe permita subsistir a nova vaga de micróbios”. Depois ainda afirma que a evolução é uma mitologia e que temos de a colocar de parte para resolver este problema.

Como reparámos sem a biologia evolutiva não tínhamos a informação do 2º parágrafo deste post. De notar que o comentário de por de parte uma ciência que mostrou frutos e que pode salvar muita gente é uma mitologia. Mas o rezar e esperar que passe sozinho não é mitologia. Parece que o autor não tem conhecimento e , então não deu importância aos últimos parágrafos da notícia. Vamos então tentar ver as diferenças:

Situação 1: Estamos fartos de verificar cura a uma infecção bacteriana (atenção, que não seja milagrosa!). Quem tiver um exemplo de cura por antibióticos ou sem eles refira.

Situação 2: Pais rezam em vez de chamar médico e outra que é o caso de uns pais amorosos que negam o tratamento do filho porque deus é que está a dar.

2 comentários

  1. Prezado Dário…

    Vendo seu artigo, lembrei-me de outro tópico – porém, tratando-se de assunto similar – em outro sítio:

    http://rmorais76.blogspot.com.br/2012/03/desmontando-teoria-oficial-da.html

    Esse já é conhecido por aqui. 😉 Note o trecho final do artigo, onde o autor pergunta – de modo zombeteiro, que lhe é peculiar -, onde estão os PHd’s para “refutarem” o artigo em questão…

  2. Olá Dr.

    o que se fazer então para se tratar o paciente quando já esta infectado por bacterias multiresistentes ? há tratamento ? as pessoas sobrevivem ?
    Entendo que isto pode ser culpa sim da população por usar indevidamente os antibioticos, porém já esta acontecendo. O que se pode fazer para resolver o caso? Li que existem um tal tratamento com plasma ? isso é acessível ?
    Agradeço.
    Rosangela

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.